O conjunto desigual do grande e do pequeno reflete a infinitude do Criador de todas as coisas
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
Rainha Elizabeth e um de seus colares de pérolas. |
É muito difícil fazer uma coleção com pérolas em que cada uma, em relação à anterior e à posterior, tenha a mesma diferença proporcional no tamanho. Com pérolas falsas isso se faz com facilidade, mas com pérolas verdadeiras é muito difícil. Sobretudo se todas as pérolas são do mesmo tom e da mesma claridade.
De maneira que chegamos a este paradoxo: um colar com 50 pérolas harmonicamente desiguais é mais bonito do que um colar com 50 pérolas iguais e maiores. Pode ser que valha mais um colar de 50 pérolas iguais e maiores. Mas como beleza artística o colar com pérolas desiguais tem uma beleza maior.
O que pensam os ourives a respeito desses colares de pérolas desiguais é precisamente o que São Tomás de Aquino ensina a respeito do universo.
Ele ensina que Deus não poderia ter criado todas as criaturas iguais, porque nenhuma criatura tem a possibilidade de espelhar adequadamente a beleza de Deus, uma vez que a criatura é limitada e Ele é infinito. E para dar certa ideia da beleza de Deus, seria preciso que houvesse criaturas desiguais, cada uma espelhando-O a seu modo num aspecto. Mas sendo desiguais formam uma hierarquia. A hierarquia harmônica, sem saltos, sem desproporções entre os degraus, afirma na Terra a beleza de Deus.
Beleza do conjunto desigual, mas harmônico
Um exemplo: no reino das flores a beleza de Deus não poderia exprimir-se igualmente numa enorme rosa ou num pequeno miosótis. O miosótis tem certo encanto, olhamos e sorrimos. Uma rosa é majestosa, mas não provoca o mesmo sorriso. Ora, o por onde Deus é infinitamente gracioso se pode exprimir no miosótis. Era preciso que houvesse a rosa e o miosótis no mundo vegetal para se ter uma ideia de conjunto de predicados de Deus.
Isto se aplica também aos homens. Estes são desiguais, e é assim que eles exprimem melhor a Deus. Pensem na mentalidade dos homens mais inteligentes de nosso século — por exemplo Winston Churchill — e o comparem com o homem mais bobo do nosso século, um que fosse sem culpa própria quase um débil mental, onde a razão está num estado de lusco-fusco. Entretanto cada um espelha a Deus a seu modo, inclusive o bobo; no que ele não é bobo espelha a Deus de algum modo, e de um modo que Churchill não exprimia, e pode ser um “miosótis” do reino humano. O conjunto espelha a beleza de Deus.
Beleza divina na confluência do grande e do pequeno
Uma vez que há maiores e menores, tem que haver também a obediência, uns que mandam e outros que obedecem. É um corolário necessário. E a obediência não faz senão transmitir no reino da ação a infinita beleza de Deus.
O que é mais importante, imprimir um livro ou concebê-lo e escrevê-lo? É evidente que conceber e escrever é mais importante. Entretanto, a apresentação gráfica de um livro tem muita importância para sua circulação.
Vamos exemplificar com a obra mais conhecida de São Tomás, a Suma Teológica, esplendidamente bem apresentada pela composição gráfica. A função de São Tomás nem se compara com a do gráfico, mas a pequena função deste pode ser grande para a circulação do pensamento do autor.
A circulação do livro de São Tomás fica condicionada à modesta colaboração de um gráfico, que pode ele mesmo ser um gênio em matéria gráfica, enquanto São Tomás é um gênio em matéria teológica e metafísica.
Essa colaboração do pequeno e do grande, de mil espécies de genialidades para fazer uma obra funcionar, isso tem uma beleza divina!
Uma ideia desse princípio notamos, por exemplo, na ventilação. Como é bonito que haja tufões majestosos! Como é belo que haja ventinho comum! Como é bonito que haja ventos que sorriem! Todos eles no seu conjunto não constituem o universo dos ventos que agradam tanto às pessoas ao contemplar? É evidente!
Assim também há homens que são possantes. São como tufões. Há outros mais delgados, que chegam até a ser como o sorriso dos ventos alígeros. Todos juntos, obedecendo uns aos outros, constituem uma sinfonia que nos remete ao Criador de todas as coisas.
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 5 de setembro de 1974. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.
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