27 de dezembro de 2020

Quantos Beethovens foram abortados?

 


Quantos homens que teriam futuro brilhante foram abortados? Mas ainda que não viessem a ser brilhantes, milhões de inocentes são executados todos os anos. 

✅ Paulo Roberto Campos 

No dia 17 de dezembro, em todos os países foram celebrados os 250 anos de nascimento daquele que é considerado um grande gênio musical e um dos maiores compositores clássicos dos séculos XVIII e XIX: Ludwig van Beethoven.

De extraordinário talento, com apenas 10 anos de idade, Beethoven dominava brilhantemente todo o repertório de Johann Sebastian Bach, e com 12 anos compôs as suas primeiras peças, hoje ouvidas e admiradas no mundo inteiro. 

A propósito da celebração, para este Blog da Família convém lembrá-lo sob um ponto de vista diferente para se execrar a prática do aborto. 

Um muito interessante diálogo imaginário entre dois médicos foi publicado pelo jornal portuense “A Ordem”. 

Eis o diálogo: 
— Suponhamos que você seja o médico de uma família em que o pai é sifilítico, o primeiro filho é cego, o segundo nasceu aleijado, o terceiro tuberculoso, o quarto oligofrênico, e a mãe, que espera o quinto filho vem-lhe pedir que faça um aborto. O que você faria?

O outro médico responde prontamente: 

— Neste caso não teria dúvidas em atendê-la. Seria mais do que justo. 

O primeiro médico, jocoso, arremata em tom fulminante: 

— Parabéns! Você acaba de assassinar Ludwig van Beethoven... 

A atitude irracional, precipitada e pecaminosa do médico abortista teria assim não só privado um ente do mais elementar dos direitos — o direito à vida — mas impedido a humanidade de enriquecer-se com um inegável talento musical...

24 de dezembro de 2020

Senhor, venha a nós o Vosso Reino!


“Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura. E subitamente ao Anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no mais alto dos Céus e na Terra paz aos homens de boa vontade” (São Lucas 2, 10-14). 

✅  Paulo Roberto Campos 

Com meus votos de um Abençoado e Feliz Natal, assim como de um Novo Ano repleto com as melhores bênçãos divinas para os diletos leitores do Blog da Família, rogo a Jesus, Maria e José que a todos concedam abundantes graças para suas atividades em 2021. Assim, ainda que muitas dificuldades tenhamos que enfrentar, teremos forças para vencê-las.

Neste 2020, que caminha para seu fim, certas forças revolucionárias pretenderam, em nome da pandemia, eliminar as celebrações de Natal com as famílias reunidas; pretenderam fechar as igrejas e “apagar” as luzes sobrenaturais de Natal; pretenderam um Natal sem as alegrias próprias desta magna celebração da Cristandade. Até as onipresentes máscaras concorreram para tapar a fisionomia sorridente própria à felicidade natalina; máscaras que colaboraram para esconder a alegria de Natal até mesmo nas faces infantis. Mas tais forças nada conseguirão contra o “Lumen Christi”, pois nunca se apagará, brilhará sempre alimentando nos corações e nas almas a esperança de uma época maravilhosa que virá. Esse sonho não é devaneio, é a certeza da Vitória final que a Deus pertence e revelado em Fátima em 1917. 

Rezemos para que neste Novo Ano a Luz de Cristo, pela intercessão da Santíssima Virgem, possa se manifestar mais intensamente sobre todos nossos Amigos e iluminar com a verdade divina todos os acontecimentos que nos aguardam. 

Genuflexo diante do Santo Presépio, de todo coração agradeço à Sagrada Família pelos favores que nos concedeu neste ano findo e que não permita a dissolução moral que a Revolução gnóstica e igualitária planeja para destruir a instituição da família como Deus estabeleceu. 

“Domine, adveniat regnum tuum!” Senhor, o quanto antes venha a nós o Vosso Reino, que logo seja feita Vossa vontade assim na Terra como no Céu!

23 de dezembro de 2020

O Salvador desceu do Céu para te procurar

 


Nesta véspera do Natal do Divino Infante, seguem alguns pensamentos para meditarmos sobre o magno acontecimento da Cristandade 


“Tendo, pois, nascido Jesus em Belém de Judá, nos dias do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém, dizendo: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’”. 
(São Mateus, 21-12) 


“Aquele que só pertencia a si mesmo, quis nascer para nós e dar-se a nós”. 
(São Bernardo) 


“Que queres mais, ó homem? Que esperas ainda para te dares sem reserva a teu Deus? Considera as penas que Jesus sofre por ti. Vê com que amor esse terno Salvador desceu do Céu para te procurar. Não ouves os seus gritos, os seus vagidos infantis? Apenas nascido, dirige-se a ti; escuta como ele te chama com seus vagidos. Parece dizer-te: ‘Ó alma a quem amo, eu te procuro; é por amor de ti, para obter o teu amor, que vim do Céu à Terra’”. 
(São Bernardino de Sena) 


“Não tendes razão de vos afligirdes por causa da sentença de morte pronunciada contra vós, pois hoje nasceu-vos Aquele que vos traz a vida”. 
(São Leão) 


“Para que o servo se tornasse Senhor, Deus quis fazer-se servo”. 
(Santo Agostinho)

17 de dezembro de 2020

Na mesa se decide o fracasso ou triunfo familiar e social


   Luis Dufaur

Numa refeição em família, o mais importante da mesa não é a comida, e sim o relacionamento, a conversa na qual se modela o espírito familiar. 

De acordo com Denise Beckford, especialista em relacionamento familiar, este é o ‘prato’ mais saboroso e agradável do contato humano. O Pediatric Academic Society Meeting concluiu que as crianças que partilham da mesa com os pais são mais bem sucedidas na vida, com bom equilíbrio emocional, além de serem menos propensas a atos violentos. 


Quem se acostumou a uma mesa caótica não fará orçamentos ou relatórios ordenados. Que imagem passará um profissional que num almoço de trabalho não sabe utilizar adequadamente os talheres? 

Uma cerimonialista acrescenta: “A violência familiar resulta de uma comunicação paupérrima, falida, que começou à mesa. Os adolescentes não sabem se expressar com palavras, então apelam aos golpes”.

12 de dezembro de 2020

Variedade e Unidade nas Canções de Natal

 

Por meio de seus cantos natalinos, cada povo glorifica a seu modo o Menino Jesus 

  Plinio Corrêa de Oliveira

Nas diversas nações, os cânticos de Natal variam de acordo com a índole nacional, mas em todos estão sempre presentes as mesmas notas apropriadas à Noite Santa. Há canções natalinas norte-americanas, brasileiras, italianas, alemãs, francesas, espanholas etc. São bem diferentes umas das outras, entretanto manifestam-se em todas os mesmos sentimentos despertados pelo Menino Jesus, por Nossa Senhora, por São José, pelo presépio. Quais são esses sentimentos? 

O primeiro é a inocência. Os vários povos souberam compor verdadeiramente hinos de entusiasmo à inocência do Menino Jesus, que repercutem sob a forma de acordes a inocência de cada um ao glorificá-Lo. O entusiasmo que cada povo manifesta pela inocência do Divino Menino reflete um elemento de inocência que há em nós. Se não tivéssemos inocência alguma, não nos interessaríamos por Ele. Há quem não se interesse por Ele, ou aparenta interesse por pura formalidade. Como há em nós uma inocência, nos interessamos e cantamos a inocência presente n’Ele. 

