26 de abril de 2020

A saúde e o futuro das crianças ameaçados pela televisão

➤  Antoine Béllion

Um estudo publicado em 29 de janeiro último pelo Conselho Superior da Saúde Pública (HCSP) e reproduzido pelo diário parisiense “Le Figaro” faz soar o alarme: o tempo excessivo passado diante da televisão tem consequências dramáticas para a saúde e para o futuro comportamento dos jovens. 

O documento apresenta uma análise completa dos efeitos demolidores causados pela televisão nas crianças e adolescentes, e dá recomendações. 

Atualmente na França crianças e adolescentes entre 3 a 17 anos passam três horas por dia diante da televisão. E alguns jovens ultrapassam essa média. Ora, esse hábito tem graves consequências para a saúde, denunciam muitos especialistas. 

Estes são taxativos no que diz respeito aos muito jovens: “Nas crianças com menos de dois anos todo conteúdo dos programas é associado a consequências negativas.” Por precaução recomenda-se a proibição total da assistência a programas de televisão às crianças com menos de três anos. 

Quanto aos efeitos das telas no sono e na saúde física das crianças, destaque “Le Figaro”, elas não precisam mais de comprovação. De fato, as crianças que passam mais tempo na frente das telas dormem cada vez menos do que as outras, praticam menos atividade física e comem mal. O relatório recomenda proibir a televisão no quarto e durante as refeições. E isto em todas as idades. 

Atualmente não é mais necessário provar os efeitos causados pela televisão no sono e na saúde psíquica das crianças, chama atenção “Le Figaro”. “Não se deve autorizar a assistência de nenhum programa uma hora antes de dormir”, recomendam os autores do estudo. “Toques de recolher” deveriam ser instalados nos aparelhos de televisão. 

Pode-se falar de uma “dose” máxima de assistência a programas a partir da qual o mal é inevitável? Infelizmente o estudo do HCSP não traz conselho seguro a este respeito. “Diferentes estudos são unânimes sobre a existência de efeitos maléficos causados pela ‘overdose’ de programas. Entretanto uma ‘dose’ limite não pode ser estabelecida, bem como não se pode demonstrar como se dão as consequências”, notam os especialistas.

Chamam atenção os riscos psicossociais corridos em adolescentes. “Há uma relação de causa e efeito entre o tempo passado vendo televisão e o bem estar emocional”, destaca o estudo. 

Em sentido oposto, podemos sugerir o gosto pela leitura tradicional — leitura de bons livros — desde a primeira juventude. Este é um modo excelente de evitar o costume abusivo da televisão. A sugestão também é válida para os pais e todos os adultos... 

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Fonte: http://www.lefigaro.fr/sciences/langage-sommeil-sante-un-rapport-fait-le-point-sur-les-effets-des-ecrans-20200210

18 de abril de 2020

Por que os laços familiares são tão importantes?

John Horvat II

A importância das relações familiares pode também, entre diversas razões, ser constada nos benefícios para a saúde que advêm de laços afetivos entre parentes. 

Em um estudo realizado nos anos cinquenta, a um grupo de estudantes da Universidade Harvard (na cidade de Cambridge - EUA), escolhidos aleatoriamente, foi solicitado aos alunos que descrevessem o nível de calor de seus relacionamentos com os pais. Cerca de 35 anos depois, foi feita uma verificação de seus registros médicos.

O psicólogo britânico Prof. David Halpern** [foto ao lado] destacou que: 
“Entre aqueles que classificaram os relacionamentos com os pais como calorosos e estreitos, um pouco menos da metade (47%) teve doenças graves diagnosticadas na meia-idade; mas entre aqueles que descreveram os relacionamentos com os pais como tensos e frios, todos (100%) tinham doenças graves diagnosticadas na meia-idade”.

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Fonte: David Halpern, Social Capital, Polity Press: Cambridge, 2005, p. 81). 

*  John Horvat II é vice-presidente da TFP norte-americana, autor do best-seller "Return to Order". 

** David Halpern foi professor de ciências sociais humanas na Universidade de Cambridge. Atualmente ele supervisiona a resposta do governo do Reino Unido à pandemia de coronavírus como parte do Grupo Consultivo Científico para Emergências, concentrando-se em mudanças comportamentais.

