31 de outubro de 2016

Com a heresia protestante, a rebelião de Lutero contra a Igreja Católica

31 de outubro de 2016 -- Na igreja luterana de Lund (Suécia), o Papa Francisco com o presidente da Federação Luterana Mundial, Pastor Munib Younan (à esquerda do Papa), e o secretário-geral de tal Federação, Pastor Martin Junge (à sua direita).

A propósito da visita do Papa Francisco à cidade sueca de Lund, a revista Catolicismo (edição nº 791, Novembro/2016) publica a matéria que abaixo reproduzimos. Tal visita tem por objetivo comemorar os 500 anos da pseudo “Reforma Protestante” [foto acima]. Como se sabe, no dia 31 de outubro de 1517, o monge apóstata Lutero oficialmente lançou seu brado de revolta contra Roma, difundindo seus erros e heresias. 

Comemorando o heresiarca Lutero, que odiava a Igreja e o Papado


O magistério do Papa Francisco vem se caracterizando principalmente por gestos e atos simbólicos, acompanhados às vezes por palavras pouco propícias a dissipar a confusão. Neste sentido, sua participação nas comemorações da revolta de Martinho Lutero, o monge apóstata e heresiarca, é particularmente grave.

No dia 13 de outubro (data em que os católicos do mundo inteiro rememoram a última aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima, em 1917), ocorreu no Vaticano um encontro do Pontífice com aproximadamente 1000 luteranos provenientes da região de Lutero, na Alemanha. [foto ao lado]

Nessa ocasião, o Papa afirmou: “O proselitismo é o veneno mais forte contra o caminho ecumênico” (“Zenit”, 13-10-16). E, segundo a mesma agência de notícias, respondendo a uma pergunta, ele disse que “os grandes reformadores de nossas Igrejas são os santos”. E à outra pergunta, respondeu: “Gosto dos luteranos bons, aqueles que seguem a fé de Jesus Cristo. Não gosto dos católicos tíbios e dos luteranos tíbios”.

No referido encontro, o Papa confirmou sua viagem à cidade de Lund, na Suécia, no dia 31 de outubro, a fim de presidir, juntamente com a Federação Luterana Mundial, a comemoração da “Reforma Protestante”. Nessa data, há 499 anos, Lutero pregou suas 95 teses na porta da capela do castelo de Wittenberg — marco do início à reforma do heresiarca na Alemanha.

A comemoração de um fato histórico não é uma simples lembrança — como ocorre com os acontecimentos narrados num curso de História —, mas a recordação festiva e laudatória de fato julgado digno de admiração, de imitação, e mesmo de devoção. Em livro-entrevista, o cardeal Gerhard Müller foi peremptório: “Nós, católicos, não temos qualquer motivo para celebrar o dia 31 de outubro de 1517, data do início da Reforma”. Por sua vez, o cardeal Kurt Koch já havia prevenido em 2012: “Não podemos celebrar um pecado”. E acrescentou: “Os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser chamados dias de festa”.

Como pode o Papa participar ativamente das comemorações da revolta de Lutero contra a Igreja e o Papado sem dar aos católicos e não católicos a impressão de que ele admira os atos e as doutrinas do heresiarca?

Para fornecer alguns elementos de reflexão sobre a gravidade desse gesto, transcrevemos a seguir dois artigos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP brasileira, escritos por ocasião do quinto centenário do nascimento de Lutero. Como o leitor poderá constatar, eles conservam toda a atualidade.
Primeiro ato de rebelião do heresiarca Lutero: na igreja do castelo de Wittenberg, ele afixa seu documento contra a Igreja e o Papado

Lutero: não e não

Plinio Corrêa de Oliveira 
[Transcrito da “Folha de S. Paulo”, 27 de dezembro de 1983] 

Tive a honra de ser, em 1974, o primeiro signatário de um manifesto publicado em cotidianos dos principais do Brasil e reproduzido em quase todas as nações onde existiam as então onze TFPs. Era seu título: A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas – Para a TFP: Omitir-se? Ou resistir? (cfr. “Folha de S. Paulo”, 10-4-74). 

Nele, as entidades declaravam seu respeitoso desacordo face à "ostpolitik" conduzida por Paulo VI, e expunham pormenorizadamente suas razões para tanto. Tudo — diga-se de passagem — expresso de maneira tão ortodoxa que ninguém levantou a propósito qualquer objeção. 

Para resumir numa frase, ao mesmo tempo toda a sua veneração ao Papado e a firmeza com a qual declaravam sua resistência à "ostpolitik" vaticana, as TFPs diziam ao Pontífice “Nossa alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe”.

Lembrei-me desta frase com especial tristeza lendo a carta escrita por João Paulo II ao cardeal Willebrands (cfr. "L’Osservatore Romano", 6-11-83), a propósito do quingentésimo aniversário do nascimento de Martinho Lutero, e assinada no dia 31 de outubro p.p. data do primeiro ato de rebelião do heresiarca, na igreja do castelo de Wittenberg. Está ela repassada de tanta benevolência e amenidade, que me perguntei se o Augusto signatário esquecera as terríveis blasfêmias que o frade apóstata lançara contra Deus, Cristo Jesus Filho de Deus, o Santíssimo Sacramento, a Virgem Maria e o próprio Papado. 

O certo é que ele não as ignora, pois estão ao alcance de qualquer católico culto, em livros de bom quilate, os quais ainda hoje não são difíceis de obter.

Tenho em mente dois deles. Um, nacional é “A Igreja, a Reforma e a Civilização, do grande jesuíta Pe. Leonel Franca. Sobre o livro e o autor, os silêncios oficiais vão deixando baixar a poeira. 

O outro livro é de um dos mais conhecidos historiadores franceses do século XX, Funck-Brentano, membro do Instituto de França, e aliás insuspeito protestante. 


Comecemos por citar textos colhidos na obra deste último: "Luther" (Grasset, Paris, 1934, 7ª ed., 352 pp.) [capa ao lado]. E vamos diretamente a esta blasfêmia sem nome: “Cristo — diz Lutero — cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte, de que nos fala João. Não se murmurava em torno dele: “Que fez, então, com ela? Depois com Madalena, em seguida com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim Cristo, tão piedoso, também teve de fornicar, antes de morrer” ("Propos de table", nº 1472, ed. de Weimar 2. 107 – cfr op. cit. p. 235). 


Lido isto, não nos surpreende que Lutero [gravura ao lado] pense — como assinala Funck-Brentano — que "certamente Deus é grande e poderoso, bom e misericordioso [...] mas é estúpido — "Deus est stultissimus" ("Propos de table", no. 963, ed. de Weimar, I, 487). É um tirano. Moisés agia movido por sua vontade, como seu lugar-tenente, como carrasco que ninguém superou, nem mesmo igualou em assustar, aterrorizar e martirizar o pobre mundo” (op. cit. p. 230).

Tal está em estrita coerência com estoutra blasfêmia, que faz de Deus o verdadeiro responsável pela traição de Judas e pela revolta de Adão: “Lutero — comenta Funck-Brentano — chega a declarar que Judas, ao trair Cristo, agiu sob imperiosa decisão do Todo-poderoso. Sua vontade (a de Judas) era dirigida por Deus: Deus o movia com sua onipotência. O próprio Adão, no paraíso terrestre, foi constrangido a agir como agiu. Estava colocado por Deus numa situação tal que lhe era impossível não cair” (op. cit. p. 246).

Coerente ainda nesta abominável sequência, um panfleto de Lutero intitulado “Contra o pontificado romano fundado pelo diabo”, de março de 1545, chamava o Papa, não “Santíssimo”, segundo o costume, mas “infernalíssimo”, e acrescentava que o Papado mostrou-se sempre sedento de sangue (cfr. op. cit. pp. 337-338). 

Não espanta que, movido por tais ideias, Lutero escrevesse a Melanchton, a propósito das sangrentas perseguições de Henrique VIII contra os católicos da Inglaterra. “É lícito encolerizar-se quando se sabe que espécie de traidores, ladrões e assassinos são os papas, seus cardeais e legados. Prouvesse a Deus que vários reis da Inglaterra se empenhassem em acabar com eles” (op. cit. p. 254). 

