31 de março de 2013

O Conselho Federal de Medicina ... Quem diria!



 §  Percival Puggina (*)


Não é que o CFM decidiu recomendar ao Senado Federal a ampliação dos casos em que o abortamento não é punido? Tais excepcionalidades, propôs o Conselho, passariam a abranger, também, os realizados em gestações que não tenham alcançado o 12º semana. 

Quer dizer, doutores, que até o 12º semana o feto é coisa descartável, que se extrai como uma verruga? Sabiam que o anteprojeto para o novo Código Penal, que os senhores querem estragar ainda mais, pretende pôr na cadeia por até quatro anos quem modificar um ninho de ave? Sabiam que existem leis no Brasil que impõem sanções a quem meter a mão no ambiente natural onde determinadas espécies se reproduzem ou cuidam de seus filhotes? Um canto de mato, uma beira de lagoa, um trecho de praia, funcionam como úteros da natureza e ganham proteção legal. 

Em contrapartida, na ótica dos médicos do CFM, o nascituro, o humano nascituro porque outra natureza jamais lhe advirá, este pode ser, no útero materno, objeto de suas tesouras e aspiradores. Foram necessários, segundo li, dois anos de doutas confabulações para que os membros do CFM chegassem a tamanho despropósito. 

Certa feita, num programa de tevê, debatia-se sobre legalização do aborto. Participava do debate um conhecido médico de Porto Alegre que defendia a tese ora aprovada pelo Conselho de sua categoria. Num dado momento, pedi ao mediador que exibisse as fotos da menina Amillia Taylor, nascida com 284 gramas de peso num aborto espontâneo. Perguntei então ao médico se ele seria capaz de arrancar aquele ser aos pedaços do útero da mãe. O médico olhou-me com constrangimento e, diante das câmaras, viu-se obrigado a ser sincero -- "Eu não!".

O que mais me estarreceu, nesta manifestação do CFM, foi que, pelas palavras do seu presidente, o órgão "defende a plena autonomia da mulher de levar uma gestação adiante". Credo! Essa sequer é uma lógica médica, mas jusfilosófica, e de péssima vertente. Lógica de lobo. Quero porque quero. Atribuíram à mulher uma concepção abusiva do direito de propriedade -- "faço o que bem me apraz com o que me pertence, doa em quem doer". Raros liberais afirmariam isso com igual convicção porque contradiz elementares noções de justiça. No caso do abortamento voluntário, o que antes era precária filosofia, vira puro sofisma: se o corpo da mulher a ela pertence, o do feto pertence ao feto porque ele é um inteiramente outro. E na maior parte dos casos até nome próprio já tem.

"O sistema nervoso central ainda não se formou, na 12ª semana de gravidez", prosseguiu o doutor presidente procurando justificar o injustificável. É verdade, doutor, o sistema nervoso central não se formou, mas outros órgãos já funcionam, o coração já bate há muito tempo e está na natureza do feto que todos os demais venham a aparecer. Uma semana depois, na 13ª, já se pode saber se ele é do sexo masculino ou feminino.

Remover do CD player, aos primeiros acordes da 9ª Sinfonia de Beethoven, o CD que em que foi gravada, não autoriza afirmar que a fascinante composição não esteja ali, inteira e bela, até os últimos acordes.
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(*) Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

27 de março de 2013

A Paixão de Cristo revive na Paixão da Igreja



§   Plinio Corrêa de Oliveira (*)

A evidência dos fatos deixa patente que a partir do Concílio Vaticano II [foto abaixo] penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a “fumaça de Satanás” de que falou Paulo VI, a qual se foi dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão dos gases. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo entrou no sinistro processo da como que autodemolição, a que aludiu aquele mesmo Pontífice, em Alocução de 7 de dezembro de 1968.


A História narra os inúmeros dramas que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana sofreu nos vinte séculos de sua existência. Oposições que germinaram fora d’Ela, e de fora mesmo tentaram destruí-la. Tumores formados dentro d’Ela, extirpados, contudo, pela própria Esposa de Cristo, mas que, já então de fora para dentro, tentaram destruí-la com ferocidade. 

Quando, porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da Igreja, já não mais articulada por um adversário, mas qualificada de como que autodemolição em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial? 


A atitude normal de um católico vendo a Igreja, sua Mãe, passar por essa crise deve ser antes de tudo de profunda tristeza, porque é lamentável que isso seja assim. É um perigo para incontáveis almas que a Igreja seja afligida por tal crise. E, por essa razão, pode-se ter a certeza de que quando Nosso Senhor, do alto da cruz, viu todos os pecados que haveriam de ser cometidos contra a obra da Redenção que Ele consumava de modo tão profundamente doloroso, sofreu enormemente em vista de tal gênero de pecados, cometidos em nossos dias. 

