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Lula e Flávio Dino [ Foto: Ricardo Stuckert/PR ] |
✅ Paulo Henrique Américo de Araújo
Neste
olhar em retrospectiva sobre a situação brasileira, serve-nos bem como fundo de
quadro a instabilidade climática — sem alarmismo ecologista obviamente — e seus
efeitos que perpassaram o ano de 2024. As chuvas, a seca, as queimadas e até o
frio provocaram insegurança, destruição e mortes. Tudo isso reflete, de maneira
tangível, a falta de rumo das forças anticristãs revolucionárias que teimam em
contrariar uma opinião pública cada vez mais infensa aos seus objetivos.
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Rio Grande do Sul inundado pelas enchentes [Foto: Marinha do Brasil/via Fotos Públicas] |
Provocações,
chuvas e enchentes
2024
iniciou-se com as repercussões de gosto amargo provenientes do final do ano
anterior: Flávio Dino, indicado por Lula como novo Ministro do STF, havia sido
aprovado pelo Senado Federal para o cargo. O petista saiu com esta declaração: “Vocês
não sabem como eu estou feliz hoje. Pela primeira vez na história deste país,
nós conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista, um companheiro
da qualidade do Flávio Dino.1”
Analistas
consideraram a frase como “simples provocação”, “nada de muito sério2”.
Por quanto tempo a opinião conservadora e cristã suportará afrontas assim? Além
do amargor causado em boa parte dos brasileiros, a provocação prenunciava
fortes chuvas, incêndios e fumaça que cobririam o horizonte do País.
Em
se tratando de provocação, nada mais eloquente do que o espetáculo blasfemo e
pornográfico da cantora “Madonna”, ocorrido no Rio de Janeiro, em 4 de maio. Ao
mesmo tempo que transcorria, na Praia de Copacabana, o insulto explícito ao
sentimento religioso da maioria dos brasileiros, o Rio Grande do Sul era
inundado pelas enchentes. A maior rede de televisão do País lidou mal com a
situação: apesar das calamidades no Sul, deu preferência à exibição dos
saracoteios insanos e imorais da artista americana3.
Enquanto
uns se afundavam no pecado na capital fluminense, 182 pessoas morriam afogadas
e outros 2 milhões eram afetados pelos alagamentos. Inúmeras vozes se ergueram
para cogitar se teria sido possível evitar ou diminuir a catástrofe gaúcha. Sem
entrar em detalhes dessa ampla discussão, um pequeno aspecto aponta para um
culpado bem conhecido: o ecologismo radical. Dragagens preventivas nos rios (em
especial no Rio Guaíba) teriam garantido mais espaço para a água escoar, mas
isso não é executado porque “sempre se justifica propósitos ambientais”,
diz o deputado estadual, Marcus Vinícius (PP-RS)4.
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Queimadas no interior do estado de São Paulo |
Estiagem,
incêndios e fumaça
A
seca de meados do ano foi violenta, batendo recordes de estiagem em várias
regiões. Uma boa metáfora para o desprestígio crescente do lulo-petismo. No dia
1º de maio, Lula encabeçou um comício esvaziado em São Paulo, com a
participação de menos de 2 mil pessoas. Lula sentiu a “secura” e “pediu água”,
reclamando sobre a falta de engajamento da militância5.
Ricardo Patah, um dos organizadores, afirmou: “Temos que fazer um mea culpa
de nossa incapacidade de levar mais gente”, e acrescentou que há “dificuldade
de interlocução com jovens6”.
Com
a seca, vieram as queimadas. Cenas de labaredas gigantes à margem das rodovias
de todo o País percorreram as redes sociais. Curiosamente, desta vez as tubas
da grande mídia nacional e internacional não se lembraram de culpar o atual
governo pelas queimadas, como haviam feito durante a gestão Bolsonaro, quando
incidentes semelhantes tomaram o noticiário. Pelo contrário, houve quem
apontasse como principais responsáveis, pasme-se, os agricultores7.
Um
fato estranho, mas revelador da desorientação geral: o Ministro Flávio Dino,
ele mesmo, o “queridinho comunista” de Lula no STF, mandou o governo atuar de
modo mais eficiente para combater os incêndios8.
