29 de novembro de 2019

Refeições sem convívio diante de uma tela digital voltamos à pré-história

A reunião em torno da mesa, que uniu os seres humanos, pode desaparecer
   ➤ Luis Dufaur

A reunião em torno “da lareira, da panela e da mesa comum, que uniu os seres humanos durante pelo menos 150.000 anos, poderia desaparecer”, segundo o historiador inglês Felipe Fernández Armesto [foto abaixo]. 

O paradoxo é que esse retrocesso é obra da tecnologia. 

O Prof. Felipe é autor do ensaio Comida, culinária e civilização (ed. Tusquets), sobre a história da refeição, no qual demonstra que “se comermos sem contato de alma em frente das telas digitais, voltaremos três milhões de anos atrás”. 

Professor convidado de universidades e institutos de pesquisa, Fernández Armesto é autor de um grande número de obras concernentes à história com uma perspectiva sociológica e cultural. 

“Se deixarmos a mesa familiar, se comermos na frente das telas ou caminhando isolados pelas ruas, voltaremos a um estágio na história próprio dos hominídeos pré-civilização. A um sistema de vida semelhante ao de dois ou três milhões de anos atrás, dos hominídeos catadores que comiam desesperadamente, sem pensar nas possibilidades de usar a mesa para criar sociedade, promover afeto e planejar um futuro melhor”, disse, em entrevista ao jornal “La Nación” (11-10-19).

Fernández Armesto observa que “não pode haver convívio sem refeição partilhada”, da mesma maneira como é “impossível imaginar uma economia sem dinheiro” ou sem intercâmbio. 

Portanto, é “legítimo considerar a refeição como o momento mais importante do mundo: é o que mais ocupa a maioria das pessoas na maioria das vezes”, deduz ele. 

Segundo o pesquisador, as causas que contribuem para o desaparecimento gradual do hábito de se sentar juntos para comer e conviver são “mudanças sociais paradigmáticas” que causam danos que “estão ocorrendo”

Família “feliz” pelo contato com o smartphone,
 mas cessou o relacionamento de alma
Quais? — O “desligamento familiar, golpes intergeracionais, anomia, rejeição de tradição, abandono do senso de pertencer à mesma família humana, no bom sentido da palavra, a predominância de um individualismo existencialista alheio à necessidade humana de manter relações vivas com outros seres humanos de carne de osso”

O autor se posiciona num ponto de vista sociológico e ético. Porém, se analisarmos os ensinamentos do catolicismo, encontraremos momentos religiosos nos quais Deus escolheu refeições para marcar momentos augustos da Revelação. 

Jesus escolheu refeições para o início de sua pregação 
até a Ultima Ceia (Bodas de Canaã, 
Gérard David (1460 — 1523), Museu do Louvre.
Nosso Senhor Jesus Cristo começou sua vida pública participando de um grande banquete: o das bodas de Canaã. Ali fez seu primeiro milagre para um grande número de pessoas: transformou a água das ânforas num precioso vinho. 

Quando chegou a noite junto ao Lago de Galileia e Jesus percebeu que as multidões estavam sem comer. Ele sentiu que passavam fome como um rebanho sem pastor, multiplicou os pães e peixes e mandou os Apóstolos distribuí-los com tanta abundância que sobraram cestos repletos. 

Simbolizou que a Igreja deveria alimentar os povos com a palavra do Evangelho e que os Apóstolos voltariam com tantas conversões que encheriam cestos. 

Quando os judeus saíram da escravidão do Egito, a primeira instrução de Moisés foi que jantassem bem. É a origem da ceia pascal que repetimos até hoje no Domingo de Páscoa. 

E foi precisamente durante uma ceia pascoal que Jesus instituiu a Missa e a Eucaristia, cujos significados místicos são frequentemente associados à alimentação em torno de uma mesa, obviamente sagrada: o altar. 

Outra prefigura eucarística é o maná que alimentou os judeus no deserto. 

Após a Ressurreição, Jesus se tornou patente aos apóstolos na hora de partir o pão na mesa em Emaús. E assim poderíamos prosseguir com numerosos exemplos. 

Basta mencionar que as grandes festas litúrgicas ou religiosas são acompanhadas com nobres, mas deliciosas refeições em comum, familiares e sociais, como no Natal, na Páscoa, nas festas dos santos padroeiros etc. 

Porém, o professor que citamos observa que sob o pretexto de progresso e modernidade estamos regredindo ao primitivismo. Morre o convívio, apaga-se a religião no lar e na sociedade, se estiolam a cultura e o contato entre as almas com a morte dos almoços e jantares em que predomina o contato de alma a alma entre familiares. 

Essa decadência está sendo feita sob o pretexto, continua o ensaísta, de “mudanças tecnológicas que facilitam o abandono social: uma rede eletrônica que não aperta sua mão nem beija seu rosto; formas de entretenimento solitário, sem trocas emocionais com outras pessoas”

Quantas vezes num bar vemos grupos de rapazes e moças que não trocam uma palavra sequer, cada qual grudado em seu smartphone? Ou estudantes e até professores universitários que na mesa não falam nada e no máximo cada um exibe uma imagem ou uma mensagem de texto que apareceu em seu dispositivo móvel? 

No livro, o Prof. Fernández Armesto trata da história da conversa e do convívio nas refeições como assunto inseparável de outro tipo de relacionamento entre os seres humanos entre si e com a natureza: o nível da culinária que desperta a inteligência. 

Ele traça conexões em cada estágio entre a comida do passado e a maneira como é consumida hoje.

Os belos serviços e talheres desaparecem e vai ficando o sanduíche dentro de um envelope num McDonald, ou fast-food equivalente, e um copo de plástico descartável sem muita preocupação se a mesa fica suja ou não, e se o conviva sentado em frente se sentiu atendido ou interpretado. 

Por isso, o professor acha que é possível identificar na história dos povos civilizados oito revoluções na história da refeição. Essas afetaram outros aspectos da história da humanidade, tornando-a ou mais convivial e amável, ou mais insensível e brutal.

