Depois do Presépio, a Árvore de Natal é o símbolo mais expressivo da época natalina — sobretudo em tempos passados, nos quais o aspecto comercial do Natal não era tão protuberante e agressivo.
No século XIX, a Árvore de Natal — também conhecida em alguns países europeus como a “Árvore de Cristo” (leia abaixo uma comovente narrativa a respeito) — espalhou-se pelo mundo inteiro como símbolo da alegria própria ao Natal para se festejar o nascimento do Divino Infante. Mas muitos séculos antes, consta que no período medieval, corria uma história muito bonita narrando que, na noite bendita do nascimento do Menino Jesus, muitas árvores floriam em pleno inverno em paisagens cobertas pela neve...
Uma antiga lenda está na origem do pinheirinho de Natal:
“Conta-se que, quando os pastores foram adorar o Divino Infante, decidiram levar-Lhe frutos e flores produzidos pelas árvores de modo prodigioso. Depois dessa colheita, houve uma conversa entre as plantas, num bosque. Regozijavam-se elas de ter podido oferecer algo a seu Criador recém-nascido: uma, suas tâmaras; outra, cerejeira e a laranjeira, que haviam ofertado tanto flores quanto frutos. Do pinheiro, porém, ninguém colheu nada. Pontudas folhas, ásperas pinhas, não eram dons apresentáveis...
O pinheiro reconheceu sua nulidade. E não se sentindo à altura da conversa, rezou em silêncio: “Meu Deus recém-nascido, o que Vos oferecerei? Minha pobre e nula existência. Esta, alegremente Vo-la dedico, com grande agradecimento por me terdes criado na vossa sabedoria e bondade”.
Deus se comprouve com a humildade do pinheiro. E, em recompensa, fez descer do céu e se afixarem nele uma multidão de estrelinhas. Eram de todos os matizes que existem no firmamento: douradas, prateadas, vermelhas, azuis...
E lá foi o pinheiro ornar a gruta de Belém, sendo colocado bem junto do Menino Jesus, de Nossa Senhora e de São José”.
A todos um Santo e Feliz Natal e um Novo Ano repleto de graças e dons muito especiais!
“Era um anseio que decidira pôr em prática naquela noite, antes que minha mãe chegasse à cozinha para preparar a refeição matutina. Eu ouvira falar muito a respeito da celebração do Natal nas cidades: devia-se colocar sobre a mesa um pinheirinho, verdadeira arvorezinha do bosque; afixar velazinhas em seus ramos e acendê-las; e depositar embaixo dele presentes para as crianças, esclarecendo que havia sido o Menino Jesus que os tinha trazido.
Depois de já ter clareado o dia, saí em meio ao nevoeiro gelado. Este protegeu-me do olhar das pessoas que trabalhavam em torno da casa, no momento em que voltei do bosque com um pequeno cimo de pinheiro e corri para o galpão das carroças.
Logo se fez noite. A criadagem estava ainda ocupada nos estábulos ou nos quartos da casa, onde, segundo o costume da Noite Santa, lavavam a cabeça e se vestiam com os trajes de festa. Na cozinha, minha mãe fazia os sonhos doces para o dia de Natal. E meu pai, com o pequeno Nickerl, percorria a propriedade para abençoá-la, levando para isso num recipiente carvões incandescentes; sobre eles espalhava incenso, percorrendo todas as dependências da herdade, a fim de incensá-las, enquanto rezava em silêncio. Era preciso expulsar os maus espíritos e atrair as bênçãos angélicas para a casa.
Enquanto o pessoal se ocupava em suas tarefas lá fora, eu preparava na sala grande a Árvore de Cristo. Tirei a arvorezinha do meio da lenha e coloquei-a sobre a mesa. Depois cortei de um maço de cera dez ou doze velazinhas e coloquei-as sobre os pequenos galhos. Embaixo, aos pés da arvorezinha, depositei um pão doce.
Ouvi então passos lentos e suaves na parte de cima da casa. Eram meu pai e meu irmãozinho que já estavam lá e abençoavam o sótão. Logo chegariam ao salão. Acendi as velazinhas e me escondi atrás do forno. A porta se abriu e eles entraram com seu recipiente de incenso. E ficaram parados.
— O que é isto? Perguntou meu pai com voz baixa mas prolongada.
O pequeno Nickerl fitava emudecido. Nos seus olhos grandes, redondos, espelhavam-se corno estrelinhas as luzes da Árvore de Cristo.
— Mulher, mulher! Venha ver um pouco.
E quando ela apareceu:
— Mulher, foste tu que fizeste
— Maria e José! exclamou minha mãe. O que deixastes sobre a mesa?
Logo chegaram também os criados e criadas, vivamente impressionados com a inédita
visão. Então um rapaz que viera do vale fez a suposição:
— Poderia ser uma Árvore de Cristo!
Seria realmente verdade que os anjos trazem do Céu tal arvorezinha? Eles a contemplavam e se admiravam. E a fumaça do incenso enchia a sala inteira, de modo que era corno um delicado véu que pousava sobre a arvorezinha iluminada.
Minha mãe procurou-me na sala com o olhar:
— Onde está o Pedro?
Julguei então ser o momento de sair do canto do forno. Tomei pelas frias mãozinhas o pequeno Nickerl, que continuava emudecido e imóvel, e levei-o para junto da mesa. Ele quase resistiu. Mas eu lhe disse, em tom profundamente solene:
— Não temas, irmãozinho! Olha: o querido Menino Jesus te trouxe uma árvore de Cristo.
Ela é tua!
O menino estava contentíssimo. E juntou as mãos como fazia na igreja para rezar”.