24 de outubro de 2014

Segundo Turno das Eleições — algumas considerações

Paulo Roberto Campos

Leia a frase abaixo prezado leitor, mas, por favor, sem verificar a fonte (que consta no final do artigo), pois desejo que responda a uma pergunta sem ser influenciado pelo nome do autor.
“A injustiça desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. 
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.(*) 
Não é verdade que estas considerações servem como luvas para as mãos de nossos atuais governantes? 

Nossos jornais — que em tempos de normalidade deveriam noticiar os grandes feitos do Brasil para conhecimento nosso e dos povos do mundo inteiro — hoje mais parecem páginas policiais que nos envergonham diante de nossos filhos e das nações. 

Vemos o aparelhamento do Estado em proveito não apenas de alguns bolsos insaciáveis, mas para favorecer a dissolução dos bons costumes, a desagregação da família, a perseguição religiosa e para lançar o País numa luta de classes e de raças de brasileiros contra brasileiros, de negros contra brancos, de empregados contra patrões, de alunos contra professores, de filhos contra pais. 

Exemplo disso é o bolivariano Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), aprovado por Lula da Silva no final de 2009, e que o governo pretende aplicar inteiramente caso vença as próximas eleições. Assim como a aplicação do ditatorial “Decreto 8.243″ — assinado por Dilma Rousseff no dia 23 de maio p.p. —, que subjugará País a um sistema bolivariano de governo, com o estabelecimento de “conselhos populares”, no mesmo estilo dos soviets oriundos da antiga URSS. 

Em meados do ano passado, tivemos a impressão de que a sociedade brasileira tinha por fim resolvido reagir contra a sovietização do País e a tantos outros escândalos. O “gigante pela própria natureza” parecia despertar… Foram as gigantescas manifestações de rua, que trouxeram a tantos de nós a esperança de uma mudança real no Brasil. Mas, infelizmente, parece que o sono voltou e o gigante dormiu… Será? Espero que eu esteja enganado e que ele resolva dar um basta a tantas mazelas que nos têm envergonhado. Assim, o País poderá tomar um rumo novo em direção à grandiosa vocação que a Providência Divina destinou a esta Terra de Santa Cruz.

A propósito das presentes considerações, sugiro a leitura do judicioso manifesto intitulado Eleição presidencial: o Brasil ante o perigo esquerdista e o vácuo político. Ele foi publicado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (www.ipco.org.br) em razão do segundo turno das eleições, no próximo dia 26.
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(*) Discurso de Ruy Barbosa, em 1914, no Senado Federal. Ruy Barbosa, Obras Completas, Vol. XVI tomo VI, pág. 187.

17 de outubro de 2014

O Sínodo da Família e a Revolução da Sorbonne de Maio de 68

Paulo Roberto Campos

No dia 15 do corrente mês de outubro, “Il Foglio” [fac-símile ao lado], diário italiano especializado em temas relacionados com o Vaticano, publicou uma importante matéria do Prof. Roberto de Mattei sobre o Sínodo da Família — tema de especial atenção dos leitores deste blog, dedicado a tratar particularmente das questões que afetam a instituição familiar em nossos dias.

Conceituado historiador, professor de História da Igreja e do Cristianismo na Universidade Europeia de Roma, Roberto de Mattei publicou em 2010 o famoso livro O Concílio Vaticano II – uma história nunca escrita.

Na matéria para “Il Foglio”, ele analisa as afirmações contidas no documento de autoria do Cardeal húngaro Péter Erdö, relator do Sínodo da Família, as quais foram divulgadas pela mídia do mundo inteiro no dia 13 p.p.

Por exemplo, a de que “as pessoas homossexuais têm dons e qualidades para oferecer à comunidade cristã.” E ainda outras, que igualmente colidem com o ensinamento do magistério tradicional da Igreja, relativas à comunhão aos recasados, à nulidade de casamentos, ao divórcio, aos métodos contraceptivos, às relações extraconjugais, à adoção de filhos por duplas de homossexuais, etc.

Tais afirmações, que causaram muita perplexidade, confusão e escândalo em incontáveis almas católicas, tampouco coadunam com as admiráveis e inequívocas afirmações de São Paulo Apóstolo, em carta aos Coríntios (6,9): “Nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os salteadores hão de herdar o reino de Deus”. 

O renomado escritor italiano faz uma correlação entre o mencionado relatório e a revolução anárquica da Sorbonne, de maio de 1968, cujo lema era “É proibido proibir”. Ou seja, tudo é permitido, inclusive o pecado; nada é condenável, inclusive os atos imorais. 

Bem sabemos que o confuso e perplexitante relatório é um rascunho e não um documento final e oficial do Sínodo da Família. Contudo, não deixa de ser grave sua divulgação e inaceitável seu conteúdo, pois contradiz a doutrina tradicional, indefectível e inalterável, da Igreja. Foi, aliás, o que declarou o líder da conferência dos bispos poloneses, o Cardeal Stanislaw Gadecki, que caracterizou o documento de “inaceitável”, pois “desvia dos ensinamentos da Igreja”.

Rezemos para que o documento final daquela assembleia (que se encerrará no próximo dia 19) seja INTEIRAMENTE conforme à imaculada doutrina sempre ensinada pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Um documento que não contenha concessões ao espírito do mundo neopagão dominado pela corrupção moral. Diante desse mundo, a nossa posição deve ser a de seguir o conselho de São Paulo Apóstolo: “Permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou por nossa carta” (Segunda Epístola aos Tessalonicenses, 2, 15).

Com esta breve introdução, recomendo vivamente a leitura da matéria do Prof. Roberto de Mattei. O texto que segue foi traduzido por Hélio Dias Viana.

Resistir à tendência herética. O relatório do Cardeal Erdö elimina com um só golpe o pecado e a lei natural 

Roberto de Mattei 
Il Foglio, 15-10-2014 

Eliminado o sentido do pecado; abolidos os conceitos de bem e de mal; suprimida a lei natural; arquivada qualquer referência a valores positivos como virgindade e castidade. Com o relatório apresentado em 13 de outubro de 2014 no Sínodo sobre a família pelo Cardeal Péter Erdö, a revolução sexual irrompe oficialmente na Igreja, com consequências devastadoras para as almas e a sociedade. 

A Relatio post disceptationem elaborada pelo Cardeal Erdö é o relatório resumitivo da primeira semana de trabalhos do Sínodo e aquele que orienta as suas conclusões. A primeira parte do documento pretende impor, com uma linguagem derivada do pior ‘Sessenta e oito’ [NdT: Revolução anarquista da Sorbonne, de maio de 1968], a “mudança antropológico-cultural” da sociedade como um “desafio” para a Igreja. Diante de um quadro que da poligamia e do “casamento por etapas” africanos chega à “prática da convivência” da sociedade ocidental, o relatório encontra a existência de “um difuso desejo de família”. Nenhum elemento de avaliação moral está presente. À ameaça do individualismo e do egoísmo individualista o texto contrapõe o aspecto positivo da “relacionalidade”, considerada um bem em si, sobretudo quando tende a transformar-se em relação estável (nos. 9-10). 

A Igreja renuncia a emitir juízos de valor para limitar-se a “dizer uma palavra de esperança e de sentido” (no. 11). Afirma-se em seguida um novo surpreendente princípio moral, a “lei da gradualidade”, que permite colher os elementos positivos em todas as situações até agora definidas como pecadoras pela Igreja. O mal e o pecado propriamente não existem. Existem apenas “formas imperfeitas de bem” (no. 18), segundo uma doutrina dos “graus de comunhão” atribuída ao Concílio Vaticano II. “Tornando-se portanto necessário um discernimento espiritual em relação às coabitações, aos matrimônios civis e aos divorciados recasados, compete à Igreja reconhecer que a semente do Verbo se espalhou além das fronteiras visíveis e sacramentais” (no. 20).

O problema dos divorciados recasados é um pretexto para fazer passar um princípio que mina dois mil anos de moral e de fé católica. Após a Gaudium et Spes, “a Igreja se volta com respeito para aqueles que participam em sua vida de modo incompleto e imperfeito, prezando mais os valores positivos que guardam, do que as limitações e as faltas” (ibidem). Isso significa que cai todo o tipo de condenação moral, porque qualquer pecado passa a constituir uma forma imperfeita de bem, um modo incompleto de participar na vida da Igreja. “Nesse sentido, uma nova dimensão da pastoral familiar hodierna consiste em entender a realidade dos casamentos civis e, feitas as devidas diferenças, também das coabitações” (no. 22).