27 de novembro de 2019

O papel de Nossa Senhora na Cristandade medieval

Segundo renomado historiador protestante, portanto insuspeito, a Santíssima Virgem sempre esteve no centro da vida medieval, sendo a alma da Cristandade 

➤  Plinio Maria Solimeo 

Durante séculos se criou uma legenda negra a respeito da Idade Média, tachando-a de uma época obscurantista e primitiva. Isso se deveu sobretudo ao ódio de muitos ao papel exercido pela religião nesse tempo, assim descrito por Leão XIII em sua famosa encíclica Immortale Dei, de 1885: 
“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então, a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças aos favores dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. [...] Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”. 
Isso explica o interesse que os monumentos da Idade Média despertam até hoje, pelo número incontável de turistas que vão de todo o mundo à Europa, principalmente à França, para vê-los e admirá-los.

É preciso dizer que surgem felizmente de tempos em tempos, nos horizontes mais inesperados, historiadores honestos e eruditos que prestam tributo à Doce Primavera da Fé, como a chamou Montalembert. Um deles é Henry Brooks Adams (1838 - 1918) [foto ao lado], jornalista de renome, editor, escritor e professor de História Medieval na Universidade de Harvard, bisneto de John Adams, primeiro vice-presidente e depois segundo presidente dos Estados Unidos, e neto de John Quincy Adams, sexto presidente americano. 

Grande observador da realidade histórica, Adams se encantou com a Idade Média, desiludido como estava com a vida pública do seu tempo. Depois de tentar a carreira política, “ficou enojado com os políticos demagogos, e com uma sociedade na qual todos se haviam tornados ‘servos do poder’. Escreveu que os americanos ‘não tinham tempo para pensar; só viam, e não conseguiam ver nada além do dia de trabalho; dizia que a atitude deles em relação ao universo exterior era como a dos peixes de profundidade” (Encyclopedia Brittanica), que não se importam a não ser com o que passa ao seu redor. 

O jornalista Carmelo López-Arias, em artigo em Cari Filii, afirma que “o pensador e historiador protestante” descobriu a Idade Média através do papel que nela teve a Santíssima Virgem. Para López-Arias, em suas múltiplas viagens à Europa ele soube “captar a onipresença da Santíssima Virgem em todas as formas da cultura tradicional europeia; e, com uma sensibilidade especial, compreendeu que essa omnipresença era a própria alma da Cristandade, e respondia a uma psicologia humana e razoável”. 

Ainda segundo López Arias, Adams assim explica a relação do homem medieval com a Santíssima Virgem: “‘Seu vínculo com Maria respondia a um instinto de sobrevivência. Sabiam que estavam em perigo. Se havia uma vida futura, Maria era a única esperança’. Ante a lei divina, ‘essencialmente eterna, infinita, imutável’, que não permitia ‘debilidade nem erro’, os homens ‘se viam forçados a ir de esquina em esquina seguindo uma lógica implacável, até cair desvalidos aos pés de Maria [...], felizes de encontrar proteção e esperança em um ser que podia entender a linguagem que falavam, e as escusas que podiam oferecer’”


Para Adams, esse papel de Nossa Senhora na Idade Média pode ser compreendido melhor analisando-se a catedral de Chartres [foto acima]. Ele o fez numa circunstância dolorosa, quando já sexagenário teve a alma despedaçada pelo suicídio da mulher, após 13 anos de feliz matrimônio sem filhos. 

A fim de superar esse trauma, Adams começou a viajar por todo o mundo. “Buscando um ponto no qual focalizar sua vida e seus estudos, encontrou-se com a Cristandade medieval. [...] ‘Para apagar sua melancolia e sobrelevar a aceleração dos princípios do século XX, buscou a sabedoria e a beleza do século XII’. A caminho de Chartres, descobriu que quase todas as grandes igrejas dos séculos XII e XIII pertenciam a Maria’”, e que sua presença era insubstituível para o homem medieval. 

Crítico do mundo moderno, Henry Adams visitou a tão bafejada Exposição Universal de Paris de 1900. Comenta López-Arias: “Ali, nos pavilhões industriais nos quais se expunham as grandes máquinas a vapor e seus gigantescos dínamos, descobriu a idolatria da força mecânica que anunciava seu domínio na centúria nascente. E ocorreu-lhe uma comparação que faria fortuna: ‘No Louvre e em Chartres [...] se encontra a força mais alta jamais conhecida pelo homem [Maria Santíssima], criadora das quartas quintas partes da melhor arte, capaz de exercer uma atração sobre a alma humana maior do que todas as máquinas a vapor e que todos os dínamos concebíveis. [...] Todo o vapor do mundo é incapaz de construir Chartres, mas a Virgem o pôde. [...] Símbolo ou energia, a Virgem atuou como a maior força que o mundo ocidental jamais experimentou, e atraiu a si as atividades dos homens com mais força que qualquer outro poder natural ou sobrenatural jamais pôde exercer’”. Adams faz esta contundente afirmação no capítulo O dínamo da Virgem, em sua mais famosa obra de caráter autobiográfico, A educação de Henry Adams, escrito em terceira pessoa em 1907. 

Em outra de suas obras, Mont Saint Michel et Chartres [capa ao lado], assim fala Adams desta catedral: Ela “é uma fantasia de criança, uma casa destinada a agradar à Rainha do Céu, e a agradar-lhe tanto que Ela pudesse sentir-se feliz nela, para encantar-se enquanto sorri [...] [a Virgem] foi a maior dos artistas, dos filósofos, dos músicos e dos teólogos que jamais viveram na terra, exceto seu Filho. Mas em Chartres Ele era ainda um infante sob sua proteção. A igreja foi construída para Ela em um espírito de fé ingênua, prática, utilitária e em pureza de pensamento, em todos os pontos comparável ao da menina que prepara uma casa para sua boneca preferida”

López-Arias comenta: Esses “São parágrafos de Adams que recolhe John Senior em ‘A restauração da cultura cristã’, e Adams explica que isso é verdade não somente para as grandes catedrais, mas para ‘a cultura cristã absolutamente em todo lugar, e o será sempre, sobre toda a superfície da Terra. E Maria é sua causa, sua consequência e sua medida’”. Pergunta Senior: “Cada uma de nossas roupas, cada uma de nossas diversões, cada uma de nossas conversas, de nossas empresas ou de nossas experiências nos laboratórios, cada um de nossos escritos, Lhe estão dedicados?” E conclui: “A restauração da Cristandade está ligada ao número de corações que estão consagrados ao Imaculado Coração de Maria’”. 