Está presente também o sentimento de ternura, pelo fato de o Menino Jesus ser tão frágil e pequeno, sendo ao mesmo tempo Deus. Há uma espécie de ternura, de compaixão, pois Ele é o Homem Deus — tão grande, entretanto contido naquela Criancinha. Disso decorre a vontade de proteger o Menino Jesus contra qualquer fator agressivo. Assim, algumas canções de Natal sugerem uma nota de defesa do Divino Infante. 


As canções natalinas dos diversos países apresentam certa analogia com o sol, cuja luz tem a mesma cor; porém, quando ela atravessa um vitral, seus raios tomam coloridos diferentes, mas harmoniosos. A luz do sol que incide sobre o vitral projeta belezas como a de pedras preciosas. 

Da mesma forma, o Menino Jesus é um só. Mas, quando cantado pela alma anglo-saxônica, notamos certo tipo de beleza; pela alma germânica, outro aspecto do belo; pela alma latina, brasileira, hispano-americana, surgem outras belezas. Já ouvi canções eslavas, inclusive russas; muito bonitas, mas com outras notas. Todas essas canções formam como que um vitral do Menino Jesus. 
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 30 de dezembro de 1988. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

Aproximando-nos de Maria, estaremos próximo do Menino Jesus

 


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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 840, Dezembro/2020
 

Não deixemos o Natal morrer! 

Sobretudo neste ano em que, a pretexto da pandemia, são anunciadas suspensões ou restrições às belas e tradicionais cerimônias natalinas, especial dedicação e amor devemos consagrar às celebrações em honra do Menino Jesus. Com o fiat da Virgem Maria, Ele assumiu diante de Deus a missão de resgatar a culpa da humanidade pelo pecado de Adão, e sua vinda ao mundo abriu a redenção à humanidade pecadora. 

Nesse sentido, e a fim de auxiliar os leitores em uma proveitosa meditação junto ao presépio — o qual recomendamos empenhadamente seja montado em cada lar, como antigamente —, a revista Catolicismo publica na edição deste mês [capa acima] quatro matérias relacionadas ao Santo Natal. 

Na mais profunda delas, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira comenta uma evocativa jaculatória: “Coração de Maria, no qual o Sangue de Jesus, preço de nossa redenção, foi formado”. O autor considera a sublime e insondável união entre Nossa Senhora e seu Filho Divino, na bendita noite de Natal, e expõe como nós, aproximando-nos d’Ela, nos aproximaremos do Menino Jesus. Tendo vindo ao mundo por meio d’Ela, por este mesmo caminho chegaremos a Ele, pois Nosso Senhor deseja que nos aproximemos d’Ele por intercessão de Sua Mãe Santíssima. 

Três outros textos incluem: um conto de Natal; um relato sobre preciosos costumes de Natal (como o ‘pudding’ real inglês); outro sobre canções natalinas, mostrando a unidade presente na variedade dos cânticos com os quais cada povo louva o Divino Infante com o seu modo peculiar. 
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Em outra ordem de assuntos, a revista destaca também o importante manifesto lançado recentemente pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, juntamente com 25 associações coirmãs e autônomas nos cinco continentes. Indica ele a necessidade de se resistir a diversos fatores — elencados e analisados no documento — que estão concorrendo para a autodemolição da Igreja, lamentavelmente executada por mãos de altas autoridades eclesiásticas. Ação traiçoeira, que agrava a crise e arruína a Cristandade. 

Entre os mencionados fatores de autodemolição, a título de exemplo, menciona-se o pronunciamento do Papa Francisco sobre “o reconhecimento legal das uniões homossexuais” e sua última encíclica Fratelli Tutti, contradizendo e entrando em confronto com o Magistério Tradicional da Igreja. 

Persiste, portanto, a necessidade de uma resistência respeitosa e efetiva a algumas posições da autoridade eclesiástica, lastreada na célebre declaração de resistência — de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira, publicada no mundo inteiro em 1974, e também transcrita em Catolicismo (Vide: http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0280/P01.html). 
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A dramática situação na qual nos encontramos neste fim de ano contém um convite a que nos voltemos especialmente para a Sagrada Família — Jesus, Maria e José —, depositando a seus pés nossas súplicas pela urgente vitória da Igreja e da Cristandade, hoje tão ameaçadas pela autodemolição. 

São esses nossos votos de Natal, extensivos a todos os nossos leitores e suas respectivas famílias. Que Deus, pela mediação de sua Mãe Santíssima, a todos abençoe e ilumine em suas atividades ao longo do Novo Ano que se aproxima. 
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Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo, envie um e-mail para catolicismo@terra.com.br

7 de dezembro de 2020

A Imaculada Conceição na luta entre a Revolução e a Contra-Revolução

 


O dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi proclamado por Pio IX com a bula Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854. Em memória desse acontecimento, seguem alguns comentários de Plinio Corrêa de Oliveira. 


Um dos fatos mais culminantes do pontificado de Pio IX [1846-1878] — depois de São Pedro, o pontificado mais longo da história — foi a definição do dogma da Imaculada Conceição, proclamando que a Virgem Maria foi concebida sem pecado original. 

Desde sempre houve duas correntes ante a definição do dogma da Imaculada Conceição: uma que o defendia, e outra que o combatia. Durante o pontificado de Pio IX, combateram a Imaculada Conceição os que se moviam de acordo com os pruridos revolucionários; e se empenharam a favor d’Ela os contra-revolucionários, que pediram ao Papa a proclamação do dogma. De algum modo, a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução estava presente na luta entre essas duas correntes. 

Pio IX foi um dos Papas mais contra-revolucionários da história, o que se manifesta particularmente em duas notas contidas nessa definição: em primeiro lugar, a Virgem Santíssima tinha, em sua vida terrena, o perfeito uso da liberdade; aceitava sempre tudo que lhe indicava de ordenado a razão, iluminada pela fé, e não encontrava em si qualquer espécie de obstáculo interior à voz da razão e da fé. Ela era cheia de graça, e suas decisões se voltavam sempre para tudo o que é bom e verdadeiro. Esse privilégio de Nossa Senhora, por si só, deixa os revolucionários furiosos. 

Mas havia uma razão ainda mais profunda para a Revolução odiar esse dogma. O revolucionário ama o mal, é simpatizante do mal, alegra-se quando encontra em alguém um traço de mal; ele procura o mal em tudo, age em sintonia com o que não é bom; e tem, pelo contrário, grande revolta diante de uma pessoa sem qualquer vestígio de mal. Ora, a simples ideia de um ser tão excelsamente bom e santo, desde o primeiro instante de sua concepção, causa ódio num revolucionário. 

Um indivíduo afundado na impureza sente que as inclinações impuras o dominam. Naturalmente se envergonha e sente-se deprimido por estar nessa condição, e revolta-se ante a simples ideia de existir uma pessoa como Nossa Senhora, que não tinha nenhuma mácula, nenhuma inclinação para a impureza e para o mal, e era toda feita da mais transcendental pureza. O orgulho revoltoso, esmagado pela pureza imaculada da Virgem Santíssima, o conduz a um alto grau de antipatia e ódio. E a definição de tal privilégio — ausência de qualquer prurido de Revolução em Maria — provoca repulsa, dor e ódio nos revolucionários. 

Podemos assim compreender que no século XIX, época em que a Revolução já espalhara labaredas por todo o mundo, houvesse pessoas indignadas com a definição do dogma proclamado pelo Bem-aventurado Pio IX. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 15 de junho de 1973. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

29 de novembro de 2020

O elefante “Happy” é uma pessoa?

 


  Paulo Roberto Campos 

Quando li o título acima (num artigo de Robin Richardot, publicado no Le Monde de 27-11-20), imaginando o pior, lembrei-me do dito “Parem o mundo, que eu quero descer!”. Mas depois, lendo o artigo, dei-me conta que nem tudo está perdido neste mundo e que, portanto, não preciso dele “descer”. Pelo menos por enquanto... 