11 de abril de 2020

Na Igreja Católica repete-se a Paixão de Nosso Senhor

Apesar da crise na Igreja, ocorrerá com ela, ainda em nossos dias, algo semelhante à Ressurreição de Jesus Cristo 


➤  Paulo Roberto Campos 

A Santa Igreja, bem sabemos, é imortal, mas passa presentemente por uma Paixão — ela é martirizada e, por assim dizer, passa por uma nova “Sexta-Feira Santa”, na qual se procura condená-la e crucificá-la. 

A exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja Católica é perseguida, odiada, abandonada por inúmeros de seus próprios filhos, muitos destes, inclusive, ocupando altas funções em sua hierarquia. Assim, a Igreja muitas vezes parece sepultada sob a pesada pedra de um sepulcro. 

Porém, os verdadeiros fiéis confiam firmemente na promessa de Nosso Salvador a São Pedro: “as portas do inferno não prevalecerão” contra a Igreja (Mt 16,18), e com Ela ocorrerá algo semelhante à Ressurreição do Divino Redentor. Ela poderá ser crucificada, mas um dia triunfará gloriosamente! 

Posta essa conjuntura, nós, católicos que desejamos manter a íntegra fidelidade mesmo nas circunstâncias presentes, nas situações mais amargas e aparentemente sem saída, temos a obrigação de fazer em prol da Igreja e da Cristandade o que outrora realizaram os cruzados para libertar o Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

O texto abaixo — extraído de histórico artigo de Plinio Corrêa de Oliveira publicado na revista Catolicismo (janeiro/1951) — constitui um verdadeiro programa para todos católicos autênticos e nos encoraja à resistência aos males que presentemente nos afligem. 


“Na Idade Média, os cruzados derramaram seu sangue para libertar das mãos dos infiéis o Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo e instituir um Reino Cristão na Terra Santa. [...] Mas o que é o Reino de Cristo, ideal supremo dos católicos? [...] O próprio da Igreja é de produzir uma cultura e uma Civilização Cristã. É de produzir todos os seus frutos numa atmosfera social plenamente católica. O católico deve aspirar a uma civilização católica, como o homem encarcerado num subterrâneo deseja o ar livre, e o pássaro aprisionado anseia por recuperar os espaços infinitos do céu.  
E é esta a nossa finalidade, nosso grande ideal. Caminhamos para a civilização católica que poderá nascer dos escombros do mundo de hoje, como dos escombros do mundo romano nasceu a civilização medieval. Caminhamos para a conquista deste ideal, com a coragem, a perseverança, a resolução de enfrentar e vencer todos os obstáculos, com que os cruzados marcharam para Jerusalém. Porque, se nossos maiores souberam morrer para reconquistar o Sepulcro de Cristo, como não querermos nós, filhos da Igreja como eles, lutar e morrer para restaurar algo que vale infinitamente mais do que o preciosíssimo Sepulcro do Salvador, isto é, seu reinado sobre as almas e as sociedades, que Ele criou e salvou para O amarem eternamente?”.

8 de abril de 2020

A completa infâmia em contraste com a suma perfeição


➤ Plinio Corrêa de Oliveira 

Neste célebre quadro, Giotto* pintou Judas no ato de oscular Nosso Senhor Jesus Cristo. Era o ósculo da traição, no momento em que Nosso Senhor, pouco antes de ser preso e levado para ser julgado e crucificado, acabava de dizer aquelas tremendas palavras: “Judas, com um beijo trais o Filho do Homem!” (Lc 22, 48). 

Com toda a sua sublimidade, Nosso Senhor olha para Judas e o analisa até o fundo da alma. Nesse olhar Ele recusa categoricamente a ação infame de Judas; mas, apesar da recusa à infâmia, olha como quem ainda procura algum resto de boas qualidades em Judas. Procura comovê-lo, numa tentativa de ainda obter sua conversão. É um contraste prodigioso! 


Judas é baixo, vil, ganancioso, materialista; com seus lábios grossos e indefinidos, que vão se abrindo para o beijo da infâmia, ele procura com o olhar turvo sorrir para mentir. Tem-se a impressão (desculpem-me o prosaísmo) de sentir até o seu mau hálito, na hora do beijo da traição. Eles se olham, e nisso se nota o supremo contraste entre a completa infâmia e a suma perfeição. 

alma do católico verdadeiramente sério vive desse contraste: a tendência contínua para ver o mais sublime, juntamente com a compreensão de que no fundo de qualquer coisa censurável está palpitando a infâmia, pronta para saltar e tomar conta do ambiente. Ver o mundo através de contrastes assim é agir com seriedade.