Mas não são apenas Adams e Senior que descortinam o papel da Virgem na formação da Idade Média. A professora Rachel Fulton Brown, medievalista da Universidade de Chicago, chegou à mesma conclusão: “Em minhas investigações, prestei uma atenção especial à devoção medieval à Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é algo mais do que a Virgem que os cristãos creem que deu à luz ao Filho de Deus. Ela é a clave que explica a própria Idade Média. [...] Para se entender o lugar de Maria na devoção medieval cristã, não basta estudá-la como um historiador da arte, um músico, um professor de literatura, um historiador ou um teólogo. Para se entender Maria como A imaginaram os cristãos medievais, tem-se que entender-se tudo. Ela está ali, na arte e na arquitetura, na música. Ela está ali, na literatura, na liturgia e nas artes liberais. Ela está ali, nas mais elevadas expressões da imaginação humana e nas mais humildes orações de petição. Ela está ali, na política, no ideal do matrimônio, nos brados de batalha e nas súplicas de piedade dos oprimidos. A Cristandade medieval é inconcebível sem Ela; e, sem embargo, desde a Reforma os cristãos (protestantes) se tornam loucos para explicar por que Ela está ali”.

 Concluindo: Apesar de toda delicadeza de Henry Adams em descrever o amor do medieval à Virgem, não se nota no que ele diz de um amor especial por Ela. Por isso, apesar de tudo que escreveu sobre Ela, ele nunca se fez católico. Quando Adams morreu, em 1918, sua sobrinha encontrou em uma gaveta um poema intitulado Oração à Virgem de Chartres. Almejamos que a Virgem Mãe nossa tenha obtido de seu divino Filho compaixão para sua alma, tão apreciável em tantos lados.
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Fontes: 
https://www.religionenlibertad.com/cultura/516933197/Henry-Adams-el-historiador-protestante-que-vio-en-la-Cristiandad-medieval-homenaje-maria.html?utm_source=boletin&utm_medium=mail&utm_campaign=boletin&origin=newsletter&id=31&tipo=3&identificador=516933197&id_boletin=124614663&cod_suscriptor=452495753 
https://www.britannica.com/biography/Henry-Adams-American-historian 
https://www.firstthings.com/web-exclusives/2019/07/what-she-asks-she-obtains

25 de novembro de 2019

CONGRESSO CONSERVADOR

Movimento conservador no Brasil demonstra que capacidade de organização não é exclusividade da esquerda 


➤  João Gabriel Suhett 


Nos últimos dias 11 e 12 de outubro, a Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira participou da primeira edição brasileira do CPAC (Conservative Political Action Conference), maior congresso conservador do mundo, que vem se reunindo nos EUA desde 1973, tendo já contado em seus encontros anuais com a presença de figuras políticas marcantes como Ronald Reagan, George Bush e Donald Trump. Seu objetivo na capital paulista foi reunir os expoentes do movimento conservador brasileiro para analisar a reação gerada pela “onda conservadora”, que pôs fim a um longo período de governos socialistas e ateus em nosso País, além de apurar o que ainda falta para os valores morais de nossa civilização poderem ser defendidos na esfera política e pública. 

Por iniciativa do deputado Eduardo Bolsonaro e da Fundação Indigo (Fundação Instituto de Inovação e Governança), o evento contou com o apoio da American Conservative Union (órgão responsável pela organização de suas edições americanas) e com a presença de mais de mil participantes de todo o Brasil e do exterior. 


Duas garras de uma mesma tenaz contra a civilização 

Em nome do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, ao discursar sobre os interesses ocultos do Sínodo da Amazônia, declarou na conferência inaugural: “Não há crise na Amazônia. Há, sim, uma ofensiva contra a nossa soberania. A Amazônia é uma joia recebida de nossos ancestrais, e não podemos ceder um milímetro sequer nessa questão”. 

Para Dom Bertrand, aqueles que procuram no tema Amazônia pretexto para alcançar interesses próprios agem através de dois braços de uma mesma tenaz. Um dos braços difunde uma espécie de ecoterrorismo, verdadeira psicose ambientalista, para fazer acreditar que a floresta amazônica está sendo devastada, com a cumplicidade de nossas autoridades públicas. Qualificando mentirosamente a Amazônia como “pulmão do mundo”, procuram um pretexto para a sua internacionalização, comprometendo assim a soberania nacional nessa região de tantas riquezas naturais. Outro braço ainda mais perigoso da tenaz é formado pela esquerda católica — pouco católica e muito esquerdista — corrente que surgiu do Concílio Vaticano II e da teologia que se diz da libertação, mas que conduz simplesmente para a tirania comunista. De fato, com a pretensa agenda de proteção aos índios, o Sínodo da Amazônia visa implantar novas práticas religiosas, além de criar uma nova situação para a Igreja, a fim de influenciar a mentalidade católica mundial no sentido esquerdista e anticatólico. 


Dom Bertrand citou depoimentos de lideranças indígenas, afirmando que os índios não querem viver num “zoológico” natural. Como os demais brasileiros, os brasileiros indígenas almejam prosperidade econômica, independência financeira e verdadeiro progresso intelectual e cultural. Depoimento muito elucidativo sobre esta posição pode ser visto em: www.youtube.com/watch?v=rTAV9a5R2Uk&t=1398 

Citando uma concisa expressão francesa — L’histoire, on la fait ou on la subit (a História, ou a fazemos ou a padecemos) — Dom Bertrand esclareceu: “Nós fizemos a história do nosso País com as grandes manifestações em defesa do Brasil e contra a agenda esquerdista. Nelas muito se bradou ‘eu quero o meu Brasil de volta’. Continuemos a fazer a história, defendendo a Amazônia. A Amazônia é um território nosso; a soberania é nossa, e nos foi dada pela Divina Providência. Nós seremos julgados perante Deus e perante o Brasil, se não soubermos defender a nossa Amazônia”

A íntegra do discurso de Dom Bertrand pode ser encontrada no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=KdPsvl8zoSc).


Outros interesses por trás do ambientalismo 


Na reunião da CPAC-Brasil, o chanceler Ernesto Araújo demonstrou que o ambientalismo vem servindo de disfarce para uma intervenção na economia. Da mesma forma que a globalização é um fenômeno econômico capturado por uma ideologia, a esquerda tem também instrumentalizado o ambientalismo. 