Explico-me. 

No zoológico de Bronx (Nova York), há um elefante chamado “Happy” (Feliz) [foto acima]. Agentes de um movimento protetor dos animais, a Nonhuman Rights Project, entraram na justiça para que o paquiderme fosse reconhecido como pessoa e adquirisse personalidade legal. Mas a Suprema Corte de Nova York rejeitou esse pedido anti-humano. Ufa! Realmente nem tudo está perdido.


No dia 19 de novembro último, aquela Corte de Nova York considerou o caso de “Feliz” e, felizmente, os juízes rejeitaram o pedido dos ditos “protetores dos animais”. Estes alegavam que “Numa época em que a ecologia e o bem-estar animal são preocupações cada vez mais comuns, devemos parar de pensar que os seres humanos são os únicos que podem usufruir de direitos”... Eles já haviam processado o zôo de Bronx, em outubro de 2018, acusando-o de cercear a liberdade do “Feliz”, que sofria de solidão há dez anos no jardim zoológico. O movimento “argumenta” com o caso de um orangotango [foto ao lado] na Argentina que em 2014 foi reconhecido pela justiça como “pessoa não humana”(sic). 

No caso do elefante, graças a Deus não prevaleceu a irracionalidade. Um dos argumentos dos juízes foi bem simples, como escreveu o citado jornalista do Le Monde: “Na França, a morte de Elisa Pilarski, em novembro de 2019, levanta a questão da responsabilidade de um animal perante a justiça. Seu cachorro, um pit bull, suspeito de matá-la, portanto considerado perigoso, poderia ser condenado [eutanasiado]. Uma culpa confirmada por um laudo pericial. No entanto, a Fundação Brigitte-Bardot espera salvar o cão. O caso mostra que um cão não pode ser julgado como um homem”

Feliz do elefante “Feliz”, pois se fosse reconhecido como pessoa, poderia, como qualquer pessoa, ser condenado por eventuais práticas criminosas, furto de comida, trombadas, agressões etc.  

Incoerência e hipocrisia do movimento abortista 


Com este artigo, meu desejo é chamar a atenção para uma questão mais séria: a descriminalização do aborto e a criminalização de pessoas por maltratar animais. Não é uma atitude animalesca defender a liberdade de se matar um ser humano no ventre materno e pedir a condenação de alguém que eventualmente não tenha tratado bem um animal? 

Não defendo o direito de tratar com crueldade os animais — gosto muito deles, por exemplo de cachorros, como os das raça labrador, pastor-alemão, dálmata etc. — , mas não podemos cair na insanidade de certos movimentos que defendem o fechamento de zoológicos, mas defendem o direito de se abrir clínicas de aborto. 

Outros defendem até os “direitos humanos dos animais”, entretanto não defendem os direitos humanos dos bebês nos claustros de suas mães e não dizem nada contra a prática de se executá-los e jogá-los na lata de lixo hospitalar, sequer com o direito de um funeral digno, enquanto crescem os cemitérios para cães e gatos. 


Muitos não defendem explicitamente a prática abortiva, mas são cúmplices, pois não fazem nada para impedir essa grave violação do 5º Mandamento da Lei de Deus, “NÃO MATAR”. As pessoas que fecham os olhos para essa ignomínia não são cúmplices? Ficando indiferentes, elas não acabarão por humanizar o animal e aceitar a pena de morte executada contra inocentes nascituros? Deixo a resposta com o célebre escritor inglês Chesterton: “Onde quer que haja adoração a animais, ali haverá sacrifício humano"... 

Nesses caóticos dias, assistimos uma verdadeira inversão de valores com a tentativa de se igualar o ser humano ao animal. No alastramento desse igualitarismo, chegar-se-á à irracionalidade: adoração do animal, colocando-o acima dos seres humanos — entretanto criados à imagem e semelhança de Deus para serem os reis da Criação.

25 de novembro de 2020

Comunismo criminoso e diabólico

Manifestantes derrubam estátua de Lênin em Kiev (Ucrânia)

  Paulo Roberto Campos

No dia 4 de novembro, o parlamento eslovaco aprovou uma emenda declarando o Partido Comunista uma organização criminosa. A Eslováquia se junta à Ucrânia, Lituânia, Letônia e Polônia — países que tomaram medidas semelhantes de “descomunistização”. Conforme matéria de Álvaro Peñas, do periódico madrileno “El Correo de España”, a emenda também proíbe monumentos, placas comemorativas e até nomes de praças e ruas, relacionados à ideologia comunista. 


Entretanto, na Rússia — onde há 5.776 ruas com o nome de Lênin... — quando algumas cidades tomam atitudes semelhantes, surgem enormes obstáculos levantados pelo governo Putin. Por exemplo, na pequena cidade de Tarusa, os habitantes, com o apoio da Prefeitura, resolveram mudar o nome de uma determinada “Rua Lênin” [foto ao lado], e de 15 outras ruas e uma praça do centro da cidade. No lugar, as autoridades colocariam nomes relacionados à história anterior ao regime comunista na ex-URSS. 

Putin recebendo o líder comunista
Gennady Ziuganov

Essa tão justa iniciativa enfureceu Presidente do Conselho Central da União dos Partidos Comunistas, Gennady Ziuganov [foto]. Esbravejando, ele disse que tal medida representava “uma humilhação da grande era soviética” e que era uma medida “nazista e fascista”. Com efeito, ele é fiel à orientação de Putin, que visa renovar na população russa, sobretudo junto às crianças e adolescentes, o entusiasmo por figuras comunistas como Lênin e Stalin, assim como pelo passado soviético desde 1917. 

Muito justamente escreveu Álvaro Peñas que a nova ‘história’ oficial não apenas ergue monumentos em homenagem aos assassinos, como também procura apagar gradualmente a lembrança de suas vítimas. Por isso, monumentos e placas lembrando aqueles que foram executados pelos bolchevistas estão sendo abandonados e paulatinamente removidos. 

Em Tomsk (Siberia) museu para
recordar as vitimas do comunismo

Devido à mesma orientação putinista, museus ou memoriais que homenageiam as vítimas do comunismo não recebem verbas estatuais e, assim, são obrigados a fechar. 

Conclui o jornalista do “El Correio de Espana”: “Como sabemos, quando a história é colocada a serviço do Estado ou da ideologia, a primeira vítima é a verdade”. E a verdade não é outra senão aquela que está registrada e que ninguém poderá apagar: a Rússia, bem como as nações subjugadas por ela, foi tiranicamente dominada pelo criminoso regime comunista, ateu e materialista, que executou pelo menos 100 milhões de pessoas — segundo o célebre “Livro Negro do Comunismo”. Pior ainda, matou a fé em Deus em outros tantos milhões de almas e espalhou os erros comunistas pelo mundo inteiro! 


O antigo Arcebispo de Lvov e Patriarca de Halich, líder da Igreja Católica na Ucrânia durante as perseguições de Lênin e Stalin, Mons. André Sheptyskyj [foto], deixou registrado para a História numa carta ao Vaticano: “O regime comunista só pode se explicar como um caso de possessão diabólica coletiva”. 

Como seria salutar para a Igreja e para o mundo se hoje tivéssemos grandes e santos exorcistas!

24 de novembro de 2020

A MELHOR DAS ESMOLAS

 


✅  Plinio Maria Solimeo 

As editoras costumavam lançar pelo menos um título por mês, dada a apetência de leitura que o público tinha. Com o surgimento da TV, e sobretudo da internet, passou a prevalecer a “civilização da imagem”, e a capacidade de abstração do homem foi se reduzindo a ponto de hoje não despertar interesse senão aquilo que se dirige diretamente à fantasia. Daí a dificuldade que se tem em nossos dias da leitura de um livro de caráter doutrinário ou histórico. 