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* Afresco pintado pelo célebre artista italiano da época medieval, Giotto di Bondone (1267-1337), na Capela degli Scrovegni, Pádua (Itália), entre 1302 e 1306. 


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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 20 de setembro de 1979. Esta transcrição não passou pela revisão do autor. Fonte: Revista Catolicismo, Nº 832, Abril/2020.

5 de abril de 2020

Reflexões para a Magna Semana — a Semana Santa

“Mas ele [Jesus] foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre Ele; fomos curados graças às suas chagas”. 
(Isaías, 53, 5) 


“Jesus foi desprezado e coberto de ignomínia quando estava na cruz. Seu rosto foi velado e maltratado a fim de que o poder divino se ocultasse sob o corpo humano”. 
(São Jerônimo) 


“Se a tua mente não se eleva à contemplação desse Homem-Deus crucificado, volta atrás e, começando desde o início até o fim, rumina todos os caminhos da Paixão e da Cruz do Homem-Deus vilipendiado. E se não podes retomar e falar de novo destas coisas com o coração, repete-as frequentemente e amorosamente com os lábios, porque aquilo que se repete com frequência com os lábios dá calor e fervor ao coração”. 
(Santa Ângela de Foligno)

1 de abril de 2020

Globalização do vírus da China comunista

O coronavírus made in China, fantasma do momento, assusta o mundo inteiro, mas as soluções católicas são negligenciadas 



➤Nelson R. Fragelli 
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 832, Abril/2020 

No início não passava de uma curiosidade. Mais uma novidade vinda da China? Mais uma artimanha publicitária, com a intenção de conquistar o mercado no Ocidente? Um boato a ser “viralizado”? Ou seria mais grave e prejudicial do que uma epidemia? 


A novidade proveniente da cortina de bambu põe às claras uma China inexplicável e cheia de contradições. Nadando em dinheiro proveniente do capitalismo, mas com regime comunista. Descendente das chacinas de Mao Tsé-Tung, mas sorridente pelas toneladas de objetos cintilantes que despeja sobre o Ocidente ávido de gozo barato. Até o nome parece artificioso: Coronavírus.

Muitos procuravam tranquilizar-se, gracejando com comentários nada engraçados: se ele for mesmo perigoso, é melhor ficar por lá, onde tem muitas centenas de milhões de habitantes para se divertir; eles já estão habituados ao tirânico domínio comunista, um mal a mais pouca diferença faz; encontrando lá gente suficiente, poupará à nossa mídia esquerdista o desgosto de reconhecer os males do totalitarismo comunista; e o Ocidente continuará saboreando em inteira segurança o seu idolatrado conforto; não dá para globalizar esse malfazejo microrganismo, pois não consegue saltar por cima da muralha da China; e podemos confiar que o Ocidente não o importará, nem oficialmente nem por contrabando. 

Mas acabaram globalizando o Coronavírus e a coronafobia, que transitam confortavelmente em rotas antigas e modernas: comerciantes do Velho e Novo Mundo; exploradores do trabalho escravo chinês; turistas sedentos de contemplar as novidades mundiais; na respiração e transpiração de imensa população cativa. Estão vindo, estão circulando, e cada vez mais. 

Em nossos países, penetra em zonas até então consideradas seguras de toda infecção. Não respeita barreiras sanitárias, nem escolas, nem igrejas. No tráfego aéreo, voos são cancelados. Nos divertimentos, cinemas e teatros são fechados. Permanecer em casa, evitando contatos sociais, é a determinação de tantos governos. Toda aglomeração se torna ameaçadora. 

Como um fantasma, levanta-se a consciência do perigo e surge o medo. Os que refletem sobre a evolução do perigo parecem ver, no que era apenas uma curiosidade inicial, um misterioso desígnio superior. Uma advertência? Um sinal dos tempos? Vindo de onde? Com que finalidade? Cientes agora do perigo, muitos despertam; e paradoxalmente o mesmo vírus, ao abrir em incontáveis pessoas os olhos do espírito, em outras fecha concomitantemente os olhos do corpo. 
Fora e dentro da China, a orientação de incontáveis administrações públicas para se permanecer em casa e evitar contatos sociais parece inspirada em típica decisão do governo totalitário chinês, imposta a seu povo e agora exportada ao mundo. Na foto, o presidente da China, Xi Jinping, analisa a situação da epidemia do novo coronavírus junto com assessores militares.

