Paulo Roberto Campos
O muito controvertido “Sínodo sobre a Família” — que reúne quase 200 prelados no Vaticano (de 5 a 19 deste mês) — tem despertado muitas perplexidades em inúmeros católicos, sobretudo nos ambientes de famílias conservadoras, pois alguns participantes no evento estão sugerindo certas inovações inaceitáveis. Inaceitáveis, sim, pois contrariam o ensinamento do magistério tradicional da Igreja. Ademais, tais inovações poderão desagregar ainda mais a instituição familiar, já tão debilitada no mundo moderno.
Com o objetivo de ajudar a esclarecer a questão,
a seguir transcrevo a tradução (feita pelo portal “Fratres in Unum” e publicada em 10-10-14) de uma oportuna entrevista que o Cardeal Raymond Leo Burke concedeu ao site “LifeSiteNews”. E, no final deste post, o vídeo da entrevista (em inglês) com o eminente Cardeal norte-americano, Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica — o mais alto tribunal da Santa Sé. Grande conhecedor dos problemas que atualmente atingem as famílias, ele é um dos autores do livro, recentemente lançado, Permanecendo na Verdade de Cristo: o matrimônio e a Comunhão na Igreja católica.
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“Essa forma particular de relacionamento não deve ser imposta aos
membros da família e, especialmente, a crianças impressionáveis” |
Cardeal Burke responde ao discurso do casal australiano: “Não escandalizem seus filhos ou netos”.
Por Life Site News | Tradução: Fratres in Unum.com — Em entrevista exclusiva ao LifeSiteNews, o Cardeal Raymond Burke respondeu a uma apresentação polêmica feita por um casal australiano [Ron e Marvis Pirola] perante os 191 bispos e cardeais líderes da Igreja Católica no Sínodo Extraordinário sobre a família em curso esta semana.
Durante a intervenção, que acabou se tornando uma das mais amplamente noticiadas no Sínodo, os Pirolas perguntaram e responderam a uma pergunta sobre o que os pais deveriam fazer caso seu filho quisesse trazer o seu parceiro homossexual para um jantar de Natal em que seus netos estivessem presentes.
A resposta dos Pirolas, que eles defenderam como um modelo para a maneira como a Igreja Católica deveria lidar com relacionamentos de pessoas do mesmo sexo, foi que os pais deveriam aceitar a participação do filho e de seu parceiro homossexual sabendo que “seus netos iriam vê-los acolhendo o filho e seu parceiro na família.”
O Cardeal de Westminster, Dom Vincent Nichols, revelou em seguida que alguns Padres sinodais reagiram à breve intervenção do casal de maneira “muito calorosa, com aplausos.”
Em declarações ao LifeSiteNews em um curto intervalo do Sínodo ontem, o Cardeal Burke, prefeito da Assinatura Apostólica no Vaticano, referiu-se à “pergunta” dos Pirolas como uma questão delicada, que precisa ser tratada de maneira “calma, serena, razoável e cheia de fé.”
"Se as relações homossexuais são intrinsecamente desordenadas, o que de fato são — a razão e também a nossa fé nos ensinam — então, o que significaria para os netos terem presentes em uma reunião de família um membro da família que está vivendo em uma relação desordenada com outra pessoa?”, indagou o cardeal.
Burke acrescentou: “não queremos que os nossos filhos tenham a ‘impressão’ de que as relações sexuais fora do plano de Deus são corretas, ao parecer que toleramos atos gravemente pecaminosos por parte de um membro da família.”
“Nós não o faríamos se fosse outro tipo de relacionamento — algo que fosse profundamente desordenado e prejudicial —, não exporíamos nossos filhos a esse relacionamento, a experiência direta desse tipo de relacionamento. E nem deveríamos fazê-lo no contexto de um membro da família que não apenas sofre de atração pelo mesmo sexo, mas que optou por viver essa atração, por agir de acordo com essa atração, por cometer atos que são sempre e em todo lugar errados e maus.”
Ele acrescentou, no entanto, que “as famílias precisam encontrar uma maneira de ficar próximas de um filho nessa situação — de um filho ou neto, ou o que quer que seja —, a fim afastar a pessoa de um relacionamento desordenado.”
Os receios do Cardeal Burke foram compartilhados pelo Voice of the Family, uma coalizão de 15 grandes grupos pró-vida e pró-família de todos os continentes, que chamou de “prejudicial” a intervenção dos Pirolas.
“O acolhimento sem ressalvas de casais homossexuais em ambientes familiares e paroquiais, na realidade, prejudica a todos, ao servir para normalizar a desordem da homossexualidade”, disse o porta-voz do Voice of the Family, Maria Madise, em um comunicado de imprensa.