Por isso mesmo exclamou ele também: “Basta de palavras: o ferro! o fogo!” E acrescenta: “Punimos os ladrões à espada, por que não havemos de agarrar o papa, cardeais e toda a gangue da Sodoma romana e lavar as mãos no seu sangue?” (op. cit., p. 104). 

Esse ódio de Lutero o acompanhou até o fim da vida. Afirma Fuck-Brentano: “Seu último sermão público em Wittenberg é de 17 de janeiro de 1546; o último grito de maldição contra o papa, o sacrifício da missa, o culto da Virgem” (op. cit., p. 340). 

Não espanta que grandes perseguidores da Igreja tenham festejado a memória dele. Assim “Hitler mandou proclamar festa nacional na Alemanha a data comemorativa de 31 de outubro de 1517, quando o frade agostiniano revoltoso afixou nas portas da igreja do castelo de Wittenberg as famosas 95 proposições contra a supremacia e as doutrinas pontifícias” (op. cit., p. 272). 

E, a despeito de todo o ateísmo oficial do regime comunista, o Dr. Erich Honnecker, presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa, o primeiro homem da República Democrática Alemã, aceitou a chefia do comitê que, em plena Alemanha vermelha, organizou as espalhafatosas comemorações de Lutero neste ano (cfr. "German Comments", de Osnabruck, Alemanha Ocidental, abril de 1983). 

Que o frade apóstata tenha despertado tais sentimentos num líder nazista, como mais recentemente no líder comunista, nada de mais natural. 
Foto do original da tradução da bíblia, segundo Lutero
Nada mais desconcertante e até vertiginoso, do que o ocorrido quando da recentíssima comemoração do quingentésimo aniversário do nascimento de Lutero num esquálido templo protestante de Roma, no dia 11 do corrente. 

Deste ato festivo, de amor e admiração à memória do heresiarca, participou o prelado que o conclave de 1978 elegeu Papa. E ao qual caberia, portanto, a missão de defender, contra heresiarcas e hereges, os santos nomes de Deus e de Jesus Cristo, a Santa Missa, a Sagrada Eucaristia e o Papado!

“Vertiginoso, espantoso” — gemeu, a tal propósito, meu coração de católico. Que, sem embargo, com isto redobrou de fé e veneração pelo Papado.

No próximo artigo me resta citar “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, do grande Pe. Leonel Franca. 

Lutero pensa que é divino! 

Plinio Corrêa de Oliveira
[Transcrito da “Folha de S. Paulo”, 10 de janeiro de 1984] 

"Eu não posso e não vou me retratar". Com essas palavras, Lutero  defende seus
escritos na "Dieta de Worms", em abril de 1521
Não compreendo como homens da Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo, e indiretamente com todas as religiões, escolas filosóficas etc. Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria — se até lá se pudesse chegar — a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça. 

Sobre Lutero — a quem caberia, sob certo aspecto, o papel de ponto de partida nessa caminhada para a balbúrdia total — publico hoje mais alguns tópicos que bem mostram o odor que sua figura revoltada espargiria nesse supermercado, ou melhor, nesse necrotério de religiões, de filosofias, e do próprio pensamento humano. 


Segundo em anterior artigo prometi, tiro-os da magnífica obra do padre Leonel Franca S. J., “A Igreja, a Reforma e a Civilização” (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 3ª ed., 1934, 558 pp.). [capa ao lado]

Elemento absolutamente característico do ensinamento de Lutero é a doutrina da justificação independente das obras. Em termos mais chãos, que os méritos superabundantes de Nosso Senhor Jesus Cristo só por si asseguram ao homem a salvação eterna. De sorte que se pode levar nesta Terra uma vida de pecado, sem remorsos de consciência, nem temor da justiça de Deus.

A voz da consciência era, para ele, não a da graça, mas a do demônio!

Por isso escreveu a um amigo que o homem vexado pelo demônio, de quando em quando “deve beber com mais abundância, jogar, divertir-se e mesmo fazer algum pecado em ódio e acinte ao diabo, para lhe não darmos azo de perturbar a consciência com ninharias [...] Todo o decálogo se nos deve apagar dos olhos e da alma, a nós tão perseguidos e molestados pelo diabo” (M. Luther, "Briefe, Sends breiben und Bedenken", e. De Wette, Berlim, 1825-1828 – cfr. op. cit., pp. 199-200). 

Neste sentido, escreveu ele também: “Deus só te obriga a crer e a confessar. Em todas as outras coisas te deixa livre e senhor de fazeres o que quiseres, sem perigo algum de consciência; antes é certo que, de si, Ele não se importa, ainda mesmo se deixasses tua mulher, fugisses do teu senhor e não fosses fiel a vínculo algum. E que se lhe dá (a Deus), se fazes ou deixas de fazer semelhantes coisas?” ("Werke", ed. de Weimar, 12, pp. 131 ss. — cfr. op. cit., p. 446).

Talvez ainda mais taxativo é este incitamento ao pecado, em carta a Melanchton, de 1º de agosto de 1521: “Sê pecador, e peca a valer (esto peccator et pecca fortiter), mas com mais firmeza ainda crê e alegra-te em Cristo, vencedor do pecado, da morte e do mundo. Durante a vida presente devemos pecar. Basta que pela misericórdia de Deus conheçamos o Cordeiro que tira os pecados do mundo. Dele não nos há de separar o pecado, ainda que cometêssemos por dia mil homicídios e mil adultérios” (Briefe, Sendschreiben und Bedenken", ed. De Wette, 2, p. 37 – cfr. op. cit. p. 439). 

Tão descabelada é esta doutrina, que o próprio Lutero a duras custas nela conseguia acreditar: “Nenhuma religião há, em toda a Terra, que ensine esta doutrina da justificação; eu mesmo, ainda que a ensine publicamente, com grande dificuldade a creio em particular” (Werke", ed. de Weimar, 25, p. 330 – cfr. op. cit., p. 158). 

Mas os efeitos devastadores da pregação assim confessadamente insincera de Lutero, ele mesmo os reconhecia: “O Evangelho hoje em dia encontra aderentes que se persuadem não ser ele senão uma doutrina que serve para encher o ventre e dar larga a todos os caprichos” ("Wekw", ed. de Weimar, 33, p. 2 – cfr. po. cit., p. 212). 

E Lutero acrescentava, acerca de seus sequazes evangélicos, que “são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez e a toda espécie de vícios. Expulsamos um demônio (o papado) e vieram sete piores” ("Werke", ed. de Weimar, 28, p. 763 – cfr. op. cit., p. 440).

“Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias para a justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem [...] E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo revivesse a doutrina que afirma a necessidade do bem fazer para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem” ("Werke", ed. de Weimar, 27, p. 443 – cfr. op. cit., p. 441). 

Todas essas insânias explicam que Lutero chegasse ao frenesi do orgulho satânico, dizendo de si mesmo: “Este Lutero não vos parece um homem extravagante? Quanto a mim, penso que ele é Deus. Senão, como teriam os seus escritos e o seu nome a potência de transformar mendigos em senhores, asnos em doutores, falsários em santos, lodo em pérolas!” (Ed. Wittemberg, 1551, t. 4, p. 378 – cfr. op. cit., p. 190). 

Em outros momentos, a opinião que Lutero tinha de si mesmo era muito mais objetiva: “Sou um homem exposto e implicado na sociedade, na crápula, nos movimentos carnais, na negligência e em outras moléstias, a que se vêm ajuntar as do meu próprio ofício” ("Briefe, Sendschreiben und Bedenken", ed. De Wette, 1, p. 232 – cfr. op. cit., p. 198). Excomungado em Worms em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à moleza. E a 13 de julho escreveu a outro prócer protestante, Melanchton: “Eu aqui me acho, insensato e endurecido, estabelecido no ócio, oh dor!, rezando pouco, e deixando de gemer pela Igreja de Deus, porque nas minhas carnes indômitas ardo em grandes labaredas. Em suma, eu que devo ter o fervor do espírito, tenho o fervor da carne, da libidinagem, da preguiça, do ócio e da sonolência” (Briefe, Sendscheiben und Bedenken", ed. De Wette, 2, p. 22 – cfr. op. cit. p. 198). 