Assim,
a Corte Suprema do País assume as funções de um Poder Executivo cada vez mais
inepto. Alguém duvida que algo vai mal nas instituições da República? Vem bem a
propósito o comentário de Eliane Cantanhê de: “Amazônia, Cerrado e Pantanal
estão em chamas [...] Sem recuperar o protagonismo nas questões internacionais
e ambientais e insistindo em estatismo e aparelhamento na Petrobras, fundos de
pensão, agências reguladoras, Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os
acertos nem deixa os erros no passado9”. Os supostos
“acertos” de Lula são por conta da articulista. Sabemos do que se trata: avanço
da agenda esquerdista e economia submetida ao socialismo estatal, que conduzem
inevitavelmente à bancarrota.
Com
a estiagem prolongada, a Capital Federal assemelhava-se a um deserto no início
de setembro, e a desolação patenteou-se ainda mais quando do desfile do Dia da
Independência. O cenário de 2023 se repete: a Esplanada dos Ministérios
praticamente vazia e um punhado irrisório de petistas. Lula achou por bem —
quem sabe se para dar um pouco de ânimo à comemoração — colocar no palanque
dois Ministros do STF: Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
Este
último vai assumindo um protagonismo constrangedor10,
segundo comenta Carlos Alberto Di Franco: “A destruição da ordem jurídica,
que no Brasil de hoje é visível a olho nu, está sendo causada pelo excessivo
protagonismo de um ministro do Supremo Tribunal Federal: Alexandre de Moraes11”. Mais
adiante, acrescenta o mesmo articulista: “A crise de credibilidade do
Judiciário é acelerada e preocupante. Seu desprestígio na sociedade precisa ser
revertido”.
Ao
mesmo tempo em que as queimadas se alastravam, as eleições municipais de 2024
entravam na “onda de calor”. E as chamas parecem ter invadido todos os quadrantes
da esquerda! Não há como esconder sua estrondosa derrota. Os dados antecedentes
ao pleito já indicavam a fumaça tóxica nas paragens esquerdistas: 15% dos
municípios brasileiros não tiveram qualquer candidato de esquerda12.
Em Santa Catarina, esse número foi de 25%.13
A
esquerda venceu em apenas duas capitais: Recife e Fortaleza. Neste quesito, é
seu pior resultado desde 198514. Quanto aos municípios
em geral, partidos de esquerda e centro-esquerda que em 2020 tinham conquistado
852 prefeituras, agora ficaram com 74915.
Em
São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) obteve vitória esmagadora sobre Guilherme Boulos
(PSOL), com diferença de quase 20 pontos: 59,3% contra 40,6%. Algo bastante
sintomático foi o fato de Boulos ter tentado desesperadamente se afastar da
“agenda progressista” durante a disputa, encarnando uma nova versão do “Lulinha
paz e amor”. Nada funcionou!
A
turma do PT e aliados ainda estão tentando juntar os cacos depois do fracasso
eleitoral. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que defende uma aliança
“mais ao centro”16. Porém, já prevendo que
a manobra não surtirá efeito sobre o brasileiro médio, intuitivo e de bom
senso, a líder petista emendou em tom de ameaça: a esquerda “vai continuar
sendo massacrada” se não regular as redes sociais17.
Inverno:
“gelo” na máquina estatal
O
inverno de 2024 derrubou os marcadores dos termômetros, batendo recordes de
baixas temperaturas em certas capitais18. O frio extremo
localizado foi um dos fatores (indiretos, é verdade) para a queda do avião da Voepass
e a morte de seus 62 passageiros e tripulantes. Não desejo ser irreverente com
a memória das vítimas, mas o lastimável acidente traz analogia marcante com o
percurso seguido por Lula em seu desastroso 3º mandato.
Há
gelo nas engrenagens do avião petista. Tal se vê nos disparates da política
externa. As eleições na Venezuela — com sua escancarada ausência de
legitimidade — tiveram como resultantes explicitar as incongruências da
diplomacia brasileira e acabaram por consolidar a ditadura de Nicolás Maduro.
