30 de maio de 2023

NOSSA SENHORA RAINHA


E
m todos os anos nos dias 31 de maio, no calendário tradicional, celebrava-se a festividade de Nossa Senhora Rainha. Ainda hoje em muitas igrejas neste dia é realizada a Coroação Solene da Rainha dos Anjos e dos Homens, seguida de uma chuva de pétalas de rosas, queima de fogos de artifício, enquanto todos os sinos tocam alegremente.

Para lembrar esta data mariana tão querida de seus devotos, reproduzimos uma bela poesia do português Gil Vicente (1465 – 1536), poeta renomado, primeiro grande dramaturgo de Portugal.

 


O GLORIOSA DOMINA

Ó gloriosa Senhora do mundo,
Excelsa Princesa do Céu e da Terra,
Formosa batalha de paz e de guerra,
Da Santa Trindade secreto profundo!

 

Santa esperança, oh Madre d'amor,
Ama discreta do Filho de Deus,
Filha e Madre do Senhor dos Céus,
Alva do dia com mais resplendor!
 
Formosa barreira, ó alvo e fito,
A quem os Profetas direito atiravam!
A Ti, gloriosa, os Céus esperavam,
E as três Pessoas um Deus Infinito.
 
Ó cedro nos campos, estrela no mar,
Na serra ave fénis, uma só amada,
Uma só sem mácula, e só preservada,
Uma só nascida, sem conto e sem par!

 

Do que Eva triste ao mundo tirou,
Foi o teu fruto restituído
Dizendo-te ave o Embaixador,
O nome de Eva te significou.
 
Ó porta dos paços do mui alto Rei,
Câmera cheia do Espírito Sancto
Janella radiosa de resplandor tanto,
E tanto zelosa da Divina Lei!
 
Ó mar de ciência, a tua humildade,
Que foi senão porta do céu estrelado?
Ó fonte dos Anjos, oh horto cerrado,
Estrada do mundo para a Divindade,
 
Quando os Anjos cantão a glória de Deus.
Não são esquecidos da glória tua;
Que as glórias do Filho são da Madre Sua,
Pois reinas com Elle na Côrte dos Céus.
 
Pois que faremos os salvos por Ella,
Nascendo em miséria, tristes peccadores,
Senão tanger palmas e dar mil louvores
Ao Padre, ao Filho e Espírito, e a Ella.

28 de maio de 2023

SANTA JOANA D’ARC



Suscitada por Deus para livrar a França do jugo inglês, Santa Joana D´Arc foi depois traída e queimada como feiticeira. 

Reabilitada por Carlos III em 1456, teve a heroicidade de virtudes reconhecida por São Pio X. Sua festividade litúrgica é celebrada no dia 30 de maio. 

A santa guerreira é um exemplo típico de virtude heroica, praticada não só por meio de atos capazes de despertar louvores e aplausos, mas também cólera e reação. Modelo de combatividade cristã, fez ela, em admiráveis respostas no processo iníquo que sofreu, a apologia da virtude enquanto aplicada em guerrear e destroçar o mal. 

Assim, quando os juízes lhe perguntaram se Santa Catarina e Santa Margarida odiavam os ingleses, Joana d’Arc respondeu: 

— “Elas amam o que Nosso Senhor ama e odeiam o que Deus odeia”. 

 “Deus odeia os ingleses?” continuaram os juízes. 

 “Do amor ou do ódio que Deus tem aos ingleses, nada sei, respondeu a Santa; o que sei perfeitamente, é que todos eles serão expulsos da França, excetuado os que aqui morrerem”.

21 de maio de 2023

O jogo de futebol é inapropriado para pessoas do sexo feminino?

Duas moças disputando uma partida de futebol nos Estados Unidos. 

Pergunta — Fui algum tempo atrás visitar uma amiga que estava doente e a encontrei assistindo a uma partida de futebol feminino entre a seleção brasileira e a seleção inglesa. Nunca tinha visto mulheres jogando futebol e fiquei chocada pela brutalidade do confronto entre as duas equipes, a falta de feminilidade nas posturas das jogadoras e as atitudes que elas eram obrigadas a tomar para ganhar a partida. Padre, o que o senhor acha dessas moças que participam desse tipo de esporte?


