Fonte: Editorial da e Revista Catolicismo, Nº 868, Abril/2023
Neste
“ano jubilar” comemoramos o sesquicentenário do nascimento (2 de janeiro de
1873) e o centenário da beatificação da santa carmelita de Lisieux, proclamada
na Basílica de São Pedro em 29 de abril
de 1923.
O geral dos brasileiros dedica uma devoção e um carinho
muito especiais àquela sobre a qual o Papa São Pio X se expressou como sendo a “maior santa dos tempos modernos”: Santa
Teresinha do Menino Jesus.
Incontáveis igrejas lhe
são consagradas e praticamente não há uma que não tenha uma imagem dela. A
primeira igreja construída no mundo em sua homenagem foi no bairro da Tijuca,
no Rio de Janeiro, em 1924; e o rico relicário confeccionado para guardar seus
restos mortais — conhecido como “a urna do Brasil” — foi oferecido pelo nosso
povo.
Não é só no Brasil, mas
no mundo inteiro, que a jovem carmelita francesa atrai pessoas que lhe tributam
um carinho todo particular. Sem dúvida, ela é uma das santas mais conhecidas em
todas as nações. As cidades de Alençon, onde ela nasceu, e a de Lisieux, onde
viveu desde seus cinco anos de idade, recebem anualmente milhões de peregrinos.
Ela prenunciou : “Hei de passar meu Céu fazendo o bem sobre a
Terra” . E também : “Depois de
minha morte, farei cair uma chuva de rosas”. Seus inúmeros devotos do mundo
inteiro podem testemunhar que essas promessas se realizaram integralmente.
Por que essa estrela de
santidade emite tanta luz, atrai incontáveis legiões de fiéis devotos e
indica-lhes o caminho da virtude?
Nosso leitor entenderá
melhor na entrevista desta edição.
Catolicismo entrevistou um dos especialistas
em Santa Teresinha no Brasil, que desde jovem vem estudando a vida e a obra
desse “furacão de glória. Estamos falando do advogado paulista Caio Vidigal
Xavier da Silveira [
foto], um dos discípulos mais antigos de Plinio Corrêa de
Oliveira, grande divulgador da imortal santa. Residente há quatro décadas na
França, Dr. Caio é presidente da TFP Francesa e da
Fédération Pro Europa
Christiana, bem como consultor de diversas associações que defendem os
ideais da tradição, família e propriedade
.
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Santa Teresinha com oito anos |
“A CRIANÇA QUERIDA DO
MUNDO INTEIRO”
Por que este ano de 2023 é tão importante para o
senhor e demais devotos de Santa Teresinha?
Muito simples.
Porque coincidem o sesquicentenário de seu nascimento em Alençon (no dia 2 de
janeiro de 1873) e o centenário de sua beatificação, que teve lugar em Roma em
29 de abril de 1923.
Esses
dois aniversários vão passar em branca nuvem, ou estão previstas celebrações
especiais?
Imagine
se os milhões de devotos no mundo iriam permitir que datas tão importantes
passassem sob silêncio!
De fato, a diocese de Sées — na qual Teresa Martin
nasceu e foi batizada (é nessa diocese que se situa Alençon) — e a diocese de
Bayeux-Lisieux, onde está o Carmelo no qual a Irmã Teresa do Menino Jesus
faleceu, decretaram um ano jubilar, concedendo graças especiais aos que visitarem
os santuários e os lugares onde transcorreu sua vida. Na festa da Epifania, ou
seja, em 8 de janeiro passado, foram abertas simultaneamente a porta santa da
Basílica de Alençon, pelo Núncio apostólico em Paris, e a da Basílica de
Lisieux, pelo bispo de Bayeux.
Inédito, porém, foi o fato de a assembleia da Unesco —
entidade da ONU para a cultura, habitualmente subversiva —, acolher o pedido do
santuário de Lisieux com o apoio da França, Bélgica e Itália, e incluir Santa
Teresinha na lista mundial de apenas 60 personalidades cujos aniversários
merecem ser festejados. O engenheiro Gustavo Eiffel, construtor a famosa torre
metálica de Paris, foi o único francês a compartilhar com Santa Teresinha essa
honra nas efemérides de 2023.
Até as tubas espúrias da Unesco se viram forçadas a
reconhecerem a realidade da expressão do Papa Pio XI de que “um furacão de glória” rodeara aquela
que ele canonizou, a qual já era naqueles anos de 1925 “l´enfant chérie du
monde entier” (a criança querida do mundo inteiro).