E isso sobretudo “quando a união alcança uma notória estabilidade através de um vínculo público, e caracteriza-se por profunda afeição, de responsabilidade em relação à prole, da capacidade de resistir nas provas” (ibid). Com isso fica de cabeça para baixo a doutrina da Igreja segundo a qual a estabilização no pecado através do casamento civil constitui um pecado mais grave do que a união sexual ocasional e passageira, porque esta última permite com mais facilidade o retorno ao caminho certo. “Uma sensibilidade nova na pastoral hodierna consiste em entender a realidade positiva dos casamentos civis e, feitas as devidas diferenças, também das coabitações” (no. 36).

A nova pastoral impõe, portanto, o silêncio sobre o mal, renunciando à conversão do pecador e aceitando o status quo como irreversível. São estas que o relatório chama de “opções pastorais corajosas” (ponto 40). A coragem, ao que parece, não está em opor-se ao mal, mas em adaptar-se a ele. As passagens dedicadas ao acolhimento às pessoas homossexuais são as que pareceriam mais escandalosas, mas constituem a consequência lógica dos princípios acima expostos. Até o homem da rua compreende que se ao divorciado recasado é possível aproximar-se dos sacramentos, tudo é permitido, a começar pelo pseudo casamento homossexual.

Nunca, realmente nunca, sublinha Marco Politi no “Il Fatto” de 14 de outubro, ele tinha lido, em um documento oficial produzido pela hierarquia eclesiástica, uma frase do gênero: “As pessoas homossexuais têm dons e qualidades para oferecer à comunidade cristã.” Seguida de uma pergunta dirigida aos bispos do mundo inteiro: “estamos em condições de acolher essas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade em nossas comunidades?” (no. 50). Embora não equiparando as uniões entre pessoas do mesmo sexo ao casamento entre homem e mulher, a Igreja se propõe “elaborar maneiras realistas de crescimento afetivo e de maturidade humana e evangélica integrando a dimensão sexual” (no. 51). “Sem negar os problemas morais conexos às uniões homossexuais, nota-se que há casos em que o suporte mútuo com vistas ao sacrifício constitui um apoio precioso para a vida dos parceiros” (no. 52).

Nenhuma objeção de princípio vem expressa em relação à adoção de crianças por duplas homossexuais: aqui limita-se a dizer que “a Igreja tem uma atenção especial para com as crianças que vivem com casais do mesmo sexo, insistindo que em primeiro lugar são colocados sempre as exigências e os direitos dos pequenos” (ibid). Na conferência de imprensa de apresentação, Mons. Bruno Forte chegou a auspiciar “uma codificação dos direitos que podem ser assegurados às pessoas que vivem em uniões homossexuais”.

As palavras fulminantes de São Paulo segundo as quais “nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os salteadores hão de herdar o reino de Deus” (I Carta aos Coríntios, 6, 9) ficam esvaziadas de sentido para os malabaristas da nova moralidade pansexual. Para eles é necessário entender a realidade positiva daquele que foi chamado de pecado que clama ao Céu por vingança (Catecismo de São Pio X). A “moral da proibição” deve ser substituída pela do diálogo e da misericórdia, e o slogan de 68, “é proibido proibir”, é atualizado pela fórmula pastoral segundo a qual “nada se pode condenar”. 

Não caem apenas dois mandamentos, o sexto e o nono, que proíbem pensamentos e atos impuros fora do casamento, mas desaparece a ideia de uma ordem natural e divina objetiva sintetizada no Decálogo. Não existem atos intrinsecamente ilícitos, verdades e valores morais pelos quais se deve estar disposto a dar até a vida, como os define a encíclica Veritatis Splendor (no. 51 e no. 94). No banco dos réus não estão apenas a Veritatis Splendor e os recentes pronunciamentos da Congregação para a Doutrina da Fé em matéria de moralidade sexual, mas o próprio Concílio de Trento que formulou dogmaticamente a natureza dos sete sacramentos, a começar pela Eucaristia e pelo Matrimônio.

Tudo começa em outubro de 2013, quando o Papa Francisco, após ter anunciado a convocação dos dois sínodos sobre a família, o ordinário e o extraordinário, promove um “Questionário” dirigido aos bispos de todo o mundo. O uso enganoso de pesquisas e questionários é bem conhecido. A opinião pública julga que uma escolha é justa quando feita pela maioria das pessoas. E as sondagens atribuem a essa maioria, opiniões já predeterminadas pelos manipuladores do consenso. O questionário desejado pelo Papa Francisco abordou os temas mais prementes, da contracepção à comunhão aos divorciados, das uniões de fato aos casamentos entre homossexuais, mais com o objetivo de orientação que de informação.

A primeira resposta, publicada em 3 de fevereiro pela Conferência Episcopal alemã (“Il Regno Documenti”, 5 [2014], pp. 162-172), foi claramente anunciada para condicionar a preparação do Sínodo e sobretudo para oferecer ao cardeal Kasper a base sociológica de que precisava para a preleção ao Consistório que o Papa Francisco lhe havia confiado. O que de fato emergiu foi a recusa explícita dos católicos alemães “às pretensões da Igreja sobre as relações sexuais pré-maritais, a homossexualidade, os divorciados recasados e o controle da natalidade” (p. 163). “As respostas recebidas das dioceses — dizia-se ainda — deixam entrever quão grande é a distância entre os batizados e a doutrina oficial, sobretudo no que diz respeito à convivência pré-matrimonial, ao controle de natalidade e à homossexualidade” (p. 172).

Esta distância não vinha apresentada como uma separação dos católicos em relação ao Magistério da Igreja, mas como uma incapacidade da Igreja em compreender e secundar o curso dos tempos. O cardeal Kasper, em sua exposição ao Consistório de 20 de fevereiro, definirá tal distância de um “abismo” que a Igreja deveria ter preenchido adaptando-se à prática da imoralidade.

De acordo com um dos seguidores do cardeal Kasper, o sacerdote genovês João Cereti, conhecido por um estudo tendencioso sobre o divórcio na Igreja primitiva, o questionário foi promovido pelo Papa Francisco, a fim de evitar que o debate ocorresse “em ambientes confinados” (“Il Regno-Attualità” 6 [3014], p. 158). Mas se é verdade que o Papa desejava que a discussão se desenvolvesse de forma transparente, não se compreende a decisão de realizar o Consistório extraordinário de fevereiro e, em seguida, o Sínodo de outubro a portas fechadas. O único texto de que se teve conhecimento, graças ao “Foglio”, foi a exposição do Cardeal Kasper. Em seguida baixou o silêncio sobre os trabalhos.

Em seu Diário do Concílio, em 10 de novembro de 1962, o Padre Chenu anota estas palavras do padre Giuseppe Dossetti, um dos principais estrategistas da frente progressista: “A batalha eficaz se joga no regulamento. É sempre por esta via que eu ganhei”. Nas assembleias, o processo decisório não pertence à maioria, mas à minoria que controla o regulamento. Não existe democracia na sociedade política nem na religiosa. A democracia na Igreja, observou o filósofo Marcel De Corte, é cesarismo eclesiástico, o pior de todos os regimes. No processo sinodal em curso a existência deste cesarismo eclesiástico é demonstrada pela pesada atmosfera de censura que o acompanhou até hoje.

Os vaticanistas mais cuidadosos, como Sandro Magister e Marco Tosatti, sublinharam que, ao contrário dos Sínodos precedentes, neste foi proibido aos padres sinodais de intervir. Magister, recordando a distinção feita por Bento XVI entre o Vaticano II “real” e o “virtual” que se lhe sobrepôs, falou de uma “divisão entre sínodo real e sínodo virtual, este último construído pela mídia com a sistemática ênfase às coisas caras ao espírito do tempo”. Hoje, no entanto, são os próprios textos do Sínodo que se impõem com a sua força explosiva, sem a possibilidade de deturpações pelos meios de comunicação, que se têm mostrado até mesmo espantados com o poder explosivo do Relatório do cardeal Erdö.