Num sermão pregado em 1532: “quanto a mim confesso — e muitos outros poderiam sem dúvida fazer igual confissão — que sou desleixado assim na disciplina como no zelo, sou muito mais negligente agora que sob o papado; ninguém tem agora pelo Evangelho o ardor que se via outrora” ("Saemtliche Werke", ed. de Plochman-Irmischer, 28 (2), p. 353 – cfr. op. cit. p. 441).


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O que de comum se pode encontrar, pois, entre esta moral, e a da Santa Igreja Católica Apostólica Romana?

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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 791, Novembro/2016 ( catolicismo@terra.com.br )

29 de outubro de 2016

Lutero nos altares? JAMAIS!

“Wormser Reichstag”  (A Dieta, ou Assembleia, de Worms) convocada em abril de 1521 pelo Imperador Carlos V. No quadro acima (pintura de Anton von Werner, 1843-1915), o assistente do Arcebispo de Trier mostra a Lutero cópias de seus escritos (numa mesa e no piso), perguntando se eram de autoria dele e se acreditava naquilo que tais obras afirmavam. Lutero defende seus escritos (heréticos) e, entre outros absurdos, disse: “Não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados [...] Eu não posso e não vou me retratar”.

Segue a transcrição de matéria de autoria de Sandro Magister, renovado jornalista italiano, especializado em temas religiosos (link abaixo). Assinalado em negrito alguns trechos que me pareceram mais significativos. (Tradução em espanhol de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares, Espanha).


Lutero a la hoguera. No, a los altares.
La doble visión del Papa jesuita

Ayer veía en la Reforma protestante la raíz de todos los males. Hoy la celebra como “medicina para la Iglesia”. Pero no resulta que haya renegado de sus críticas. Helas aquí, una palabra tras otra

Sandro Magister

Roma, 27 DE OCTUBRE DE 2016 — Dentro de cuatro días Francisco volará a Lund, acogido por la obispo luterana de Suecia, para celebrar junto con la Federación luterana mundial los quinientos años de la Reforma protestante. Ningún Papa, antes de él, ha manifestado tan calurosa simpatía por Lutero.

Interpelado sobre el gran herético en la conferencia de prensa en el vuelo de vuelta de Armenia, Francisco ha dicho que Lutero estuvo animado por las mejores intenciones y que su reforma fue “una medicina para la Iglesia”, sobrevolando por encima de las divergencias dogmáticas esenciales que desde hace cinco siglos enfrentan a protestantes y católicos, porque —son siempre sus palabras, esta vez pronunciadas en el templo luterano de Roma— “la vida es más grande que las explicaciones y las interpretaciones”.

El ecumenismo de Francisco está hecho de este modo. El primado está en los gestos, en los abrazos, en algún acto caritativo hecho juntos. Los conflictos doctrinales, aunque abismales, los deja para las discusiones de los teólogos, a quienes de buena gana confinaría “en una isla desierta”, como le gusta decir, aunque demasiado en broma.

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Sin embargo, también Jorge Mario Bergoglio se ha hecho una idea personal sobre qué han sido Lutero, Calvino y el protestantismo en general. Una idea que hoy ha encerrado bien dentro de sí, pero que en el pasado, cuando no era Papa ni obispo, no ha tenido miedo en exponer claramente.
Era el verano de 1985 cuando el entonces simple jesuita Bergoglio tuvo en Argentina, en Mendoza, una conferencia dedicada precisamente a la infatigable batalla de hace cinco siglos entre la Compañía de Jesús y los protestantes. Reproducimos más adelante los pasajes en los cuales arremetió con furia demoledora contra el pensamiento y la obra de Lutero y Calvino.

Treinta años después no se evoca nada de aquella invectiva en las palabras y en los gestos tan amigables que Bergoglio, convertido en Papa, dirige a los protestantes. Pero de ello no se deduce necesariamente que haya renegado, dentro de sí, aquellas críticas radicales suyas.

De hecho se han vuelto a publicar tal cual, en español y en italiano, en dos libros que ha autorizado de hecho, salidos después de su elección como Papa:
> J. M. Bergoglio — Francisco, Reflexiones espirituales sobre la vida apostólica, Grupo de Comunicación Loyola, Bilbao, 2013. > J. M. Bergoglio — Francesco, Chi sono i gesuiti. Storia della Compagnia di Gesù, EMI, Bologna, 2014

La edición española del libro ha sido preparada por el Grupo de Comunicación Loyola, expresión oficial de la Compañía de Jesús. Y la edición italiana cuenta, además, con el prólogo del padre Antonio Spadaro, director de La Civiltà Cattolica, el jesuita más cercano que ningún otro al Papa Francisco, su consejero, confidente y escritor fantasma. El cual, al resumir la requisitoria anti protestante de Bergoglio, no solamente no toma la mínima distancia de ella, sino que incluso la presenta como “un riquísimo fresco por el cual se puede fácilmente comprender el modo de proceder del Papa, fundamentado sobre dos pilares: la realidad y el discernimiento”.

Cuando salió la edición italiana del libro, a mediados de 2014, el eminente teólogo protestante Paolo Ricca, valdense, expresó su desolado estupor en un editorial en la revista Riforma:
“Me pregunto cómo es posible tener todavía hoy, o incluso hace treinta años, una visión tan deformada, torcida, desfigurada y sustancialmente falsa de la Reforma protestante. Es una visión con la cual no solamente no se puede iniciar un diálogo, ni siquiera una polémica: no vale la pena, porque es demasiado distante y deforme de la realidad. Una cosa es segura: a partir de una visión así, una celebración ecuménica del quingentésimo aniversario de la Reforma, en 2017, parece literalmente imposible”.

Y, sin embargo, el Papa Francisco lo ha conseguido. Su viaje festivo a la Suecia luterana es la prueba de ello. “Audacia de lo imposible” es también la consigna del nuevo general de los jesuitas, elegido hace pocos días. Para cumplir el milagro, a Bergoglio le ha bastado simular el olvido total de aquél discurso suyo de hace treinta años en Mendoza.

Aquí está. Que hay que releer por entero, a la vigilia de la fiesta de Lund.
Gravura representando o "casamento" do ex-frade Lutero com a ex-freira Catarina von Bora

Lutero: una ‘idea loca’ que ha evolucionado en herejía y cisma

por Jorge Mario Bergoglio

Muchas veces, San Ignacio ha sido definido como el bastión de la Contrarreforma. Esto es verdad; sin embargo […] los jesuitas estaban más preocupados con Calvino que con Lutero. […] Habían descubierto con perspicacia que ahí se escondía el verdadero peligro para la Iglesia.

Calvino ha sido el gran pensador de la Reforma protestante, quien la ha organizado y conducido en el plano de la cultura, de la sociedad de la Iglesia; ha plasmado una organización que Lutero no se había propuesto. Éste, el alemán impetuoso que probablemente había proyectado al máximo dar vida a una Iglesia nacional, es releído y reorganizado por aquél francés frío, un genio latino versado en jurisprudencia, que era Calvino.
Lutero era visto como un hereje. Calvino, además, como un cismático. Me explico. La herejía —por usar la definición de Chesterton— es una idea buena que ha enloquecido. Cuando la Iglesia no puede curar su locura, entonces se transforma en un cisma. El cisma implica ruptura, división, separación, consolidación independiente; va creciendo por pasos sucesivos hasta conquistar una propia autonomía. San Ignacio y sus sucesores combatirán contra la herejía cismática.

Y, ¿cuál es el cisma calvinista que provocará la lucha de Ignacio y de los primeros jesuitas? Se trata de un cisma que afecta tres áreas: el hombre, la sociedad y la Iglesia. […]
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En el hombre, el calvinismo provocará el cisma entre razón y emoción. Separa la razón del corazón. En el plano emotivo, el hombre de aquél siglo, y bajo la influencia luterana, vivía la angustia por la propia salvación. Y, según Calvino, de esa angustia no había que preocuparse. Contaba solamente preocuparse de las cuestiones de la inteligencia y de la voluntad.