Beneficiarão
desse jubileu somente os que peregrinarem a Alençon ou Lisieux?
Os
peregrinos recebem evidentemente graças especiais. Mas todos podem
beneficiar-se do jubileu. Ao propor um ano jubilar de um santo à veneração dos
fiéis, a Igreja atrai o olhar dos católicos para a vida e a santidade desse
santo. É, portanto, uma ocasião de ouro para reler os escritos de Santa
Teresinha e impregnar-se da espiritualidade da “pequena via”. Cumpre não
esquecer que decorridos 100 anos de sua morte — ou seja, em 1997 — ela foi
proclamada nem mais nem menos Doutora da
Igreja!
Se a “pequena Teresa” morreu em 1897 e foi beatificada
em 1923, isso quer dizer que entre um acontecimento e outro se passaram apenas
26 anos...
Efetivamente, a
beatificação e a canonização de Santa Teresinha foram as mais rápidas da
história, desde que os processos foram codificados por Urbano VIII. Esse Papa
do século XVII regulamentou muito estritamente os processos de canonização e
uma das suas disposições foi de que era necessário esperar 50 anos após a morte
de alguém — “em odor de santidade”,
como se dizia — para que pudesse ser aberto o processo canônico. Santa
Teresinha foi dispensada dessa regra. Ela foi beatificada 26 anos depois da
morte e canonizada apenas dois anos depois, ou seja, 28 anos após seu
falecimento. O que torna seu caso inteiramente excepcional.
A
celeridade dos dois processos não implicou o risco de uma certa precipitação?
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Santa Teresinha
foi canonizada
pelo Papa Pio XI, em 17 de maio
de 1925 |
Quem se
interessou primeiro pela vida e pelos escritos de nossa pequena carmelita de
Lisieux foi o Papa São Pio X. Como é sabido, foi ele quem introduziu na Igreja
a prática da comunhão das crianças e a reintrodução da comunhão frequente, que
tinha sido progressivamente abandonada por uma má influência dos jansenistas,
para os quais ninguém é suficientemente digno de receber a comunhão.
Acontece
que caiu nas mãos desse santo Pontífice uma carta de Santa Teresinha à sua
prima Maria Guérin — pouco antes de esta entrar no Carmelo, onde tomou o nome
de Soror Maria da Eucaristia. Ela, aliás, como noviça, ficou sob a direção
direta de Santa Teresinha, que tinha sido nomeada Mestra das noviças.
Maria
Guérin lhe escrevia dizendo que tinha escrúpulos de comungar porque, numa
estadia em Paris, havia visitado museus com estátuas e quadros com figuras
nuas. Santa Teresinha respondeu-lhe nessa carta (LT 92 de 30 de maio de 1889),
que ficou famosa, dizendo: “Você fez bem de me escrever […], você não
praticou nem a sombra do mal, eu sei bem o que são estes tipos de tentação […]
oh minha querida, pense que Jesus lá está no tabernáculo expressamente para
você […], va, não ouça o demônio, debique dele, e va sem receio receber Jesus”.
E São Pio X, lendo-a, disse que era preciso apressar o processo para proclamar
sua santidade. Essa carta pesou muito no espírito de São Pio X, que a
considerou um sinal para conceder aos fiéis a possibilidade da comunhão
frequente, e até mesmo diária.
Mas como essa carta chegou providencialmente até São
Pio X?
Tudo começou com
a publicação da História de uma alma.
Como é sabido, trata-se de três manuscritos autobiográficos deixados por Santa
Teresinha. O primeiro era dirigido à sua irmã Paulina — a pessoa mais
importante da família, obviamente após seus pais Louis e Zelie Martin, hoje
santos. Paulina foi religiosa e depois priora do Carmelo de Lisieux, com o nome
de Mère Agnès. O segundo manuscrito foi endereçado à Madre Marie-de-Gonzague,
que foi priora em várias ocasiões. E o terceiro, que é a parte mais bela,
impressionante e sublime dos seus manuscritos, é uma carta à sua irmã Maria,
também religiosa no mesmo Carmelo.
É
nessa carta que está aquele trecho fenomenal em que Santa Teresinha diz que
quereria ser sacerdote, mas, ao mesmo tempo, como São Francisco, não ser
sacerdote por humildade; que quereria ser mártir, mas não apenas de um tipo,
senão de todos os martírios possíveis, no óleo ardente, como São João
Evangelista, e mais esse e outro etc. E assim vai, dizendo todas as formas de
santidade possíveis. [O texto completo postaremos amanhã].