O Ministro das Relações Exteriores ressaltou que o Brasil é responsável por apenas 2 a 3% das emissões de CO2 do mundo, enquanto a China lidera o ranking com aproximadamente 25% do total. Salientou ainda que, no acordo de Paris, a China se comprometeu a diminuir sua emissão de CO2 somente a partir de 2030.


Para ilustrar a política de dois pesos e duas medidas, Araújo fez a comparação entre duas personagens do mundo contemporâneo: uma é a jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg, bastante divulgada pela mídia internacional, que discursa nas Nações Unidas e exige das autoridades políticas medidas de redução de CO2 no planeta. A outra é uma jovem venezuelana de 14 anos, que pesa 14 kg por culpa de um sistema político que só gera miséria, fome e desolação. E prosseguiu: “Greta tem quase a mesma idade da garota venezuelana. Greta, bem alimentada, bem nutrida, é acolhida nas Nações Unidas. A mesma ONU ignora a menina venezuelana de 14 anos e 14 quilos [...]. A mesma ONU nada faz contra Maduro e aceita a candidatura dele no seu Conselho de Direitos Humanos. Eu pergunto: How dare you? (Como ousas?) [...]. O esquerdismo é e sempre foi global. Como reação, é importante a criação de redes conservadoras, não globais, mas mundiais, respeitando as individualidades e as nacionalidades. Precisamos recuperar a bandeira da economia de mercado, não caindo no erro de achar que a economia é tudo, mas sim trabalhando na cultura, e a partir daí se chegar à economia”


Para o chanceler, uma das essências do movimento conservador é a convicção de que a reordenação das tendências humanas segundo os bons princípios é a única força capaz de remodelar a sociedade. Se nós a modelarmos ignorando esses valores, favoreceremos um sistema de valores errados, contrários à verdadeira liberdade. Precisamos empunhar a bandeira da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, a bandeira da Virgem. 

Muito aplaudidos também por suas exposições foram a Ministra dos Diretos Humanos, Damares Alves; o Ministro da Educação, Abraham Weintraub; e o Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Nos intervalos do Congresso Conservador 

Chamaram a atenção, no hall de entrada, os conhecidos estandartes do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira no seu stand, que na ocasião divulgou a edição especial da revista Catolicismo [setembro/2019] dedicada exclusivamente ao tema do Sínodo Pan-Amazônico. Em torno do stand transcorreram animadas conversas e troca de endereços entre os jovens membros dos vários movimentos conservadores, que tiveram marcante presença no congresso. 

O livro Psicose Ambientalista, de autoria de Dom Bertrand, esgotou-se rapidamente, tendo muitos dos interessados em adquiri-lo deixado seus endereços para recebê-lo por ocasião da próxima edição, já no prelo. Outro livro muito procurado no stand foi Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, em que Plinio Corrêa de Oliveira denunciou, há mais de 40 anos, um projeto indigenista — precisamente o que se está propondo no Sínodo Pan-amazônico. 


Ser autenticamente conservador, o que é?

Os que acompanharam o desenvolvimento do congresso puderam perceber a capacidade do movimento conservador de se organizar, pois todos anelamos pelo reatamento do Brasil de hoje com a Terra de Santa Cruz de ontem, ao mesmo tempo em que rechaçamos a manutenção do primitivismo que impede os brasileiros indígenas de usufruir os benefícios da civilização. 

Um país nascido à sombra da Cruz, e tendo uma Santa Missa como seu primeiro ato oficial, com toda certeza é um país abençoado pela Divina Providência, que tem em relação a ele desígnios de glória. Somente trilhando o caminho da fidelidade a esse desígnio poderá o Brasil se projetar para o almejado futuro da paz de Cristo no reino de Cristo. Sejamos conservadores, no autêntico sentido da palavra. Não basta sermos apenas anticomunistas ou antissocialistas, mas devemos ir além, pois precisamos resgatar todo um modo de ser católico, que corresponde às nossas raízes cristãs e às nossas tradições, fazendo delas o ideal da vida. E com as maternais bênçãos de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, nós o conseguiremos.

20 de novembro de 2019

Apresentação de Nossa Senhora no Templo

Neste dia 21 de novembro a Igreja celebra especialmente a festividade da Apresentação da Santíssima Virgem no Templo de Jerusalém. Quando ainda uma pequenina menina de apenas três anos, Ela consagrou-se de corpo e alma a Deus. 

Essa celebração passou a ser realizada no Oriente desde o séc. VI. Em 1562, o Papa Gregório XI introduziu a festividade na diocese de Avinhão, na França. E o Papa Sixto V, em 1850, estabeleceu-a como obrigatória para toda a Igreja.

A respeito dessa sublime Apresentação, segue um belo texto do Padre Manuel Bernardes — um dos clássicos da literatura portuguesa do séc. XVIII — em sua famosa obra Nova Floresta:* 


“Maria foi transplantada da casa de seus venturosos pais Joaquim e Ana, em Nazaré, ao Templo da Cidade Santa de Jerusalém, para que ali, como em lugar mais próprio, se dedicasse toda ao culto de Deus e ministérios do seu serviço. 

Havia no Templo um quarto ou apartamento sinalado para o colégio de Virgens, que ali se recolhiam e criavam em costumes virtuosos, e serviam em alguns competentes ministérios do mesmo Templo até que tomavam estado de matrimônio. 

Da mão de Santa Ana foi recebida a Sagrada Menina por um sacerdote, que alguns dizem foi o Santo Zacarias (pai de São João Batista), um dos convidados a esta função como parente; ou o Santo Simeão, que depois de breves anos viu em seus braços o bendito fruto desta mesma menina. A qual, posta no último degrau, depois de haver tomado a bênção e beijado a mão a seus pais, subiu logo todos por si mesma sem embaraço, sem pesar e sem tristeza ou mostras de sentimento por deixar tão amável companhia. 

Fez a Virgem Santíssima voto de pobreza e de virgindade, se assim fosse aceito e agradável a Deus. 

Por isso, a Igreja a intitula e invoca Virgem das virgens, porque foi a primeira a quem depois seguiram numerosos esquadrões delas. Adducentur Regi Virgines post eam (As Virgens sejam conduzidas ao Rei após Ela). 