Este es el origen de la miseria calvinista: una disciplina rígida con una gran desconfianza a lo que es vital, cuyo fundamento es la fe en la total corrupción de la naturaleza humana, que puede ser ordenada solamente por la superestructura de la acción del hombre. Calvino cumple un cisma dentro del hombre: entre la razón y el corazón.

Más aún, Calvino provoca otro cisma en la razón misma: entre el conocimiento positivo y el conocimiento especulativo. Se trata del cientificismo que rompe la unidad metafísica y provoca un cisma en el proceso intelectivo del hombre. Todo objeto científico se asume como absoluto. La ciencia más segura es la geometría. Los teoremas geométricos serán una guía segura de referencia del pensamiento. Este cisma, que se da en la misma razón humana, afecta a toda la tradición especulativa de la Iglesia y a toda la tradición humanística. […]
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El cisma calvinista afecta también a la sociedad, que resultará dividida. Como portadoras de salvación Calvino privilegia las clases burguesas. […] Esto implica y comporta un revolucionario menosprecio de los pueblos. Ya no hay ni pueblo ni nación, y, al contrario, se configura una internacional de la burguesía.
Con un anacronismo podríamos aplicar aquí la fórmula de Marx: “Burgueses de todo el mundo, uníos”, despreciando cualquier significado de la nobleza de los pueblos. Con esta actitud Calvino es el verdadero padre del liberalismo, que ha sido un golpe político al corazón de los pueblos, a su modo de ser y de expresarse, a su cultura, a su manera de ser cívica, política, artística y religiosa.

Probablemente en el plano social esto es más evidente en la elaboración, primero de Hobbes (según el cual los hombres debían convivir por medio del engaño y de la fuerza, mientras que el Estado, “moderno Leviatán”, existía sencillamente para tener a raya los egoísmos y evitar la anarquía, legitimando una lógica de dominio, dado que ya no había ninguna ley natural), y después de Locke, mucho más sofisticado, pero no menos cruel.
Hobbes reivindica el “poder” sin corazón, con una justificación absolutista y racionalista. Locke reviste todo esto con una “compostura civil” y busca redefinir la sociedad excluyendo al pueblo.

La postura de Locke es la siguiente: parte de la admisión de un cierto derecho natural y se sirve del slogan “la razón enseña que…”, para después deducir —como por magia— conclusiones que justifican ese cisma social: el hombre —puesto que supera la propia corrupción natural por medio del activismo— puede poseer el fruto de su trabajo siempre que ese fruto no sea corruptible. He aquí que nace la moneda y la índole monetarista del liberalismo.

Además, la razón enseña que el hombre tiene derecho a comprar trabajo. Y con esto se dan dos tipos de trabajadores: los que poseen bienes no corruptibles y los que no los poseen. El Estado tiene la función de mantener el orden entre estas dos categorías de trabajadores evitando la rebelión de estos contra los primeros. En el fondo, el pensamiento calvinista-cismático-liberal está reivindicando para el segundo grupo de trabajadores el poder de rebelión, lo que hoy llamaríamos la rebelión del proletariado. En última instancia, el marxismo es el hijo obligado del liberalismo.
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En tercer lugar, el cisma calvinista hiere a la Iglesia. […] Sustituye la universalidad del pueblo de Dios con el internacionalismo de la burguesía. […] Decapita el pueblo de Dios de la unidad con el Padre. Decapita todas las cofradías de los oficios privándolas de los santos. Y, suprimiendo la misa, priva al pueblo de Dios de la mediación en Cristo realmente presente. […]

En el fondo Calvino había intentado salvar al hombre, al que la perspectiva luterana había precipitado en la angustia. En Lutero se manifiesta la intención de salvar al hombre del paganismo del renacimiento, pero esa intención había evolucionado hacia una “idea loca”, es decir, en herejía. Por eso Calvino, con la frialdad legislativa que le caracteriza, parte del angustioso planteamiento luterano y evoluciona así: el hombre está corrompido; por consiguiente, disciplina.

De aquí nace lo que conocemos como el “rigor protestante”. Éste propone signos de salvación diferentes de aquellos católicos —los que hemos citado antes—, y el signo es el trabajo acumulativo. Casi como si pretendiera identificar los frutos del trabajo con los signos de la salvación. Podríamos simplificarlo de manera caricatural con este axioma: “Serás salvado si adquieres la riqueza que se obtiene con el trabajo”. Y he aquí plasmada la clase burguesa.
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A partir del planteamiento luterano, si somos coherentes, quedan solamente dos posibilidades entre las cuales optar en el curso de la historia: o el hombre se disuelve en su angustia y ya no es nada (y es la consecuencia del existencialismo ateo), o bien el hombre, basándose en esa misma angustia y corrupción, da un salto en el vacío y se autodefine superhombre (es la opción de Nietzsche).

En el fondo Nietzsche regenera a Hobbes, en el sentido de que la “última ratio” del hombre es el poder. El dominio es posible solamente contra el amor, a partir de la contraposición, en el hombre, entre la razón y el corazón. Un tal poder, como “última ratio”, implica la muerte de Dios. Se trata de un paganismo que, en los casos del nazismo y del marxismo, adquirirá formas organizadas en sistemas políticos.

La perspectiva luterana, porque se fundamenta en el divorcio mismo entre la fe y la religión (efectivamente, concibe la fe como la única salvación, y acusa a la religión —los actos de religión, la piedad, etc.— de ser una mera manipulación de Dios), genera divorcio y cisma; comporta toda clase de individualismos que, en el plano social, afirman su hegemonía.

Toda hegemonía, tanto religiosa, política, social o espiritual, encuentra aquí su origen.
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Nota de Sandro Magister: En 1985, cuando pronunció esta conferencia, Jorge Mario Bergoglio tenía 49 años y era rector del Colegio Máximo de San Miguel. De 1973 a 1979 había sido provincial de la Compañía de Jesús en Argentina.
Un ejemplo de este nuevo enfoque se refiere a la comunión eucarística. Entre las críticas radicales que Bergoglio dirige al protestantismo reformado en su conferencia de 1985 estaba la de “suprimir la misa” y, por consiguiente, de “privar al pueblo de Dios de la mediación en Cristo realmente presente”.
De lo que se deduce la incompatibilidad entre las dos visiones de la eucaristía.
Pero en la práctica, hoy el Papa Francisco se muestra más que dispuesto a cancelar la prohibición de hacer la comunión juntos entre católicos y protestantes, como ha dejado entender en respuesta a la pregunta de una luterana casada con un católico, el pasado 15 de noviembre, mientras visitaba la iglesia de los luteranos de Roma.
Traducción en español de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares, España.

25 de outubro de 2016

SACERDOTE CONDENADO PELO STJ POR TER IMPEDIDO A MORTE DE UM NASCITURO


Paulo Roberto Campos

Professor de Bioética, o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz [foto], presidente da associação Pró-Vida de Anápolis (GO), é um dedicadíssimo combatente contra o aborto. Bacharel em Teologia pelo Institutum Sapientiae (Anápolis) em 1992, foi ordenado sacerdote em 31 de maio de 1992. 

A seguir, transcrevo a nota que este devotado sacerdote publicou hoje em seu site (link abaixo), a fim de que nossos leitores possam apoiá-lo, rezar por ele e avaliar a absurda condenação que sofreu justamente por tentar impedir que mães executem seus bebês no ventre materno. É a “lógica” deste mundo neo-pagão: muitos que matam podem viver livres; muitos que tentam impedir a “matança de inocentes”, podem acabar condenados. Uma razão a mais para continuarmos em nossa luta contra o aborto, pois como registra o Evangelho: 

“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! 

“Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.

“Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (São Mateus, 5, 10-12). 