A
História de uma alma foi publicada
por Mère Agnès de
Jesus durante um de seus priorados. Ela quis fazê-lo um ano depois da morte de
Santa Teresinha, sob a forma de uma circular necrológica que as carmelitas
costumam escrever para ser distribuída entre os Carmelos, pedindo orações pela
carmelita falecida.
Era
extremamente ousado, pois não se tratava apenas de uma pequena nota biográfica,
mas de um livro grosso e autobiográfico. Mas Santa Teresinha já tinha se dado
conta do bem que esses manuscritos poderiam fazer. Um dia, ela comentou: “O mundo inteiro me amará!”. E, em seu
leito de morte, com segurança, disse à Mère Agnès: “Será preciso publicar o
manuscrito [História de Uma Alma] sem nenhum atraso após a minha morte; se
retardeis […] o demônio vos lançará mil armadilhas para impedir esta publicação
no entanto bem importante […]; para minha missão, como para a de Sta. Joanna
D’Arc, a vontade de Deus se realizará apesar da inveja dos homens”. Mère Agnès insiste se é pelos manuscritos
que ela fará bem às almas, a que ela responde: “Sim, é o meio que Deus se
servirá para me atender; eles farão bem a toda espécie de almas, exceto àqueles
que são das vias extraordinárias” (Oeuvres Complétes de Thérèse de
Lisieux, Cerf DDB, 1992, p. 60)
Então,
um ano após o falecimento de Santa Teresinha, suas irmãs mandaram imprimir uma
primeira edição de dois mil exemplares. Mas como temiam um fracasso editorial
total, elas pediram ao tio, Monsieur Guérin, que tinha posses, para financiar a
edição. Aconteceu o contrário: os dois mil exemplares se esgotaram rapidamente
e elas tiveram que fazer uma segunda edição de quatro mil exemplares.
Hoje
em dia, a História de uma alma já foi
traduzida em mais de 50 línguas e calcula-se que suas edições ultrapassaram os
500 milhões de exemplares. Um livro comum dificilmente atingirá esta
quantidade. Um artigo recente do jornal “La
Croix” colocava os manuscritos autobiográficos de Santa Teresinha entre os “best-sellers da espiritualidade cristã”,
após a Bíblia e a Imitação de Cristo, mas
concorrendo com as Confissões de
Santo Agostinho e a Introdução à vida
devota de São Francisco de Sales.
Em
todo caso, foi assim que os escritos de Santa Teresinha se tornaram populares
nos meios católicos do começo do século XX, a ponto de uma carta dela acabar
chegando até a mesa de trabalho de São Pio X.
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Caderno com escritos de Santa Teresinha |
Mas como
São Pio X não tardou em morrer, como seu desejo de acelerar o processo foi
retomado depois, nos pontificados de Bento XV e Pio XI?
Pela
popularidade de Santa Teresinha como santa taumaturga, que operava muitos
milagres.
Isso
se deu por um fato interessante. No fim do século XIX, os governos
anticatólicos promulgaram leis laicistas, como a de impedir a sepultura nas
igrejas ou em cemitérios privados, sob o pretexto de higiene pública. Essas
novas disposições impediram às carmelitas de continuar o costume de serem
enterradas no pequeno cemitério do próprio convento. E Santa Teresinha foi a
primeira “vítima” dessa lei. Ela não pôde ser enterrada no Carmelo, como as
outras freiras falecidas anteriormente, mas no cemitério da cidade.
Como
era um cemitério público, as pessoas podiam ir até o jazigo onde repousava seu
corpo, para pedir a sua intercessão. Começaram logo os milagres no seu túmulo,
com o que ela foi ficando cada vez mais conhecida. Um dos milagres mais
estrondosos se deu logo no início do século XX.
Poderia resumir como se operou tal milagre?
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Primeiro túmulo da Santa, no cemitério
de Lisieux |
Havia
em Lisieux uma mendiga que tinha um filho cego. O menino estava sempre com ela
para pedir esmolas, certamente a fim de apiedar as pessoas e aumentar o número
de ajudas que ela recebia. Por causa disso, o menino cego era conhecidíssimo na
cidade, que na época era um centro industrial com uma importância econômica
muito maior do que hoje em dia. Essa mendiga foi com seu filho ao túmulo da
santa carmelita e o menino subitamente começou a enxergar. Imaginem como essa
notícia percorreu a cidade, e aí começou uma grande devoção, pela fama de santa
taumaturga que fazia milagres.
