O senhor faz uma crítica ao artigo “Chegou o tempo?”, de autoria do Pe. David Francisquini, pelo fato desse sacerdote afirmar que não se pode admitir a tese do Cardeal Kasper — ou seja, a “admissão na comunhão eucarística de divorciados que tenham contraído novas uniões” —, pois é contrária a ensinamento do Magistério da Igreja.
Em tal crítica o senhor diz que “não podemos nos soerguer como arautos da verdade que empunha o estandarte da mesma como se só pudesse ser sustentado por nossas mãos!”.
O Pe. Francisquini, com toda certeza, admite isso e não afirma algo semelhante no artigo em foco. Ele mostra a verdade ensinada pela doutrina católica, e não a verdade “sustentada por nossas mãos”. Nós não somos donos da verdade, a verdade é que é nossa dona. A doutrina católica ensinada pelo Magistério infalível da Igreja é segura, e não a doutrina ensinada particularmente por qualquer um de seus membros — no caso, o Cardeal Kasper.
O senhor ainda escreve que o Cardeal Kasper “é um teólogo respeitado, creio que não foi bem entendido”.
Ora, meu prezado anônimo, Lutero também, em seu tempo, era considerado um grande teólogo e respeitado por muitos... O fato de ser teólogo não garante ninguém de não cair em heresia. Para ficarmos apenas no exemplo de Lutero, este apóstata, além de se tornar um heresiarca que teve a ousadia de se levantar contra a doutrina ensinada pela Igreja Católica, pregou uma rebelião contra ela; blasfemou e lançou suas injúrias contra Nosso Senhor Jesus Cristo, contra Maria Santíssima e contra Roma.
Certamente o senhor sabe disso, mas se não tem conhecimento do que pregava Lutero, sugiro ler alguns livros a respeito, por exemplo “A Igreja, a Reforma e a Civilização" (de autoria do Padre Leonel Franca), ou ainda o livro “Lutero”, obra de Funck-Brentano (célebre historiador francês, membro do “Institut de France”) — autor insuspeito, pois era ele protestante.
De modo que, prezado anônimo, entre o que o senhor diz e o ensinamento magisterial da Igreja, fico com a Santa Igreja.
Encerrando esta resposta, repito aqui o trecho final do artigo do Pe. Francisquini, pois gostei muito:
“Ninguém pode ensinar algo diferente do que foi sempre ensinado, afirma a tradição. São Paulo adverte: ‘Ainda que alguém — nós ou um anjo baixado do céu — vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.’”
O que dizer de um eclesiástico que ensina e propõe o contrário daquilo que o Magistério sempre ensinou? Santo Afonso de Ligório afirma, com base nas Sacras Letras, que é de fé que os impudicos, os impuros e os fornicadores não possuirão o Reino dos Céus. A iniciativa do cardeal Kasper de tentar liberar a Comunhão Eucarística aos recasados acabará por envolver a instituição familiar numa crise sem precedentes, pois diz respeito aos fundamentos de nossa religião. Essa crise será também a ruína de muitos que deveriam pregar a boa doutrina. A vida matrimonial e familiar é sustentada pelos princípios, convicções e certezas oriundos da Fé, e tudo o que se constrói sobre o sentimentalismo não passa de edificação fantasiosa.
Cumpre encontrar soluções para que os recasados se afastem do mau caminho, e não subterfúgios para abalar ainda mais os já tênues laços familiares, como propõe o cardeal Kasper. São Paulo recomenda: “Prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão o ouvido das verdades para abrirem às fábulas.”
Terá chegado esse tempo? — Para o referido cardeal, expoente do progressismo, parece que sim...