Lula perdeu credibilidade e de seu autoproclamado título de “líder natural” da
América Latina só restaram destroços. 19
Durante
seu discurso na ONU em setembro, o líder petista repetiu propagandas
demagógicas ultrapassadas, insistiu em ações para promover “igualdade de
gênero” e políticas “antidiscriminação”; além de criticar as “estruturas da
governança mundial”, em sinal claro para a tentativa de dar foco ao seu
pretenso protagonismo com o chamado “sul-global”. Falou tanto que estourou o
tempo do seu discurso e teve o microfone cortado20. Uma
vergonha...
Na
reunião do Brics em outubro, Lula tentou emplacar a liderança naquilo que
analistas classificam de tendência “antiocidental” do bloco21. Mas
no fim, de acordo com um especialista, o mandatário brasileiro acabou perdendo:
“A imagem de Lula está manchada por seu apoio a Xi Jinping e a Vladimir
Putin, e por sua atuação nos Brics 22.”
A
par do esfriamento das suas pretensões no Brics, Lula ainda cometeu gafes
pueris na diplomacia com os Estados Unidos. Pouco antes dos resultados das
eleições presidenciais norte-americanas, ele saiu com este disparate: uma
possível vitória do republicano Donald Trump representaria a volta de um
“nazismo e fascismo com outra cara23”.
Para
completar a insensatez diplomática com relação aos Estados Unidos, a esposa de
Lula, Janja, não achou nada melhor do que atacar, da forma mais baixa, o Elon
Musk, indicado por Trump para integrar sua nova equipe de governo. Numa típica
“atitude de botequim”, ela referiu-se ao milionário com um palavrão24
— irreproduzível numa publicação como a nossa —, causando mal-estar mesmo entre
os aliados petistas e provocando uma moção de repúdio na Câmara dos Deputados25.
Por
essas e por muitas outras é explicável que a “frente fria” da insatisfação vá
tomando conta do horizonte lulista e provoque a queda nos seus índices de
aprovação. Em maio de 2024, a popularidade de Lula, que já vinha despencando,
era de 37,4%. Em novembro, esse número tinha descido a 35%.27
Céu
nublado, tempestades e raios
O
tempo fechado e melancólico de outubro guardava certa analogia com a situação
da “esquerda católica” no Brasil. A CNBB — sempre atrelada a um “progressismo”
decrépito — parece se encontrar num “céu nublado”, quase totalmente desprezada
no cenário nacional. Alguém se lembra de qualquer declaração ou atitude
relevante do órgão, durante o ano? Ao menos algo que tenha sido de molde a
mover as vontades? Nada!
Nesse
sentido, são extremamente significativas essas palavras de Frei Beto, ao
observar os participantes de um encontro de “progressistas” em Belo Horizonte: “A
maioria de cabelos brancos ou tingidos. Minha geração envelhece. Chego este ano
aos 80. É muito preocupante constatar que as forças progressistas não logram
renovar seus quadros.” 28
A
desconfiança e a indiferença dos brasileiros com relação ao clero progressista
só aumentam. Motivos eles têm! Veja-se, por exemplo, a total inação das
autoridades eclesiásticas quando “peregrinos” do movimento LGBT exibiram, na
própria Basílica de Aparecida, uma cópia da imagem da Padroeira vestida com a
bandeira arco-íris [foto ao lado]. Diante da perplexidade dos católicos, saiu a público uma
lacônica nota dos responsáveis pelo Santuário Nacional. 29
Do
outro lado do espectro político e religioso, a tendência é outra: juventude,
dinamismo, esperança. Os quadros da direita se renovam e avançam. As próprias
eleições municipais confirmaram isso de maneira eloquente30. Quem
há de se surpreender que os progressistas e esquerdistas de todos os vieses
estejam desorientados e assumam, como último recurso, o revanchismo meio
desesperado? Parece que a gota d’água para o revide veio após a clamorosa
vitória de Trump e da direita em geral nas eleições americanas.