Padre David Francisquini

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 868, Maio/2023

RespostaInfelizmente está virando moda a competição de mulheres em eventos esportivos reservados outrora somente aos homens, precisamente por requererem a força e a resistência físicas próprias à compleição masculina e, mais ainda, uma atitude viril de desafio e dominação do adversário ou concorrente a qual não é condizente com a psicologia feminina, voltada para o carinho, a compreensão, a concórdia e a compaixão.

Pior ainda. Torna-se cada vez mais frequente ver competições em que as equipes são “unissex”, ou seja, com jogadores de ambos os sexos. O resultado é que, como os rapazes com um pouco de cavalheirismo costumam moderar o uso da força para não agredir as moças, eles com isso se afeminam; e as moças, por sua vez, devendo desenvolver a agressividade em face dos rapazes, se masculinizam.

Dessa desordem gradual dos sexos — ainda favorecida pela confusão da aparência, na medida em que as moças quase não usam mais saias e cortam o cabelo curto, enquanto os rapazes deixam-no crescer até os ombros resulta o aumento assombroso de adolescentes e jovens que sentem atração sexual por pessoas do mesmo sexo, ou, pior ainda, daqueles que não se sentem bem no próprio corpo e querem mudar de sexo por meio de tratamentos hormonais ou até mesmo por amputações.

O mais grave é o aumento vertiginoso de Estados que reconhecem um suposto “direito” à mudança de sexo nas certidões de nascimento — alguns até sem precisar de tratamentos ou documentação médica, baseando-se apenas na subjetividade da pessoa —, assumindo todas as consequências práticas, tais como homens “trans” usando vestuários e toaletes femininos e concorrendo com mulheres em esportes nos quais obviamente têm uma vantagem física sobre elas.

Menciono tudo isso porque, ao analisar uma realidade, não se deve olhar apenas para a situação do momento, mas prever o que vai resultar disso para o futuro. Basta pensar nas aberrações que já estão resultando dessa “confusão dos sexos” — comparável à “confusão das línguas” com a qual Deus castigou o orgulho dos construtores da Torre de Babel — para compreender a maldade da participação de moças em esportes inapropriados para elas, não somente pela brutalidade inerente aos mesmos, mas também pelas posturas vulgares e por vezes indecentes que esses exercícios requerem.

Para se compreender a maldade da participação de moças em esportes inapropriados para elas, não somente pela brutalidade inerente aos mesmos, mas também pelas posturas vulgares e por vezes indecentes que esses exercícios requerem. 

Ausência da mãe prejudica a educação dos filhos

Na origem de todos esses absurdos está o feminismo e o movimento da “emancipação da mulher”, que se difundiram a partir da área de cultura anglo-saxã e recobraram força alhures após a Primeira Guerra Mundial. Sob o pretexto de igualdade entre homens e mulheres, esse fenômeno social revolucionário começou por tirar a mulher do lar e do cuidado prioritário dos filhos, para fazê-la concorrer com o homem na vida pública e nos locais de trabalho, inclusive em atividades não condizentes com a psicologia feminina, pela brutalidade das tarefas ou das situações que é preciso confrontar.

Duas propagandas das décadas
dos anos 40 e 50 demonstram
a mudança radical no ideal da mulher. 
Nas sociedades tradicionais, enquanto os homens animavam a vida econômica e política, as mulheres animavam a vida familiar e social. Elas eram “donas de casa”, ou seja, as verdadeiras “rainhas do lar”; criavam o ambiente da casa, organizavam as festas familiares e davam brilho à vida social e cultural da cidade. A saída da mulher do lar e sua masculinização psicológica pela concorrência com os homens na esfera pública e nos lugares de trabalho teve como consequência um empobrecimento da vida familiar e social.

