25 de dezembro de 2021
Boa paz com boa guerra, quando necessária
"Querer paz sem Deus é absurdo. Onde não há Deus, não há justiça. Onde não há justiça, em vão nutre-se a esperança de paz."
22 de dezembro de 2021
A glória de Deus no alto dos céus, aspecto secundário do Natal?
O Arcanjo São Gabriel aparece aos pastores – Alfred Morgan (1836-1924). Coleção Privada
Não há paz na Terra sem
que os homens estejam voltados para Nosso Senhor Jesus Cristo. E “paz na Terra”
inclui a cessação de todas as lutas, exceto a incessante e gloriosa guerra
contra o demônio e seus aliados.
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
Reprodução de Catolicismo, dezembro/1963, nº 156
Repousais,
Senhor, em vosso misérrimo e augustíssimo presépio, sob os olhos da Virgem,
vossa Mãe, que vertem sobre Vós os tesouros inauferíveis de seu respeito e de
seu carinho. Jamais uma criatura adorou com tão profunda e respeitosa humildade
o seu Deus. Nunca um coração materno amou mais ternamente seu filho.
Reciprocamente, jamais Deus amou tanto uma mera criatura. E nunca filho amou
tão plenamente, tão inteiramente, tão superabundantemente sua mãe.
Toda
a realidade desse sublime diálogo de almas pode conter-se nestas palavras que
indicam aqui todo um oceano de felicidade, e que em ocasião bem diversa
haveríeis de dizer um dia do alto da Cruz: “Mãe,
eis aí teu filho. Filho, eis aí tua Mãe” (cfr. Jo 19, 26). E, considerando
a perfeição deste recíproco amor, entre Vós e vossa Mãe, sentimos o cântico
angélico que se levanta das profundezas de toda alma cristã: “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz
na Terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 14).
Fala-se
mais de paz do que da glória de Deus
“Paz na Terra aos homens de boa
vontade”: o jogo complicado, mas célere das associações de
imagens me faz sentir imediatamente que em numerosas ocasiões no ano que finda
ouvi falar de paz, e de homens de boa vontade. Curioso... dou-me conta de que
ouvi falar menos, e até muito menos, da glória de Deus no mais alto dos Céus. A
bem dizer, disto quase não ouvi falar. Nem mesmo implicitamente; pois
implicitamente se fala da glória de Deus quando se afirmam os soberanos
direitos d’Ele sobre toda a criação, e, por amor a Ele, se reivindica o
cumprimento de sua Lei por parte dos indivíduos, famílias, grupos
profissionais, classes sociais, regiões, nações, e toda a sociedade
internacional.
Por que este silêncio? — Pergunto-me. Por que os homens querem tanto a paz? Por que tantos homens se ufanam de ter boa vontade? E por que tão poucos são os que se preocupam com a glória de Deus, e se blasonam de por ela agir e lutar?
Adoração dos pastores – Gerard van Honthorst
(1592-1656). Pomeranian State Museum (Pomerânia). A Crucifixão – Bernardino Luini (1480-1532). Museu Hermitage, São Petersburgo (Rússia) |
A paz dos homens vale mais que a glória de Deus?
Em
outros termos, o fato essencial do vosso Santo Natal, Senhor, seria só a paz na
Terra para os homens de boa vontade? E a glória de Deus no mais alto dos Céus
seria como que um aspecto colateral, longínquo, confuso e insípido para os
homens, do grande evento de Belém?
Em
outros termos ainda, a paz dos homens vale mais que a glória de Deus? A Terra
vale mais que o Céu? O homem vale então mais do que Deus? E a paz na Terra pode
ser obtida, conservada e até incrementada sem que com isto nada tenha a ver a
glória de Deus?
Por
fim, o que é um homem de boa vontade? É o que só quer a paz na Terra,
indiferente à glória de Deus no Céu?
Todas estas questões convidam a uma detida análise do cântico angélico.
Meditar
no Santo Natal de modo transcendente
Admirável
profundidade de toda palavra inspirada! Tão simples que até uma criança o pode
compreender, o cântico dos Anjos de Belém encerra, entretanto, verdades das
mais profundas.
Como
é proveitoso, pois, nutrir o espírito com essas palavras, para participar devidamente
das festas do Santo Natal!
Ajudai-nos, Mãe Santíssima, Sede da Sabedoria, com vossas preces, para que, iluminados pelas claridades que de Jesus dimanam, possamos entender o cântico angélico que é o mais perfeito e autorizado comentário do Natal.