E, evidentemente, todos esses pecados produziram sofrimentos verdadeiramente inenarráveis no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, que pulsava de dor no peito da Santíssima Virgem enquanto Ela estava de pé junto à Cruz.

Considerando quanto Nosso Senhor e sua Santíssima Mãe sofreram por causa do que agora está se passando, é impossível não se ficar consternado, muito mais do que em qualquer Sexta-Feira Santa anterior, porque talvez este seja um dos pontos mais agudos da Paixão, e que se mostra em toda a sua hediondez nas atuais circunstâncias da vida da Igreja. 

O homem contemporâneo é um adorador do prazer, do gáudio, da diversão, e tem horror ao sofrimento.


Ora, está-se aqui em presença de um padecimento agudíssimo. Pode-se compreender, pois, embora tal atitude não seja justificável, a posição de tantas almas que evitam pensar nisso e considerar a fundo o que está se passando para não sofrer em união com Nosso Senhor esta situação trágica, como trágica foi a Paixão.

Em face do drama em que se encontra a Santa Igreja, muitas almas procuram, então, assumir uma posição de indiferença, parecida com a de numerosos contemporâneos de Nosso Senhor, que acreditavam que Ele era Homem-Deus. Mas que, vendo-O passar durante a Via Sacra, em vez de se compadecer por seus lancinantes sofrimentos, achavam melhor não considerá-los, e pensar em outras coisas. 

E eis a prova: Nosso Senhor pregou maravilhas e fez milagres portentosos que devem ter impressionado pelo menos uma parte considerável do povo que O cercava. Não seria concebível que essa parte, santamente impressionada, tenha se mantido numa atitude tão quieta, inerte, diante do que se passava. E que a única pessoa que fez algo em prol do Redentor, durante a parte inicial da Via Sacra, tenha sido a Verônica com o seu véu, no qual ficou estampada, depois, a face sagrada do Salvador. Verdadeiramente, mais ninguém a não ser ela tomou tal atitude.


As santas mulheres e Nossa Senhora juntaram-se mais adiante a Nosso Senhor e foram até o alto do Calvário. A Virgem Santíssima está acima de todo elogio. As santas mulheres, que A acompanharam, merecem um elogio que participa do louvor a que Nossa Senhora fez jus. Mas, fora disso, inércia.

Por ocasião da Semana Santa, o que mais se deve pedir a Nossa Senhora, é que Ela nos liberte desse estado de espírito, de tal mentalidade. 

Se nosso Redentor está sofrendo, devo querer padecer aquilo que O atormenta. E sofrerei isso meditando nas dores d’Ele. Esse é o meu dever, dada a união que Ele condescendeu misericordiosamente em estabelecer entre Si mesmo e mim. E o que não for isso não pode deixar de ser qualificado senão de abominável. 


Os dias em que vivemos são de gravidade, de tristeza, mas na última fímbria do horizonte aparece uma alegria incomparavelmente maior do que qualquer gáudio terreno: a promessa de um sol que nascerá — o Reino de Maria, anunciado no ano de 1917 por Nossa Senhora em Fátima.


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(*) Excertos de artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, distribuído à imprensa em 25-2-1994.

25 de março de 2013

ABORTO: A INCOMPETÊNCIA DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

O nascituro, na foto acima, com sua mãozinha agarra o dedo do médico durante a realização de uma cesariana
§  Cícero Harada (*)


“O CFM apoia o aborto até a 12ª semana de gestação.” “Médicos apoiam aborto até o 3º mês.” Eis as manchetes dos principais meios de comunicação.

Tem-se discutido o mérito da questão, isto é, se a favor ou contra o aborto. Claro que este é a pena de morte que se inflige ao inocente indefeso. Nesse sentido não há aborto seguro e inseguro. Todos irremediavelmente matam o nascituro.

Não é disso que vou tratar agora, mas da indagação prévia do desvio de finalidade do CFM perpetrado por seus dirigentes.

A incompetência dessa autarquia de fiscalização profissional, no tocante à matéria, é gritante.

Com efeito, a Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, que dispõe sobre os Conselhos de Medicina e dá outras providências, em seu artigo 5º, estabelece as atribuições do CFM, a saber:
“a) organizar o seu regimento interno; b) aprovar os regimentos internos organizados pelos Conselhos Regionais; c) eleger o presidente e o secretária geral do Conselho; d) votar e alterar o Código de Deontologia Médica, ouvidos os Conselhos Regionais; e) promover quaisquer diligências ou verificações, relativas ao funcionamento dos Conselhos de Medicina, nos Estados ou Territórios e Distrito Federal, e adotar, quando necessárias, providências convenientes a bem da sua eficiência e regularidade, inclusive a designação de diretoria provisória; f) propor ao Governo Federal a emenda ou alteração do Regulamento desta lei; g) expedir as instruções necessárias ao bom funcionamento dos Conselhos Regionais; h) tomar conhecimento de quaisquer dúvidas suscitadas pelos Conselhos Regionais e dirimi-las; i) em grau de recurso por provocação dos Conselhos Regionais, ou de qualquer interessado, deliberar sobre admissão de membros aos Conselhos Regionais e sobre penalidades impostas aos mesmos pelos referidos Conselhos.” 
Como se vê, não há previsão que autorize o CFM a apoiar ou não projetos de lei, muito menos dessa natureza.

