Com os meus votos de Feliz Natal e Boas Festas sob as bênçãos do Menino Jesus e de Sua Mãe Santíssima e as mais escolhidas graças para a luta em defesa da instituição familiar em 2010, aos correspondentes deste Blog da Família ofereço como “presente” a transcrição de duas evocativas cartas muito apropriadas para a ocasião. A primeira carta escrita por uma menina, Virginia O´Hanlon, quando tinha apenas 8 anos (foto). Ela faleceu em 1971, e durante sua longa vida (vivera 81 anos) recebeu milhares de cartas — todas respondidas anexando a sua missiva e a resposta que recebera e publicada no “The Sun”, jornal nova-iorquino. (mais abaixo fac-símile da publicação).
Trata-se de uma história verídica — tão encantadora que mais parece uma fábula natalina — mas que pede uma explicação. Como de um tempo a esta parte substituiu-se a figura tradicional de São Nicolau pela imagem mercantilista e paganizada do “Papai Noel”, na tradução das cartas eu troquei o segundo pelo primeiro, uma vez que o Natal é a festa magna da Cristandade na qual comemoramos o nascimento do Menino-Deus em Belém.
Falecido em meados do século IV, São Nicolau foi Bispo de Myra, na Turquia meridional, atualmente conhecida como Demre. Ele encantou e povoou durante séculos o imaginário infantil no mundo inteiro, sobretudo na época de Natal. De família muito rica, após a morte de seus pais, distribuiu generosamente seus bens aos pobres e protegeu de modo especial as crianças necessitadas.
A partir do século X, meninos e meninas adquiriram o hábito de confeccionar pequenos navios de papel e deixá-los à porta de suas casas, a fim de que São Nicolau ali depositasse presentes e doces. No século XV, o costume passou a ser, no lugar dos navios de papel, os sapatinhos e meias.
Infelizmente, no século passado fez-se a péssima troca de São Nicolau pelo “Papai Noel”. Com isso, as luzes sobrenaturais do Natal foram como que se apagando, enquanto se acendiam os letreiros luminosos da propaganda comercial — inclusive da Coca-Cola-Company —, utilizando a figura do “Papai Noel”.
Prezado Sr. Redator:
Tenho oito anos de idade. Algumas de minhas amigas sempre me dizem que não existe São Nicolau e que isso é uma antiga lenda, tipo conto de fadas. Porém, meu pai disse-me que se tal existência for confirmada pelo “The Sun”, então é certo que existe São Nicolau. Por favor, diga-me a verdade: existe mesmo o São Nicolau?
Virginia O´Hanlon
Com relutância e hesitação, Francis Pharcellus Church (foto acima), redator do “The Sun”, tomou a si a tarefa de responder à carta da pequena Virginia. Contudo, tendo começado a escrever, as palavras saltaram rápidas sobre o papel, e assim surgiu a seguinte carta:
Virginia:
Tuas amigas não têm razão. Elas sofrem de uma doença péssima e que mais tarde trar-lhes-á ainda muitas dores. Toma cuidado para que essa doença não te pegue. Trata-se de uma doença de alma. Nós, os adultos, chamamo-la de incredulidade, espírito de crítica, falta de inocência. Tuas amigas e outras pessoas que tentaram te convencer pensam que são sábias e espertas, porque só admitem como real aquilo que podem ver com os olhos e tocar com as mãos. Contudo, elas não sabem quão pouco é isso!
Ora, pequena Virginia, imagina todo este imenso Globo terrestre com seus lagos e montanhas, com seus rios e mares, e, pairando sobre nossas cabeças, o céu infinito com suas miríades e miríades de estrelas. Imagina quantas espécies de seres existem no mar, nos ares e sobre a terra. O homem é apenas um entre milhares de seres, e ademais quão pequeno! Diante das imensidões do universo, ele é pouco mais do que um besouro ou uma formiga. Como então pode o homem ver tudo o que existe e com seu pequeno entendimento querer explicar todas as coisas?
Sim, Virginia, existe o São Nicolau! Tão certamente quanto existem o carinho e a alegria, o amor e a bondade, os quais, porém, não podemos ver com nossos olhos e apalpar com nossas mãos. Mas tudo isso existe. Tu mesmo já os experimentaste. E não trazem eles beleza e alegria em tua vida?
Ah, como seria triste o mundo sem São Nicolau! Tão triste como se não houvesse mais Virginias, como se não houvesse mais os contos de fadas, os anjos, as canções, as histórias infantis escritas pelos poetas. Ou, pelo contrário, só houvesse gente que jamais se encanta com nada, que jamais sorri! Então estaríamos todos perdidos. E aquela luz eterna, que jamais se apaga, com a qual as crianças iluminam o mundo e que acompanha toda criancinha que nasce, esta apagar-se-ia para sempre.
Não acreditar em São Nicolau?! Então ninguém mais precisaria crer em fadas e anjos. Tu poderias convencer teu pai a colocar vigias diante de cada chaminé, na noite de Natal, para que eles pudessem agarrar o São Nicolau. O que ficaria então provado se eles não o vissem descer pela chaminé? Ora, ninguém vê o São Nicolau! Isso porém não prova que ele não existe. As coisas que neste mundo são verdadeiramente reais, não as podem ver nem crianças nem adultos. Já viste alguma vez uma fada dançar sobre os prados floridos? O fato de não a teres visto não prova que a fada não dance na pradaria. Ninguém pode compreender todas as maravilhas invisíveis do universo.
Tu podes bem desmontar um chocalho de bebê, a fim de ver como se produz propriamente o ruído das pedrinhas que se chocam umas contra as outras. Porém, sobre o mundo invisível há um véu estendido, o qual não pode ser rasgado nem mesmo pelo homem mais forte da Terra, e nem sequer pela força conjunta de todos os homens fortes de todas as épocas. Somente a fé e a caridade podem levantar um pouquinho a ponta deste véu e assim contemplar a beleza e o esplendor sobrenaturais que se escondem atrás dele.
Será tudo isso realidade? Ó, Virginia, sobre a Terra não há nada de mais real, de mais verdadeiro do que isso! Graças a Deus que São Nicolau vive e viverá eternamente! Nos próximos mil anos — oh! que digo, pequena Virginia —, nos próximos 10 mil anos multiplicados por outros tantos mil anos, o São Nicolau continuará a fazer com que os corações puros das crianças se alegrem e batam com mais força na abençoada noite de Natal.
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PS: Com esta matéria, montei uma apresentação de slides (em arquivo PPS, com música de Natal). Aqueles que desejarem receber tal arquivo por e-mail, basta enviar o pedido para o e-mail: prccampos@terra.com.br