Terça-feira, 25 de outubro de 2016

NOTA SOBRE MINHA CONDENAÇÃO POR DANOS MORAIS NO STJ 


Nosso Bispo Diocesano, Dom João Wilk, estando com a saúde fragilizada, pediu-me que emitisse uma nota à imprensa acerca da minha condenação por danos morais que sofri pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por ter impetrado um habeas corpus em favor de Geovana Gomes Leneu, uma criança deficiente, portadora da síndrome de “body stalk”, condenada ao aborto por uma sentença de um juiz da 1ª vara criminal de Goiânia. 


Impetrei o habeas corpus em 11 de outubro de 2005, sem muita esperança de obter êxito, até mesmo porque quando se tem notícia de autorizações para abortamentos eugênicos, muitas vezes eles já ocorreram. Não me permitiram fotocopiar aos autos do processo, de modo que tive que escrever a peça do habeas corpus a mão, em uma folha avulsa. A suspeita de fracasso foi confirmada por uma notícia (que depois decobri ser falsa) publicada pelo jornal “O Popular” [fac-símile ao lado] no dia 15 de outubro de 2005): 
“O desembargador Aluísio Ataídes de Sousa, em decisão de gabinete, suspendeu ontem alvará judicial que autorizou aborto de feto com síndrome de Body Stalk, em gestante de 19 anos. A decisão, entretanto, perdeu objeto, pois o procedimento já foi realizado” 
Na verdade, a liminar chegou a tempo de salvar Geovana da morte. Ela estava para ser abortada no dia 14 de outubro de 2005, quando chegou ao hospital a decisão liminar do Desembargador Aluízo Ataíde de Souza sustando o aborto e cassando a sentença que o autorizara.

Os pais da criança voltaram a Morrinhos, sua cidade, sem que eu nada soubesse sobre o ocorrido, sempre acreditando na veracidade da notícia do Jornal “O Popular”.

Esse equívoco foi lamentável. Se eu soubesse que Geovana havia sobrevivido e que seus pais estavam em Morrinhos, sem dúvida eu teria ido visitá-los, acompanhá-los durante a gestação, oferecer-lhes assistência durante o parto (como fizemos com tantas outras gestantes) e, em se tratando de uma criança com risco de morte iminente, batizá-la logo após o nascimento. E se ela falecesse, para mim seria uma honra fazer suas cerimônias fúnebres acompanhando a família até o cemitério. 

Quando eu soube de tudo, Geovana já havia nascido em 22 de outubro de 2015, vivido 1h45 e morrido sem que ninguém se lembrasse de batizá-la. De qualquer forma, ela recebeu um nome e foi sepultada, destino bem melhor que o de ser jogada fora e misturada ao lixo hospitalar. 

Meu Bispo aprova minha atitude e lamenta a condenação do Superior Tribunal de Justiça. Qualquer cidadão pode e deve defender uma vida ameaçada de morte, usando para isso os meios legais e processuais a seu dispor, entre eles o habeas corpus. A condenação do impetrante de um habeas corpus por danos morais é teratológica, pois, se o Tribunal ou Desembargador concedeu a ordem, não foi por “obediência” ao cidadão, mas por verificar que, naquele caso, o juiz estava de fato agindo com ilegalidade e abuso de poder. Por que não processar por “danos morais” o Desembargador que expediu a liminar? 

O pedido indenizatório, negado em primeiro e segundo grau, foi agora surpreendentemente acolhido no STJ. Em outra época, porém, essa Corte já se notabilizou pela defesa das crianças deficientes por nascer, ao cassar por unanimidade, uma decisão do TJRJ que autorizara um aborto de um bebê anencéfalo (HC 32152). A relatora do histórico acórdão foi a Ministra Laurita Vaz, que hoje preside o Superior Tribunal de Justiça.
Anápolis, 25 de outubro de 2016.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis 
https://naomatar.blogspot.com.br/2016/10/nota-sobre-minha-condenacao-por-danos.html

19 de outubro de 2016

A que Igreja, afinal, pertence o Papa Francisco?


Roberto de Mattei (*) 

Duas celebrações se sucederão em 2017: os 100 anos das aparições de Fátima, ocorridas entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917, e os 500 anos da revolta de Lutero, iniciada em Wittenberg, Alemanha, em 31 de outubro de 1517.

Mas no próximo ano ocorrem também dois outros aniversários, dos quais se fala menos: os trezentos anos da fundação oficial da maçonaria (Londres, 24 de junho de 1717) e os cem anos da Revolução russa de 26 de outubro de 1917 (no calendário juliano, em uso no império russo; no dia 8 de novembro, segundo o calendário gregoriano). No entanto, entre a Revolução protestante e a comunista, passando pela Revolução francesa, filha da maçonaria, corre um ininterrupto fio vermelho que Pio XII, no famoso discurso Nel contemplare, de 12 de outubro de 1952, resumiu em três fases históricas, correspondentes ao protestantismo, ao iluminismo e ao ateísmo marxista: “Cristo sim, a Igreja não. Depois: Deus sim, Cristo não. Finalmente, o grito ímpio: Deus está morto; ou antes, Deus nunca existiu.”

Nas primeiras negações do protestantismo — observou Plinio Corrêa de Oliveira — já estavam implícitos os anelos anárquicos do comunismo:
“Se, do ponto de vista da formulação explícita, Lutero [quadro ao lado] não era senão Lutero, todas as tendências, todo o estado de alma, todos os imponderáveis da explosão luterana já traziam consigo, de modo autêntico e pleno, embora implícito, o espírito de Voltaire e de Robespierre, de Marx e de Lenine” (Revolução e Contra-Revolução, Parte I, Cap. 6, 1 B). 
Sob este aspecto, os erros difundidos pela Rússia soviética a partir de 1917 foram uma cadeia de aberrações ideológicas que de Marx e Lênin remontam aos primeiros hereges protestantes. A Revolução luterana de 1517 pode portanto ser considerada um dos eventos mais nefastos da história da humanidade, ao lado da revolução maçônica de 1789 e da comunista de 1917. E a Mensagem de Fátima, que previu a propagação dos erros comunistas no mundo, contém em si, implicitamente, a rejeição dos erros do protestantismo e da Revolução francesa.

O início do centenário das aparições de Fátima, em 13 de outubro de 2016, foi enterrado sob um manto de silêncio. Nesse mesmo dia, o Papa Francisco recebeu mil “peregrinos” luteranos na Sala Paulo VI, enquanto no Vaticano era homenageada uma estátua de Martinho Lutero [foto no topo], como aparece nas fotos que Antonio Socci difundiu em primeira mão em sua página do facebook. Além disso, o Papa Francisco viajará no próximo dia 31 de outubro a Lund, na Suécia, onde participará da cerimônia conjunta luterano-católico para comemorar o 500º aniversário do protestantismo. Como se lê no comunicado redigido pela Federação Luterana Mundial e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o objetivo do evento é “expressar os dons da Reforma e pedir perdão pela divisão perpetuada pelos cristãos das duas tradições”.


O teólogo e pastor valdense Paolo Ricca [foto ao lado], empenhado há décadas no diálogo ecumênico, manifestou a sua satisfação:
“Porque é a primeira vez que um Papa comemora a Reforma. Isso, na minha opinião, constitui um passo à frente em relação às metas significativas que foram alcançadas pelo Concílio Vaticano II, o qual — incluindo em seus textos e valorizando assim alguns princípios e temas fundamentais da Reforma — marcou uma reviravolta decisiva nas relações entre católicos e protestantes. Participar da comemoração, como se dispõe a fazer o representante supremo da Igreja Católica, significa, a meu ver, considerar a Reforma um evento positivo na história da Igreja, que fez bem inclusive ao catolicismo. A participação na comemoração é um gesto de grande significado, porque o papa irá a Lund, no lar dos luteranos, como se fosse um da família. A minha impressão é de que ele, de uma maneira que eu não saberia definir, também se sente parte daquela porção de cristianismo que nasceu da Reforma”. 