Tudo o que pôde, deu aos pobres. Absteve-se de colóquios humanos, porque a sua conversação era no Céu, seu vestido era chão e muito ordinário, seu comer tênue e parcíssimo, e os Anjos lho ministraram muitas vezes; que não era menos digna disso do que Elias no deserto e outros Santos, que lograram este favor, e o favor era aqui dos Anjos em serem admitidos a este ministério”. 
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(*) Nova Floresta, 5° tomo, Meditações sobre os principais mistérios da Virgem Santíssima Senhora Nossa, Lisboa, 1737, Iª edição; excertos das pp. 74, 77, 83, edição de Lello & Irmão, Editores, Porto, 1974.

17 de novembro de 2019

SAGRADA EUCARISTIA — Confirmações miraculosas da transubstanciação

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 827, Novembro/2019

Ao longo da História, grandes milagres eucarísticos confirmaram o dogma da transubstanciação. No momento da Consagração, parte mais importante da Missa, renova-se de modo incruento o sacrifício do Calvário. Mediante as palavras sacramentais pronunciadas pelo sacerdote, neste ato sublime o pão de trigo e o vinho de uva se transformam em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O altíssimo mistério da Eucaristia excede à nossa pobre inteligência. Nossos olhos veem apenas o pão e o vinho, entretanto temos a certeza da presença sacramental de Jesus Cristo na Hóstia Santa, pois para Deus nada é impossível. Cremos no mistério da transubstanciação, pois a fé nos leva a crer em Deus e em todas as coisas que Ele faz. Como pregava o Apóstolo São Paulo, “a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus, e que as coisas visíveis se originaram do invisível” (Hb 11,1-3). 

Por compaixão e misericórdia em relação aos homens, Deus nos auxilia no fortalecimento de nossa fé; pois, como São Tomé, às vezes precisamos “ver para crer”. Assim, em algumas ocasiões especiais o Homem-Deus opera portentosos milagres, revelando-se real e substancialmente presente nas Sagradas Espécies consagradas. Mesmo em meio ao caos e ao agnosticismo do mundo contemporâneo, os milagres eucarísticos não cessaram. 

A revista Catolicismo oferece aos seus leitores, na matéria de capa da edição deste mês, dados históricos sobre algumas dessas comprovações miraculosas. O autor elencou arrebatadores milagres que se vêm operando desde o século VIII até os nossos dias. Na impossibilidade de reproduzi-los integralmente, Catolicismo publica uma seleção dos que confirmam de modo mais prodigioso a Presença Real na Sagrada Eucaristia. 

Como sabemos, o Sacramento eucarístico foi instituído por Jesus Cristo na Santa Ceia com os 12 Apóstolos. Desde a véspera de sua Crucifixão, portanto, Ele não nos abandonou. Permaneceu na Terra, verdadeiramente presente nos sacrários sob as aparências do pão e do vinho. Cumpre-se deste modo a promessa que Ele nos fez: “Eu estarei convosco até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). 

Por tradição multissecular da Igreja, homens e mulheres vestidos com dignidade e modéstia, e com grande respeito, recebiam a Sagrada Eucaristia na língua, de joelhos, na mesa da comunhão. Após a irrupção da avalanche pós-conciliar, cujos últimos lances consistem em introduzir as práticas tribais na liturgia católica, infelizmente já não se pode dizer o mesmo. Mas Nosso Senhor continua dando-nos abundantes comprovações da Verdade eucarística, e a evocação desses milagres deve intensificar em nós a devoção ao Santíssimo Sacramento, incentivando-nos a nos aproximarmos da mesa eucarística sem a mancha de qualquer pecado grave, para podermos receber dignamente e adorar nosso Divino Salvador.
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9 de novembro de 2019

9 de novembro de 1989 — 9 de novembro de 2019


➤  Paulo Roberto Campos

Neste dia celebramos o 30º aniversário da impressionante derrubada do Muro de Berlim — simbólica do desmoronamento do regime comunista e de sua utopia igualitária.


Esse “Muro da Vergonha”, construído na ex-Alemanha comunista em 1961, teve como objetivo esconder do mundo ocidental a miséria do império soviético — fruto do projeto de dissolução das tradições, das famílias e das propriedades particulares — e impedir que aqueles que estavam do lado de lá da “cortina de ferro” fugissem do “paraíso” comunista. Para isso, nas proximidades do muro, os esbirros bolcheviques, além de vigiarem dia e noite armados de metralhadoras, mantinham cães ferozes, minaram o terreno e levantaram torres de vigilância e cercas eletrificadas e de arame farpado. 

Apesar de todos esses obstáculos, mais de 100 mil alemães orientais tentaram atravessar a intransponível muralha a fim de fugir para o lado ocidental; mais de mil deles foram, na tentativa de travessia, covardemente mortos pelos vigias comunistas. 


Em 9 de novembro de 1989 ruiu aquela muralha comunista e temos muito a comemorar, assim como milhões de alemães ficaram eufóricos com a ruína do Muro de Berlim — muito desejada, mas a tal ponto inacreditável que muitos alemães afirmaram que, naquele dia histórico, se beliscavam para comprovar que não estavam sonhando. Entretanto, não tenho visto comemorações desta grande data por parte de certas autoridades eclesiásticas que, contudo, tanto têm esbravejado contra a construção de muros... Então, comemoremos nós!  

Celebremos, mas mantenhamo-nos alertas, pois em muitos países, inclusive no Brasil (sobretudo agora com a soltura de presidiários...), temos visto movimentos de esquerda procurando “venezualizar” as instituições e provocar o caos na pretensão de voltar ao poder, e... levantar novos muros como bons agentes de Stalin que são. 




Em memória desses 30 anos do desmoronamento do “Muro de Berlim”, reproduzimos a seguir uma análise de Plinio Corrêa de Oliveira, publicada em Catolicismo, Nº 181/2 (Janeiro/Fevereiro de 1966).

Fugindo à tirania dos sequazes do demônio 


➤  Plinio Corrêa de Oliveira 

Enquanto o mundo ocidental se preparava para as festas do Natal, uma notícia trágica, publicada com pouco destaque pela imprensa diária, chamou a atenção de uns poucos leitores. Tratava-se de um telegrama conjunto das agências Reuters e AFP, datado de Colônia. Informava ele que, segundo dados coletados pelo Serviço Federal de Guardas de Fronteira, cerca de quatro mil pessoas residentes na Alemanha comunista tentaram fugir para a Alemanha Ocidental, transpondo de um ou de outro modo a cortina de ferro, nos dez primeiros meses de 1965. Somente 1.233 delas foram bem sucedidas.