Trata-se de autarquia federal que não pode ultrapassar os limites da autorização legal de competências. Se ela atuasse no âmbito do direito privado, poderia fazer tudo que não lhe fosse vedado por lei, mas regendo-se pelo direito administrativo, há de observar estritamente o que a lei determina. Portanto, a ilegalidade de seu ato é um evidente escândalo que depõe contra a maioria dos dirigentes que fizeram aprovar o apoio ao projeto abortista.

Os dirigentes da instituição que assim pensam até podem, como cidadãos, em nome próprio, manifestar nesse sentido, mas o CFM não detém poderes para encaminhar moção, ofício ou mesmo designar comissão a quaisquer dos Poderes, apoiando ou rejeitando o aborto.

O diploma legal citado autoriza no artigo 5º, letra “f “, apenas e tão só que o CFM proponha emenda ou alteração do Regulamento da referida lei nº 3.268/57, ou seja, em assunto que diga estritamente respeito ao rol taxativo de suas competências.

A proposta do aborto, pois, sequer poderia ter sido posta em discussão, ser aprovada ou rejeitada, menos ainda a sua defesa encaminhada ao Senado, em nome do CFM. São atos de desvio de finalidade e como tais nulos de pleno direito e de nenhum efeito. Cuida-se de grave instrumentalização política de entidade que sempre gozou da mais ampla respeitabilidade social, mas que agora, ao arrepio da lei, embarca na canoa da morte.

Há interesses corporativos de médicos, como já se vem propalando, visando a ampliar o mercado de trabalho, em atividade que arrecada milhões e milhões de dólares em outros países à custa da morte dos não nascidos? Não sei, mas certo é que, qualquer que seja o interesse classista, ao tomar posição, o CFM assume o papel de sindicato, desviando de suas atribuições legais, o que lhe é vedado.
Saliento que, de acordo com o art. 11 da lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, “constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:  I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência.” 
É de se esperar que o CFM, por seus conselheiros, adote “interna corporis” ações corretivas rigorosas, imediatas e eficazes, evitando que essa nódoa macule triste e definitivamente a história da entidade e impedindo, ao mesmo tempo, que medidas externas venham a ser tomadas, visando a fazer cumprir a lei? É improvável, mas só o futuro dirá.
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(*) Advogado, foi Procurador do Estado de São Paulo e Conselheiro da OAB-SP .

21 de março de 2013

O BOFE DA IGREJA

Segundo Leonardo Boff, a Igreja deveria ser destituída de todo poder. Seria uma "igreja ecológica" (sic) e que vivesse "fora dos palácios e dos símbolos do poder" 

Paulo Roberto Campos


No último post tratamos de quanto é contrária à da Igreja Católica a visão de Frei Beto (A concepção de Frei Beto sobre a Igreja é diametralmente oposta à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo). No mesmo sentido, recebi ontem um artigo de outro “teólogo” da libertação. Trata-se de Leonardo Bof, cujo sobrenome — como fiz em relação ao pseudônimo de Frei Beto  grafo com um só “f”, pois ambos são miserabilistas e contrários ao supérfluo, devendo, portanto, ser “simples” em tudo... 


Leonardo Boff e sua atual companheira
Aliás, Bof também deveria, em razão da “pobreza” e da “simplicidade” que defende, desapegar-se do prenome “Leonardo”, pois este é seu nome religioso, ao qual só tinha direito enquanto foi franciscano. Desde que abandonou sua Ordem religiosa, em 1992, e juntou-se à madame aí do lado, voltou de fato a ser o Genézio Boff constante de seu registro civil. 

Mas, voltando ao mencionado artigo, trata-se de uma matéria do Sr. Genézio Bof para o “Jornal do Brasil (on-line), do dia 17 último, intitulada “O papa Francisco chamado a restaurar a Igreja”. Nela não transparece a humildade franciscana — a cujo chamado ele voltou as costas —, mas sim a pretensão de querer dar lições de “Teologia da Libertação” ao próprio Papa. Imaginem só! Vejamos um trecho do artigo:
“Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica (sic) que chama a todos os seres com a doce palavra de ‘irmãos e irmãs’. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ‘O não de São Francisco àquele tipo imperial de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético’ (em “Zeit Jesu”, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo. Creio que o papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder”.
Ao ler tal sofisma, uma “bofada”, recordei-me de Joãozinho Trinta. Lembram-se? Com muito conhecimento de causa, o carnavalesco afirmara em 1978: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria e intelectual”. É por isso que se vê no carnaval o povo vestido de príncipes, princesas, reis e rainhas, com seus coloridos mantos e coroas douradas. 