Comunismo chinês recrudesce a perseguição 

As consciências têm motivo para estarem pesadas. Na China, a Igreja Católica é cruelmente perseguida. O atual governo se comporta, em relação ao culto católico, exatamente como seus antepassados comunistas: igrejas são destruídas, bispos e sacerdotes encarcerados, seminários fechados. A cristianofobia domina o país, e foi intensificada brutalmente após o acordo secreto entre o Vaticano e o regime comunista de Pequim. A perseguição à família se faz, entre outras muitas imposições, pelo aborto em massa e pela eutanásia. Os recentes acontecimentos dramáticos em Hong Kong (vide Catolicismo, nº 829, janeiro/2020) mostram a tirania do governo comunista chinês ao cercear toda liberdade de expressão. 


Fora e dentro da China, a orientação de incontáveis administrações públicas para se permanecer em casa e evitar contatos sociais parece inspirada em típica decisão do governo totalitário chinês, imposta a seu povo e agora exportada ao mundo. A ela se seguem outras deliberações semelhantes: controle da movimentação em aeroportos; isolamento total de populações inteiras; uso de máscaras protetoras. Na China, as medidas severas ordenadas pelo governo vêm redundando em controles desumanos de transeuntes e motoristas, durante os quais agressões violentas e mortes são confirmadas por numerosos vídeos. Após esconder a existência do vírus, aparecido em novembro do ano passado, o governo chinês persiste em declarar a epidemia “sob controle”. E ai do chinês que se queixar da inépcia do governo. 

Esse duro tratamento da população chinesa chegará até nossos países? Como se comportarão nossas populações diante de um clima inquietante de notícias sobre o alastramento da epidemia? Quantas pessoas se recusarão a aceitar violências contra suspeitos, por uma alegada necessidade de rigoroso controle em vista do bem da maioria? Serão grandes esses números, e frequentes as violências?

Lourdes: a estranha orientação eclesiástica 

Sob pretexto de proteção sanitária a propósito do coronavírus, o Santuário de Lourdes fechou os locais onde os fiéis podiam banhar-se nas águas milagrosas, cuja fonte fora revelada por Nossa Senhora a Santa Bernadette. Nesses locais designados pelo nome de “piscinas de Lourdes”, e auxiliados por respeitosos assistentes voluntários, há muitíssimos anos os peregrinos podiam imergir nas águas, recebendo assim alívio ou mesmo cura para os males do corpo e da alma. 

Milhares de relatos testemunham os efeitos milagrosos dessa imersão: curas físicas e também espirituais, como a correção de defeitos morais, tentações, infestações e depressões, a renovação do fervor, a coragem de viver. Não só isto: ali se banham, na mesma água, incontáveis peregrinos portadores de doenças da pele, feridas supuradas, furúnculos, úlceras etc. Nunca houve sequer um caso de contaminação, e só isto já é um milagre contínuo! 

Neste momento em que a violenta epidemia do coronavírus vem ceifando vidas em número crescente, um dever elementar de caridade seria intensificar a condução dos contaminados à fonte da cura. Entretanto, dando eco a medidas semelhantes tomadas por um clero pouco zeloso em vários países, os responsáveis do Santuário de Lourdes, movidos por uma concepção mundana e materialista das necessidades humanas, fecharam as imersões dos peregrinos nas águas de abundantes milagres. Não só as curas são assim evitadas, mas cerceia-se ainda o bem que o mundo presenciaria ante o conforto moral e físico causado por aquelas águas. E mais evidente ficaria, imediatamente, que tais banhos não transmitem os vírus. Quantos se converteriam diante dessa constatação? Não é isto que desejam os pastores? 

O Sínodo da Amazônia deu amplo assentimento ao ídolo pagão pachamama, introduzido em ato de veneração nos jardins do Vaticano e em igreja das proximidades. Numa flagrante transgressão ao correto procedimento nesses casos, os padres sinodais alegavam pretensas virtudes da “mãe terra”, que estariam sendo representadas por esse ídolo. Mas a água oferecida generosamente por Maria Santíssima em Lourdes está sendo liminarmente recusada!... 