Entretanto, Santo Antônio Maria Claret [foto acima e abaixo], o grande missionário espanhol do fim do século XIX, fundador dos claretianos, ressaltava o papel preponderante da leitura para a evangelização, pois ela alimenta a alma do mesmo modo que a comida nutre o corpo faminto. Mas assim como a comida deteriorada prejudica a saúde do corpo, a leitura de maus livros corrompe a alma. 

Periódicos ímpios, folhetos heréticos e demais escritos perniciosos corrompem as crenças, pervertem os costumes, extraviam o entendimento e corrompem o coração. E do coração corrompido saem todos os males, como diz Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 15, 19), até se chegar a negar a primeira verdade, que é Deus, origem de todo o verdadeiro: “Disse o depravado em seu coração: ‘não há Deus’” (Sl 2, 16). 

Santo Antônio Claret passou grande parte de sua vida como missionário. E para que seus sermões tivessem efeito duradouro sobre os fiéis, procurava todos os meios que a sua fértil imaginação lhe sugeria. Um deles, ensinado pela experiência, que considerava o melhor e mais poderoso, era a imprensa, se bem seja igualmente a arma mais letal quando dela se abusa, acrescentou ele. Por isso, dedicou-se com afinco à publicação de bons livros e mesmo de folhetos de fundo religioso como auxiliares de sua pregação. 

Em sua autobiografia diz: “Quando ia missionando, cuidava de todos os aspectos da missão; e, segundo via e ouvia, escrevia um livrinho ou um folheto. Assim, se na população observava que havia o costume de entoar cânticos desonestos, publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral”. Pelo que desde o início de seu apostolado publicou folhetos que continham meios para se combater a blasfêmia. 

Na ocasião em que começou a pregar, constituía coisa escabrosa a quantidade e a gravidade de blasfêmias que se ouviam em todas partes. Parecia a ele que todos os demônios do inferno se haviam espalhado pela Terra a fim de fazer os homens blasfemarem. Igualmente, a impureza havia rompido os seus diques, e por isso resolveu escrever dois folhetos com instruções para combatê-la. 

Segundo ele, para todos os males, é remédio muito poderoso a devoção a Maria Santíssima, assim no início dos folhetos escreveu a oração: 
“Ó Virgem e Mãe de Deus, eu me entrego por filho vosso e, em honra e glória de vossa pureza, vos ofereço minha alma e corpo, potências e sentidos, e vos suplico que me alcanceis a graça de não cometer nenhum pecado [neste dia]. Amém. Mãe, aqui tendes vosso filho! Em vós, Mãe dulcíssima, pus toda minha confiança, e jamais serei confundido. Amém”. 

Percebendo os bons resultados que esta publicação produzia nas almas, resolveu escrever outras, segundo as necessidades que observava na sociedade, e distribuía esses folhetos com profusão não só aos adultos, mas aos meninos e meninas que se aproximavam dele. Afirma um seu biógrafo que na Catalunha essa oração tornou-se tão popular como a Salve Rainha. 

Tal foi a repercussão da ação deste ardoroso missionário, de sua pregação e de seus escritos que um periódico de Madri registrou no tempo dele: “A Catalunha se comove ouvindo a divina palavra da boca de um homem de 36 anos, e este homem é Antônio Claret. [...] O Padre Claret não tem um momento de descanso. Seus sermões duram geralmente hora e meia. O confessionário lhe ocupa boa parte do dia, de maneira que rouba ao sono o tempo que consagra em escrever livros piedosos para uso do povo. [...] Louvor, pois, a esse eclesiástico benemérito que soube adquirir uma justa celebridade, que como São Vicente Ferrer aparta os povos do lodo dos vícios, e os instrui na ciência da vida. Grande é a sua missão regeneradora”. 

O êxito obtido em todas as camadas da sociedade foi tão grande que o próprio missionário chegou a afirmar: “Graças sejam dadas a Deus, todos os livrinhos têm produzido bons resultados; mas dos que produziram mais conversões foi O Caminho Reto, e o Catecismo Explicado”. 

Principalmente o primeiro teve muita procura, não só entre a gente do povo mas igualmente das mais altas autoridades do país, observou ele. Da leitura desses livros saíram muitas conversões, e mesmo na Corte, não passava dia em que não se apresentassem almas determinadas a mudar de vida por sua leitura. Todos o buscavam, e não descansavam até obtê-lo. 


Tal desejo o obrigou a fazer uma impressão de luxo [foto ao lado] para as pessoas mais categorizadas. Com efeito, o procuraram a rainha, o rei, a infanta, damas do palácio, fidalgos e toda a nobreza. Pode-se dizer que na classe alta não houve casa ou palácio onde um ou mais exemplares da edição de luxo de O Caminho Reto não tivesse penetrado, e nas demais classes, da edição popular. 

Apenas um exemplo do bem que as leituras contidas em estampas religiosas ou nos folhetos operava. Narra ele que numa cidade, quatro réus aguardavam as respectivas execuções, e não queriam se confessar. Santo Antônio deu então a cada qual uma estampa religiosa, com considerações espirituais no verso. Lendo-as, eles refletiram e se confessaram, receberam o Santíssimo Viático, e tiveram morte edificante. 

Considerando o grande bem que faziam seus livros e folhetos, Santo Antônio Maria Claret, para torná-los mais acessíveis, em 1848 fundou em Barcelona uma Imprensa Religiosa, colocando-a sob a proteção de Maria Santíssima de Montserrat, como padroeira que é da Catalunha, e do glorioso São Miguel. 

Com a impressora fundou a Livraria Religiosa para difundir sua literatura espiritual, fazendo com que eclesiásticos e seculares se provessem de bons livros, os melhores de que se sabe, ao mais ínfimo preço, de modo que nenhuma impressora da Espanha fornece livros tão baratos como os da Livraria Religiosa. 

Afirma o santo: “Em todos os livros publicados não se buscou o lucro, mas a maior glória de Deus e o bem das almas. Nunca cobrei um centavo como propriedade intelectual do que mandei imprimir; ao contrário, doei milhares e milhares de exemplares, e continuo doando e, com a ajuda de Deus, doarei até a morte, pois considero ser a melhor esmola que se pode fazer”

Hoje fala-se muito nos pobres, mas se faz pouco por eles. Há muita demagogia sobre seu bem-estar material. Até entre eclesiásticos de todos os níveis fala-se muito pouco ou quase nada do bem-estar espiritual deles. Esquecem-se que, como diz o grande Santo Antônio Maria Claret que dedicou a vida a dar aos desprovidos dos bens materiais a “maior esmola que se pode dar”, ou seja, a instrução e assistência religiosa para lhes abrir as portas da bem-aventurança eterna.

18 de novembro de 2020

É errado falar de Nossa Senhora enquanto mãe solteira?

Anunciação – Girolamo Lucenti (1602-1624). Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia.


✅ Padre David Francisquini

Pergunta — A freira americana que fez um discurso contra o aborto na convenção do Partido Republicano, elogiando as iniciativas pró-vida do presidente Trump em defesa dos direitos do nascituro, disse uma frase que me chocou: “Como cristãos, conhecemos Jesus pela primeira vez como um embrião no ventre de uma mãe solteira, e o vimos nascer nove meses depois na pobreza de uma gruta”. Por mais que a frase estivesse destinada às moças que ficam grávidas, recomendando-lhes que não abortem, essa analogia me pareceu inapropriada, pois parece esquecer a virgindade perpétua de Nossa Senhora e o fato de que Ela estava casada com São José. O que o senhor pensa disso? 


