16 de julho de 2024

Aspectos de requinte de civilização e debilidades na fisionomia de Luís XVII

* Louis-Charles de France (Versailles, 1785 – Paris, 1795), segundo filho de Luís XVI e da Rainha Maria Antonieta. Após a decapitação de seu pai na sanguinária Revolução Francesa — cujo marco inicial foi a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789 —, foi reconhecido como titular da coroa da França pelas potências coligadas e por seu tio, o futuro Luís XVIII. Morreu nas garras daquela Revolução, na prisão do Templo. (Quadro de Alexander Kucharski - 1792).

  Plinio Corrêa de Oliveira

Ao ver esse quadro com a figura de Luís XVII*, a impressão que me causou foi de fragilidade, dignidade e mando. Não o mando concebido de um modo abrutalhado e prepotente, como quem dissesse: “Me traga um copo d’água!” Mas um mando noutro sentido, como de quem pergunta: “Quereria me trazer um copo d’água?” 

Não passaria pela cabeça de quem recebe o pedido, de responder-lhe: “NÃO”. Porque a amabilidade e dignidade são tantas, que o indivíduo sente que deve trazer o copo d’água; muito menos pelo medo do que pela noção de superioridade que está incutida nesse estilo apresentado no quadro. 

Esta noção de mando vem com uma conotação confusa de contraste entre a revolucionária falta de dignidade e a superioridade. 

Não estou fazendo um elogio incondicional dessa gravura. Depois farei as críticas. Agora estou justificando a primeira impressão que tive. 

Esse requinte de civilização nem sempre fica claro, por causa dos preconceitos revolucionários de desprezar sob o pretexto de que tem grandeza. 

O Príncipe Real da França aparece muito consciente de que tem o direito de ser servido, que é normal que assim seja. Aparece também um tanto da debilidade censurável que resulta de algo que não é censurável: a ideia de que é tão normal ser servido, que não precisa fazer esforço para tal. Não há dúvida que é uma posição eminentemente aristocrática.

Ao mesmo tempo, essa figura me causa outra impressão: uma espécie de massa mole, onde existe mais carne do que osso. Há nas maçãs do rosto do Príncipe qualquer coisa de mole, que nunca se contraíram numa atenção, num sofrimento, numa oração. 

Observem as sobrancelhas. Elas “comentam” o olhar; sem elas se teria dificuldade de interpretar o olhar. Há sobrancelhas nas quais se percebe, por um imponderável qualquer, que houve o hábito de cerrá-las, que é produto da reflexão, e há sobrancelhas despreocupadas. 

Os olhos são grandes e tomam boa parte da face. O olhar não é ininteligente e é plácido; aparentemente desanuviado, mas crítico. Todo olhar tem algo de “anuviado”, mas ele disfarçou esse aspecto, o que é sinal da educação. 


A Rainha Elizabeth II [ao lado], por exemplo, tem um olhar que é absolutamente imóvel e não exprime nada do que pensa. Isso por diplomacia. Isso é categoria! 

Nesse quadro de Luís XVII se nota alguém que não fez outra coisa senão ver jardins bonitos, mármores, cristais, com fontes jorrando, gente fazendo reverência, e ele olhando sem entender muito... Dessa impressão se pode deduzir algo a respeito da mentalidade.

Nessa figura, o que há de Revolução e Contra-Revolução? Tudo que tem de aristocrático, dignidade e essa forma de mando representa Contra-Revolução. 

De Revolução notam-se: debilidades, molezas, tendências para o igualitarismo, por incrível que pareça. 


Nessa pintura, onde está a tendência para o igualitarismo? Comparem com o grande Luís XIV [ao lado], de quem é descendente. Em comparação com o Rei Sol, o Príncipe é um gatinho, um ratinho. É o igualitarismo que foi amesquinhando. 

Luís XVII em relação ao avô é um plebeu. Em relação a nós é um príncipe, porque estamos numa época de proletarismo debandado. 

O fato de ele não ser capaz de se impor pela força também é Revolução, porque nenhum homem pode pretender impor-se apenas por sua superioridade, pois muitas vezes os outros não atendem, então é preciso saber berrar e ir para frente. Ele precisava ser um homem que soubesse pegar uma espada ou um chicote, ou — muito melhor que isso — tivesse o olhar de Luís XIV! Pois vale mais do que a espada e o chicote! O olhar pode paralisar o adversário em seu devido lugar!
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Excertos da conferência (sem data) proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

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