Naturalmente este documento não tem qualquer valor magisterial. É também lícito duvidar que ele reflita o verdadeiro pensamento dos Padres sinodais. Contudo, a Relatio prenuncia a Relatio Synodi, o documento final da assembleia dos bispos.

O verdadeiro problema que agora se porá é o da resistência, anunciado no livro Permanere nella Verità di Cristo [Permanecer na Verdade de Cristo], dos cardeais Brandmüller, Burke, Caffarra, De Paolis e Müller (Cantagalli 2014). O cardeal Burke, em sua entrevista com Alessandro Gnocchi no “Foglio” de 14 de outubro, afirmou que eventuais mudanças na doutrina ou na prática da Igreja pelo Papa seriam inaceitáveis, “porque o Papa é o Vigário de Cristo na Terra e, por conseguinte, o primeiro servo da verdade da fé. Conhecendo o ensinamento de Cristo, não vejo como se possa desviar daquele ensinamento com uma declaração doutrinária ou com uma prática pastoral que ignore a verdade”.

Os bispos e os cardeais, até mais do que os simples fiéis, encontram-se diante de um terrível drama da consciência, muito mais grave do que aquele que tiveram de enfrentar no século XVI os mártires ingleses. Com efeito, tratava-se então de desobedecer à suprema autoridade civil, o rei Henrique VIII, que por um divórcio abriu o cisma com a Igreja Romana, enquanto hoje a resistência é feita à suprema autoridade religiosa, caso esta se desvie do ensinamento perene da Igreja.

E quem é chamado a resistir não são católicos desobedientes ou dissidentes, mas precisamente aqueles que mais profundamente veneram a instituição do Papado. Outrora, quem resistisse era entregue ao braço secular, que o destinava à decapitação ou ao esquartejamento. O braço secular contemporâneo aplica o linchamento moral, através da pressão psicológica exercida pela mídia sobre a opinião pública.

O resultado é muitas vezes o colapso físico e mental das vítimas, a crise de identidade, a perda da vocação e da fé, a menos que se seja capaz de exercitar, com o auxílio da graça, a virtude heroica da fortaleza. Resistir significa, em última análise, reafirmar a total coerência da própria vida com a Verdade imutável de Jesus Cristo, invertendo o argumento dos que hoje pretendem dissolver a eternidade do Verum na precariedade do quotidiano.

16 de outubro de 2014

“Sínodo da Família” ou “Sínodo Anti-Família?”

Em continuação ao post anterior, sobre o polêmico Sínodo — que deveria despontar como uma magnífica muralha protetora da família, mas que, pelo contrário, conta com participantes defendendo posições que poderão dilacerar ainda mais a instituição familiar — transcrevo para nossos leitores um comunicado, divulgado no dia 13 último, do movimento Voice of the Family.

Tal entidade, que representa 15 grupos internacionais pró-família, considerou ser uma “traição” o relatório preliminar do Sínodo.

O texto que segue é uma tradução, feita pela Sra. Teresa Maria Freixinho, da matéria de LifeSiteNews e publicada no site Fratres in Unum.com (15-1—14).


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O relatório preliminar do Sínodo Extraordinário sobre a Família não passa de uma “traição” aos valores católicos e familiares, disse um influente grupo pró-vida. 

Falando com todas as letras, o porta-voz britânico do Voice of the Family, John Smeaton, disse que “aqueles que estão controlando o Sínodo traíram os pais católicos. O relatório preliminar do Sínodo é um dos piores documentos oficiais elaborados na história da Igreja.”

“Felizmente,” disse Smeaton, “o relatório é preliminar para fins de discussão, ao invés de uma proposta definitiva.” 

Da mesma forma, o representante irlandês Patrick Buckley disse que o relatório “representa um ataque ao matrimônio e à família” ao “efetivamente dar uma aprovação tácita às relações adúlteras.” Além disso, “o relatório enfraquece o ensinamento definitivo da Igreja contra a contracepção e deixa de reconhecer que a inclinação homossexual é objetivamente desordenada,” disse Buckley. 

Patrick Craine, porta-voz americano do Voice of the Family, disse que o relatório “não constitui uma representação fiel das discussões sinodais. Muitos padres sinodais têm defendido bravamente o ensinamento da Igreja dentro e fora da Sala do Sínodo, ainda que a posição deles dificilmente esteja refletida no documento.” 

“O relatório está certo ao pedir solicitude pastoral,” disse Craine, “porém, conforme enfatizava o Cardeal Ratzinger, solicitude só pode ser realizada na verdade. Da maneira como está redigido, o documento enfraquece o zelo pastoral autêntico e só pode causar danos graves, neste mundo e no que há de vir, àqueles a quem pretende ajudar.” 

“Dar a Sagrada Comunhão a pessoas que não se arrependem de pecados sexuais mortais seria uma falsa misericórdia,” disse a coordenadora do Voice of the Family, Maria Madise, que afirmou que o relatório enfraquece as famílias católicas. “Será que os pais católicos serão forçados a dizer falsamente aos seus filhos que pecados mortais como o uso da contracepção, coabitação com parceiros ou vivência de estilos de vida homossexuais têm atributos positivos?” 

“A misericórdia real consiste em oferecer às pessoas uma consciência limpa através do Sacramento da Penitência e, assim, a união com Deus”, concluiu Madise.

“É essencial que as vozes dos fiéis leigos que sinceramente vivem o ensinamento católico também sejam levadas em consideração”, disse Smeaton. “O Voice of the Family recomenda que os católicos não sejam complacentes ou cedam a um falso sentido de obediência em face dos ataques aos princípios fundamentais da lei natural no Sínodo.”

10 de outubro de 2014

“NÃO ESCANDALIZEM SEUS FILHOS OU NETOS”


Paulo Roberto Campos 

O muito controvertido “Sínodo sobre a Família” — que reúne quase 200 prelados no Vaticano (de 5 a 19 deste mês) — tem despertado muitas perplexidades em inúmeros católicos, sobretudo nos ambientes de famílias conservadoras, pois alguns participantes no evento estão sugerindo certas inovações inaceitáveis. Inaceitáveis, sim, pois contrariam o ensinamento do magistério tradicional da Igreja. Ademais, tais inovações poderão desagregar ainda mais a instituição familiar, já tão debilitada no mundo moderno. 

Com o objetivo de ajudar a esclarecer a questão, a seguir transcrevo a tradução (feita pelo portal “Fratres in Unum” e publicada em 10-10-14) de uma oportuna entrevista que o Cardeal Raymond Leo Burke concedeu ao site “LifeSiteNews”. E, no final deste post, o vídeo da entrevista (em inglês) com o eminente Cardeal norte-americano, Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica — o mais alto tribunal da Santa Sé. Grande conhecedor dos problemas que atualmente atingem as famílias, ele é um dos autores do livro, recentemente lançado, Permanecendo na Verdade de Cristo: o matrimônio e a Comunhão na Igreja católica.


Essa forma particular de relacionamento não deve ser imposta aos membros da família e, especialmente, a crianças impressionáveis”​​

Cardeal Burke responde ao discurso do casal australiano: “Não escandalizem seus filhos ou netos”. 


Por Life Site News | Tradução: Fratres in Unum.com — Em entrevista exclusiva ao LifeSiteNews, o Cardeal Raymond Burke respondeu a uma apresentação polêmica feita por um casal australiano [Ron e Marvis Pirola] perante os 191 bispos e cardeais líderes da Igreja Católica no Sínodo Extraordinário sobre a família em curso esta semana.

Durante a intervenção, que acabou se tornando uma das mais amplamente noticiadas no Sínodo, os Pirolas perguntaram e responderam a uma pergunta sobre o que os pais deveriam fazer caso seu filho quisesse trazer o seu parceiro homossexual para um jantar de Natal em que seus netos estivessem presentes. 

A resposta dos Pirolas, que eles defenderam como um modelo para a maneira como a Igreja Católica deveria lidar com relacionamentos de pessoas do mesmo sexo, foi que os pais deveriam aceitar a participação do filho e de seu parceiro homossexual sabendo que “seus netos iriam vê-los acolhendo o filho e seu parceiro na família.” 

O Cardeal de Westminster, Dom Vincent Nichols, revelou em seguida que alguns Padres sinodais reagiram à breve intervenção do casal de maneira “muito calorosa, com aplausos.” 