Por isso também é que se costuma dizer que “a Igreja é o palácio dos pobres”. O povo gosta de pompa e circunstância, de esplendor, de coisas maravilhosas que lembrem o Céu, de belas e ricas cerimônias religiosas como as de antigamente, que faziam superlotar praças e igrejas — hoje esvaziadas por causa das pregações da doutrina miserabilista da “Teologia da Libertação”.

E por que o povo gosta de tudo isso? Simplesmente porque, conforme disse Tertuliano, “a alma humana é naturalmente cristã”, feita à imagem e semelhança de Deus, que é Soberano Todo-Poderoso, Senhor do Céu e da Terra, dos Anjos e dos Homens. 

A fim de nos mostrar a verdadeira doutrina católica, segundo a qual não existe contradição entre as grandezas esplendorosas da Igreja e o autêntico espírito de pobreza — refutando assim o sofisma do Sr. Genézio Bof —, recorro novamente ao líder católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira, de quem reproduzo uma matéria publicada na revista Catolicismo em dezembro/1958. Mais de meio século depois, a mesma se mostra hoje mais atual do que nunca.


Pobreza e fausto: extremos harmônicos no firmamento da Igreja 


Plinio Corrêa de Oliveira (*) 


Um aspecto da Santa Igreja 

Numa cela cheia de penumbra, ante um crucifixo que relembra a morte mais dolorosa que jamais houve, um monge cartuxo [foto] folheia um devocionário. Revestido de um simples e pobre burel, com uma longa barba, esse Religioso parece a personificação de todos os elementos que impregnam o ambiente que o rodeia: gravidade extrema, resolução varonil de só viver para o que é profundo, verdadeiro, eterno, nobre simplicidade, espírito de renúncia a tudo quanto é da Terra, pobreza material enfim, iluminada pelos reflexos sobrenaturais da mais alta riqueza espiritual. 


Outro aspecto da Santa Igreja 

Na imensa nave central da Basílica de São Pedro, movimenta-se majestoso o cortejo papal. Na fotografia, percebe-se apenas uma parte dele, isto é, alguns Cardeais e os dignitários eclesiásticos e leigos que precedem imediatamente a sedia gestatória. Nesta, o Sumo Pontífice, ladeado dos famosos flabelli e seguido da Guarda Nobre. Ao fundo, ergue-se o Altar da Confissão, com suas elegantíssimas colunas e seu esplêndido dossel. E bem mais atrás a célebre Glória de Bernini. As altas paredes recobertas de mármores admiráveis e adornadas de relevos, os arcos a um tempo leves e imensos, as luzes que resplandecem como se fossem estrelas ou fulgidíssimos brilhantes, tudo enfim se reveste de uma grandeza, de uma riqueza que é bem o supra-sumo do que a Terra pode apresentar de mais belo. É a maior pompa de que o homem seja capaz, realçada pela magnificência da arte e pelo esplendor dos recursos naturais da pedra. 
*     *     *
O que em um quadro é gravidade recolhida, no outro é glória irradiante. O que em um é pobreza, no outro é fausto. O que em um é simplicidade, no outro é requinte. O que em um é renúncia às criaturas, no outro é a superabundância das mais esplêndidas dentre elas. Contradição? É o que muitos diriam: pode-se, então, amar a um tempo a riqueza e a pobreza, a simplicidade e a pompa, a ostentação e o recolhimento? Pode-se a um tempo louvar o abandono de todas as coisas da Terra, e a reunião de todas elas para a constituição de um quadro em que reluzem os mais altos valores terrenos?


O problema é muito atual, no momento em que Sua Santidade o Papa João XXIII se mostra tão edificantemente zeloso das esplêndidas tradições vaticanas, com manifesto desconcerto de elementos que têm uma mentalidade à Aneurin Bevan (o líder trabalhista que foi paladino na luta contra todas as pompas, e assistiu de costas a uma parte da cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II).


Não, entre uma e outra ordem de valores não 
existe contradição, senão na mente dos igualitários, servos da Revolução. Pelo contrário, a Igreja se mostra santa, precisamente porque com igual perfeição, com a mesma sobrenatural genialidade, sabe organizar e estimular a prática das virtudes que esplendem na vida obscura do Monge, e das que refulgem no cerimonial sublime do Papado. Mais ainda. Uma coisa se equilibra com a outra. Quase poderíamos dizer que um extremo (no sentido bom da palavra) compensa a outro e com ele se concilia.


