9 de janeiro de 2025

NOTRE-DAME — três belezas superpostas, o charme mais belo que a beleza

 

Fotos de Notre-Dame após a restauração

Hierárquica, sacral, ordenada para o que há de mais elevado, plenitude da Idade Média 


  Plinio Corrêa de Oliveira 

Na catedral de Notre-Dame de Paris, bela em cada um de seus pormenores, consideremos inicialmente as três portas do primeiro pavimento, encimadas por lindíssimas ogivas. Em cada portal aparecem vários episódios da História Sagrada, esculpidos de um e outro lado da ogiva. 

Acima das portas ogivais, uma fileira de estátuas. Não satisfeita em decapitar Luís XVI, a Revolução Francesa — cuja infâmia supera qualquer outro acontecimento histórico, exceto a traição de Judas — incitou alguns vândalos a subirem até às esculturas e degolá-las. 

Imaginemos que não existisse a parte superior do edifício, mas apenas o andar térreo coroado por essa espécie de balaústre acima das estátuas. Mesmo despojada dessa forma, ela seria uma edificação linda. 

Podemos imaginar também outro edifício formado apenas pela grande rosácea central e pelas duas laterais acima de duas pequenas ogivas superiores. Se esse conjunto estivesse no solo, poderia ser também a fachada de uma igreja belíssima. 

Poderíamos ainda imaginar cada uma das pontas das torres do terceiro piso transformadas em oratórios e colocadas no rés do chão, e veríamos que, mesmo separadamente, elas seriam extraordinárias. 



Na fachada da catedral há três belezas superpostas, mas a finura dos franceses — o charme mais belo que a beleza — fê-los sentir que alguma coisa faltaria, se ficasse só nisso. Percebe-se então uma cúpula atrás, e no alto uma flecha — a famosa flecha de Notre-Dame, que dá um arremate, um toque de leveza, de graça e de grandeza às torres inacabadas. 

As torres da catedral deveriam ter sido mais altas, mas o estilo gótico morreu ao sopro maldito da Renascença e do Humanismo, e por isso elas não foram concluídas. Entretanto, mesmo assim, têm encanto e beleza. 



Notre-Dame provoca uma impressão muito agradável pelo contraste entre a altura e a largura do edifício. Ela é graciosa e leve, mas possui um quê de fortaleza. É esguia, no entanto não pode de nenhum modo ser considerada frágil. Reflete bem a plenitude do espírito da Idade Média: hierático e hierárquico, sacral e ordenado, tudo voltado para o que há de mais alto.

A maior seriedade se compagina bem com a graça e a delicadeza, e os mais belos aspectos da alma católica aparecem a todo propósito em todos os ângulos da catedral.




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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 11 de janeiro de 1989. Esta transcrição não passou pela revisão do autor. Fonte Revista Catolicismo, Nº 889, Janeiro/2025.

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