Disso
resultou uma peregrinação imensa na cidade. Tão grande, que certo número de
taxis da época — evidentemente puxados a cavalo — dedicaram-se exclusivamente a
ir da estação de trem até o cemitério, distante a uns dois quilômetros, levando
e trazendo de volta os peregrinos. Milhões de peregrinos vindos de toda a
França e até do exterior iam lá de trem, atraídos pelo número enorme de
milagres, o que evidentemente aumentava ainda mais a fama de taumaturga da Irmã
Teresinha de Jesus.
Se
não fosse a citada lei laicista, que provocou seu sepultamento fora do
convento, ela provavelmente hoje não seria conhecida, e sua santidade poderia
ficar reservada para o conhecimento da humanidade inteira somente no dia do
Juízo Final. Mas ocorreu o contrário e com isso Santa Teresinha pode fazer todo
o apostolado que faz até hoje.
Ou
seja, a mão de Deus estava atrás daquelas leis anticatólicas, as quais a
Providência fez voltar contra os próprios revolucionários: “Qui habitat in coelis irridebit eos” (Aquele que habita nos Céus
se rirá deles – Ps 2,4).
Existe algum registro dessa epopeia de milagres?
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Exumação do corpo, em 26
de março de 1923 |
No
início do século XX, o Carmelo de Lisieux recebia cerca de 50 cartas por dia
para testemunhar as curas e milagres atribuídos à jovem freira. Esse número
chegou a 500 durante a Primeira Guerra Mundial, enviadas majoritariamente por
soldados — os famosos poilus que
defenderam corajosamente a França — que pediam a sua intercessão e agradeciam
pela ajuda recebida: foram eles os maiores promotores da popularidade da Irmã
Teresa do Menino Jesus.
Há
no Carmelo de Lisieux uma publicação chamada “Chuva de rosas”, publicada desde
1907 até 1926, em dez volumes, sete dos quais são cronológicos, dois temáticos
e um oferece um florilégio de relatos. Eram livros grossos com a transcrição de
milagres ocorridos com pessoas que escreveram às carmelitas contando graças
espirituais ou curas, enfim, toda sorte de benefícios. A seriedade dessas
cartas era verificada, fazendo uma breve investigação a respeito da
credibilidade dos remetentes e da veracidade dos fatos, na própria aldeia ou
grande cidade de onde vinha a carta. Portanto, os relatos selecionados para a
publicação podem ser considerados absolutamente sérios, podendo se ter certeza
quase absoluta de que aqueles fatos se passaram da maneira descrita.
No
início, foram publicados quatro volumes, cobrindo de 1907 a 1913, e depois
foram acrescentados mais seis volumes. A interrupção da publicação deveu-se ao
fato de que, nesse ano de 1914, teve início processo de beatificação dela em
Roma, bem no fim do pontificado de São Pio X. A Sagrada Congregação dos Ritos,
que nessa época se encarregava das canonizações, proibiu o prosseguimento da
publicação, a fim de não interferir no processo em curso. O quinto volume
apareceu em 1920, com autorização de Roma, contendo todas as conversões e
milagres durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com exceção dos
milagres apresentados pelo promotor para fazer avançar a causa de beatificação.
E ainda apareceram outros volumes até 1926.
No
total, os dez volumes transcrevem 3.200 dessas cartas com relatos de milagres.
Mas calcula-se que, entre 1898 — data da publicação da História de uma alma — e
a canonização em 1925, os milagres verificados e credíveis ascendem, na
realidade, aos oito mil. O que implica, em média, um milagre de Santa Teresinha
por dia!
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Peregrinação de
militares ao túmulo
de Santa Teresinha,
em 1913 |
À
vista do que o senhor conta, compreende-se melhor por que Pio XI fez a
beatificação apenas um ano após ser eleito Papa...
De
fato, Bento XV já tinha promulgado o decreto reconhecendo a heroicidade das
virtudes em 14 de agosto de 1921. Apenas sete meses mais tarde, pelo decreto Di Tuto, datado de 19 de março de 1923,
o Papa Pio XI declarou que era seguro proceder à beatificação da Venerável
Teresa do Menino Jesus, fixando a cerimônia para 29 de abril seguinte. A
cerimônia de beatificação, cujo centenário se celebra este mês, ocorreu
solenemente na Basílica de São Pedro, em Roma, para alegria dos protegidos de
Teresa.