Resposta — A Igreja tem muitas formas de censura para as proposições contrárias ao seu ensinamento. São chamadas de “notas teológicas”. As mais graves se relacionam com o conteúdo das proposições censuradas: herética, errônea na fé, temerária. Outras se referem à forma defeituosa pela qual elas são expressas: equivocada, suspeita, malsoante. Por fim, uma formulação pode não ser errônea no conteúdo e na forma, mas ser censurada pelos efeitos que produz num contexto determinado, qualificando-se então como escandalosa, perigosa, sedutora dos simples ou ofensiva aos ouvidos pios. Por exemplo, seria verdadeira uma ladainha que dissesse São Pedro renegado, rogai por nós, porque de fato ele negou Nosso Senhor três vezes. Mas a piedade dos fiéis ver-se-ia contundida pela evocação desse gravíssimo pecado no contexto de uma ladainha em que se pede sua intercessão. Da mesma maneira, é louvável o corajoso discurso contra o aborto, evocado na pergunta; mas foi muito infeliz a formulação com que a freira se referiu à concepção virginal, pois choca os ouvidos piedosos dos fiéis, especialmente dos devotos de Nossa Senhora. 

É preciso reconhecer que a frase da freira é até certo ponto materialmente verdadeira, pois no momento da Anunciação e da Encarnação do Verbo no seio virginal de Maria Ela ainda não estava casada legalmente com São José, nem vivia com ele sob o mesmo teto. Essas duas realidades estão declaradas explicitamente no primeiro capítulo do Evangelho de São Mateus. No versículo 18, ele diz que Nossa Senhora tinha concebido por virtude do Espírito Santo “antes de coabitarem”. E no versículo 20, que o anjo disse em sonhos a São José: “Não temas receber Maria por esposa”, o que significa que ele ainda não a havia recebido como tal.

O anjo disse em sonhos a São José:
“Não temas receber Maria por esposa”

Como explicar que no primeiro dos versículos citados se diga que Maria estava “desposada com José”? Como podia recebê-La por esposa, se já estava desposado com Ela? A aparente contradição resulta das traduções portuguesas da Bíblia, pois nas traduções em outras línguas os substantivos e verbos indicam claramente que Nossa Senhora estava apenas prometida, e ainda era noiva de São José. Essa afirmação pode causar surpresa em alguns leitores, mas será desfeita conhecendo-se melhor a legislação e as tradições matrimoniais dos judeus. 

No início da história do povo eleito — como fica patente no relato do casamento de Isaac com Rebeca — eram os pais que negociavam o casamento de seus filhos. Depois passaram os próprios filhos a escolher suas futuras esposas, como ocorreu com Sansão. Querendo casar-se com uma filha dos filisteus, ele pediu aos pais para negociarem a boda, pois o candidato deveria oferecer um dote que fosse aceitável pela família da moça. Uma vez obtido o consentimento desta, fazia-se um contrato, que era verbal antes do cativeiro na Babilônia e passou a ser escrito depois, como o que foi redigido conjuntamente por Tobias e o pai de Sara. 

Celebrava-se então com certa solenidade a cerimônia do noivado, durante a qual o noivo dava à noiva (se ela fosse menor, ao pai dela) um anel de ouro ou algum outro objeto de certo valor. A duração do noivado era de um ano, para dar tempo à noiva de se preparar para o casamento e aprontar seu enxoval. Durante esse período os futuros esposos permaneciam em suas respectivas casas, só se comunicando através do “amigo do esposo”, personagem ao qual São João Batista se comparou quando explicou a seus discípulos que não era Cristo, mas um enviado para anunciá-Lo. 

Porém é necessário notar que, ao contrário de nossos dias, o noivado era tão irrevogável quanto o casamento; de tal maneira que, se a noiva se deixasse seduzir por outro homem, era punida de morte por lapidação, tal como acontecia com uma mulher adúltera já casada. E caso seu noivo viesse a morrer antes do casamento, ela deveria ser desposada por um cunhado, não podendo casar-se fora dessa família com um estranho, respeitando o costume do levirato (Deut. 25, 5). Devido ao caráter irrevogável do noivado, não existia na língua hebraica uma palavra específica para designar esse período, sendo assimilado linguisticamente ao casamento. 
Os desponsórios da Virgem
– Sebastián López de Arteaga (1610-1652).
Museu Nacional de Arte, Cidade do México


À vista dessas considerações, compreende-se por que São Lucas, ao escrever que o anjo Gabriel foi enviado a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, “a uma virgem desposada com um varão, chamado José”, não quis dizer que Nossa Senhora estivesse casada, mas apenas comprometida a casar-se com ele. Tanto os verbos desponso e despondeo da Vulgata latina, quanto o verbo μνηστή do original grego e seus derivados, significam prometer em matrimônio, pedir em casamento, pretendente, noivo. Por isso São José e a Virgem Maria não viviam sob o mesmo teto, como refere São Mateus, pois os costumes só autorizavam a coabitação depois das núpcias. Foi após a visita de São Gabriel que “José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado, e recebeu em sua casa sua esposa” (Mt 1, 24). 

Essa explicação dos fatos, que corresponde inteiramente às tradições do povo judeu, não é desmentida por São Lucas quando, ao relatar a subida do santo casal a Belém para o recenseamento (portanto, depois das núpcias), se refere a Nossa Senhora com as palavras ἐμνηστευμένῃ αὐτῶ (original grego), traduzidas por desponsata sibi uxore na Vulgata latina, o que literalmente quer dizer, como vimos acima, “sua noiva”. É possível que o evangelista tome aqui o verbo grego no sentido de “casar-se”, que por vezes tem. Contudo, o mais provável é que tenha desejado expressar-se com uma delicadeza suprema, para dar a entender que, no tocante ao Filho divino que Maria portava em seu seio virginal, Ela era apenas a prometida de São José. De qualquer maneira, São Jerônimo achou por bem acrescentar uxore — ou seja, esposa — para deixar as coisas bem claras. 

Em resumo, e para concluir a resposta ao consulente, podemos dizer que a Santíssima Virgem Maria, na hora bendita da Anunciação, ainda não estava casada com São José. Isso não significa que fosse realmente solteira, pois já estava comprometida com ele mediante um contrato irrevogável, prescrito pela tradição judaica. Portanto, ainda que a expressão “mãe solteira” tenha sido utilizada com boa intenção pela religiosa mencionada na pergunta do consulente, ela é inapropriada e até chocante quando associada à concepção virginal de Maria Santíssima.
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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 839, Novembro/2020.

14 de novembro de 2020

A BÊNÇÃO DE ESPADAS

 

O Cardeal Friedrich Gustav Piffl consagra as espadas dos oficiais recém-qualificados do Exército Austro-Húngaro na Academia Militar Franz Joseph em Viena, em 1914.

✅ Plinio Corrêa de Oliveira 

A bênção das espadas lembra ligeiramente as tradições da cavalaria, a vigília de armas, o rito litúrgico com que os cavaleiros eram incorporados à cavalaria da Cristandade. Entretanto, muito mais que simples reminiscência convencional, a cerimônia da bênção das espadas deve ser para os católicos um ensinamento fecundo em conclusões da maior atualidade. 


Por que razão a Igreja abençoa a espada dos militares que, recebendo as dragonas do oficialato, se incorporam à alta direção das forças armadas? Por que timbra Ela em dar às espadas, que são instrumentos de morte, uma bênção que é o penhor da proteção do Deus vivo? Ela o faz porque vê a espada dos militares como o baluarte da justiça. 