O fundo doutrinário no qual estes dois santos extremos se encontram e se harmonizam é muito claro. Deus Nosso Senhor deu-nos as criaturas, a fim de que estas nos sirvam para chegarmos até Ele. Assim, cumpre que a cultura e a arte, inspiradas pela Fé, ponham em evidência todas as belezas da criação irracional e os esplendores de talento e virtude da alma humana. É o que se chama cultura e civilização cristã. Com isto, os homens se formam na verdade e na beleza, no amor da sublimidade, da hierarquia e da ordem que no universo espelham a perfeição d’Aquele que o fez. E assim as criaturas servem, de fato, para a nossa salvação e a glória divina. Mas, de outro lado, elas são contingentes, passageiras; só Deus é absoluto e eterno. Cumpre lembrá-lo. E por isto é bom afastar-se dos seres criados, para no desprezo de todos eles pensar só no Senhor. 


Do segundo modo, considerando tudo o que as criaturas são, se sobe até Deus; e do outro modo, se vai até Ele considerando o que elas não são. A Igreja convida seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente, pelo espetáculo sublime de suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar efetivamente. 

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(*) Catolicismo, Nº 96 – Dezembro/1958.

13 de março de 2013

A concepção de Frei Beto sobre a Igreja é diametralmente oposta à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo

Acima à esquerda, uma igreja bem ao estilo "Teologia da Libertação", igualitária e tribalista, contrasta com o esplendor da Basílica de São Pedro em Roma

Paulo Roberto Campos

Começo prestando uma homenagem a Frei Beto. Por ser partidário da teoria do gênero, talvez ele não goste da palavra homenagem, derivada de homem. Seja como for, homenageio-o grafando seu pseudônimo com apenas um “t”, atendendo assim aos ditames de sua mentalidade miserabilista, contrária ao supérfluo... 

Em seu recente artigo “Os desafios para o novo Papa” (“O Globo”, 6-3-13), logo de início o controvertido “teólogo” da libertação faz uma declaração muito apropriada para quem desejasse a destruição da Santa Igreja como Nosso Senhor Jesus Cristo A estabeleceu, ou seja, uma instituição sacral e hierárquica. 

Escreve o irrequieto frade dominicano, tão simpático ao regime ditatorial cubano que há mais de 50 anos subjuga e escraviza — não por um “governo colegiado”, mas através de um “chefe de Estado supremo e absoluto”, Fidel ou Raúl Castro — todo um povo: 
“Quais os grandes desafios a serem enfrentados pelo novo Papa? Primeiro, implementar as decisões do Concílio Vaticano II, ocorrido há 50 anos! Isso significa mexer na estrutura piramidal da Igreja, flexibilizar o absolutismo papal, instaurar um governo colegiado. Seria saudável que o Vaticano deixasse de ser um Estado e, o Papa, chefe de Estado, e fossem suprimidas as nunciaturas, suas representações diplomáticas. A Santa Sé precisa confiar nas conferências episcopais, como a CNBB, que representam os bispos de cada país.” 
Como se nota, o progressista Frei Beto desejaria “democratizar” a Igreja — cuja última consequência seria a abolição do Papado — substituindo a autoridade monárquica do Sucessor de São Pedro por um “colegiado” — uma espécie de grupo religioso pentecostalista atuando à maneira de deputados, com direitos igualitários, dentro da Igreja. 

Em seu célebre livro Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira refuta a crítica destrutiva do frade dominicano, explicitando o objetivo demolidor da corrente de eclesiásticos da esquerda dita católica. Eis o que no mencionado livro (Parte III, Cap. III) o autor escreve quando trata do que denomina IV Revolução, um movimento destinado a empurrar a sociedade civilizada para uma vida tribal: 

Tribalismo eclesiástico — Pentecostalismo 
“Falemos da esfera espiritual. Bem entendido também a IV Revolução quer reduzir ao tribalismo. E o modo de o fazer já se pode bem notar nas correntes de teólogos e canonistas que visam transformar a nobre e óssea rigidez da estrutura eclesiástica, como Nosso Senhor Jesus Cristo a instituiu e 20 séculos de vida religiosa a modelaram magnificamente, num tecido cartilaginoso, mole e amorfo, de dioceses e paróquias sem circunscrições territoriais definidas, de grupos religiosos em que a firme autoridade canônica vai sendo substituída gradualmente pelo ascendente dos “profetas” mais ou menos pentecostalistas, congêneres, eles mesmos, dos pajés do estruturalo-tribalismo, com cujas figuras acabarão por se confundir. Como também com a tribo-célula estruturalista se confundirá, necessariamente, a paróquia ou a diocese progressista-pentecostalista. 