Em declarações ao LifeSiteNews em um curto intervalo do Sínodo ontem, o Cardeal Burke, prefeito da Assinatura Apostólica no Vaticano, referiu-se à “pergunta” dos Pirolas como uma questão delicada, que precisa ser tratada de maneira “calma, serena, razoável e cheia de fé.”

"Se as relações homossexuais são intrinsecamente desordenadas, o que de fato são — a razão e também a nossa fé nos ensinam — então, o que significaria para os netos terem presentes em uma reunião de família um membro da família que está vivendo em uma relação desordenada com outra pessoa?”, indagou o cardeal. 

Burke acrescentou: “não queremos que os nossos filhos tenham a ‘impressão’ de que as relações sexuais fora do plano de Deus são corretas, ao parecer que toleramos atos gravemente pecaminosos por parte de um membro da família.” 

“Nós não o faríamos se fosse outro tipo de relacionamento — algo que fosse profundamente desordenado e prejudicial —, não exporíamos nossos filhos a esse relacionamento, a experiência direta desse tipo de relacionamento. E nem deveríamos fazê-lo no contexto de um membro da família que não apenas sofre de atração pelo mesmo sexo, mas que optou por viver essa atração, por agir de acordo com essa atração, por cometer atos que são sempre e em todo lugar errados e maus.”

Ele acrescentou, no entanto, que “as famílias precisam encontrar uma maneira de ficar próximas de um filho nessa situação — de um filho ou neto, ou o que quer que seja —, a fim afastar a pessoa de um relacionamento desordenado.”

Os receios do Cardeal Burke foram compartilhados pelo Voice of the Family, uma coalizão de 15 grandes grupos pró-vida e pró-família de todos os continentes, que chamou de “prejudicial” a intervenção dos Pirolas. 

“O acolhimento sem ressalvas de casais homossexuais em ambientes familiares e paroquiais, na realidade, prejudica a todos, ao servir para normalizar a desordem da homossexualidade”, disse o porta-voz do Voice of the Family, Maria Madise, em um comunicado de imprensa.

Em entrevista à Aleteia, o padre Paul Check, chefe do Courage, o grupo católico que trabalha para ajudar as pessoas com atração pelo mesmo sexo a viverem uma vida casta, respondeu à pergunta, salientando que: “Nós nunca podemos ser mais pastorais do que Jesus.” 

Ele acrescentou: “Acolher as pessoas na Igreja, em nossas casas, em conversa… ‘aceitá-las’ de maneira autenticamente semelhante a de Cristo nunca implicaria barganhar com a verdade.” Um exemplo disso seria “dizer a alguém, de alguma forma: “Bom, isso é o melhor que você pode fazer.”

A pergunta completa e a resposta do Cardeal Burke: 

LifeSiteNews: Como os pais católicos evem lidar com uma situação difícil como esta: 
Ao planejar um encontro familiar de Natal com os netos presentes, os pais são indagados por seu filho, que está em um relacionamento homossexual, se ele pode levar consigo seu parceiro homossexual? Ao aplicar esses princípios, como as paróquias deveriam lidar com casais abertamente homossexuais que se aproximam da Santa Comunhão e que buscam cargos de liderança dentro da paróquia? 

Cardeal BurkeEsta é uma questão muito delicada, e é ainda mais delicada pela agressividade da agenda homossexual. Mas é preciso abordar esse tema de maneira muito calma, serena, razoável e cheia de fé. Se as relações homossexuais são intrinsecamente desordenadas, e de fato o são – a razão nos ensina isso e também a nossa fé – então, o que significaria para os netos terem presentes em uma reunião familiar um membro da família que está vivendo em uma relação desordenada com outra pessoa? 

Se fosse outro tipo de relacionamento — algo que fosse profundamente desordenado e prejudicial — não exporíamos nossas crianças a esse tipo de relacionamento, à experiência direta dele. Assim, tampouco deveríamos fazê-lo no contexto de um membro da família que não apenas sofre de atração pelo mesmo sexo, mas que optou por viver essa atração, por agir de acordo com ela, cometer atos que são sempre e em todo lugar errados e maus. 

E assim, as famílias precisam encontrar uma maneira de ficar próximas de um filho nesta situação — de um filho ou neto, ou o que quer que seja —, a fim afastar a pessoa de um relacionamento desordenado.” 

E sabemos que com o tempo, esses relacionamentos deixam a pessoa profundamente infeliz. E por isso é importante nos mantermos o mais próximos que pudermos. Mas, essa forma particular de relacionamento não deve ser imposta aos membros da família, e especialmente a crianças impressionáveis. E exorto os pais ou avós — quem quer que seja — que sejam muito, muito prudentes neste assunto e não escandalizem os seus filhos ou netos.

Há tantas coisas em nossa sociedade hoje em dia que estão passando a mensagem de que qualquer forma de relação sexual, se de alguma forma ela lhe agrada — ou se você estiver atraído para ela — está bem, está correta. E nós não queremos que nossos filhos tenham essa impressão, ao parecer que estamos tolerando atos gravemente pecaminosos por parte de um membro da família. 

Certamente, essa é uma fonte de grande sofrimento, mas o esforço para fazer o que é certo e bom sempre envolve sofrimento. E, neste caso, certamente envolverá sofrimento. Mas que o sofrimento seja realmente redentor ao final.

Já com relação às paróquias, a situação é muito semelhante, porque a paróquia é uma “família de famílias”. E assim, se você tiver paroquiano que esteja vivendo em pecado público em um relacionamento homossexual, bem, o sacerdote deve tentar se aproximar dessa pessoa — ou de ambos, se forem católicos — e tentar ajudá-los a deixar o relacionamento pecaminoso e começar uma vida casta. O pastor deve incentivá-los também a rezar e a participar da Missa dominical e de outras maneiras adequadas para tentar superar o pecado grave em suas vidas.

Essas pessoas que estão vivendo dessa forma certamente não poderão ter qualquer papel de liderança na paróquia, porque daria a impressão aos paroquianos que a forma como elas estão vivendo é perfeitamente boa. Porque, quando dirigimos uma paróquia, de certa forma, estamos dando testemunho de uma vida católica coerente. E as pessoas que não são coerentes com a sua fé católica não recebem funções de liderança. Não lhes pedimos, por exemplo, que sejam leitores na Santa Missa — ou que assumam outra posição de liderança — até que elas tenham retificado sua situação e passado por uma conversão de vida e estejam prontas a dar esse tipo de liderança.

Por um lado, certamente haverá escândalo entre os paroquianos no que diz respeito a uma parte muito importante da nossa vida, a nossa sexualidade, e o que ela significa. Por outro lado, não é bom para as duas pessoas envolvidas no relacionamento desordenado porque também lhes dá a ideia de que a Igreja de alguma forma aprova o que elas estão fazendo.


29 de setembro de 2014

Catedral de Campinas é defendida da ação de feministas pró-aborto


Brasília, 29 de Setembro de 2014 (Zenit.org) 
Thácio Siqueira 

Para evitar o que ocorreu em Paris, com a profanação da Catedral de Notre Dame (invadida por feministas radicais), jovens católicos que atuam contra a prática do aborto em nosso País, liderados pelo Prof. Hermes Rodrigues Nery e Flavia Camargo, defenderam a Catedral de Campinas, no dia 27 último. 

Na praça da Catedral, tomada por petistas e integrantes do MST e feministas pró-aborto, realizava-se o evento, por elas mesmas denominadas, "Marcha das Vadias pela Descriminalização do Aborto". Mas a Catedral de Campinas foi preservada por um grupo de “bravos soldados de Cristo", como relata em entrevista a ZENIT (29-9-14) o Prof. Hermes Nery. 




ZENIT: O que aconteceu na Catedral de Campinas nesse fim de semana? 
Prof. Hermes: Fomos avisados na sexta-feira, a noite, por volta das 22 horas, de que haveria uma "Marcha das Vadias pela Descriminalização do Aborto", às nove horas da manhã do dia seguinte, 27 de setembro, diante da Catedral de Campinas. A exemplo do que tem acontecido em outros países, elas poderiam inclusive invadir a Catedral para atos blasfêmicos. Tínhamos uma agenda de compromissos em São Paulo, com a Flavia Camargo, e resolvemos cancelar e ir até a Catedral, com um único objetivo: evitar que elas entrassem na Catedral. Sentimos a necessidade de uma mobilização, em cima da hora, e a urgência em defendermos o templo, que tem sido alvo das feministas, que durante a Jornada Mundial da Juventude fizeram atos sacrílegos. O nosso intuito, portanto, foi de defender a igreja de algum ataque nesse sentido. 