A espada do militar não é, para a Igreja, o instrumento com que se mata em guerra de conquista, mas o meio de defesa do direito lesado, da civilização agredida, da moral conspurcada. Se o próprio Salvador não relutou em empunhar o açoite com que flagelou vigorosamente os vendilhões do templo, que conspurcavam os direitos de Deus, a Igreja não poderia deixar de abençoar as espadas com que o Estado arma seus paladinos para a defesa dos direitos da Igreja, da Civilização e da Pátria. 

Em outros termos, significa isto que a Igreja, mesmo dedicando amor maternal em relação a todos os seus filhos, não reluta em abençoar a violência, desde que seja a santa violência da ordem contra a desordem, do bem agredido contra o mal agressor, da vítima prejudicada contra o causador do dano injusto. 


Quando a espada da Justiça se deixa paralisar pela inércia — enquanto a civilização periclita, a Pátria corre risco e os direitos da Igreja são calcados aos pés — por essa omissão ela colabora com o mal contra o bem, com a anarquia contra a civilização, com o demônio contra Deus. Deixando de servir como sublime instrumento de defesa, ela abandona sua função sagrada, perde o direito ao respeito que merecia, e se transforma em inútil fonte de gastos inúteis, ou em odioso meio de opressões. 



Excertos de artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicado no “Legionário”, em 23-5-1937.

11 de novembro de 2020

Presidente da Guatemala veta organização abortista no país


✅ Costa Marques 


“Sou um defensor fiel da vida e sou enfático em afirmar que não endossarei em meu governo a criação, registro ou lançamento de qualquer organização que atente contra a vida”, disse o presidente guatemalteco Alejandro Giammattei [foto acima]. 

Conforme matéria do site LifeSiteNews (11-11-20, “O presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, revogou um acordo para permitir que a Planned Parenthood Global abrisse um escritório no país.” 

“Reconheço a vida desde a concepção e por isso não tolerarei em minha gestão nenhum movimento que viole o que está estabelecido em nossa Constituição Política da República, que vá contra os valores com os quais fui criado e que entre em conflito com meus princípios de médico”, escreveu o presidente, que é também médico. 

Esses Valores são aqueles estabelecidos de acordo com a Lei Natural e os Mandamentos da Lei de Deus. O aborto é um pecado gravíssimo. 

O valor e alcance da reação conservadora


“Em 7 de outubro, o Ministério do Interior do país fez um acordo com a Planned Parenthood para operar na Guatemala. Mas quando esse acordo foi tornado público em 2 de novembro, grupos contrários ao aborto fizeram sua oposição claramente ouvida, resultando na rescisão do acordo e na renúncia do Ministro do Interior responsável por sua aprovação inicial.” 

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Essa é a nossa posição: vamos fazer valer os direitos de Deus, da Santa Igreja, da integridade moral de nosso País defendendo a vida desde a concepção até a morte natural. 


O aborto é uma plataforma inerente à Planned Parenthood. Nos EUA a TFP [foto] tem feito protestos pacíficos contra a matança dos inocentes. 

Joe Biden e Kamala Harris são protagonistas do aborto. Ainda recentemente, quando o Senado americano sabatinava a Juíza Barret, Kamala aproveitou-se da ocasião para fazer apologia do aborto. 

Esquerda e aborto são afins aqui, lá e acolá. O aborto é um pecado gravíssimo contra Deus e contra o próximo. 
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Fhttps://www.lifesitenews.com/news/guatemala-blocks-planned-parenthood-from-opening-office-in-the-countryonte:

6 de novembro de 2020

AUTODEMOLIÇÃO DA IGREJA

 


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Plinio Corrêa de Oliveira


As recentes declarações do Papa Francisco — propondo “uma legislação para a união” de pessoas do mesmo sexo, e afirmando que “os homossexuais têm direito a uma família” — deixaram perplexos inúmeros católicos em todo o mundo. Veem a propósito os comentários de Plinio Corrêa de Oliveira, em 6-9-94,* analisando um artigo do Pe. Jim Galluzzo no “The Wanderer” de 24-3-94.


“V
ê-se a entrada de um esforço metódico dentro da Igreja, como nos demais setores da sociedade, não apenas de tolerância, mas de legitimação da homossexualidade, que acabará dando cumprimento aos desejos do Parlamento Europeu, de que se reconheçam à união de pessoas do mesmo sexo os mesmos efeitos jurídicos do casamento.

“Considerando-se as heresias mais perigosas, mais carregadas de ódio, mais profundamente dissonantes da doutrina católica, não se encontra nada que destoe mais profundamente dela do que essa legitimação da homossexualidade. Ela está entrando, mas veja-se o modo como penetra. Não é um panfleto apresentado por protestantes, mas por sacerdotes católicos. Há no artigo uma referência a um documento de bispos de 1976, já bem antigo, que convida a uma espécie de mistura entre homossexuais e não homossexuais.

“É um trabalho feito de cima para baixo, por autoridades eclesiásticas, no sentido de fazer esquecer a doutrina tradicional e dar à homossexualidade direito de cidadania na Santa Igreja de Deus. Haverá em determinado momento, dentro da Igreja Católica, uma manifestação de completa inconformidade contra esse trabalho de legitimação. E teremos então uma divisão dentro da Igreja, de caráter oficial. 

“Poder-se-ia objetar: ‘Se a grande maioria dos bispos estiver de acordo com isso, não haveria divisão’. Não existe grande maioria para mudar a doutrina católica! É indiscutível, e está claramente nas Escrituras, em todos os documentos do Magistério da Igreja e nos tratados de todos os moralistas, que este é um pecado que brada ao Céu e clama a Deus por vingança. Não pode haver entendimento — ponto final! 

“As fronteiras estão cortadas, as barreiras estão erguidas. Então haverá um choque interno dentro da Igreja, e esse choque interno produzirá uma das maiores convulsões da História”. ____________ 
* Trecho extraído do livro “Plinio Corrêa de Oliveira — Profeta do Reino de Maria”, do Prof. Roberto de Mattei – Artpress, São Paulo, 2015, pp. 359-360.

3 de novembro de 2020

Não há concórdia racial sem rejeição ao igualitarismo marxista


O conflito entre raças pode ser “vacinado” eliminando-se o vírus da doutrina comunista que promove a desarmonia social, o ódio à hierarquia, a repulsa a toda superioridade

✅ Fonte: Revista Catolicismo, Nº 839, Novembro/2020 

Nesta época de pandemias, um “vírus” contagioso foi lançado com o objetivo de contaminar todos os povos, e é disseminado por agentes da Revolução gnóstica e igualitária. Coadjuvadas pela mídia esquerdista e pelo clero da chamada “esquerda católica”, etnias irmãs são incentivadas a se entredilacerarem, numa luta de raças de inspiração marxista. Essa guerra fratricida, sobretudo entre negros, brancos e índios, não é senão pretexto para caotizar e abater os restos do mundo civilizado. 


Nesse sentido a revista Catolicismo já analisou, em sua edição de agosto passado, os violentíssimos protestos nos Estados Unidos, levados a cabo especialmente pelo movimento Black Lives Matter (BLM) e sequazes. Em nome do igualitarismo de origem comunista e do antirracismo, sustentam a luta racial que degenera em divisões, ressentimentos e convulsões sociais. Tais protestos continuam conturbando a grande nação americana, e em algumas outras vão surgindo manifestações semelhantes. Ainda recentemente, em Santiago do Chile, turbas de vândalos rebelados promoveram arruaças e sacrilégios, com furor satânico, quebrando imagens sacras e incendiando belas igrejas históricas da cidade [foto acima]. 