'Desmonarquização' das autoridades eclesiásticas 
“Nesta perspectiva, que tem algo de histórico e de conjetural, certas modificações de si alheias a esse processo poderiam ser vistas como passos de transição entre o status quo pré-conciliar e o extremo oposto aqui indicado. Por exemplo, a tendência ao colegiado como modo de ser obrigatório de todo poder dentro da Igreja e como expressão de certa ‘desmonarquização’ da autoridade eclesiástica, a qual ipso facto ficaria, em cada grau, muito mais condicionada do que antes ao escalão imediatamente inferior. 

“Tudo isto, levado às suas extremas consequências, poderia tender à instauração estável e universal, dentro da Igreja, do sufrágio popular que em outros tempos foi por Ela adotado, às vezes para preencher certos cargos hierárquicos; e, num último lance, poderia chegar, no quadro sonhado pelos tribalistas, a uma indefensável dependência de toda a Hierarquia em relação ao laicato, suposto porta-voz necessário da vontade de Deus. 'Da vontade de Deus', sim, que esse mesmo laicato tribalista conheceria através das revelações 'místicas' de algum bruxo, guru pentecostalista ou feiticeiro; de modo que, obedecendo ao laicato, a Hierarquia supostamente cumpriria sua missão de obedecer à vontade do próprio Deus”.
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Como vemos, Frei Beto procura em seu artigo indicar ao novo Papa o (des)caminho a seguir: dessacralizar a Igreja e transformá-la numa entidade igualitária e tribalista ao “estilo” do miserabilismo cubano. Enfim, uma igreja bem de acordo com a “Teologia da Libertação” do ex-frei Bof (deixo aqui, também a ele, minha homenagem...) e em nada conforme ao estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo para a Santa Igreja, Católica, Apostólica, Romana.

8 de março de 2013

CONCLAVE — dois temas cruciais: “Autodemolição” e “Fumaça de Satanás”



Paulo Roberto Campos


Pesquisando algumas informações a fim de responder à questão colocada por Conceição Pires  na página própria para comentários referentes à matéria “Tendo em vista o ‘Processo de Autodemolição’ e a ‘Fumaça de Satanás’, os católicos desejam uma coisa: CLAREZA” —, encontrei alguns documentos. Lendo-os, julguei que seria interessante fazer um post com a pergunta e minha resposta, pois seria de algum proveito não apenas para a comentarista, mas também para os demais leitores de nosso blog. Aqui segue: 
“Falar de “autodemolição” e de “fumaça de satanás” na época do papa Paulo VI vá lá. Isto em 1978 até que concordo, mas não concordo em falar disso agora. Esses problemas não foram resolvidos com os papados seguintes? Em qualquer caso, classifico-me como uma pessoa que acha importante rezar para que nenhuma fumaça de satanás consiga diminuir a importância da Igreja Católica”. Conceição Pires 
Seria uma enorme satisfação poder comunicar que a “autodemolição” e a “fumaça de satanás no templo de Deus” — expressões do Papa Paulo VI analisadas por Plinio Corrêa de Oliveira em seu memorável artigo CLAREZA (“Folha de S. Paulo”, 16-8-78) — não constituem mais problemas em nossos dias. 


Igrejas modernizadas,
cerimônias religiosas dessacralizadas
Pelo contrário, de lá para cá os problemas não fizeram infelizmente senão crescer. Basta atentar para o esvaziamento dos templos católicos em decorrência das funestas inovações conciliares, que facilitaram a expansão dos evangélicos. Com o falacioso pretexto de atrair o povo, afastaram-no mediante a modernização das Igrejas e das cerimônias religiosas, como se os fieis não estivessem sedentos das tradições que os padres progressistas aboliram. Estes, afinados no diapasão da “Teologia da Libertação”, transformaram a Santa Igreja de Deus numa verdadeira “Torre de Babel” — na qual reina muita confusão e as pessoas, mãozinhas para o alto, falam e cantam aos berros, tocam qualquer instrumento cacofônico, entram vestidas (ou desvestidas) de qualquer jeito...

Devido à crise da Igreja em seus dias, também João Paulo II e Bento XVI alertaram para os mesmos trágicos problemas.

João Paulo II quando declarou em 1981 que “foram difundidas verdadeiras e próprias heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia”.

Pouco antes de ser eleito Papa, em 2005, comentando a IX Estação da Via Sacra, o futuro Bento XVI escreveu (como ainda hoje li no site do Vaticano): “Deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento. [...] Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra [de Nosso Senhor Jesus Cristo]. Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! [...] Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos”.

Como nossa missivista, Conceição Pires, pode ver, são os mesmos problemas registrados por Paulo VI em seu tempo. Mas é preciso reconhecer que  ela tem razão ao escrever que acha “importante rezar para que nenhuma fumaça de satanás consiga diminuir a importância da Igreja Católica”.