ZENIT: Como reagiram os jovens católicos e pró-vida? 
Prof. Hermes: Conseguimos agregar um pequeno grupo de jovens católicos e pró-vidas, dispostos a ir lá. Graças a Deus, providências foram tomadas nesse sentido, como, por exemplo, o Cônego Álvaro, avisado em tempo da situação, foi firme também nessa iniciativa, de defender o templo de alguma profanação. Fechou a porta principal da Catedral e deixou uma porta lateral aberta para a entrada dos fiéis, cujo fluxo sempre é maior num sábado de manhã. Ficamos lá de sentinela, enquanto um outro pequeno grupo ficou na praça para ver alguma movimentação e avisar de alguma coisa. O próprio Cônego Álvaro circulou pela praça, enquanto conversamos. Ficamos lá o tempo todo, de modo que assim a Catedral foi defendida. 


ZENIT: Qual era o discurso das feministas? O que significa, em um estado laico, uma ameaça de profanação de um templo católico? 
Prof. Hermes: No folheto que elas estavam distribuindo na praça (cheia de petistas com bandeiras pró-Dilma, integrantes do MST e feministas pró-aborto), dizia que "nenhuma religião pode ter a prerrogativa de interferir nas políticas públicas de um Estado laico. Independente de nossas crenças individuais , como cidadãos e cidadãs, não podemos impor nossa fé para outras pessoas". Mas estivemos lá para deixar claro que elas não podem em nome do laicismo serem hostis aos cristãos, e, como fizeram as feministas em Paris, entrarem no templo para o profanarem. 
Elas vieram com a aquela fala já conhecida, cheia de chavões, com decoreba mesmo, fazendo apologia ao laicismo, aos direitos reprodutivos, ao direito de escolha da mulher, com estatísticas exageradas de mortes maternas por aborto, sendo que os dados do SUS não batem com os números apresentados por elas, etc. Ouvimos seus argumentos, mas deixamos claro que lá dentro elas não entrariam, pois estávamos lá para defender o templo católico. Uma delas, que tinha 26 anos, disse: "Idade que minha mãe tinha no ano em que nasci". E acrescentei: " Reflita sobre isso, se ela tivesse me abortado, eu não estaria aqui agora. A vida humana deve ser acolhida, promovida, respeitada, valorizada e amada, desde a concepção!" 


ZENIT: Que tipo de heroísmo nos é pedido nesses tempos em que vivemos? 
Prof. Hermes: Precisamos de uma militância católica que não tenha medo de assumir publicamente a identidade católica e defender o direito à liberdade de expressão e crença religiosa, garantida pela Constituição, e não podemos nos acuar diante de um laicismo agressivo e provocador. Graças à presença desses jovens que lá estiveram, foi possível evitar que o templo fosse profanado, afirmando assim a necessidade que temos, sim, de defendermos nossos princípios e valores, e também nossos espaços de culto. Enquanto batizados, somos chamados a fazer esta defesa. (http://www.zenit.org/pt/articles/catedral-de-campinas-e-defendida-da-acao-de-feministas-pro-aborto)