É claro que o que quatro mil pessoas ousaram um incontável número desejou. Muitos, retidos pelo receio de sanções contra seus familiares, nem tentaram fugir. Outros foram paralisados pelo explicável terror dos riscos que esse lance acarreta.

Mas, apesar desses riscos, 400 alemães em cada mês preferiram empreender a fuga, postos fora de si pelos horrores do paraíso comunista.

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Do que seja a atmosfera moral trágica em que essas evasões se desenrolam dão testemunho os clichês desta página. Em um deles vemos uma anciã de 78 anos, residente em uma casa situada no setor soviético de Berlim, cujas janelas se abriam para o setor ocidental. A pobre setuagenária resolveu saltar a janela do segundo andar, firmando-se no friso existente junto à mesma, e daí jogar-se em uma rede que bombeiros desdobravam a seus pés. Alguns comunistas, tomando conhecimento do fato, tiveram a covardia de tentar reter a anciã pelo braço. Por fim, ela se desvencilhou, com a ajuda de populares, e conseguiu cair sobre a rede em condições satisfatórias.

Essa fotografia bem poderia passar para a História como um símbolo do martírio de todo um povo, mais precisamente de um dos povos mais cultos e civilizados da terra.

A outra fotografia, de edifícios da Bernauer Strasse de Berlim, mostra o resultado de evasões como esta. Os comunistas muraram todas as janelas de todos os prédios situados no setor comunista que dão para o setor ocidental. Com isso revelam eles a convicção de que sua tirania é de tal maneira execrada, que por qualquer orifício praticável, dela fugiriam em quantidade suas infelizes vitimas.

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Esses clichês não ilustram apenas o quanto o comunismo é mau. Eles provam também a que grau de endurecimento de alma chegaram largos setores do Ocidente, que levam a insensibilidade moral ante fatos tais a ponto de pensar seriamente na possibilidade de um modus vivendi com os comunistas na política interna dos países ainda livres.

A maldade do comunismo não é, nele, mero acidente, que tanto poderia existir como não existir. É uma consequência necessária de suas concepções filosóficas e morais. É a expressão mais requintada da malícia diabólica presente, já nesta vida terrena, nos que lutam por Satanás, suas pompas e suas obras.

Quem ama o perigo nele perecerá, diz a Sagrada Escritura (Ecli. 3, 27 ). É de algum modo amar o perigo, fechar os olhos para a gravidade dele e aceitar as manobras astuciosas com que o adversário nos tenta ilaquear.

6 de novembro de 2019

O Santíssimo Sacramento e a devoção à Santíssima Virgem

A Comunhão da Virgem - Giacinto Gimignani, séc. XVII. Museu de Belas Artes, Marselha

Essa devoção, tão característica e tão radicada no Brasil, há de nos salvar 


➤  Plinio Corrêa de Oliveira 

No momento em que a iniquidade está chegando ao seu cúmulo, a graça e a misericórdia de Deus chegam ao seu cúmulo também. À fortaleza do vício e do mal, Deus opõe uma indômita fortaleza do bem. 

O triunfo da Igreja Católica dar-se-á no mundo moderno, certamente pelo embate gigantesco entre as forças pequenas do bem e as forças enormes do mal. Será o triunfo da Sagrada Eucaristia, fonte de graça aberta para o mundo pela intercessão de Nossa Senhora, que rezando sempre a Jesus Eucarístico, consegue para nós as graças de que precisamos. 

Esse papel da Sagrada Eucaristia no mundo moderno faz pensar em Nossa Senhora. E como não se pode falar em triunfos e em graças sem falar n’Ela, que é a medianeira necessária, posso afirmar que um dos dons mais preciosos da Sagrada Eucaristia para o mundo é a devoção a Nossa Senhora. Essa devoção, tão característica e tão radicada em nossa Terra de Santa Cruz, há de salvar o Brasil.

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Excertos de uma conferência de Plinio Corrêa de Oliveira, proferida na “Semana Eucarística de Campos” (RJ), em 23-4-1955. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

Rosário pela Venezuela

Venezuelanos em fuga pela fronteira com a Colômbia
➤  Plinio Maria Solimeo

         O problema da Venezuela “cubanizada” está cada vez mais tenebroso, com notícias diárias da pobreza a que foi reduzidasua população, a falta de alimentos, de remédios, e, sobretudo, a violenta repressão do regime ditatorial a qualquer manifestação de inconformidade. Por isso, em vários países se acenou para uma intervenção militar externa para depor o ditador Maduro.

         Ora, um dos maiores problemas de uma intervenção na Venezuela é que ela se encontra ocupada, com a total anuência do governo chavista, não só pelos quartéis do narcotráfico, mas também por forças estrangeiras. Segundo fontes insuspeitas, nada menos de 22 mil cubanos controlam as Forças Armadas e os serviços de inteligência do país, 400 russos estariam a serviço de Maduro, cerca de 20 mil terroristas das FARC e do ELN colombianos encontram-se no território venezuelano, além de um número incerto de terroristas do Hezbollah. Por isso, uma operação militar contra o país poderia provocar um conflito de longas e imprevisíveis consequências para toda a América do Sul.

        Deve-se em vista disso considerar que não havendo uma solução factível no plano temporal, o remédio mais eficaz é recorrer ao auxílio do Céu. Não só porque o afastamento da moral católica foi determinante para precipitar a Venezuela na atual situação em que jaz, mas também porque, como dizia a Irmã Lúcia, “não há problema, por mais difícil que seja, que não possamos resolver com a recitação do Santo Rosário”.

         Nesse sentido, temos exemplos impressionantes de como a recitação pacífica do Santo Rosário obteve resultados surpreendentes nas mais complicadas situações políticas. Citamos apenas dois: a saída do comunismo da Áustria depois de ter-se implantado no país, e o ocorrido no Brasil em 1964.

Traição dos Aliados entrega a Áustria católica aos comunistas

         Em 1938 a Áustria foi anexada pela Alemanha, tornando-se parte do eixo nazista. Terminada a II Grande Guerra Mundial, esses dois países foram divididos em quatro zonas de ocupação, administradas pelos Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética. Os Aliados então fizeram esta coisa abominável: entregaram parte da Áustria católica, onde estava Viena, aos comunistas soviéticos!