Segundo o mesmo Ricca, o principal contributo oferecido pelo Papa Francisco é:
 “O seu esforço para reinventar o papado, ou seja, a busca de um modo novo e diferente de entender e viver o ministério do bispo de Roma. Esta busca — supondo que a minha leitura acerte ao menos um pouco no alvo — poderia levar muito longe, porque o papado — pelo modo como foi entendido e vivido nos últimos 1000 anos — é um dos grandes obstáculos à unidade dos cristãos. Parece-me que o Papa Francisco está se movendo rumo a um modelo de papado diferente do tradicional, em relação ao qual as outras Igrejas cristãs poderiam assumir novas posições. Se assim fosse, este tema poderia ser completamente repensado em âmbito ecumênico”. 
 O fato de a entrevista ter sido publicada em 9 de outubro pelo Vaticano Insider, considerado um site semi-oficioso do Vaticano, sugere que esta interpretação da viagem a Lund e das intenções pontifícias seja autorizada e bem-vinda ao Papa Francisco.

Em 13 de outubro, no decurso da audiência aos luteranos, o Papa Bergoglio também disse que o proselitismo, é “o veneno mais forte contra o ecumenismo”. E acrescentou: “Os maiores reformadores são os santos e a Igreja deve ser sempre reformada.” Estas palavras contêm ao mesmo tempo, como é comum em seus discursos, uma verdade e um engano. A verdade é que os santos, de São Gregório VII a São Pio X, foram os maiores reformadores. O engano consiste em insinuar que os pseudo-reformadores, como Lutero, devem ser considerados santos. A afirmação de que o proselitismo ou o espírito missionário é “o veneno mais forte contra o ecumenismo” deve, pelo contrário, ser invertida: o ecumenismo, como entendido hoje, é o veneno mais forte contra o espírito missionário da Igreja. Os santos foram sempre movidos pelo espírito missionário, começando por aqueles jesuítas que no século XVI aportavam no Brasil, no Congo e nas Índias, enquanto seus irmãos Diego Lainez, Alfonso Salmeron e Pedro Canísio, reunidos no Concílio de Trento, combatiam os erros do luteranismo e do calvinismo.
São Pedro Canísio, no Concílio de Trento,
combateu os erros do luteranismo
e do calvinismo

Mas, para o Papa Francisco, quem está fora da Igreja Católica não deve ser convertido. Na audiência de 13 de outubro, respondendo de improviso às perguntas dos jovens, disse: “Eu gosto muito dos bons luteranos, dos luteranos que seguem verdadeiramente a fé de Jesus Cristo. No entanto, não gosto dos católicos mornos e dos luteranos mornos.” Com outra deformação da linguagem, o papa Bergoglio define como “luteranos bons” aqueles protestantes que não seguem a fé de Jesus Cristo, mas uma deformação dela, e como “católicos mornos” aqueles filhos fervorosos da Igreja que rejeitam a equiparação entre a verdade da religião católica e o erro do luteranismo.


Tudo isso leva a perguntar o que acontecerá em Lund no dia 31 de outubro. Sabemos que a comemoração compreenderá uma celebração comum, fundada no guia litúrgico católico-luterano Common Prayer (Oração Comum), elaborado com base no documento Do conflito à comunhão. Comemoração comum luterano-católica da Reforma em 2017, elaborado pela Comissão católico-luterana pela unidade dos Cristãos. Há quem tema com razão uma “intercomunhão” entre católicos e luteranos, que seria sacrílega porque os luteranos não acreditam na transubstanciação. Mas, sobretudo, se dirá que Lutero não é um heresiarca, mas um reformador injustamente perseguido, e que a Igreja deve recuperar os “dons da reforma”.

Quem se obstinar a considerar justa a condenação de Lutero e heréticos e cismáticos seus seguidores, deve ser severamente condenado e excluído da igreja do Papa Francisco. Mas a que Igreja, afinal, pertence Jorge Mario Bergoglio?

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Fonte: Corrispondenza romana, 19-10-2016. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.

16 de outubro de 2016

A “Revolução Cultural” investe impetuosamente contra a Família

A desagregação da Família em nossos dias avança implacavelmente devido a uma “Revolução Cultural” que promove os piores costumes. Para citar apenas um exemplo: a absurda e antinatural “Ideologia de Gênero” que vem sendo imposta apesar das reações surgidas de norte a sul do Brasil.

Para auxiliar os pais e mães a se defenderem e a melhor protegerem suas crianças, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira convidou o Desembargador Ricardo Henry Marques Dip [foto] para uma exposição aos interessados. 

Dr. Ricardo Dip é um dos maiores especialistas do sistema de Notas e Registros Públicos, Presidente da Seção de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Click no link para fazer sua inscrição a fim de participar gratuitamente do evento:

Local: Club Homs 
Endereço: Av Paulista, 735 — São Paulo (SP) 
Horário: 19:00 hs.

O MONGE APÓSTATA LUTERO, O HERESIARCA

O Papa Leão X, com a Bula Exurge Domine (15 de junho de 1520), na qual condena 41 dos erros defendidos por Lutero em 1517, afirma solenemente: “Pela autoridade do Deus Todo-Poderoso, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e de nossa própria autoridade, nós condenamos, reprovamos, e rejeitamos completamente cada uma dessas teses ou erros como heréticos, escandalosos, falsos, ofensivos aos ouvidos piedosos ou sedutores das mentes simples, e contra a verdade católica. Listando-os, nós decretamos e declaramos que todos os fiéis de ambos os sexos devem considerá-los como condenados, reprovados e rejeitados [...] Nós os proibimos a todos em nome da santa obediência e sob as penas de uma automática excomunhão [...]”.

O artigo abaixo foi publicado na revista Catolicismo em março deste ano, mas devido à atualidade que adquiriu com a notícia, largamente difundida pela mídia do mundo inteiro, a respeito do encontro no Vaticano, no dia 13 de outubro (data da última aparição de Nossa Senhora de Fátima em 1917), do Papa Francisco com aproximadamente 1000 luteranos, [foto acima] aqui transcrevo a matéria. 


No referido encontro com luteranos, vemos na foto, ao lado do Papa Francisco, que foi colocada uma imagem do herege Lutero, ex-monge que se "casou" com uma ex-freira

O simbólico gesto do Papa Francisco comemorando o heresiarca Lutero 


Luiz Sérgio Solimeo

Muitas vezes os atos e gestos simbólicos têm maior força de persuasão do que as palavras e os raciocínios, embora ambos se completem. Foi assim com o Divino Salvador, que alternava continuamente sua pregação com gestos simbólicos e o uso de metáforas e parábolas. 

Também por essa razão a Igreja sempre se cercou de símbolos, a fim de tornar mais perceptíveis a beleza de sua doutrina, a sacralidade de sua liturgia, a dignidade e a autoridade de seus hierarcas. O Papa era coroado solenemente, para simbolizar o poder a ele conferido por Nosso Senhor como sucessor de São Pedro no governo da Igreja e orientação da Cristandade.
Lutero queima, em praça pública, a bula papal...


Magistério por atos simbólicos 

O Sumo Pontífice atual faz muito uso dos gestos simbólicos e tem um magistério mais feito de atos e atitudes do que propriamente de palavras, embora as utilize, infelizmente com frequência, de modo confuso e mesmo escandaloso, como o famoso “quem sou eu para julgar?” 

Na linha de seu magistério através de atos e gestos, reveste-se de suma gravidade sua anunciada participação nas comemorações da revolta do monge apóstata e heresiarca Martinho Lutero. 

Com efeito, como informou o “Vatican Informative Service” de 25 de janeiro último, Francisco irá neste ano à cidade de Lund, na Suécia, onde “presidirá uma comemoração conjunta da Reforma em 31 de Outubro”(1) com dirigentes luteranos Como se recorda, foi nessa data que, em 1517, Lutero teria afixado as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg.(2)

A comemoração de um fato histórico não é uma simples lembrança do mesmo, como poderia ocorrer numa aula de história. É a rememoração festiva e com louvor de algo que se julga digno de admiração, imitação ou mesmo de devoção. É assim que o orbe católico comemorará em 2017 o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima. 