A mais grave consequência disso foi o impacto sobre a educação dos filhos, que precisam da proximidade da mãe nos anos da infância e da adolescência. Se a mãe trabalha fora e chega cansada em casa depois de um dia de labuta, por mais que esteja animada dos melhores sentimentos em relação aos filhos, não lhes pode consagrar todo o tempo necessário requerido pela boa formação, nem cobri-los com o mesmo tipo de carinho delicado dispensado outrora pelas mães. Daí resultaram muitas das crises que hoje assolam os adolescentes e os jovens, que acabam procurando uma falsa compensação nos desvarios das discotecas ou das drogas.

Assim, o feminismo contribuiu para a evolução gradual rumo a uma sociedade “unissex”, em que os papeis masculinos e femininos passaram a ser considerados meros estereótipos culturais impostos pelas estruturas patriarcais e destinados a prolongar a opressão cujas vítimas seriam as mulheres.


O nazifascismo promoveu o esporte feminino

Na área dos esportes, além do feminismo, quem mais contribuiu para a generalização de sua prática entre moças, inclusive com competições públicas, foram o fascismo e o nazismo com seu culto pagão ao corpo e à natureza, e sua proposta de uma imagem forte e moderna da “mulher esportiva” uma das tantas expressões da “mulher nova” do fascismo e do hitlerismo. Il Littorale, jornal de propaganda esportiva do ditador italiano, escrevia que o ideal do regime era “permitir às moças praticar o esporte, para ter as futuras mães de uma prole sã para a Itália mussoliniana”.

O Terceiro Reich alemão foi ainda mais radical: a propaganda hitlerista difundia imagens de ginastas masculinos de torso nu e ginastas femininas com shorts e camisetas apertadas que acentuavam a sua figura, abria piscinas comuns para ambos os sexos, ou, pior ainda, fomentava a perversa “cultura do nu” berlinense de Adolf Koch, assim como a emancipação das moças das Juventudes Nazistas, incluindo a anarquia sexual — desde que as relações sexuais fossem praticadas entre arianos puros a fim de oferecer filhos ao Führer.

No período entre-deux-guerres, pela convergência do movimento feminista de origem anglo-saxã e do movimento nazifascista, foram se impondo em todo o mundo modas cada vez mais imorais, tornando realidade a queixa, formulada poucos anos antes, por Santa Jacinta de Fátima: “Hão de vir umas modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor.” De onde a sua advertência: “As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo.”

Luta constante contra a permissividade dos costumes

Além do cinema e das revistas de moda feminina, os esportes serviram eficazmente para fazer com que as moças fossem aos poucos perdendo o pudor em mostrar as linhas de seu corpo, quando não o próprio corpo, ao usarem roupas que facilitavam a liberdade de movimentos requerida pelos exercícios.

No começo isso se dava em privado — seja nas escolas, que ainda eram separadas por sexos, seja na intimidade familiar, em jogos como o tênis. Mas aos poucos os concursos foram ficando cada vez mais públicos, chegando-se hoje ao cúmulo do exibicionismo, primeiro com a difusão de fotografias na seção de esportes dos jornais e, mais tarde, nas transmissões da televisão, com cenas em ângulo fechado que põem ainda mais em relevo partes do corpo que deveriam estar cobertas.

Ora, no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, publicado no pontificado de João Paulo II, está escrito, a respeito do 9° Mandamento da Lei de Deus: “A pureza exige o pudor, que, preservando a intimidade da pessoa, exprime a delicadeza da castidade e orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e da sua comunhão. Ela liberta do erotismo difuso e afasta de tudo aquilo que favorece a curiosidade mórbida. Requer uma purificação do ambiente social, mediante uma luta constante contra a permissividade dos costumes, que assenta numa concepção errônea da liberdade humana” (questão 530).

Diante do perigoso avanço da impudicícia por ocasião das competições esportivas femininas, a Igreja e o Vaticano não tardaram outrora em reagir. Por ocasião de uma exibição pública de ginástica feminina em Neuburg, em julho de 1927, o Núncio Apostólico e os bispos da Alemanha denunciaram que os exercícios realizados pelas moças entravam em choque com a moral católica e com o pudor feminino, bem como com sua constituição física.