A tal ponto se radicalizaram os brutais tumultos do BLM, que grupos de negros americanos se desvinculam e se distanciam desse movimento. Inspiram-se no distanciamento da Inglaterra em relação à União Europeia, popularizado com o nome Brexit (neologismo formado pela junção de Britain + exit — saída da Grã-Bretanha). Os que abandonam o BLM estão se identificando com o neologismo Blexit (black + exit – equivalente à saída dos negros). 

Abandonando os movimentos negros que açulam a luta de raças, os adeptos do Blexit optam pela concórdia social entre brancos e negros e entre todas as classes sociais. Eis uma forte e eficiente “vacina” — forte rejeição ao igualitarismo comunista, promoção da harmonia social, respeito à hierarquia — movida pelo amor a toda superioridade, e tendo como fonte e modelo a infinita superioridade de Deus. 


A matéria de capa da revista Catolicismo deste mês apresenta um belo exemplo histórico da prática desses valores: o venerável negro católico Pierre Toussaint [foto ao lado], um autêntico e digno filho de Deus. Serve-nos de inspiração a sua vida de trabalho e desprendimento, impregnada pela caridade, despretensão, dignidade e gentileza católica. Sem confrontos entre raças e classes, combatia invejas e inimizades como verdadeiro paradigma de admiração e respeito pelas desigualdades sacrais. 
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Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo, envie um e-mail para catolicismo@terra.com.br

2 de novembro de 2020

Algumas frases para meditarmos neste dia de FINADOS


A
Santa Igreja sempre nos recorda da vida eterna após a morte, mas de modo especial no dia de Finados. 

Lembremo-nos de rezar pelo sufrágio das almas que padecem no Purgatório e não nos esqueçamos de visitar as sepulturas de nossos parentes e conhecidos, pedindo que misericordiosamente Deus permita que as almas padecentes sejam levadas para o Céu.

Ocasião também para seguir o conselho da Igreja “Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás” (Ecl. 7, 40), ou seja, meditar na Morte, no Juízo Final, no Céu e no Inferno. Com esse objetivo, seguem alguns pensamentos. 

*       *       * 

“Uma flor sobre a sepultura, murcha; uma lágrima sobre as recordações, seca; mas uma oração por uma alma, Deus a recebe”. 
(Santo Agostinho) 


“Não existe arrependimento para os Anjos após a queda, assim como não há arrependimento para os homens após a morte”. 
(São João Damasceno) 


“Tudo o que não serve para a eternidade, não é senão vaidade”. 
(São Francisco de Sales) 


“Ó meu Deus! Que vergonha teremos quando o dia do Juízo Final nos fizer ver toda a nossa ingratidão! Compreenderemos então... mas já não será tempo. Nosso Senhor nos perguntará: ‘Por que me ofendestes?’ E não saberemos o que responder”.

(Santo Afonso de Ligório)


“Quereis saber o que é a alma? Olhai um corpo sem ela”. 
(Padre Antonio Vieira) 


“A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se”. 
(Pitágoras) 


“Entramos e gritamos, é a vida; gritamos e saímos, é a morte”. 
(Ausone de Chancel)

25 de outubro de 2020

Amabilidade: virtude quão necessária hoje!

 


✅ 
Plinio Maria Solimeo
 

A amabilidade é uma das virtudes mais encantadoras e das mais necessárias ao bom convívio humano. Ela tempera o que pode haver de brusco no nosso temperamento, e leva-nos a tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. 

Fazem parte dessa virtude uma série de outras muito necessárias nos dias de hoje, e que constituem o cortejo liderado pela verdadeira caridade: “a benignidade, que leva a tratar e julgar os outros e as suas atuações com delicadeza; a indulgência em face dos defeitos e erros alheios; a educação e a urbanidade nas palavras e nas maneiras; a simpatia, que por vezes será necessário cultivar com especial esmero; a cordialidade e a gratidão; o elogio oportuno às coisas boas que vem” . Podemos ainda acrescentar a isso a gentileza, cortesia, brandura, carinho, meiguice, ternura e suavidade no trato com as pessoas. 

O famoso apologista americano, arcebispo Dom Fulton Sheen, explica que “a palavra inglesa «kindness» (amabilidade) é derivada de «kindred» ou «kin» (parentes), e portanto implica uma afeição que dedicamos naturalmente àqueles que são a nossa carne e o nosso sangue. A amabilidade original e típica é a de um pai para com o filho ou a de um filho para com o pai. Gradualmente a palavra adquire maior amplitude até atingir todos os que desejamos tratar como parentes” . 

A amabilidade deriva da virtude da misericórdia que, por sua vez, é um dos efeitos da caridade. Como diz o renomado teólogo Pe. Royo Marin, O.P., ela “nos inclina a ter compaixão das misérias do próximo, considerando-as de certo modo como nossas próprias, porque o que lhe causa tristeza, do mesmo modo nos causa a nós [...]. O próprio Deus manifesta misericórdia num grau extremo, ao ter compaixão de nós” . 

Essa virtude também está relacionada com a da piedade, que por sua vez, como diz o mesmo teólogo, é “um amor filial por Deus considerado como Pai, e um sentimento de irmandade universal para com todos os homens como nossos irmãos e filhos do mesmo Pai celeste” (p. 387). E acrescenta: “É essa piedade que levava São Paulo a se afligir com os aflitos, a chorar com os que choram, e suportar as fraquezas e misérias do próximo com o propósito de o salvar” (p. 390). 

O eminente teólogo continua dizendo (p. 402), que a afabilidade ou amabilidade, é “a virtude social por excelência, e uma das mais delicadas manifestações do verdadeiro espírito cristão”. Ela é muito afim com a verdadeira amizade, que é definida como “uma virtude pela qual nossas palavras e ações externas são dirigidas à preservação de uma amigável e agradável associação com nosso próximo [...]. A verdadeira amizade procede do amor, e entre os cristãos, deve ser o resultado natural da caridade fraterna, a afabilidade é uma espécie de amizade que consiste em palavras e ações com relação aos outros, requerendo de nós que nos conduzamos de um modo amigável e maneira social com o próximo, sejam amigos íntimos ou estranhos”. Por isso, acrescenta o Pe. Royo Marin “Benignidade, polidez, simples louvor, indulgência, sincera gratidão, hospitalidade, paciência, mansidão, refinamento em palavras e ações etc., exercem uma espécie de atração que é difícil de resistir.” O que faz com que “Esta preciosa virtude é extremamente importante não somente em nossa associação com amigos, vizinhos ou estranhos, mas de um modo especial mesmo no círculo de nossa própria família, onde ela é frequentemente muito negligenciada”. 

A importância dessas virtudes nas relações sociais, é porque todas pessoas querem, no trato com as outras, três coisas essenciais: afabilidade, respeito, e perdão para suas faltas. E ficam felizes quando são assim tratadas. Pelo contrário, sofrem e se sentem feridas no seu ego quando são objeto de desatenção, mau trato ou recriminação. 

Nesse sentido conta-se que uma das filhas de Luís XV, da França, um dia recriminou impacientemente uma camareira sem muito motivo. Esta lhe manifestou seu desagrado. A princesa então lhe disse: “Não sabe que eu sou filha do Rei?”. Ao que respondeu dignamente a camareira: “E Vossa Majestade não sabe que eu sou filha de Deus?” Quer dizer, se cada um visse no outro um filho de Deus, o trataria de modo muito diferente. Desse modo a amabilidade, tendo Deus como principal motor, é o contrário da dureza de coração, que resulta geralmente de um doentio amor de si mesmo. 