“Boa vontade” em relação a quem?
Adoração dos pastores
– Camillo Procaccini (1615). Igreja de Sant’Alessandro, Milão |
Para
o sabermos, basta indagar: boa vontade para com quem? A resposta salta
impetuosa e impaciente, como sói acontecer quando a pergunta tem algo de ocioso
por inquirir o que é quase evidente. Ora bolas, dirão muitos de nossos
coetâneos, boa vontade para com o próximo. Aquele que, ateu ou sequaz de uma
religião, seja ela qual for, adepto da propriedade privada, do socialismo ou do
comunismo, quer que todos os homens vivam alegres, na fartura, sem doenças, sem
lutas, sem riscos, aproveitando o mais possível esta vida, este é um homem de
boa vontade.
Visto nesta perspectiva, o homem de boa vontade é um artífice da paz. Diz o ditado que “em casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão”. Logo, onde há pão todos têm razão e há paz. Onde há pão, teto, remédios, segurança, com maior razão há necessariamente a paz.
Paz
terrena libertada de implicações religiosas?
E
a glória de Deus? Para o “homem de boa
vontade” assim concebido, é ela um elemento supérfluo no que se refere à
paz na Terra. Pois é da adequada ordenação da economia que decorre a boa ordem
na vida social e política, e portanto a paz.
“Supérfluo”
é dizer pouco, a respeito da glória de Deus no Céu, considerada em função da
paz na Terra. Como alguns homens creem em Deus, e outros não creem, e como
entre os que creem há diversidade no modo de entender Deus, este último pode
atuar como perigoso fautor de divisões, discussões e polêmicas. Deus é um
senhor por demais comprometido há milhares de anos em polêmicas, para que dele
se fale a toda hora. Para ter paz na Terra é melhor não estar falando a todo
momento sobre Deus e sua glória no Céu.
E
depois... o Céu é tão vago, tão longínquo, tão incerto! Que dele falassem os
Anjos, vá lá, pois lá moram. Mas nós, homens, cuidemos da Terra.
Unir
a glória celeste à paz terrestre é para o “homem
de boa vontade” algo de tão incorreto, supérfluo e pejado de fatores de luta
como é, por exemplo, imprudente unir a Igreja ao Estado. A Igreja livre do
Estado e o Estado livre da Igreja, eis um anelo bem típico do “homem de boa vontade”. A paz terrena
libertada de implicações religiosas, e Deus no seu Céu e sua glória, sorrindo
de braços cruzados para a Terra em paz, a uma tal distância da Terra que lá não
chegue nem sequer o Lunik, eis o ideal
do “homem de boa vontade”.
Sem que os homens deem glória a Deus, não há paz no mundo
Estas
são as considerações do “homem de boa vontade”
entre aspas, cujo coração está longe do Céu e cujo olhar só se detém sobre a Terra.
Contudo,
quanto divergem elas do sentido próprio e natural do cântico angélico!
Realmente,
se o Natal dá glória a Deus no mais alto dos Céus e simultaneamente é a fonte
da paz na Terra para os homens de boa vontade — foi o que os Anjos proclamaram
em seu cântico — não se pode dissociar uma coisa da outra. Sem que os homens deem
glória a Deus, não há paz no mundo. E a guerra, enquanto considerada no
agressor culpado, é incompatível com a glória de Deus.
Vós, Senhor Jesus, Deus
humanado, sois entre os homens o Príncipe da Paz. Sem Vós a paz é uma mentira
e, afinal, tudo se converte em guerra.
E é porque os homens não compreendem isto, que procuram de todos os modos a paz, mas a paz não habita no meio deles.
A “boa vontade” inautêntica e agnóstica
O
que é então o homem de boa vontade, se não é o homem que ama o próximo? Será
porventura o que odeia seu próximo?
Ao
fariseu, que Vos chamou de bom Mestre, perguntastes: por que Me chamais de bom,
se só Deus é bom? (cfr. Lc 18, 19 ).
Se
só Deus é bom, a boa vontade autêntica é a que se volta toda para Deus, e ama o
próximo, não pelo mero amor do próximo, mas pelo amor de Deus. O homem é tal,
que não pode amar o próximo pelo próximo. Ou o ama por amor de si mesmo, e isto
é egoísmo. Ou o ama por Deus, e isto sim é amor verdadeiro.
Em
consequência, a “boa vontade” agnóstica e a paz terrena que ela tende a
instaurar, nem são boa vontade autêntica, nem paz verdadeira.