Decadência moral própria aos jogos públicos e competições

Em maio de 1928, o regime fascista organizou em Roma o Primeiro Concurso Ginástico Atlético Nacional Feminino “Jovens Italianas”. Em carta ao Vigário de sua diocese, o Papa Pio XI denunciou o evento: “O Bispo de Roma não pode deixar de deplorar que aqui na santa cidade do catolicismo, depois de vinte séculos de cristianismo, a sensibilidade e a atenção às delicadas considerações devidas às jovens se tenham mostrado mais fracas do que na Roma pagã, a qual, embora rebaixada a tal decadência moral, ao adotar da Grécia conquistada os jogos públicos e as competições ginásticas e atléticas, por razões de ordem física e moral de puro bom senso, excluiu delas as jovens, como haviam sido excluídas também em muitas cidades da mesma Grécia ainda mais corrupta.”

Nesse mesmo ano, o Cardeal Sbaretti Tazza, Prefeito da Congregação do Concílio, ordenou uma grande investigação nas escolas e associações católicas, para coibir a difusão do uso de maiô de banho nas atividades esportivas e atléticas femininas, tanto em locais públicos quanto nos privados. O cardeal instruiu os bispos da Europa e da América que as moças que faziam ginásticas sem usar saia jamais deveriam praticar seus exercícios ao ar livre, nas ruas ou em eventos desportivos públicos. Mais ainda, os eventos atléticos para moças deveriam ser evitados ou, pelo menos, sérias precauções deveriam ser tomadas para proteger a moralidade católica e a decência da juventude.

As advertências das autoridades religiosas tiveram certo impacto nas famílias católicas, obrigando as associações esportivas a colocar restrições. Por exemplo, a Sociedade de Ginástica de Turim, o primeiro clube italiano de ginástica a abrir suas portas para mulheres, só conseguiu “o favor das mães e da opinião pública” ao garantir a “confidencialidade feminina”, chegando a proibir a entrada nos treinos das moças, não apenas os homens, mas até os pais de família.

Jovens desportistas alemãs desfilam de saia na inauguração dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Nas competições o short e a camiseta apertada eram o uniforme de rigor


Denúncia contra as Competições Juvenis do Reich

Outra preocupação da Igreja era relativa aos esportes femininos violentos, que poderiam contrariar o natural desenvolvimento da feminilidade das moças. Nesses mesmos anos, o então Secretário de Estado, o Cardeal Eugenio Pacelli, ex-núncio em Berlim, denunciou a participação de mulheres em eventos esportivos públicos como as Reichsjugend Wettkämpfe (Competições Juvenis do Reich), alertando que a masculinização das mulheres punha em risco o papel futuro delas no matrimônio e na família.

Em 2019, o Vaticano apresentou
a sua primeira associação desportiva,
denominada “Athletica Vaticana”,
uma equipe de atletismo composta
 por padres, freiras e empregados da Santa Sé.
 Segundo o Vaticano, com esta iniciativa
“se visa demonstrar que o desporte pode
ser um instrumento de solidariedade”
Essa preocupação foi compartilhada até pelo promotor das Olimpíadas modernas, o francês Pierre de Coubertin, que em carta de fevereiro de 1930 ao Papa Pio XI pediu-lhe que reiterasse a posição do Vaticano em relação aos espetáculos esportivos femininos e, em particular, condenasse tanto os esportes violentos para moças como aqueles através dos quais elas se masculinizavam (“montar a cavalo como os homens”), ajudando-o a acabar com algumas competições esportivas juvenis (individuais e coletivas) que, a seu ver, apresentavam tendências perturbadoras.

Essa posição severa do Vaticano em relação aos eventos esportivos públicos com participação de atletas do sexo feminino — acarretando, por exemplo, que a equipe italiana nas Olimpíadas de Los Angeles de 1932 não incluísse mulheres, por causa da oposição do Papa Pio XI — originou uma polêmica, em fins de 1933, entre L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, e o já mencionado órgão fascista Il Littorale, que na época servia de porta-voz do Comitê Olímpico Nacional Italiano.