Alguns países, como a França do Ancien Régime, levaram a amabilidade e a cortesia a um alto grau. Foi então que ocorreu a “douceur de vivre”, a doçura de viver, pois cada um se sentia tratado segundo o melhor lado de si mesmos. É muito conhecido o fato de o rei Luiz XIV, o Rei Sol, em todo o seu esplendor, tirar o chapéu quando cumprimentava uma simples lavadeira. 

Pelo que “São Francisco de Sales nos ensina que a primeira condição [para termos um trato cortês] é sermos humildes, pois ‘a humildade não é somente caritativa, mas também doce. A caridade é a humildade que se projeta externamente, e a humildade é a caridade escondida’; ambas as virtudes estão estreitamente unidas. Se lutarmos por ser humildes, saberemos ‘venerar a imagem de Deus que há em cada homem’, saberemos tratá-los com profundo respeito” . 

É também o que afirma o já citado D. Fulton Sheen, “Todas as anomalias mentais têm suas raízes no egoísmo, toda a felicidade tem suas raízes na amabilidade. Mas para sermos realmente amáveis, devemos ver em todos uma alma imortal, que há de ser amada pelo amor de Deus. Então, não haverá quem não seja para nós de grande apreço”. 

Na mesma linha, diz a Águia de Hipona, Santo Agostinho, com o vôo que lhe é característico: “Os frutos da caridade são alegria, paz e misericórdia. A caridade exige bondade e correção fraterna. É benevolente. Promove a reciprocidade e permanece desinteressada e generosa. É amizade e comunhão. O amor é em si a realização de todas as nossas obras. Essa é a meta; é para ela que corremos. Corremos em sua direção, e assim que nela chegarmos, nela encontraremos nosso descanso”.

Infelizmente está cada vez mais longe o tempo em que as pessoas primavam por serem corteses, amáveis, respeitosas dos outros pois, com o avanço da técnica, e sobretudo com a malícia dos tempos decorrente da profunda orfandade religiosa, essa virtude está cada vez mais posta de lado. As pessoas estão ficando cada vez mais pragmáticas, egoístas, pensando só em si mesmas e no seu mundinho, entretidas com seus celulares. Para elas, as outras não existem. 

Por isso é sobretudo difícil ser amável com aqueles que nos pedem um favor, uma esmola. Ora, diz ainda D. Fulton Sheen, “A amabilidade para com os que sofrem torna-se compaixão, que significa sofrer com outrem, partilhar a mágoa e as dores de outrem, como se fossem nossas”. Isso porque, explica ele, “A amabilidade estimula o interesse do coração para além de todo o interesse pessoal, e impele-nos a dar o que temos na forma de esmola, ou o nosso talento, como o médico que trata um doente pobre, ou o nosso tempo, que às vezes é a coisa mais difícil de dar”. Como consequência, “O homem verdadeiramente compassivo e amável, que dá o seu tempo aos outros, consegue encontrar sempre tempo”. 

Ele observa que “muitas pessoas, amabilíssimas nos seus lares e escritórios, podem se tornar grosseiras e egoístas ao volante de um automóvel. Isto é talvez devido a que nos seus lares elas são conhecidas; no automóvel, à sombra do anonimato, podem ser quase brutais sem receio de serem reconhecidas”. E conclui: “Sermos amáveis pelo receio de que os outros pensem que somos grosseiros, não é amabilidade real, mas antes uma forma dissimulada de egoísmo”.

O diz-que-diz, o deboche, a chanchada, a brincadeira porca, a libertinagem são fonte frequente de desavenças e de maus tratos, estando nas antípodas da amabilidade e do respeito no trato social. Infelizmente, como dissemos, com a decadência da prática religiosa e consequente queda dos bons costumes, isso está cada vez mais em voga no mundo de hoje. 

Mudando de quadro: felizmente ainda não se apagaram de todo os resquícios de amabilidade pelo mundo, e quando menos esperamos, disso temos exemplos frisantes. 

Nesse sentido, um amigo meu contou-me um exemplo marcante disso, e do qual jamais se esquecerá, do trato surpreendentemente amável de que foi objeto em circunstâncias quase dramáticas quando viajava pelo Exterior. 

Vindo dos Estados Unidos para o Brasil com uma conexão em Toronto, no Canadá, como havia grande diferença entre a chegada do primeiro e a partida do segundo vôo, ele deixou as malas no aeroporto, tomou um trem, e foi conhecer a cidade para ocupar aquele tempo. À tarde, depois de muito andar num frio congelante, caminhava por uma grande avenida quando, tropeçando nos seus próprios pés, caiu com todo o peso do corpo com a face no chão. Não pôde amortecer a queda com as mãos, pois as tinha no bolso da gabardine por causa do frio. A queda foi tão violenta, que fraturou-lhe o nariz, cortou-lhe os lábios, e quebrou-lhe dois dentes. O sangue corria em profusão do nariz. 

Ele ficou tão atordoado com a queda, que perdeu momentaneamente a memória e não conseguia mover-se. Foi aí que acorreu um casal de jovens em seu auxílio. Com muito cuidado, o ajudaram a sentar-se e a enxugar o sangue do rosto. Isso tudo com muita amabilidade e consideração à sua idade, pois era octogenário. Quando viram que ele estava um pouco refeito, perguntaram-lhe onde morava, se tinha algum parente ou amigo que pudessem avisar, em que hotel estava. Depois de um momento de amnésia, tendo recobrado a memória, meu amigo pôde explicar que estava somente de passagem etc. Como seu lenço já estava todo encharcado de sangue, a jovem correu a um restaurante próximo, e trouxe-lhe um punhado de guardanapos de papel. 

Nesse momento acorreu outro jovem que, vendo que o amigo tiritava de frio, foi a uma loja e comprou um par de luvas, ajudou-o a calçá-las, e perguntou se havia mais algo que pudesse fazer. Então os dois rapazes conseguiram ampará-lo para sentar-se em um banco de pedra das proximidades. 

Mas não parou aí. O primeiro jovem já tinha telefonado para um serviço de saúde, e logo apareceu uma ambulância com um casalzinho de para-médicos, muito simpáticos. Profissionalmente eles examinaram as feridas para ver se ele tinha recebido algum golpe na cabeça, mediram-lhe a pressão e a temperatura, controlaram as batidas do coração, tudo feito com muita amabilidade e consideração à sua idade. Para se certificarem de que ele tinha tido mesmo uma queda acidental, e não devido a um mal súbito e não estava com memória afetada, começaram a lhe fazer perguntas sobre o Brasil, família, São Paulo etc. Enfim, deixaram-no no hospital, onde lhe fizeram suturas no nariz e nos lábios, e lhe deram alta. Ele pôde assim voltar no mesmo dia para o Brasil. 

Esse amigo ficou muito grato e até comovido com a amabilidade e atenção desses vários jovens, tanto mais por serem eles já de uma geração técnica, informatizada, pragmática, órfã de religião, e que provavelmente não receberam em casa lições de boas maneiras ou de bom trato. 

Meu amigo afirmou que, estando em um país estrangeiro, numa cidade em que não conhecia ninguém, tendo um grave acidente, apesar disso não se sentiu desamparado, pois encontrou pessoas que se interessaram por ele, e o trataram com uma caridade cristã e com a consideração que teriam com um parente.
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[1] https://semeandocatequese.wordpress.com/2014/01/23/virtude-da-amabilidade/

[1] https://rumoasantidade.com.br/rumo-felicidade/contentamento/)

[1] Pe. Antônio Royo Marín, O.P., The Theology of Christian Perfection, The Foundation for a Christian Civilization, New York, 1987, p. 356.

[1] Semeando...