Imagem de São Pedro na Praça
que leva seu nome, em Roma
Estamos às vésperas de um novo Conclave que escolherá o Papa sucessor de Bento XVI. Rezemos empenhadamente para que o Sacro Colégio dos Cardeais seja dócil à inspiração do Espírito Santo e, assim, o próximo Romano Pontífice tenha a força e a virtude necessárias para fazer cessar o desastroso "processo de autodemolição"; extinguir a maldita "fumaça de satanás" que penetrou no Templo de Deus; restaurar a Igreja e impulsionar o mundo inteiro rumo ao magnífico renascimento da Civilização Cristã. 

A Igreja, santa e imortal, poderá passar por períodos de graves crises — como acontece atualmente nesta crise sem precedentes — mas devemos ter a absoluta certeza de que Ela sairá vitoriosa, pois que a assiste o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, que afirmou: “E eu digo-te que tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (São Mateus 16, 19).

3 de março de 2013

Tendo em vista o “Processo de Autodemolição” e a “Fumaça de Satanás”, os católicos desejam uma coisa: CLAREZA

Raio atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma, poucas horas após a renúncia de Bento XVI. Foto: Alessandro di Meo/AFP
A revista Catolicismo deste mês (edição nº 747), em cuja capa está estampada a foto acima, publica um luminoso artigo de Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) que — como o leitor certamente perceberá — está impressionantemente vinculado aos acontecimentos da época atual de Sé Vacante[1]. Como se sabe, é o interregno iniciado no dia 28 último, com a renúncia de Bento XVI, e que se encerrará quando for escolhido seu sucessor. 

Apesar de ser um artigo que veio a lume há 35 anos (publicado na “Folha de S. Paulo” em 16-8-78), o autor, como afirma a revista, às vésperas de um novo Conclave[2], “poderia levantar em linhas gerais as mesmas perguntas nele formuladas, para as quais todos os católicos desejariam respostas claras”. 

A seguir transcrevemos tal matéria, que o eminente líder e pensador católico escreveu às vésperas do Conclave de agosto de 1978, que elegeu o Papa João Paulo I. 
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[1] Sé Vacante — do latim “Trono Vazio”. 
[2] Conclave — do latim cum clave, que significa com chave. É a reunião fechada dos Cardeais na Capela Sistina para a eleição do Romano Pontífice.

Clareza 

Plinio Corrêa de Oliveira

Nesta época em que o público tem tanta influência até mesmo nos círculos mais reservados — nesta época em que tanta gente confunde público com publicidade, e imagina candidamente que a face da publicidade exprime sempre a do público — nesta época, enfim, em que tantas vezes um público átono, adormecido, deixa correr os acontecimentos sem entender o clamor publicitário, nem a conduta dos homens públicos, frequentemente hipersensíveis a tal clamor, pergunto: será real que as multidões veem e sentem as coisas como as apresentam tantos dos chamados meios de comunicação social?


No tocante ao Brasil, como à Igreja, sou levado a responder pela negativa. Deixo aqui de lado o Brasil, pois assim o manda o amor à brevidade. E passo a falar da Igreja. Da Igreja, sim, nestas vésperas de Conclave. 
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Diante do caudal de nomes de candidatos ao Papado que lhe vão sendo apresentados, o povo não quer saber tanto qual o lugar de origem, a idade e a carreira eclesiástica, nem qual a fisionomia deles (fisionomia que cabe, o mais das vezes, em uma das variantes em curso: jovial-risonha, caridosa-tristonha, desgrenhada-frenética, esta última ainda não em voga para cardeais).

O que o povo quer saber se reduz a esta pergunta principal: Paulo VI anunciou que a Igreja estava sendo vítima de um misterioso “processo de autodemolição” (Alocução de 7-12-68) e que nela penetrara a “fumaça de Satanás” (Alocução de 29-6-72). O falecido Pontífice — ante cujos restos mortais me inclino aqui com a devida veneração — partiu, pois, para a eternidade com a autodemolição em curso, e a fumaça de Satanás em expansão. 

O que pensará seu sucessor sobre a autodemolição e a fumaça? Como se conduzirá ante uma e outra? Mil outras questões poderiam ser formuladas acerca do novo Papa. Mas as que acabo de considerar primam sobre as demais. Pois quem navega numa barca em meio à pior fumaça, e em companhia de passageiros que vão desconjuntando o madeirame, se interessa de imediato e principalmente em saber o que vai ser feito a respeito da fumaça e dos demolidores da barca. Ora, a Santa Igreja de Deus é a admirável, a nobilíssima, eu quase diria, a adorável Barca de Pedro. É natural que tais perguntas, se as formulem, nestes dias, também os passageiros desta Barca.