O jornal vaticano havia definido as exibições públicas de esporte feminino como “irracionais” e “moralmente danosas”, enquanto ensinam “à mulher, à moça, não só o lançamento do dardo, mas de si própria”, pelo que se veem “despojadas da sua graça e do seu pudor”. Num artigo posterior, o jornal reprova que se exija de mocinhas realizar “exercícios não condizentes com a compostura e a graça femininas”, sobretudo quando eles se “executam em público”.

Como um jornal esportivo havia perguntado anteriormente “se são mesmo imorais esses tantos centímetros de pele que as modas bizarras do mundo inteiro mostram, a cada esquina, em todas as ruas”, L’Osservatore Romano aproveitou a ocasião para replicar: “No caso, os ‘centímetros’ correspondem à nudez da maior parte do corpo, nas ‘ruas’ e nos estádios públicos.”

O Comitê Olímpico respondeu que, de um lado, o regime fascista permitia apenas “aqueles exercícios nos quais, nos Jogos Olímpicos modernos, as mulheres foram admitidas com honra”, ou seja, “florete na esgrima, patinação artística, ginástica coletiva, algumas provas de natação e tênis”, e reiterava que “proibiu peremptoriamente apresentações públicas de futebol feminino, como já havia feito com o boxe no passado”.

A respeito do escândalo moral, o Comitê punha sua esperança — inteiramente naturalista e desconhecedora do pecado original — na “maturidade” de um público “composto na sua maioria por esta nova juventude italiana”, a fascista, “cuja modéstia instintiva e natural é em grande parte o resultado de uma saúde não falaciosa, adquirida ou restaurada mediante a prática de educação física”.

As autoridades esportivas do regime reconheciam a possibilidade de que, nas arquibancadas das competições femininas, alguns homens “antiesportivos” — os “doentes” e os “viciosos” — estivessem à espreita para “surpreender algo visto e invisível (e muitas vezes apenas ‘imaginado’) que saciasse a sua miserável humanidade”; alegava, porém, que tais homens “infiltram-se por toda a parte”, não só no estádio, mas também “na Casa de Deus”.

Finalmente, para desacreditar o jornal do Vaticano, Il Littorale publicou uma carta enviada à direção, supostamente escrita por “algumas moças fascistas e ferventes católicas de uma cidade da Lombardia”, alegando que depois que começaram a praticar esportes, não iam mais aos bailes ou ao cinema, nem se interessavam por frivolidades, um resultado moral muito bom, “mesmo que para nos movimentarmos melhor ponhamos calções de ginástica; as anáguas, aliás, sempre faziam cair as varas de salto em altura”.

Adiantando-se um século aos jovens “unissex” de hoje, essas moças fascistas e pseudo-católicas dos anos 1930 argumentavam também o seguinte: “É estranho como os homens nos parecem diferentes quando se trata de esportes. Nunca os vemos como homens e eles nunca nos veem como mulheres: somos simplesmente camaradas tentando superar uns aos outros.”

Terminavam a falaciosa missiva dizendo que um sacerdote escrupuloso do vilarejo havia reprovado sua prática esportiva, a qual podia servir de ocasião de mal a outrem, mas que “as nossas mães nos aconselharam então a ir a outro padre, mais moderno, que compreendesse melhor as necessidades dos jovens, e ele não só nos deu permissão como nos elogiou” e, provavelmente, foi quem redigiu a carta...

O Brasil não ficou alheio a essa ofensiva a favor do esporte feminino. Nas festas juninas de 1921, houve uma partida entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira (na zona norte de São Paulo) noticiada pelos jornais da época como uma atração “curiosa”, quando não “cômica”. Porém, mesmo um grande promotor do futebol, o romancista maranhenese Henrique Maximiliano Coelho Netto — pai do Preguinho, autor do primeiro gol brasileiro em copas do mundo, em 1930 — rejeitava energicamente o futebol feminino: “Certamente ninguém exigirá da mulher que jogue o football ou o rugby, que esmurre antagonistas com o guante de boxe, que arremesse barras de ferro, que se engalfinhe em luta romana. Há exercícios que lhe não são próprios e que lhe seriam prejudiciais, não só à beleza como à saúde e até a sujeitariam ao ridículo”.

