Continuando as postagens concernentes ao Bicentenário da Independência do Brasil, segue uma oração composta por Plinio Corrêa de Oliveira [foto] para ser recitada no Sesquicentenário, publicada originalmente na “Folha de S. Paulo” em 27-8-1972. De extraordinária atualidade, apenas tomamos a liberdade de substituir “Sesquicentenário” por “Bicentenário”, e “um século e meio” por “dois séculos”.
PRECE NO BICENTENÁRIO
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
Ó Senhora Aparecida,
Na data em que completamos dois séculos de existência independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil.
Duzentos anos de vida são, para um povo, o mesmo que quinze para uma pessoa: isto é, a transição da adolescência, com sua vitalidade, suas incertezas e suas esperanças, para a juventude, com seu idealismo, seu arrojo e sua capacidade de realizar.
Neste limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro marco. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes, e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos.
Primeira Missa no Brasil – Victor Meirelles, 1860. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
AGRADECIMENTO
Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.
Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.
Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu na grande caudal étnica de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.
Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa.
Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que de desavenças e de guerras.
Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória.
Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças de grandeza.
Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e de êxito.
Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos.
Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira Luz que as trevas jamais conseguirão apagar.
São José de Anchieta, pintura de Oscar Pereira da Silva (1865-1939)
PRECE
Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.
Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar, que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.
Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.
E, além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.
Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.
Quanto confiamos nela!
Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.
Quanto é rica destes e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!
Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas, concedei-nos a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil.
Amai-o mais e mais.
Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes.
Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.
Aumentai nossa largueza no que diz respeito aos bens da Terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.
Fazei-nos sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.
De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.
Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica?
Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a qualquer louvor humano?
De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que amorosamente aqui repetimos:
— “Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu honorificentia populi nostri”. (Judite 15, 10). Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama.
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