27 de setembro de 2014

Eleição presidencial: o Brasil ante o perigo esquerdista e o vácuo político


No próximo dia 5 de outubro o Brasil efetuará a oitava eleição presidencial, após a assim chamada redemocratização. Eleição que, tudo parece indicar, só no segundo turno, a realizar-se três semanas depois, definirá o futuro ocupante do Palácio do Planalto.
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, com o presente comunicado, não pretende imiscuir-se nas disputas partidárias que, em nosso País, são marcadas, de modo preponderante, por divergências de interesse de personalidades ou de clãs políticos, mais do que por desacordos de elevado nível doutrinário.
Entretanto, a presente eleição presidencial traz em seu bojo questões ideológicas inquietantes, muitas vezes afastadas da atenção do público por debates irrelevantes. Sendo diversas dessas questões de vital importância para a Igreja e para a civilização cristã, é compreensível que suscitem indagações no espírito de muitos católicos, sobretudo quando percebem seus valores ameaçados. Acresce-se a isso que tais questões ideológicas estão muitas vezes impregnadas do pensamento doutrinário, da atuação política e da agitação social da “esquerda católica”.
Por tais motivos, pareceu conveniente ao Instituto Plinio Corrêa de Oliveira — entidade civil, composta de leigos católicos(1) — apresentar aqui uma série de reflexões destinadas antes de tudo a seus dedicados simpatizantes, mas também aos católicos e aos eleitores em geral. Reflexões que submete igualmente à atenção dos políticos e dos candidatos engajados no atual pleito.
1. Quadro político e eleitoral conturbado
O presente pleito eleitoral insere-se num quadro político bastante instável e confuso.
Um crescente descontentamento com os rumos dados ao País pelo governo da Presidente Dilma Rousseff levaram, nestes últimos meses, a inequívocas manifestações públicas de desagrado em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT) e à própria figura da Presidente.
Em junho do ano passado, grandes manifestações realizadas por todo o País tinham feito soar o alarme. Mas o governo preferiu ignorar e até distorcer o sentido profundo das mesmas, ensaiando a convocação de uma Assembleia Constituinte específica que lançasse o País numa obscura reforma política.
Enquanto isso, o Brasil era assombrado por denúncias, cada vez mais arrepiantes, de bilionários esquemas de corrupção, instaurados no coração do Estado e visando a consecução de um projeto de poder, com laivos acentuados de totalitarismo.
Desde então, alastraram-se os fatores de incompreensão e de indignação, nas camadas profundas da população, e foi crescendo o desejo de obter nas eleições o afastamento do PT do poder.
*       *       *
Foi nesse ambiente sócio-político conturbado que se delineou o presente pleito eleitoral. Para ele muitos se voltavam com um misto de esperança e de desconfiança. Esperança de uma real mudança de rumos em relação à marcha desagregadora empreendida pelo governo; e desconfiança de que a presente disputa eleitoral nada mais fosse do que uma repetição de outras eleições, em que os debates sérios a respeito dos rumos do País estiveram ausentes.
A campanha eleitoral dava seus passos iniciais, quando a morte do candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, no brutal e ainda não inteiramente esclarecido acidente aéreo que o vitimou, junto com outras seis pessoas, aportou novo fator de conturbação ao quadro político.
As mudanças abruptas na corrida presidencial, em decorrência de tal acidente, só tornaram mais aguda a distorção que atinge habitualmente as disputas eleitorais no País, máxime para o cargo de Supremo Mandatário da Nação.
2. O mundo político erra o alvo de sua pontaria publicitária
Plinio Corrêa de Oliveira, o intrépido líder católico, cujo pensamento e métodos de ação inspiram o Instituto que leva seu nome, sempre alertou — em inúmeras análises da realidade nacional, seja em artigos para a grande imprensa, seja em manifestos ou em livros de ampla divulgação — para o desacerto gravíssimo entre importantes setores do mundo político e a parte mais preponderante e sadia de nossa opinião pública.
Segundo ele, um equívoco, manuseado por políticos verdadeiramente esquerdistas, por certo capitalismo publicitário, por clérigos progressistas e favorecido ainda por hábeis táticas de propaganda, fez crer a muitos dos que atuam em nossa vida pública que a opinião pública brasileira constitui um imenso caudal a caminhar gradualmente para a extrema-esquerda.
Por tal motivo, para a maioria dos políticos a-ideológicos, a corrida para a esquerda tornou-se sinônimo de corrida para uma popularidade triunfal. Imaginam eles que, quanto mais se colorirem de tintas esquerdistas, tanto mais ganharão terreno na simpatia popular.
Movidos por tal ilusão, até mesmo políticos convictamente centristas (ou até um ou outro direitista) relegaram ao abandono todo o potencial político de que disporiam, caso se opusessem com firmeza à esquerdização dissolvente que vai arruinando o País.
Assim, a parte mais substancial do mundo político pôs sua mira na esquerda, errando o alvo de sua pontaria publicitária que deveria estar no centro, de si conservador. Um centro conservador não adepto de um imobilismo total, mas favorável à manutenção de uma determinada ordem de coisas.
Como também observava Plinio Corrêa de Oliveira, na vida humana — considerada no plano individual como no político — nada é absolutamente estável. Tudo o que vive se move, e por isso nesse grande centro conservador se encontram tendências ora para a direita, ora para a esquerda, tendências essas que, entretanto, não cindem tal imenso bloco majoritário e não o deslocam de sua postura fundamentalmente centrista.
Convém ainda precisar que tal fenômeno de conservantismo brasileiro possui notas mais acentuadamente psicológicas do que ideológicas. É generalizada nele a persuasão de que, diante de um mundo cheio de incertezas e de crises, quaisquer solavancos, reformas ou aventuras poderão ser fatais. E todos nele anseiam, ao contrário, por segurança e estabilidade.
3. Grave distorção: candidatos majoritariamente de esquerda
Como fruto desse desacerto fundamental entre o mundo político e a parte preponderante da opinião pública, o País vive, a cada eleição, um angustiante paradoxo: quase todas as candidaturas de peso tendem para a esquerda (mais ou menos radical) e a imensa maioria da população, centrista e conservadora, não encontra representante de projeção que com ela se identifique.
Tal distorção faz com que muitos não encontrem espaço para expressar as reflexões ansiosas de se comunicarem, os ideais, as sugestões políticas, sociais e econômicas que acalentam no fundo da alma. Abafados assim em suas legítimas aspirações, sem candidatos que as vocalizem e compelidos, por outro lado, pela obrigatoriedade do voto, muitos destes nossos compatriotas buscam uma válvula de escape, algum candidato que possa parecer uma contestação a esse sistema. Isso torna a escolha eleitoral um exercício altamente volúvel, imprevisível, marcado pela impulsividade, pelas reações temperamentais, por uma certa torcida, às quais, na maioria das vezes, estão alheios a observação, a reflexão e o planejamento da ação.
Some-se a esse quadro geral, o fator específico da alta dramaticidade da morte do candidato Eduardo Campos e facilmente se entenderá a presente corrida eleitoral. Uma disputa necessariamente conturbada, marcada muito fortemente por uma nota emotiva, por reações impulsivas, em que o debate sério de temas profundos e de programas de governo(2) foi trocado pelos ataques rasteiros, pelas mentiras deslavadas, pelos truques de propaganda.(3)
4. A esquerda no poder se isola, diante de um público que caminha do desagrado para o ressentimento
A explanação acima ajuda a entender a encruzilhada política que vive o Brasil a poucos dias do primeiro turno da eleição presidencial.
Nestes últimos doze anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) alcançou êxitos eleitorais em boa medida ilusórios. Suas conquistas foram, em ponderável medida, fruto de um eleitorado que acabou por votar na esquerda sem ter uma mentalidade autenticamente progressista ou esquerdista. A isto era ele condicionado por diversos fatores — publicitários, de vantagens e benesses sociais, de pregações religiosas, de calculismo, e até pela ausência de uma mais ampla gama ideológica de candidatos.
Entretanto, os estrategistas da esquerda imaginaram que o êxito de seus jogos publicitários equivalia a um ganho de terreno na opinião pública. Não souberam entender que, ainda que vencido pelo bloqueio de atenção e pela pressão sobre sua capacidade de análise, fruto das mais eficazes técnicas de propaganda, o “homem da rua” não se deixou propriamente convencer. Certa simpatia despreocupada que o levou a votar na esquerda, não era isenta de uma nota de desconfiança.
Dando, pois, aos êxitos eleitorais o alcance que eles não tinham, o PT, apesar de inicialmente ter evitado intervir na economia, se açodou na implementação de sua agenda sócio-política e deu livre curso a seus métodos de ação, tantas vezes autoritários.
Cada dia mais, o PT foi-se mostrando ácido diante das críticas, alimentando o clima odioso do “nós contra eles”. O aparelhamento do Estado; as políticas públicas anti-“discriminatórias”, que deslancharam tensões sociais, antes inexistentes no País; o favorecimento de “movimentos sociais” desrespeitadores da propriedade privada e do Estado de Direito; as propostas de controle da imprensa; o aumento da intervenção estatal na economia; as relações internacionais submissas a interesses ideológicos espúrios; o crescimento abrupto de escândalos de corrupção, etc., tudo isso foi fazendo o Brasil se sentir, pouco a pouco, ludibriado em seus anseios de uma ordem distendida e pacata.
A esquerda no governo foi caindo no isolamento, diante de um público inicialmente desagradado, embora silencioso, depois agastado e, por fim, ressentido e furioso.
Seria por demais exaustivo analisar aqui a gênese dos protestos de junho do ano passado, mas é fato que os mesmos acabaram por se transformar em um imenso transbordar deste descontentamento público, para o qual convergiram insatisfações regionais e nacionais, políticas, sociais, econômicas, culturais, o que deu a tais manifestações um aspecto multifacetado.
Encerrado em sua própria utopia, o governo petista tentou ainda escamotear o sentido de tais protestos e radicalizar seu projeto de poder.
Embora as grandes manifestações tenham naturalmente refluído, o descontentamento com o PT e seu modo de governar foi se multiplicando e dando sinais vivos por toda a parte do território nacional e em todos os segmentos da sociedade.
Chegou-se, assim, à presente disputa eleitoral em que, para muitos, o intuito primordial de uma renovação política era afastar, pelo voto, o PT do poder.
5. Projetos políticos semelhantes
Subitamente um evento de notas trágicas convulsionou a atmosfera política.
A forte carga emocional de uma família, jovem e numerosa, dilacerada por um trágico desparecimento, juntamente com pesquisas que apontavam uma disparada acentuada nas intenções de voto em Marina Silva, fizeram entrever, num desses rompantes típicos de nossa agilidade de espírito, que a candidatura desta última poderia ser a “bala de prata no coração do lulopetismo”, para usar a expressão de um matutino paulista.(4)
Some-se a isso certa nota messiânica, certo utopismo de quimeras suaves ou brilhantes, envolta em linguagem fantasiosa e sedutora, que cria a impressão, ou a ilusão, da possibilidade de uma outra política, distante dos conchavos pouco coerentes e das iniciativas políticas tantas vezes enlameadas e corruptas do atual panorama, e se compreenderá o atual quadro de preferência de voto.(5)
Mas, se bem analisada a situação, o País parece encaminhar-se para uma disputa entre dois projetos políticos esquerdistas,(6) não tão diferentes entre si e, mais grave ainda, que radicalizarão os ânimos e criarão inevitavelmente fissuras no corpo social.
6. Decreto dos Conselhos Populares
Essa radicalização virá, antes de tudo, em decorrência do Decreto presidencial 8243, o qual constitui — como o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira teve oportunidade de alertar(7) — um gravíssimo ataque às instituições vigentes, no que pode ser qualificada de uma tentativa de golpe de Estado incruento.