Entretanto, no Brasil também havia sacerdotes “mais modernos”, como o respeitado Monsenhor José Severino da Silva, fundador do Orfanato de São José em Campos, que chegou a reunir moças para jogarem nos três maiores clubes de futebol do Norte Fluminense da época, num torneio para arrecadar fundos em benefício de sua obra!

Meninas fazendo educação física no Colégio Santo André, de São João da Boa Vista (SP). O fundador desse prestigioso centro educativo, o venerável Mons. Antônio David, pároco da cidade e vigário-geral da diocese, condenou energicamente, em 1952, a realização de partidas de futebol femininas


Numa “Cruzada pela pureza”, as palavras do Papa Pio XII

Infelizmente, a falange dos padres “mais modernos” era tão numerosa, já naqueles anos, que as advertências do Vaticano não conseguiram impedir que se difundissem as competições esportivas femininas em público, tornadas populares pelo regime de Mussolini.

O Papa Pio XII na Praça de São Pedro
Alguns anos mais tarde, o Papa Pio XII teve de reagir contra a onda crescente de despudor promovendo, por meio do ramo feminino da Ação Católica, uma “grande Cruzada da pureza”, cuja guardiã é a modéstia, que ele definiu como “um respeito religioso pelo corpo que se expressa em um conjunto de disposições da pessoa, de maneiras, de porte, de palavras sabiamente reguladas e medidas”. O Papa apresentou para as moças católicas o exemplo da mártir Vibia Perpétua no anfiteatro de Cartago, onde ao cair de costas na arena após ser lançada ao ar por uma vaca muito feroz, seu primeiro gesto foi endireitar a túnica, que havia sido rasgada, a fim de cobrir seu flanco, mais preocupada que estava com a modéstia do que com a dor.

Após essa introdução, o Papa prosseguia: “A moda e a modéstia devem andar e caminhar juntas como duas irmãs, porque ambas as palavras têm a mesma etimologia, do latim modus, ou seja, a medida certa, além e aquém da qual não se encontra o direito (Oraz. Serm. 1, 1, 106-107).

“Mas a modéstia não está mais na moda! Semelhantes àqueles pobres alienados que, tendo perdido o instinto de autopreservação e a noção do perigo, lançam-se ao fogo ou aos rios, não poucas almas femininas, esquecendo-se do pudor cristão por ambiciosa vaidade, enfrentam miseravelmente perigos onde a sua pureza pode encontrar a morte.

            “Elas sofrem a tirania da moda, mesmo imodesta, de tal maneira que parecem nem mesmo suspeitar de sua inadequação; elas perderam o próprio senso de perigo, o instinto da modéstia. Ajudar estas infelizes a recobrarem a consciência dos seus deveres será o vosso apostolado, a vossa cruzada no meio do mundo. Modestia vestra nota sitomnibus hominibus [Sua modéstia é conhecida por todos os homens] (Fp 4:3)” (Discurso às moças da Ação Católica, em 22 de maio de 1941).

No terceiro aniversário do lançamento dessa Cruzada pela pureza, o Papa Pacelli voltou a insistir nesse tema em nova audiência (22 de maio de 1944), evocando de passagem a questão das competições esportivas:

“Sobre as almas tem que operar a Igreja, e a seu serviço a Ação Católica, vossa ação, em estreita união e sob a direção da hierarquia eclesiástica, entrando na luta contra os perigos dos maus costumes, combatendo-os em todos os domínios que vos são abertos: no campo da moda, das roupas e do vestuário, no campo da higiene e do desporto, no campo das relações sociais e do entretenimento.

“Não é nossa intenção retraçar aqui o triste e por demais conhecido quadro das desordens que se apresentam diante de vossos olhos: roupas tão exíguas, ou tais que parecem feitas para realçar o que deveriam velar; esportes que se praticam com modos de vestir, exibições, ‘camaradagem’, irreconciliáveis ​​até com a modéstia mais indulgente; danças, espetáculos, concertos, leituras, impressos, enfeites, em que a mania da diversão e do prazer acumula os mais graves perigos.