         Ora, em menos de dois anos, a parte da Alemanha que estava sob a administração das potências ocidentais foi obtendo gradualmente sua independência política, o que não ocorreu com a que estava na zona soviética. Surgiu assim a República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental. Os soviéticos, pelo contrário, favoreceram a reclamação de parte do território austríaco pelo ditador comunista Tito, mantendo férreo controle sobre toda a Europa Oriental, convertendo os países ocupados por eles em satélites de Moscou. Assim, para essas infelizes nações cativas não havia, naturalmente falando, esperança de liberdade.

Nossa Senhora inspira a recitação do Rosário

         
Foi então que um frade capuchinho, Frei Petrus Pavlicek [foto ao lado], decidiu apelar ao sobrenatural para libertar seu país. Nascido no Tirol austríaco em 6 de janeiro de 1902, após uma tentativa fracassada na vida religiosa ele entrou num convento capuchinho, onde foi ordenado sacerdote em 1941. Servindo no campo da saúde do exército alemão, foi capturado pelos Aliados em agosto de 1944 e libertado no dia 16 de julho de 1945, festa de Nossa Senhora do Carmo.

No dia 2 de fevereiro de 1946, festa de Nossa Senhora das Candeias, quando orava ardentemente diante da imagem milagrosa da Virgem em Mariazell [foto abaixo], principal santuário mariano da Áustria, Frei Pavlicek ouviu uma voz interior que lhe disse: “Faça o que te digo e terão paz”. Ele foi então inspirado a incrementar a recitação do Rosário, como a Virgem pedira em Fátima, para obter a libertação de seu país do jugo comunista. Fundou então, em 1947, a Cruzada de Reparação do Santo Rosário. Seus membros deveriam se unir na recitação de um Rosário perpétuo, implorando a conversão dos pecadores, a paz mundial e a liberdade da Áustria do comunismo.

Imagem da Magna Mater Austriae,
no Santuário Nacional austríaco de Mariazell
O zeloso sacerdote começou então a fazer peregrinações por todo o país pregando essa devoção. Obteve para esse fim, do bispo de Leiria, uma cópia da imagem de Nossa Senhora de Fátima esculpida pelo mesmo artesão que fizera a imagem peregrina original.

         Em setembro de 1948 Frei Pavlicek estendeu a Cruzada de Reparação do Santo Rosárioa Viena. Esta incluía a confissão, bênção dos enfermos, o Santo Rosário e a Missa. Ele chamava estas devoções de “assaltos de oração” e dizia: “A paz é um regalo de Deus, e não dos políticos; e os regalos de Deus se obtêm com a oração que assalta o céu, como os soldados assaltam um forte com confiança e determinação”.

Em 1949 a situação se tornou mais crítica com a queda da Tchecoslováquia e da Hungria nas mãos dos comunistas, a perseguição à Igreja e o julgamento sumário do Cardeal Mindszenty em Budapeste. Tudo isso contribuiu para aumentar ainda mais a ansiedade dos austríacos.

Quando novas eleições se aproximavam, Frei Petrus resolveu intensificar sua cruzada. Organizou cinco dias de preces públicas em Viena, durante as quais foram ouvidas confissões dia e noite, e 50.000 pessoas visitaram o convento franciscano. O resultado do pleito foi um fiasco para os comunistas: eles só ganharam cinco cadeiras. Mas não tinham a intenção de desistir tão fácil de sua presa, e todos já esperavam um golpe de estado.

Como as procissões com a recitação do Rosário foram se tornando muito numerosas, Frei Pavlicek resolveu fazer uma procissão geral, unindo todas as paróquias de Viena. Escolheu para ela o dia 12 de setembro de 1954, consagrado ao Santo Nome de Maria, com o objetivo de pedir à Virgem que libertasse a Áustria do comunismo. O arcebispo de Viena mostrava-se reticente em relação ao êxito da procissão. Temia que os católicos não se mobilizassem, porque já se havia pedido muito deles. Entretanto, a esse esforço uniu-se ninguém menos que o Primeiro Ministro da Áustria, Leopoldo Figl [foto ao lado], que disse ao frei Pavlicek: “Mesmo que fôssemos somente nós dois, eu iria [à procissão]. Meu país o exige”. Compareceram 35 mil pessoas, com o Chanceler Figl à frente, terço e vela à mão. 

Em Berlim, Molotov, ministro russo das relações exteriores, ao tomar conhecimento disso, ridicularizou o Chanceler austríaco: “Não tenham esperanças. O que nós, russos, uma vez possuímos, jamais entregamos”. Figl transmitiu a Frei Petrus essa bravata, dizendo-lhe: “Rezem mais do que nunca”.

Isso ocorreu na hora certa, pois no fim do mês os comunistas tentaram um golpe militar. Proclamaram uma greve geral e ocuparam a Chancelaria Geral. Mas os sindicatos anticomunistas lançaram seus membros nas ruas, armados de paus, em uma contra ofensiva. A greve foi dissolvida, e o golpe revolucionário falhou. À época, a Cruzada do Rosário contava com 200 mil membros.

Acontece o imprevisível: os russos deixam a Áustria!

Falando na ocasião a um sacerdote austríaco durante uma audiência privada, Pio XII lhe disse: Viena é o último baluarte da Europa. Se Viena cair, a Europa cairá. Se Viena resistir, a Europa resistirá. Os católicos de Viena não têm o direito de ser medíocres. Diga-o repetidamente aos vienenses. E diga-lhes que o papa está rezando muito, sim, que ele está rezando bastante pela Áustria.
       Enquanto isso a Cruzada do Rosário continuava, expandindo-se por toda a Áustria, atingindo também a Alemanha e a Suíça. No ano de 1955, mais de meio milhão de austríacos — ou seja, aproximadamente 10% da população — haviam se comprometido a rezar diariamente à Virgem de Fátima, fazendo os três pedidos: a conversão dos pecadores, a paz no mundo e a liberação da Áustria do comunismo. Um número maior participava das procissões marianas.

    Foi então que sucedeu o imprevisível: em abril desse ano de 1955, Molotov anunciou que retiraria suas tropas da Áustria em três meses. Com efeito, no dia 15 de maio, ante a surpresa geral do mundo, as Forças Aliadas que ocupavam a Áustria, assinaram um tratado que garantia sua independência. Finalmente, no dia 26 de outubro, o último soldado russo deixou o solo austríaco...