E o falso “homem de boa vontade” é em última análise um semeador de guerras e um artífice de ruínas.
Paz
é a mera abstração de controvérsias?
Mas, dirá alguém, como pode ser Jesus o fundamento da paz, se ninguém como Ele tem suscitado tanto ódio? O populacho, cumulado por Ele de favores espirituais e materiais de toda ordem, preferiu Barrabás, um bandido. Isto não é ódio? Os Imperadores contra Ele moveram perseguições atrozes. Os arianos contra Ele mobilizaram todas as potências da Terra. Depois vieram os maometanos. E depois, e depois, todos os grandes vagalhões da História, até o nazismo e o comunismo. Aliás, acrescentaria talvez alguém, Simeão bem exprimiu essa verdade, profetizando que Ele seria ao longo da História uma pedra de escândalo, um sinal de contradição para a morte e ressurreição de muitos (cfr. Lc 2, 34). Ele próprio disse de Si que trazia à Terra o gládio (cfr. Mt 10, 34). Por melhor que tudo isto seja — poderia argumentar um “homem de boa vontade” entre aspas —, a verdadeira paz, isto é, uma plena e completa desmobilização dos espíritos, uma inteira cessação não só de todas as guerras como de todas as polêmicas, não é possível com Jesus Cristo. A paz só é autêntica quando abstrai de todas as controvérsias, inclusive aquelas a que Jesus Cristo — sem culpa própria, concede o “homem de boa vontade” — dá ocasião.
A
verdadeira paz não exclui a luta do bem contra o mal
Sim, diria um homem de boa vontade autêntico, isto é, um homem que com todas as veras de sua alma ama a Deus.
Neste
caso, é por burla que a Escritura chama Jesus Cristo Príncipe da Paz (cfr. Is
9, 6), e a Igreja, fazendo eco ao Batista (cfr. Jo 1, 29 e 36), O apresenta
como um manso Cordeiro a quem os homens devem pedir o dom da paz: “Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona
nobis pacem” (Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo —
Jo 1, 29).
Ou é por que a verdadeira paz não exclui a luta do bem contra o mal, a polêmica entre a luz e as trevas, o perpétuo esmagar da cabeça da Serpente pela Virgem sem mancha, a hostilidade entre a raça oriunda da Virgem e a raça da Serpente? A paz é a ordem de Cristo no Reino de Cristo. Ela tem, pois, como condição a luta dos sequazes de Cristo contra os inimigos de Cristo. A paz de Cristo não se identifica de modo nenhum com a falsa paz, sem lutas nem polêmicas, do pretenso “homem de boa vontade”.
Paz na Terra e guerra
contra o demônio e seus aliados
Três grandes lições, ó Deus-Menino, recolhemos do vosso Santo Natal. Ficamos sabendo que não há paz na Terra sem Vós. Que homem de boa vontade autêntico não é quem ama o homem pelo homem, mas quem o ama por amor de Vós. E que vossa Paz inclui a cessação de todas as lutas exceto a vossa incessante e gloriosa guerra contra o demônio e seus aliados, isto é, o mundo e a carne.
Virgem
Maria, Medianeira de todas as graças, debruçada em adoração sobre o
Deus-Menino, obtende-nos uma plena compenetração de todas estas verdades.
E
permiti que nas perspectivas que elas desvendam, cantemos convosco e com todas
as criaturas celestes e terrenas das quais sois Rainha:
“Glória a Deus no mais alto dos
Céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade”.
20 de dezembro de 2021
PELO CHILE PAÍS IRMÃO: LUTO, LUTA E ORAÇÃO
17 de dezembro de 2021
Natal e o bom combate como condição para uma autêntica paz na Terra
A guerra contra o demônio e seus sequazes daqueles que desejam o estabelecimento da autêntica paz entre os homens
Além do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, duas outras matérias o complementam. Seus autores, Luís Dufaur e Paulo Américo de Araújo, acrescentam fatos e comentários evocativos do Santo Natal, quando há 2021 anos nascia em Belém o Príncipe da Paz, o Deus que faz guerra aos sequazes de Lúcifer e apresenta a única solução para as desordens que abalam o mundo e geram conflitos.
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13 de dezembro de 2021
HISTÓRIA DOS OLHARES
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
Para se ter uma ideia do que pode produzir em nós o olhar de Nosso Senhor, pensemos no olhar mais famoso da História: aquele olhar que Ele deitou em São Pedro e que o mudou de um momento para outro.