Como pode o Papa Francisco participar ativamente das comemorações da revolta de Lutero contra a Igreja e o Papado sem dar a impressão a católicos e não-católicos de que ele admira os atos e as doutrinas do heresiarca?


Condenação solene dos erros de Lutero 

Convém lembrar que na Bula Exurge Domine, de 15 de junho de 1520, o Papa Leão X [quadro abaixo] condenou solenemente 41 dos erros defendidos por Lutero em 1517: 
“Pela autoridade do Deus Todo-Poderoso, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e de nossa própria autoridade, nós condenamos, reprovamos, e rejeitamos completamente cada uma dessas teses ou erros como heréticos, escandalosos, falsos, ofensivos aos ouvidos piedosos ou sedutores das mentes simples, e contra a verdade católica. Listando-os, nós decretamos e declaramos que todos os fiéis de ambos os sexos devem considerá-los como condenados, reprovados e rejeitados [...] Nós os proibimos a todos em nome da santa obediência e sob as penas de uma automática excomunhão...” 
Do mesmo modo, o Papa condenava os outros escritos de Lutero: 
“Ainda mais, por causa dos precedentes erros e de muitos outros contidos nos livros ou escritos e sermões de Martinho Lutero, nós do mesmo modo condenamos, reprovamos e rejeitamos completamente os livros e todos os escritos e sermões do citado Martinho, seja em Latim seja em qualquer outra língua, que contenham os referidos erros ou qualquer um deles; e desejamos que sejam considerados totalmente condenados, reprovados e rejeitados. Proibimos a todos e a qualquer um dos fiéis de ambos os sexos, em nome da santa obediência e sob as penas acima em que incorrerão automaticamente, de ler, sustentar, pregar, louvar, imprimir, publicar ou defendê-los”.(3)


Furor contra o Papado 

Em seu estilo arrogante e vulgar, a resposta do heresiarca foi o panfleto de 4 novembro desse mesmo ano, Contra a Execrável Bula do Anticristo, no qual proclamava: 
“Tu, então, Leão X, e vós cardeais e o resto de vós em Roma, eu vos digo em vossa face [...] a renunciar à vossa blasfêmia diabólica e impiedade audaciosa, e, se não mudardes, teremos vosso lugar como possuído e oprimido por Satanás e como o maldito assento do Anticristo.” 
O furor de Lutero contra o Papado levou-o a incorrer sempre mais na vulgaridade, chegando a usar termos e a encomendar e promover gravuras inimagináveis.[um exemplo ao lado

Com um pedido de desculpas ao leitor, transcrevemos aqui uma amostra. Trata-se da apreciação feita por um historiador protestante do libelo de Lutero Contra o Papado em Roma, fundado pelo diabo, publicado na revista Concordia Theological Quarterly da Igreja Luterana do Sínodo de Missouri:
“Lutero superou até mesmo a violência e a vulgaridade da Contra Hanswurst [na qual atacava o duque católico Henrique de Brunswick] em seu libelo de 1545 intitulado Contra o Papado em Roma, fundado pelo diabo. Na esteira desses tratados, publicou uma série de xilogravuras escatológicas e violentas que, de um modo gráfico, sugeria como os bons cristãos deviam tratar o Papado. Nesses e em outros tratados, Lutero bestializava seus oponentes, com maior frequência comparando-os com suínos ou burros, ou chamando-os de mentirosos, assassinos, e hipócritas. Eles eram todos os asseclas do demônio. [...] [chamou o Papa Paulo III, 1534-1549] ‘Sua Sodomita Infernal’ Papa Paula III, e utilizou palavras como excremento por toda parte com toda naturalidade. Nas xilogravuras por Lucas Cranach, que Lutero encomendou no final de sua vida, a Igreja papista era apresentada como saindo de uma enorme diaba, e sugeria, mais uma vez, que o Papa, os cardeais e bispos deviam ser pendurados na forca com suas línguas de fora”.(4) 
O mesmo artigo informa: 
“Quando perguntado por que havia publicado as caricaturas, Lutero respondeu ter percebido que não tinha muito tempo de vida e que ainda tinha muito a ser revelado sobre o Papado e seu reino. Por esta razão, ele havia publicado as figuras, cada uma valendo por um livro, do que deveria ser escrito sobre o Papado. Era – afirmou ele – seu testamento”.(5)
Em 1529, Lutero proclamava: 
“Sob o papismo nós estávamos possuídos por cem mil diabos”(6). 
Uma das mais suaves críticas de Lutero ao Papa é este seu comentário nas Conversas à mesa:
“Anticristo é o papa e o Turco [o Grão-Turco] em conjunto; uma besta cheia de vida deve ter um corpo e uma alma; o espírito ou alma do anticristo é o papa, sua carne ou o corpo, o Turco. O segundo assalta e persegue a igreja de Deus corporalmente; o primeiro, espiritual e também corporalmente, com enforcamentos, fogueiras, assassinatos etc.”(7) 


Doutrina da falsa misericórdia 

A essência da doutrina de Lutero é a justificação somente pela fé. Mas a consequência dessa doutrina é um falso conceito da misericórdia de Deus. Analisando o livro do Cardeal Walter Kasper, Misericórdia: A Essência do Evangelho e a chave da vida cristã, Frei Serafino Lanzetta escreve:
“Historicamente, segundo julga Kasper, apoiado por O. H. Pesch, ‘a idéia de um Deus vingativo e castigador lançou muitos na angústia em relação à sua salvação eterna. O caso mais conhecido, e um prenúncio de graves consequências para a História, é o do jovem Martin Lutero, que foi durante muito tempo atormentado pela pergunta: ‘Como posso encontrar um Deus bondoso?’, até que ele reconheceu um dia que, no sentido da Bíblia, a justiça de Deus não é a sua justiça punitiva, mas a sua justiça justificadora e, portanto, sua Misericórdia’”.(8) 
Essa doutrina está bem sintetizada na famosa carta de Lutero a Melanchthon em 1521: 
“Se você é um pregador da misericórdia, não pregue uma misericórdia imaginária, mas a verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, você deve levar em conta um verdadeiro pecado, não um pecado imaginário. Deus não salva aqueles que são apenas pecadores imaginários. Seja um pecador, e peque fortemente, mas que sua confiança em Cristo seja mais forte, e alegre-se em Cristo, que é o vencedor do pecado, da morte e do mundo. [...] Basta que através da glória de Deus reconheçamos o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Nenhum pecado pode nos separar d’Ele, mesmo que matemos e cometamos adultério milhares de vezes por dia. Você acha que tal Cordeiro exaltado pagou apenas um pequeno preço com um magro sacrifício pelos nossos pecados? Reze forte porque você é um grande pecador. No dia da Festa de São Pedro Apóstolo, 1521”.(9)
Em outro lugar, escreveu Lutero: 
“É conveniente que nós nos tornemos injustos e pecadores, a fim que Deus seja reconhecido justo em suas palavras”.(10) 
Alguns escritores, mesmo católicos, procuram apresentar essas palavras de Lutero como meras hiperbóles, uma vez que ele também fala contra o pecado. No entanto, essa doutrina do pecca fortiter (peca fortemente) é a consequência da “iluminação” que ele recebeu na cloaca do convento, ou seja, de que é somente a fé, sem as obras — a “sola fide” — que salva.(11)

Já em 1516, portanto antes de sua revolta pública, Lutero escrevia ao seu confrade agostiniano George Spenlein: 
“Sê um real pecador, porque Cristo habita apenas nos pecadores”.(12)
No seu panfleto A Igreja no Cativeiro da Babilônia, Lutero deixa claro que o único pecado pelo qual uma pessoa pode se perder é o da incredulidade. Crendo, uma pessoa, por maior pecador que seja, estará salva:
“Veja quão rico é, portanto, um cristão, aquele que é batizado! Mesmo que ele queira, ele não poderá se perder, por mais que peque, a menos que deixe de crer. Porque nenhum pecado pode condená-lo, fora a incredulidade. Todos os outros pecados, enquanto retorne ou permaneça a fé na promessa de Deus feita no batismo, todos os outros pecados, digo eu, são imediatamente apagados por essa mesma fé, ou melhor, através da verdade de Deus, porque Ele não pode negar a si mesmo”.(13) 
Em um sermão de 1532, Lutero pregava: 
“Tirando a incredulidade, não há mais pecados: todo o resto são bagatelas. Quando meu pequeno Joãozinho vai defecar em um canto, a gente ri e acabou-se. Fides facit ut stercus non feteat [A fé faz com que as fezes não cheirem]. Resumo dos resumos: a incredulidade é o único pecado em relação ao Filho [de Deus]”.(14) 
O Papa São Gregório Magno celebra a Santa Missa tão odiada por Lutero