Pode-se imaginar a alegria da população vienense, que marchou em procissão pelas ruas da cidade, com rosários e tochas, para agradecer à Virgem de Fátima a libertação do país do comunismo. O Primeiro Ministro Figl, dando sua voz a toda a população, exclamou então: “Hoje nós, que temos o coração cheio de fé, clamamos ao Céu com gozosa oração: somos livres! Ó Maria, nós te damos graças!


O Brasil, também livre da ameaça comunista pelo Rosário

        Como nos concerne mais imediatamente, citemos também o que ocorreu no Brasil em 1964.

Em 1960 o socialista João Goulart foi reeleito vice-presidente da República. Com a renúncia de Jânio Quadros, ele assumiu o poder no ano seguinte. Levando avante uma política nitidamente socializante, Jango preparava o cenário que poderia levar o Brasil a se tornar irremediavelmente uma nova Cuba.

Houve reação das forças conservadoras, principalmente das católicas, muito fervorosas e atuantes naquele tempo. Elas organizaram manifestações por todo o País, ante a iminência dessa desgraça.


Uma das senhoras católicas que liderou a reação, Da. Amélia Bastos, em discurso numa das Marchas da Família com Deus pela Liberdade [foto acima e ao lado], descreveu uma situação que se aproxima à da que ocorre na Venezuela: “Esta nação que Deus nos deu, tão imensa e maravilhosa como é, encontra-se em grave perigo. Temos permitido a homens de ambição desmedida, sem fé cristã nem escrúpulos, trazer a miséria a nosso povo, destruindo nossa economia, transgredindo nossa paz social, para criar ódio e desespero. Infiltraram-se em nossa nação, em nosso governo, em nossas forças armadas, e mesmo em nossas igrejas. [...] Mãe de Deus, salvai-nos do fatal destino e sofrimento das mulheres martirizadas de Cuba, Polônia, Hungria e outras nações escravizadas!”.

         A população saiu então às ruas das cidades brasileiras, principalmente as mulheres, rezando-o em voz alta o Terço e cantando hinos religiosos, para obter de Deus, pela intercessão de Nossa Senhora, misericórdia para com os pecados do povo e o afastamento do País do comunismo. Foram as gloriosas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Nossa Senhora não deixou de ouvir seus fiéis, e um golpe militar derrubou o governo comunista. 

Cruzada do Rosário pela Venezuela

         Caro leitor católico: se isso deu certo em circunstâncias tão difíceis como na queda do comunismo na Áustria e na liquidação da ameaça comunista no Brasil, não dará certo na Venezuela? O grande São Pio X, ao fixar a festa de Nossa Senhora do Rosário em memória da vitória católica na Batalha de Lepanto sobre as hostes do Islã, ocorrida em 7 de outubro de 1571, afirmou: “Deem-me um exército que reze o Rosário e ele vencerá o mundo”.

         A recitação do Santo Rosário não requer um esforço muito grande. É fácil e está ao alcance de qualquer um.

         Se conseguirmos um bom número de católicos que queiram rezá-lo diariamente pela Venezuela, veremos milagres acontecerem. Aqui fica este convite, feito de todo o coração, por essa nação irmã.

Para concluir, citemos que em setembro de 1972 um bispo austríaco, falando diante de todo o episcopado do país por ocasião da Reparação do Rosário, declarou: “Tal como a Áustria foi libertada do jugo comunista pela recitação fervorosa do Rosário, será da mesma maneira que pela arma do Rosário o mundo será libertado dos ataques do demônio e de seus sequazes. Se rezarmos o Rosário, Nossa Senhora nos dará verdadeira liberdade e paz”.
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PS: Além da recitação do Rosário, sugerimos esta oração a Nossa Senhora de Fátima, composta pelo fundador da TFP brasileira o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, para que Ela livre não só o Brasil, mas todas as nações da América Latina do comunismo:

Ó Rainha de Fátima, nesta hora de tantos perigos para as nações cristãs, afastai delas o flagelo do comunismo ateu.
Não permitais que consiga instaurar-se, em tantos países nascidos e formados sob o influxo sagrado da Civilização Cristã, o regime comunista, que nega todos os Mandamentos da Lei de Deus.
Para isto, ó Senhora, conservai vivo e aumentai o repúdio que o comunismo encontrou em todas as camadas sociais dos povos do Ocidente cristão. Ajudai-nos a ter sempre presente que:
1°) O Decálogo nos manda “amar a Deus sobre todas as coisas”“não tomar seu Santo Nome em vão” e “guardar os domingos e festas de preceito”. Mas o comunismo ateu tudo faz para extinguir a Fé, levar os homens à blasfêmia e criar obstáculos à normal e pacífica celebração do culto.
2°) O Decálogo manda “honrar pai e mãe”“não pecar contra a castidade” e “não desejar a mulher do próximo”. Mas o comunismo deseja romper os vínculos entre pais e filhos; quer entregar ao Estado a educação dos filhos; nega o valor da castidade; e ensina que o casamento pode ser dissolvido por qualquer motivo, pela mera vontade de um dos cônjuges.
3°) O Decálogo manda “não furtar” e “não cobiçar as coisas alheias”. Mas o comunismo nega a propriedade privada e a sua importante função social.
4°) O Decálogo manda “não matar”. Mas o comunismo emprega a guerra de conquista como meio de expansão ideológica, promove revoluções e crimes em todo o mundo.
5°) O Decálogo manda “não levantar falso testemunho”. Mas o comunismo usa sistematicamente a mentira como arma de propaganda.
Fazei que, tolhendo resolutamente os passos à infiltração comunista, todos os povos do Ocidente cristão possam contribuir para que se aproxime o dia da gloriosa vitória que predissestes em Fátima, com estas palavras tão cheias de esperança e doçura: “Por fim, o meu imaculado coração triunfará”.
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Fontes:
- Germán Mazuelo-Leytón, Nuestra Señora de Fátima y el comunismo, disponível em https://adelantelafe.com/nuestra-senora-de-fatima-y-el-comunismo/.
- Pe. Marie-Dominique, O.P, Great Historical Victories of the Rosary.Citado em “A Áustria salva do comunismo por Nossa Senhora”, disponível em: http://speminaliumnunquam.blogspot.com/2010/12/austria-salva-do-comunismo-por-nossa.html