Devido a manobras legislativas, articuladas pelo Governo Federal, a Câmara não conseguiu derrubar tal Decreto, já comparado a um decreto bolivariano ou bolchevique, que torna obsoletas as instituições do Estado de Direito, criando organismos informais através dos quais minorias militantes condicionarão a sociedade e o governo.
Tal decreto será, sem dúvida, uma das chaves do próximo mandato presidencial e as duas candidatas, que ora ocupam a liderança das pesquisas, veem nele a oportunidade de um “aperfeiçoamento” da democracia, rumo a uma “democracia popular” tão ao gosto dos sistemas totalitários socialistas.
Agrava-se essa perspectiva quando se considera que a própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em seu documento nº 91, “Por uma reforma do Estado, com participação democrática”, endossa a criação de estruturas de participação popular, questiona a democracia representativa e propõe uma nova forma de viver a democracia, tudo em sintonia com o decreto presidencial 8243.
7. Reforma Agrária
Volta de novo ao debate a ideia de incrementar a Reforma Agrária, a velha utopia de esquerda, que ao longo de décadas tem debilitado o direito de propriedade, criando em milhões de hectares de nosso território verdadeiras “favelas rurais” ou unidades mais ou menos coletivizadas, as quais dependem, para sobreviver, das “esmolas” governamentais.
Alguns querem privilegiar a chamada “agricultura familiar” (um termo dúbio e habilmente manipulado) em detrimento do agronegócio, em franco progresso nos seus aspectos essenciais, de sorte a constituir hoje a coluna-mestra, e a salvaguarda honrada e forte da economia nacional.
Volta igualmente ao debate eleitoral o fantasma dos índices de produtividade rural. Reconhecidamente não existem, no Brasil, propriedades rurais particulares improdutivas. Aventar-se a revisão dos índices de produtividade só pode fazer crescer a insegurança jurídica no campo, com a consequente volta de invasões e do arbítrio.
Radicalizar o caminho agro-reformista — além de violar o direito de propriedade, consagrado em dois Mandamentos da Lei de Deus — gerará mais conflitos e injustiças no campo, contra aqueles que incansavelmente labutam pacificamente em toda a imensidão de nosso território. Tais propósitos só podem gerar susto e apreensão.
8. Reforma Urbana
Enquanto desordens de todo o tipo se têm propagado pelo Brasil, como uma erisipela, é fácil perceber que certos mecanismos de agitação e ação política passaram a assestar seu foco sobre os grandes conglomerados urbanos, para aí promoverem movimentos desestabilizadores.
A Reforma Urbana, quiçá ainda mais tempestuosamente esquerdista do que a Reforma Agrária, constitui mais um fantasma acabrunhador a perturbar as horas de trabalho, de lazer e de sono de todos quantos no Brasil possuem imóveis.
Salta aos olhos o contraste entre a ameaça que pesa sobre os cidadãos prestantes que habitam nosso solo urbano, ameaçados de sofrer uma sumária e despótica perseguição legal, e a impressionante liberdade de que gozam os agitadores camuflados pela demagógica qualificação de “sem-teto”, recebidos por autoridades após praticarem seus atos ilegais de desrespeito à propriedade.
Ora, também aqui e acolá na disputa eleitoral parece entrever-se o desígnio da intervenção estatal urbana, sob o pretexto de desenvolver cidades saudáveis, democráticas e seguras. A ameaça à propriedade urbana e as tentativas de forçar despoticamente mudanças nos hábitos comportamentais dos cidadãos parecem entrar na mira de um próximo mandato presidencial.
9. Reservas indígenas e terras quilombolas
Os projetos políticos em pauta contemplam um incentivo à desastrosa — e muitas vezes ignominiosa — política indigenista.
Bafejada por uma corrente ideológica de clérigos e leigos, ligados à Teologia da Libertação, tal política indigenista é crítica da obra colonizadora dos portugueses, bem como da influência civilizadora dos missionários, a exemplo da exercida por São José de Anchieta.
Em vez de estimular a mútua compreensão cristã, que consolide cada vez mais a unidade brasileira, o indigenismo suscita incompreensões, rivalidades e atritos, contrários à miscigenação e ao caráter cristão e cordato de nosso povo.
A política de demarcação de terras indígenas tornou-se indiscriminada, abusiva e baseada numa concepção hipertrofiada dos direitos dos índios. Alguns deles, tantas vezes manipulados por propagandas eficazes e por agitadores políticos ou religiosos, acabam por se engajar em invasões de terras e agressões à propriedade privada, gerando insegurança e fomentando rancores raciais tão alheios à índole do brasileiro.
Cabe ressaltar, que as leis e os projetos políticos em discussão nesta eleição, tão ciosos de impor índices de produtividade aos proprietários rurais, concedem aos índios áreas verdadeiramente latifundiárias, que permanecem inaproveitadas, não cumprindo a tão decantada função social.
Mas a continuação de uma política de demarcação de reservas indígenas parece apontar agora para uma nova perspectiva: a da autonomia de tais reservas. Seria assim reconhecida, aos vários grupos indígenas, uma como que soberania face ao Estado, o que de si caminha para o esfacelamento da unidade e da soberania nacionais.
Como não perceber que a perspectiva de, na prática, ver dilacerada nossa soberania, e atingida essa imensa unidade territorial de que sentimos orgulho, é de molde a agredir a ufania de ser brasileiro que de tantos modos se manifesta, até mesmo em eventos públicos de grande repercussão?
O que aqui fica dito sobre a política indigenista, poderia ser afirmado, de modo similar, a respeito da política de demarcação das terras quilombolas.
10. Aborto
Mais uma vez não há clareza, nem determinação nas propostas políticas de defesa da vida. A consagração da prática do aborto pela legislação — tema candente para milhões de brasileiros e, especificamente, para os católicos — é quase completamente silenciada nos debates eleitorais. Os eleitores podem recear que esse silêncio seja prenúncio, após as eleições, por parte das candidatas que agora lideram as pesquisas, de medidas e propostas que agridam o sentir comum de nossa população, e se choquem com os valores cristãos da grande maioria da mesma.
11. “Casamento” homossexual
Em rota de colisão com os sentimentos e convicções das sociedades constituídas sob o bafejo dos ensinamentos do Evangelho, os ativistas do movimento homossexual tentam consagrar socialmente a prática do homossexualismo, apesar de flagrantemente oposta à Lei natural e à moral revelada.
Segundo afirmam os líderes desse movimento, está em curso, sobretudo nas sociedades ocidentais e cristãs, uma verdadeira revolução moral e religiosa, oposta ao próprio cristianismo. Ela se traduz, entre outras coisas, na legalização do chamado “casamento” homossexual.
Sendo o casamento reconhecido — ao longo da História e em todas as civilizações — como o vínculo permanente que une um homem e uma mulher, com o objetivo comum de gerar uma prole e constituir família, não tem sentido falar-se de “casamento” homossexual.
Não obstante, em nome dos plenos direitos da cidadania, levanta-se outra vez o tema da aprovação do “casamento” homossexual em nosso País, em afronta aos sentimentos e convicções cristãs da forte maioria da sociedade(8).
12. Criminalização da “homofobia”
Em sua auto-proclamada revolução moral e religiosa, os ativistas do movimento homossexual utilizam o termo “homofobia” para tachar, de modo depreciativo, todos aqueles que se manifestam, com argumentos racionais, científicos ou religiosos, contrários às práticas do homossexualismo.
Mas os militantes desta revolução vão mais longe e pretendem criminalizar todos os que se opõem a sua agenda, por exemplo em nome da Lei natural e dos Dez Mandamentos.
Assim, já tramita no País um projeto de criminalização da homofobia, o qual tem sofrido forte rechaço da sociedade. Mas o tema de novo vem à baila nesta campanha eleitoral. Quem não percebe que tal proposta abriria as portas para a perseguição de caráter religioso e para os chamados crimes de opinião?
13. A estranha omissão da CNBB
Face aos rumos para os quais aponta tal quadro eleitoral, é compreensível a perplexidade dos católicos — e de tantos outros que não o sendo reconhecem o papel fundamental da Igreja — ante a quase completa omissão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Era natural que esse organismo episcopal fizesse sentir a influência sobrenatural da Santa Igreja, pela pregação da verdade evangélica, para o bem espiritual, intelectual e moral daqueles que a ela se abrem. Mas, infelizmente, a CNBB vem relegando para segundo plano uma série de temas de primordial importância religiosa e moral no que diz respeito ao bem comum espiritual e temporal do Brasil; e vem tentando modelar a opinião pública a seu gosto em determinados problemas políticos e sócio-econômicos, em incursões em matéria especificamente temporal, revestidas, por vezes, de uma agressividade voltada para a agitação.
14.  O Brasil mediano, o Brasil sensato, o Brasil autêntico anseia por estabilidade e paz
É difícil governar um povo com base numa miragem! Ou seja, criando a ilusão da existência de um espírito progressista — ou esquerdista — nas camadas profundas da população, onde ele, na verdade, não existe. É igualmente difícil governar um povo cordato cortejando minorias muitas vezes radicais.
Se o mundo político não vencer a magia dos velhos mitos e insistir num reformismo festivo, rumo a um esquerdismo cada vez mais radical (baseado em vitórias eleitorais ilusórias), serão cada vez mais raros no público aqueles que o acompanharão.
Nesse caso, qualquer candidato que vier a ocupar o Palácio do Planalto dificilmente escapará ao vácuo terrível do qual o mundo político, já hoje, está custando a escapar.
*       *       *
A encruzilhada que o País vive neste momento, cabe em boa medida aos nossos homens públicos resolvê-la. Continuarão eles a deixar sem voz e sem vez uma grande maioria centrista e conservadora, não atuando como resolutos mandatários da mesma? Continuarão a privilegiar sentimentos progressistas ou esquerdistas fictícios?
Diante dos múltiplos fatores desestabilizadores que marcam nossa atual conjuntura, em que é contínuo o esforço de certas minorias para suscitar confrontos e dissensões sociais, ao estilo da velha luta de classes, o Brasil mediano, o Brasil sensato, o Brasil autêntico anseia por serenidade, por estabilidade e por paz.
Este Brasil que recusa aventuras e rupturas sócio-políticas, necessitaria de uma candidatura viável que soubesse vocalizar suas aspirações e se comprometesse
  • a ser a alternativa clara e firme ao governo do PT;
  • a fazer cessar as imensas máquinas de corrupção;
  • a tornar a administração pública credível;
  • a cicatrizar as chagas do jogo político-social do “nós contra eles”;
  • a não introduzir qualquer legislação que venha a permitir o aborto;
  • a não modificar a ordenação legal da família, mantendo o matrimônio como união estável entre homem e mulher;
  • a não impor a educação estatal às crianças e a garantir o direito da família de educar seus filhos;
  • a não aprovar programas e reformas educacionais que implantem a anti-natural “ideologia de gênero”;
  • a fazer cessar as agitações e reformas que ameaçam a propriedade urbana;
  • a fazer cessar as múltiplas ameaças contra a propriedade no campo e a dar estabilidade aos produtores rurais, verdadeiro esteio de nossa economia;
  • a rever a chamada política indigenista e a repensar e reformular as demarcações de reservas indígenas e de terras quilombolas;
  • a livrar a economia do dirigismo estatal, a favorecer a iniciativa privada, a diminuir a onerosa carga tributária. 
*       *       *
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira apresenta aqui estas reflexões, como contributo ao que está persuadido serem os mais altos interesses do Brasil e da civilização cristã na presente conjuntura, depositando seu esforço aos pés de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira de nossa Nação.
São Paulo, 24 de setembro de 2014
Festa de Nossa Senhora das Mercês
Adolpho Lindenberg
Presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