Lutero: a Missa católica, pior que um prostíbulo

Lutero pregava em 1524: 
“Sim, eu o digo, todos os prostíbulos, condenados, entretanto, severamente por Deus, todos os homicídios, mortes, roubos e adultérios, são menos prejudiciais do que a abominação da Missa papista”.(15) 
No já citado panfleto O Cativeiro da Igreja na Babilonia, Lutero dizia que o padre “oferecendo a missa como um sacrifício [...] é o auge da perversidade!”.(16) 


O Espirito de Verdade não induz ao erro 

As citações poderiam continuar, mas os textos apresentados são suficientes para deixar claro que as doutrinas e a personalidade do heresiarca — cuja revolta arrastou nações inteiras para fora do único redil de Cristo — nada têm de comum com a Igreja Católica. 

Não se entende então por que o atual Papa, ele mesmo um jesuíta, Ordem religiosa suscitada por Deus para combater o Protestantismo, empreenda uma viagem para comemorar o centenário de uma revolta contra a Igreja.

A missão dada a São Pedro foi a de alimentar as ovelhas de Cristo;(17) o encargo de confirmar os irmãos na fé;(18) ele recebeu as chaves do reino dos Céus(19) para conduzir as almas à bem-aventurança eterna. 

O Concílio Vaticano I deixou claro que:
“O Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que eles possam, por sua revelação, dar a conhecer algumas novas doutrinas, mas que, pela sua assistência, possam guardar religiosamente e expor fielmente a revelação ou depósito da fé transmitida pelos apóstolos”.(20)
Com efeito, o Espírito Santo é um “Espírito de Verdade”(21) e não pode inspirar o erro, seja por meio de palavras, atos, gestos ou atitudes. 


“Um sinistro supermercado de religiões” 

Em situação semelhante, por ocasião do quinto centenário do nascimento do monge apóstata [pintura abaixo], o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que dedicou sua vida à defesa da Igreja e do Papado, escreveu estas palavras de advertência: 
“Não compreendo como homens da Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo e indiretamente com todas as religiões, escolas filosóficas etc.
E concluiu: 
“Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria — se até lá se pudesse chegar — a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça”.(22)  


A Igreja vencerá mais esta crise 

No seu luminoso ensaio Revolução e Contra-Revolução, o mesmo pensador católico escreveu estas palavras cheias de esperança sobre a Igreja:
“Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas, poderia ela dizer ufana e tranquila em meio às tormentas por que passa hoje. A Igreja já lutou em outras terras, com adversários oriundos de outras gentes, e por certo enfrentará ainda, até o fim dos tempos, problemas e inimigos bem diversos dos de hoje”(23).
Aproximando-se o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, peçamos a Ela que apresse o cumprimento da promessa feita nessa ocasião: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”.

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Notas: 
1. http://www.news.va/en/news/joint-ecumenical-commemoration-of-the-reformation (Salvo indicação em contrário, todas as ênfases nos textos aqui citados são do autor deste artigo). 
2. O historiador Pe. Ricardo Garcia-Villoslada, S.J., em seu livro sobre Lutero, apresenta argumentos e documentação muito convincentes de que este ato não se deu. Nem Lutero o menciona em seus escritos, nem tal fato é registrado por cronistas contemporâneos. Foi somente depois de sua morte que Melanchthon, que não estava em Wittenberg nessa época, mencionou o suposto ato. Caso ele tivesse ocorrido, posto que era véspera de Todos os Santos, uma festa muito concorrida na igreja do Castelo de Wittenberg, teria chamado muito a atenção e seria referido nas crônicas. (Ricardo García-Villoslada, Lutero El Frayle Hambriento de Dios, BAC, Madrid, 1973, v. 1, pp.334-338). Mas o que importa é que, real ou não, esse fato ficou como símbolo da revolta luterana. 
3. Leão X, EXSURGE DOMINE, 15.06.1520, Tradução: José Fernandes Vidal, at http://agnusdei.50webs.com/exsdom1.htm, acessado em 2/2/16.xxxxxxxxxxxx 4. Mark U. Edwards, Jr., Luther's Last Battles, CONCORDIA THEOLOGICAL QUARTERLY, Volume 48, Numbers 2 & 3 APRIL-JULY 1984, pp. 126-127 (emphasis original), http://www.ctsfw.net/media/pdfs/edwardslutherslastbattles.pdf, acessado em 29/1/16. 
5. Idem, p. 133.
6. Werke, t. XXVIII, p. 452, 11, apud J. Paquier, Luther, Dictionnaire de Théologie Catholique, v. IX, premire partie, col.1170. 
7. THE TABLE-TALK OF MARTIN LUTHER ,TRANSLATED BY WILLIAM HAZLITT, Esq. 
8. Philadelphia: The Lutheran Publication Society. 1997, at http://reformed.org/master/index.html?mainframe=/documents/Table_talk/table_talk.html, (acessado 27/1/16). Fr Serafino M. Lanzetta, Kasper's Perplexing Notion of "Mercy" Is Not What Church Has Always Taught - an extensive book review, and its implications for Marriage, at http://rorate-caeli.blogspot.com/2014/09/kaspers-perplexing-notion-of-mercy-is.html, acessado 1/2/126.
9. Let Your Sins Be Strong: A Letter From Luther to Melanchthon, Letter no. 99, 1 August 1521, From the Wartburg (Segment) Translated by Erika Bullmann Flores from: _Dr. Martin Luther's Saemmtliche Schriften Dr, Johannes Georg Walch, Ed. (St. Louis: Concordia Publishing House, N.D.), Vol. 15,cols. 2585-2590. http://www.iclnet.org/pub/resources/text/wittenberg/luther/letsinsbe.txt (acessado 27/1//16).
10. Werke, t. IV, p. 343, 22, apud J. Paquier, Luther, Dictionnaire de Théologie Catholique, v. IX, premire partie, col. 1212.
11. Em 1532 Lutero fazia a seus convivas a seguinte confidência, recolhida nas Conversas à mesa: “O Espírito Santo me deu essa intuição nesta cloaca” (T.R., t. II, n. 1681, t. III, n. 3232ª, in Paquier, col. 1207).
12. Enders, Luthers Briefwechsel, I, p. 29, in Hartmann Grisar, S.J., Martim Luther his Life and Work, The Newman Press, Wstminster, Maryland, 1960, p. 68.
13. Martin Luther, The Babylonian Captivity of the Church - A prelude 1520, 3.8, at http://www.lutherdansk.dk/Web-babylonian%20Captivitate/Martin%20Luther.htm (acessado 281//16).
14. Werke, t. XXXVI, p. 183, 7, in Paquier, col. 1249.
15. Werke, t. XV, p. 774, 18, apud J. Paquier, col. 1170.
16. The Babylonian Captivity of the Church, n.7.11, http://www.lutherdansk.dk/Web-babylonian%20Captivitate/Martin%20Luther.htm. 
17. São João 21:15-17.
18. São Lucas 22:32.
19. São Mateus 16:19.
20. Denzinger 1836.
21. São João 14:21. 
22. Lutero pensa que é divino!, 10 de janeiro de 1984 , Folha de S. Paulo, at http://www.pliniocorreadeoliveira.info/FSP_84-01-10_Lutero_pensa.htm#.VrE9ilkwCZM, acessado 2-2-16.
23. Revolução e Contra-Revolução, II, 12, at http://www.pliniocorreadeoliveira.info/RCR.pdf. acessado 3-2-16.