As
tempestades e os relâmpagos despontaram no horizonte dias depois dos
resultados. O estopim de um mal executado “ataque terrorista” em Brasília
desencadeou novamente os alaridos da esquerda: o País está sob a ameaça dos
“conservadores radicais”! O insano e atrapalhado “terrorista” morreu no ato, os
danos materiais causados por ele foram insignificantes, porém o evento serviu
bem, novamente, para a hábil propaganda da esquerda demonizar todos os
conservadores e direitistas31, mesmo os que desejam
ordem e paz para a Nação.
Quase
como uma cena saída de um enredo já pronto, outro raio iluminou os céus em
novembro: o vazamento de supostos planos de golpe de estado, envolvendo o
ex-presidente Bolsonaro, o alto escalão do Executivo de então, bem como
oficiais das Forças Armadas. Na sequência das investigações, a tempestade deve
continuar nos primeiros meses de 2025, entretanto nada mais apropriado para
desviar as atenções da patente derrota e desorientação da esquerda no Brasil no
último ano.
Não
podemos nos esquecer de um contra-golpe simbólico no meio deste vendaval: no
fim de novembro, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal (CCJ),
presidida pela Deputada conservadora Caroline de Toni, aprovou o projeto de
emenda constitucional que proíbe o aborto no Brasil
32. O
projeto precisa passar por outros trâmites na Câmara, mas a decisão reflete a
força da direita no Legislativo, algo que provocou esperneios histéricos entre
petistas e seus aliados. Parabéns aos membros da CCJ pela decisão corajosa.
Diante
dos acintes esquerdistas e progressistas contra a tendente pacatez e
tranquilidade de nosso povo, vale mencionar essas palavras de Plinio Corrêa de
Oliveira: “Cuidado com os pacatos
que se indignam, senhores da esquerda, do centro e da direita. A hora
não é para carrancas, mas para as discussões arejadas, polidas, lógicas e
inteligentes. Os pacatos toleram
tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez. Pois então facilmente se fazem
ferozes...”33
Peçamos
a Nossa Senhora Aparecida que conduza as forças conservadores e católicas neste
ano de 2025 para, dentro da lei e da ordem, fazerem valer sua voz sobre a
esquerda desnorteada, desesperada e derrotada.
____________
Notas:
1.
Valor Econômico, 15-12-23
2.
Idem.
3.
Tragédia no RS, documentário Brasil Paralelo
4.
UOL, 25-5-24.
5.
Folha de S. Paulo, 1-5-24.
6.
FSP, Fábio Zanini,“Fim da linha”, 3-5-24.
7.
FSP, 6-9-24.
8.
O Globo, 14-9-24.
9.
O Estado de S. Paulo, 9-9-24.
10.
Correio do Povo, 7-9-24.
11.
OESP, 16-9-24.
12.
UOL,18-9-24.
13.
UOL,18-9-24.
14.
FSP, 28-10-24.
15.
Embora o PT tenha conquistado mais prefeituras do que em 2020 (183 para 252),
isso pouco representa de tendência geral nos resultados. Cfr. UOL, 27-10-24.
16.
Portal de Prefeitura, 28-10-24.
17.
Infomoney, 28-10-24.
18.
Em São Paulo houve a média mais baixa em 25 anos: Cfr. Isto é, 28-8-24. O Rio
de Janeiro teve a madrugada mais fria em 13 anos (8,3ºC): Cfr. O Globo,
13-8-24.
19.
FSP, 14-8-24.
20.
Gazeta do Povo, 22-9-24.
21.
BBC Brasil, 22-10-24.
22.
OESP, 30-11-24.
23.
Poder 360, 7-11-24.
24.
OESP, 17-11-24.
25.
OESP, 28-11-24.
26.
UOL, 7-5-24.
27.
OESP, 12-11-24.
28.
UniSinos, 22-4-24.
29.
Portal de Prefeitura, 19-11-24.
30.
Gazeta do Povo, 10-11-24.
31.
Gazeta do Povo, 14-11-24.
32.
Agência Brasil, 27-11-24.
33.
FSP, “Cuidado com o Pacatos”,4-12-1982.