A orientação católica no exemplo de dois santos 

A Diocese de Milão, cuja história foi marcada
pelo zelo pastoral de São Carlos Borromeu (1538-1584),
é especialmente afetada por tais medidas. Contudo,
quando a peste negra açoitou a Europa em sua época,
o santo visitava incansavelmente os moribundos,
levando-lhes os Sacramentos e consolo espiritual. 
[São Carlos Borromeu atende as vítimas da peste
em Milão – Pierre Mignard, séc. XVII.
Museu de Belas Artes de Caen, França]
Como uma peste das almas, a impiedade vem se alastrando vertiginosamente em todo o mundo. No Brasil, a voragem carnavalesca recente, não se contentando com o nudismo e desordens sexuais de inspiração pagã, perpetrou sacrilégios contra a Religião, Nossa Senhora, os Santos e o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Tais investidas dos ímpios vêm de longe, em acelerado crescimento. E não se pode esquecer que, na história dos povos, onde se propaga a impiedade contra o sagrado propaga-se também a impiedade contra as pessoas. A violência contra Deus arrasta consigo, mais cedo ou mais tarde, a violência contra os humanos. O que fizeram os Santos contra isso?

O Castelo Sant’Angelo às margens lendárias do rio Tibre, próximo ao Vaticano, é um dos mais belos monumentos de Roma. No alto do castelo vê-se a imagem em bronze de São Miguel Arcanjo, coberto de armadura guerreira, no ato de embainhar sua espada. Assim ele apareceu ao Papa São Gregório Magno (540-604), ao final de funesta peste epidêmica que vinha ceifando vidas entre os romanos. Eles rezavam. As igrejas se enchiam. Ritos penitenciais se multiplicavam. O Papa São Gregório Magno, saindo em procissão pelas ruas da Cidade Eterna, implorou a misericórdia divina. Durante a procissão, viu São Miguel Arcanjo no alto do castelo, cercado de luz esplendorosa, embainhando sua espada. E o Pontífice entendeu que a epidemia na Cidade Santa grassava em razão de seus pecados, por permissão de Deus. A violação dos Mandamentos era a causa da epidemia.

Era precisamente o que São Gregório supunha, ao convocar a procissão, e também o que o povo intuía, examinando-se em sua própria impiedade. A partir daquela visão do Arcanjo cessou a peste mortífera, e a vida voltou à serenidade. Naqueles tempos abençoados Deus estava entre seus filhos, mas não para ser impunemente vilipendiado, como ocorre atualmente aqui e no mundo inteiro. Como Pai que perdoa, Deus corrige bondosamente e com justiça, pois mais vale a correção terrena do que a pena eterna. 

O leitor pode ver claramente o contraste em relação aos tempos atuais, constatando que ainda não se viu, como iniciativa do clero, nenhuma atitude que de longe se assemelhe à de São Gregório Magno. Pelo contrário, com o pretexto do coronavírus, inclusive por determinação de inúmeras autoridades eclesiásticas, igrejas são fechadas, atos religiosos suspensos, a Confissão e a Comunhão proibidas em algumas dioceses. Milhões de fiéis estão assim longe da assistência espiritual, necessária principalmente em caso de morte. Com essas determinações, tais autoridades agem de modo não condizente com seu caráter religioso. 

A Diocese de Milão, cuja história foi marcada pelo zelo pastoral de São Carlos Borromeu (1538-1584), é especialmente afetada por tais medidas. Contudo, quando a peste negra açoitou a Europa em sua época, o santo visitava incansavelmente os moribundos, levando-lhes os Sacramentos e consolo espiritual. Centenas de seus sacerdotes morreram contaminados, mas São Carlos Borromeu não se detinha em seu cuidado de pastor, confessava os moribundos em meio a mortos pestilentos. De onde vinha a ele e aos seus tal coragem? Da fé, que ilumina o pastor com luz sobrenatural, levando-o a ver claramente aquilo que é invisível aos olhos humanos. Com essa visão sobrenatural, não se curvam diante de circunstâncias humanas nem dos perigos deste mundo, quando umas e outros ameaçam seu magistério divino. Disso deram provas São Gregório Magno e São Carlos Borromeu, entre muitos outros santos.