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Notas
1. O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira não representa a Sagrada Hierarquia, não foi fundado por ela, nem por ela é dirigido. Nossa entidade foi fundada e é dirigida por leigos católicos que, inspirados nos ensinamentos da doutrina social tradicional da Igreja, visa tão-só atuar no campo temporal, em favor da civilização cristã, sob a exclusiva responsabilidade de seus integrantes. Sem embargo, ela se sujeita, com filial obediência, à vigilância da Sagrada Hierarquia em tudo quanto diz respeito à Fé, à Moral e à disciplina eclesiástica (cfr. Código de Direito Canônico, cânones 212 §1, 215, 225 §2, 227).
2. Sobre a indefinição de programas dos candidatos, o jornal “Valor”, de 16 de setembro, destacou que o PSB prepara a revisão de programa para 2º turno: “Com vistas a um provável segundo turno, a campanha da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, já prepara mudanças no plano de governo, com um detalhamento maior de propostas” (PSB prepara a revisão de programa para 2º turno).
A candidata Marina Silva já havia realizado diversas erratas em relação ao programa entregue à Justiça Eleitoral.
A “Folha de S. Paulo”, por sua vez, destaca em editorial, do dia 19 de setembro, a respeito dos outros candidatos: “O senador [Aécio Neves] ainda promete finalizar seu programa de governo, mas até hoje, faltando 16 dias para a votação, não avançou além das diretrizes gerais que todo candidato deve, por lei, protocolar ao registrar sua postulação. [...]
“Desconfortável mesmo deveria estar a presidente Dilma Rousseff (PT), que teve atitude bastante distinta. Diante das divergências entre o que defende seu partido e o que pretende seu governo, a mandatária considerou oportuno suspender a divulgação de seu programa. [...]
“Ao eleitor, por óbvio, essa lógica mesquinha de nada serve. Como saber de que maneira Dilma planeja se comportar num eventual segundo mandato se nem aceita assumir compromissos formais?” (Descaso programático).
3. A este respeito são elucidativas as palavras de Antonio Delfim Netto: “O evidente mau uso dos recursos dissipados na propaganda eleitoral `gratuita´ (paga pela sociedade desapercebida) que em lugar de educar o cidadão, deseduca-o em matérias cuja boa compreensão é fundamental para o voto consequente. Exacerba o voluntarismo como solução para nossos graves problemas” (Limite inferior, “Folha de S. Paulo”, 17 de setembro de 2014).
Carlos Heitor Cony ressalta igualmente o vazio da disputa eleitoral: “Finalmente, o clima eleitoral esquentou. Esquentou até demais. A entrada de Marina botou fogo numa disputa que ameaçava a tepidez [...]. Mesmo assim, a disputa nem chega a ser política, mas quase esportiva, o eterno flá-flu, o maniqueísmo em sua forma radical. Dilma e Marina baixaram o nível da campanha” (Flá-flu eleitoral, “Folha de S. Paulo”, 16 de setembro de 2014).
4. O “Estado de S. Paulo”, em Notas & Informações: “É cada vez menor o número dos que duvidam hoje da derrota de Dilma Rousseff nas urnas de outubro. Mas a probabilidade da vitória de Marina Silva poderá resultar em enorme decepção para quem acredita que o voto na ex-senadora é o melhor caminho para livrar o País do lulopetismo. Esta é a conclusão a que têm chegado, nos círculos políticos de Brasília, petistas e não petistas com algum acesso a Lula, a partir da análise de seu comportamento diante de um quadro eleitoral que era impensável pouco tempo atrás.[…]
“Lula, portanto, parou para pensar em si mesmo, entregar os anéis para salvar os dedos e se concentrar em 2018, quando ele próprio poderá tentar, com o prestígio popular que lhe tiver restado, uma volta triunfal ao Palácio do Planalto. E, pelo que dizem ser seus cálculos, a eleição de Marina Silva agora pode ser mais útil a esse objetivo do que a reeleição de Dilma. [...]
“A ser isso verdade, votar em Marina com a intenção de cravar uma bala de prata no coração do lulopetismo seria comprar gato por lebre” (As coisas podem não ser o que parecem, 7 de setembro de 2104).
5. Em editorial, a revista “Isto É” aponta: “[Marina Silva] sem definir propostas ou detalhar planos, surfa na conveniência do discurso generalista que soa simpático às massas, mas que peca na consistência e no leque de alternativas concretas para colocar o País de volta aos trilhos” (O que é a `Nova Política´?, 3 de setembro de 2014).
Por seu turno, Renato Janine Ribeiro, afirma no jornal “Valor”: “Se a terceira candidata [Marina Silva] adquiriu, tão rapidamente, tantas intenções de voto, sobretudo entre os que eram indecisos, é mais pelo desencanto com os dois grandes partidos do que pelo conteúdo de suas propostas” (Quem ganhar perderá, 20, 21 e 22 de setembro de 2014).
6. Tomamos aqui o termo “esquerdista” não apenas como um conjunto de reformas sócio-econômicas visando estabelecer, a prazo curto ou médio, a inteira igualdade entre os homens, mas também tudo quanto corrói, corrompe ou dissolve a moral cristã, fundamento da civilização ocidental. Todas as leis que favorecem o permissivismo omnímodo de nossos dias pode e deve ser tido como genuína expressão da mentalidade e da doutrina esquerdista (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, O descontentamento da direita e do centro, “Folha de S. Paulo”, 21 de julho de 1978).
7. Cfr. Comunicado do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, Importante passo rumo ao modelo venezuelano22 de junho de 2014.
8. Não deixa de ser significativo deste rechaço o ocorrido quando da apresentação do programa de governo da candidata Marina Silva: “Pressionada pelo pastor evangélico Silas Malafaia, a chapa de Marina retirou o apoio à criminalização da homofobia e ao casamento gay do programa de governo apresentado 24 horas antes. Marina alegou que a inclusão do texto havia sido um equívoco de sua equipe, mas o estrago, sobretudo nas redes sociais, a essa altura já estava feito” (Marina sob fogo cerrado, Mariana Barros e Malu Gaspar, “Veja”, 10 de setembro de 2014).