Em entrevista à Aleteia, o padre Paul Check, chefe do Courage, o grupo católico que trabalha para ajudar as pessoas com atração pelo mesmo sexo a viverem uma vida casta, respondeu à pergunta, salientando que: “Nós nunca podemos ser mais pastorais do que Jesus.”
Ele acrescentou: “Acolher as pessoas na Igreja, em nossas casas, em conversa… ‘aceitá-las’ de maneira autenticamente semelhante a de Cristo nunca implicaria barganhar com a verdade.” Um exemplo disso seria “dizer a alguém, de alguma forma: “Bom, isso é o melhor que você pode fazer.”
A pergunta completa e a resposta do Cardeal Burke:
LifeSiteNews: Como os pais católicos evem lidar com uma situação difícil como esta:
Ao planejar um encontro familiar de Natal com os netos presentes, os pais são indagados por seu filho, que está em um relacionamento homossexual, se ele pode levar consigo seu parceiro homossexual? Ao aplicar esses princípios, como as paróquias deveriam lidar com casais abertamente homossexuais que se aproximam da Santa Comunhão e que buscam cargos de liderança dentro da paróquia?
Cardeal Burke: Esta é uma questão muito delicada, e é ainda mais delicada pela agressividade da agenda homossexual. Mas é preciso abordar esse tema de maneira muito calma, serena, razoável e cheia de fé. Se as relações homossexuais são intrinsecamente desordenadas, e de fato o são – a razão nos ensina isso e também a nossa fé – então, o que significaria para os netos terem presentes em uma reunião familiar um membro da família que está vivendo em uma relação desordenada com outra pessoa?
Se fosse outro tipo de relacionamento — algo que fosse profundamente desordenado e prejudicial — não exporíamos nossas crianças a esse tipo de relacionamento, à experiência direta dele. Assim, tampouco deveríamos fazê-lo no contexto de um membro da família que não apenas sofre de atração pelo mesmo sexo, mas que optou por viver essa atração, por agir de acordo com ela, cometer atos que são sempre e em todo lugar errados e maus.
E assim, as famílias precisam encontrar uma maneira de ficar próximas de um filho nesta situação — de um filho ou neto, ou o que quer que seja —, a fim afastar a pessoa de um relacionamento desordenado.”
E sabemos que com o tempo, esses relacionamentos deixam a pessoa profundamente infeliz. E por isso é importante nos mantermos o mais próximos que pudermos. Mas, essa forma particular de relacionamento não deve ser imposta aos membros da família, e especialmente a crianças impressionáveis. E exorto os pais ou avós — quem quer que seja — que sejam muito, muito prudentes neste assunto e não escandalizem os seus filhos ou netos.
Há tantas coisas em nossa sociedade hoje em dia que estão passando a mensagem de que qualquer forma de relação sexual, se de alguma forma ela lhe agrada — ou se você estiver atraído para ela — está bem, está correta. E nós não queremos que nossos filhos tenham essa impressão, ao parecer que estamos tolerando atos gravemente pecaminosos por parte de um membro da família.
Certamente, essa é uma fonte de grande sofrimento, mas o esforço para fazer o que é certo e bom sempre envolve sofrimento. E, neste caso, certamente envolverá sofrimento. Mas que o sofrimento seja realmente redentor ao final.
Já com relação às paróquias, a situação é muito semelhante, porque a paróquia é uma “família de famílias”. E assim, se você tiver paroquiano que esteja vivendo em pecado público em um relacionamento homossexual, bem, o sacerdote deve tentar se aproximar dessa pessoa — ou de ambos, se forem católicos — e tentar ajudá-los a deixar o relacionamento pecaminoso e começar uma vida casta. O pastor deve incentivá-los também a rezar e a participar da Missa dominical e de outras maneiras adequadas para tentar superar o pecado grave em suas vidas.
Essas pessoas que estão vivendo dessa forma certamente não poderão ter qualquer papel de liderança na paróquia, porque daria a impressão aos paroquianos que a forma como elas estão vivendo é perfeitamente boa. Porque, quando dirigimos uma paróquia, de certa forma, estamos dando testemunho de uma vida católica coerente. E as pessoas que não são coerentes com a sua fé católica não recebem funções de liderança. Não lhes pedimos, por exemplo, que sejam leitores na Santa Missa — ou que assumam outra posição de liderança — até que elas tenham retificado sua situação e passado por uma conversão de vida e estejam prontas a dar esse tipo de liderança.
Por um lado, certamente haverá escândalo entre os paroquianos no que diz respeito a uma parte muito importante da nossa vida, a nossa sexualidade, e o que ela significa. Por outro lado, não é bom para as duas pessoas envolvidas no relacionamento desordenado porque também lhes dá a ideia de que a Igreja de alguma forma aprova o que elas estão fazendo.