Muito apropriada foi a oração rezada após a
beatificação: “Ó bem-aventurada ‘pequena
Teresa’, usai agora mais do que nunca de vosso poderoso crédito diante de Deus,
em favor daqueles que vos amam! Glorificando-vos, nós o sabemos, a Igreja
convida-nos a percorrer este caminho de infância espiritual que Ele outrora
veio revelar ao mundo e cujo rastro trilhastes luminosamente. Atraí, pois,
todas as almas à humildade, com o perfume dos vossos doces perfumes, e
conduzi-as, simples e confiantes, aos braços do seu Pai Celestial”.
Como
já disse, Santa Teresinha foi canonizada apenas dois anos mais tarde, pelo
mesmo Pio XI. E tanto a beatificação quanto a canonização foram as primeiras
realizadas no seu pontificado. É por isso que ele sempre a chamava “a estrela do meu pontificado”.
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As relíquias de Santa
Teresinha na catedral
de São Sebastião, em
Bacolod, Filipinas |
imaginamos que isso contribuiu para a difusão da
devoção à pequena santa de Lisieux.
É
claro. E começaram a ser edificadas igrejas e capelas sob a sua invocação, ou a
serem colocados altares e imagens no interior das demais. O Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira fazia notar, já nos anos 1960, que praticamente não havia igreja
onde não houvesse uma imagem de Santa Teresinha. Da mesma maneira que em todas
as igrejas há sempre uma imagem de Nossa Senhora, em quase todas as igrejas há
uma imagem de Santa Teresinha. Mas isso, no mundo inteiro. O que é
impressionante e mostra a repercussão da santidade dela, por vontade de Deus [à respeito, recomendamos a
leitura do artigo que postaremos no próximo dia 26].
Qual é, na sua opinião, a principal mensagem que ela
nos deixou?
Creio ser aquela
que o Prof. Plinio colheu na leitura da História
de uma alma e que se pode ler no livro que foi publicado com ocasião do 25°
aniversário de seu falecimento, intitulado Meu
Itinerário espiritual.
Ele
conta que, mesmo depois de ingressar nas Congregações Marianas, tinha a ideia
de que os santos são uma raridade, e de que era apenas um ou outro homem que
Deus escolhia para ser santo, mas não o geral dos homens. E que, portanto, ele
também não era chamado a ser santo e não tinha razão nenhuma de ser santo.
Com
a leitura dos manuscritos de Santa Teresinha, Dr. Plinio viu que isso não era
assim. E, além do mais, ficou entendendo que a santidade não era como certas
representações românticas de um homem com um livro na mão olhando absorto para
uma imagem. Ele viu que a santidade não é apenas um estado emocional, mas um
programa de vida, um ideal accessível a todos os que respondem generosamente
aos convites da graça.
A
“pequena via” é, aliás, um caminho espiritual muito adaptado à humanidade de
hoje, que tem muito menos personalidade e força de vontade do que as gerações
dos séculos anteriores. Com um grande amor de Deus, da Igreja, da Cristandade,
mas fazendo os pequenos sacrifícios quotidianos que a fidelidade a eles exige,
especialmente nos nossos dias tormentosos, é possível alcançar um alto grau de
santidade.
Passou a ficar mais fácil ser santo?
Não
se trata de um caminho de facilidade. O espírito da infância espiritual da
“pequena via” implica o sacrifício mais difícil para o orgulho humano, porque é
a negação total de si mesmo. O Papa Bento XV disse que ela
“exclui o orgulho de si mesmo, a presunção de chegar a um fim
sobrenatural por meios humanos, a falaciosa pretensão de, em tempos de perigo e
tentação, bastar-se por si mesmo. Supõe uma fé viva na existência de Deus, uma
homenagem prática ao seu poder e à sua misericórdia, um recurso confiante à
Providência d'Aquele que nos concede a graça de evitar todo o mal e fazer todo
o bem”. Todo um programa de vida...
É
preciso, aliás, não esquecer que, após tomar conhecimento vida de Santa
Teresinha e da espiritualidade de “pequena via”, São Pio X comentou: “É a maior santa dos tempos modernos”. E
Dr. Plinio glosava esse comentário dizendo que os tempos modernos correspondiam
ao período que vai do século XV até hoje...
Uma última pergunta, indiscreta: Qual é a fotografia
de Santa Teresinha de que o senhor mais gosta?
É a fotografia
dela com véu de noviça, em pé, abraçando a cruz que há no pátio interior do
Carmelo. A freira que era sua professora no colégio das Beneditinas de Lisieux
[
foto ao lado],
onde Santa Teresinha estudou, disse que aquela foto era a de que mais gostava,
porque nela aparecia o sorriso que ela sempre tinha e que em nenhuma das outras
fotos aparece.