São incontáveis os católicos segundo os quais a fumaça e a autodemolição se identificam, a justo título, com duas grandes tendências existentes na Igreja de nossos dias. Uma destas tendências se desenvolve no plano teológico, filosófico e moral. É o progressismo. 

A outra tendência se desenvolve no tríplice plano diplomático, social e econômico. Ela se chama, segundo o ângulo em que é considerada, aproximação com o Leste, aproximação com o socialismo e aproximação com o comunismo.

Se considerarmos que o progressismo é, por sua vez, uma aproximação com os mil aspectos do que se convencionou chamar “mentalidade moderna” (a qual é, até certo ponto, uma ficção a que poucos homens aderem inteiramente, muitos só aderem com restrições e em proporções acentuadamente variáveis, e que não poucos rejeitam), chegamos à conclusão de que o futuro Papa terá seu pontificado essencialmente marcado pela atitude que tomar diante disto que podemos qualificar de dupla aproximação: a) a mundano-publicitária-progressista; b) a socialo-comunista. 

Desculpe-me o leitor os neologismos. Talvez conviesse compô-los de outra maneira. Apresentam-se-me ao correr da pena, e me servem para exprimir fácil e rapidamente o que quero dizer. Poupam, assim, o tempo do leitor, como o meu. Em nossa época, a pressa obtém indulgência para muitas deselegâncias...

O que pensam dessas aproximações os múltiplos cardeais cujos nomes vão sendo lançados como “papabili”? Como vê cada um deles as correntes rumo às quais esses movimentos de aproximação os convidam? Como hidras que é preciso abater desde logo com o gládio de fogo do Espírito? Como adversárias inteligentes, dúcteis, e talvez um pouco bobas, com as quais é possível conduzir lentas, cômodas e quiçá até cordiais negociações? Como parceiras em uma coexistência, ou mesmo colaboração perfeitamente aceitável, e por alguns lados até simpática? Estas são, entre mil, as perguntas que a maioria dos passageiros da sacrossanta Barca de Pedro gostariam de fazer a cada “papabile”. 

E para estas perguntas, que pairam no ar, o mais das vezes não vejo em torno de mim senão fragmentos de respostas, opacos, viscosos, totalmente insatisfatórios. 


Ora, queiram ou não queiram, quando do alto da loggia de São Pedro [foto] for proclamado o nome do novo Papa, e o consueto clamor de alegria se levantar da imensa praça circundada pelas colunatas berninianas, ao mesmo tempo uma muda mas ansiosa interrogação se apresentará aos espíritos. Será o novo sucessor de São Pedro, ante os promotores das aproximações, um batalhador, um negociador, ou um ajeitador? 

E ele, em quem residirá o excelso poder das chaves, cujas decisões são soberanamente independentes dos juízos dos homens, mas cuja missão pastoral não o poderá deixar indiferente às aspirações e necessidades das ovelhas, se perguntará, na hora solene da sua aclamação: qual das três atitudes espera de mim este povo imenso?

Enquanto aguardamos, na prece ininterrupta, submissa e confiante, esse momento ápice do primeiro encontro estuante de júbilo e carregado de preocupações, resta-nos perguntar: o que deseja a grei fiel? 

Vários, é bem claro, têm sua preferência definida por um papa que tome inteiramente esta ou aquela das atitudes, ante a dúplice aproximação. Classifico-me, todos o sabem, entre os que exultariam com a escolha de um papa combativo como São Gregório VII [pintura acima] ou São Pio X [foto acima]. Outros preferem nitidamente um papa “aproximacionista”, como foi em seu tempo Pio VII [pintura abaixo]. E assim por diante. 
Mas a imensa maioria dos fiéis, o que desejará ela? 

À primeira vista, parece apática. Tal apatia será desinteresse? Não o creio. 

O que será então? A meu ver, é a expressão do concerto respeitoso, e por isso mesmo silencioso, de quem não entende, não concorda e nem ousa discordar. 

Essa imensa maioria, em cujo silêncio me parece discernir traços óbvios de fadiga, angústia e desânimo, deseja de imediato, e antes de tudo, clareza. 

Sim, ela deseja, num silêncio que se vai tornando enfaticamente perplexo, saber sobretudo o que é esta fumaça, quais são os rótulos ideológicos e os instrumentos humanos que servem a Satanás como sprays de tal fumaça, no que consiste a demolição, e como explicar que esta demolição seja, estranhamente, uma autodemolição? 

Não é o que o senhor gostaria de saber, leitor? A senhora, leitora? Pois eu também. E como nós, milhares, milhões, centenas de milhões de católicos. 

E o que há de mais justo, de mais lógico, de mais filial e de mais nobre do que pedirem os filhos da luz, àquele a quem foi dito: “Tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, pedirem-lhe clareza?