“Talvez algumas jovens digam que uma determinada forma de vestir-se é mais confortável e mais higiênica; mas, se se torna um perigo grave e iminente para a saúde da alma, certamente não é higiênico para o seu espírito: vós tendes o dever de abandoná-las. A salvação da alma fez heroínas de mártires como as Inês e as Cecílias, no meio dos tormentos e das lacerações dos seus corpos virginais: vós, suas irmãs na fé, no amor de Cristo, na estima da virtude, vós não encontrareis no fundo de vosso coração a coragem e a força para sacrificar um pouco de bem-estar, uma vantagem física, se for preciso, para manter segura e pura a vida de vossas almas? E se, por simples prazer pessoal, não se tem o direito de pôr em perigo a saúde física dos outros, não será talvez ainda menos lícito comprometer a saúde, ou melhor, a própria vida das suas almas?

“Oh, com quanto acerto foi observado que, se algumas mulheres cristãs suspeitassem das tentações e quedas que nos causam outros por roupas e familiaridades às quais, em sua leviandade, dão tão pouca importância, ficariam chocadas com sua responsabilidade!”

Com lucidez profética, Pio XII previu exatamente o que acabou acontecendo:

“Enquanto certos trajes provocantes forem triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e quase o signo que as torna reconhecíveis, ninguém ousará tomá-los para si; mas no dia em que esses trajes forem adotados por pessoas acima de qualquer suspeita, ninguém mais hesitará em seguir a corrente, uma corrente que as levará às piores quedas.”

Em vista do nudismo imperante, não se poderia realmente ter caído mais baixo. E os trajes esportivos usados pelas moças tiveram um papel não pequeno em facilitar e precipitar essa queda. Assim o como o Império Romano decadente acabou sendo derrotado pela pureza das virgens cristãs, do mesmo modo as moças católicas de nossos dias poderão vencer a corrupção contemporânea se forem intransigentes em não fazer concessão alguma à imodéstia e confiarem no auxílio de Nossa Senhora, conforme as palavras finais de Pio XII nessa mesma alocução:

“Ah, que a Rainha dos Anjos, vencedora do laço da serpente, toda pura, toda forte em sua pureza, apoie e direcione vossos esforços nesta Cruzada que vos inspirou! Que Ela abençoe vosso estandarte e o coroe com os alvos troféus de vossas vitórias!”

12 de maio de 2023


  Plinio Corrêa de Oliveira 

As revelações de Fátima se diferenciam de outras de anos anteriores. Elas extraem derivações do tema moral e passam para o campo político. Nossa Senhora alerta que há uma crise moral prodigiosa, que no fundo é uma crise religiosa, mas que desemboca numa catástrofe política. 

Ela profetizou [em 13 de julho de 1917] que a Rússia espalharia seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. 

Nesse prognóstico há um nítido conteúdo político. Foi uma revelação que se cumpriu e a Rússia é um flagelo para o mundo, como um criminoso que Deus solta para fustigar os bons. Isso faz cair por terra qualquer ilusão de coexistência pacífica com esse flagelo, porque flagelo é para punir. 


Hoje se procura apresentar a Rússia como menos má, até como boazinha. Mas sabemos que o flagelo é o comunismo russo, e não apenas a teoria comunista. 

Isso por razões naturais se poderia ver como evidente, mas os homens não viam e foi preciso Nossa Senhora falar, devido à extrema cegueira dos homens. 

E para autenticar suas revelações de conteúdo político, Ela fez milagres estupendos, como o do sol que “bailou” várias vezes aos olhos de centenas de milhares de pessoas em várias regiões de Portugal. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 13 de maio de 1965. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

4 de maio de 2023

SANTA MÃE IMACULADA DE DEUS



Para estes dias de maio, o Mês de Maria”, durante o qual especialmente celebramos e invocamos a Santíssima Mãe de Deus, seguem algumas frases de santos que A honraram com belos comentários.


“Na devoção a Nosso Senhor nasce a de sua Mãe. Ninguém pode amar a um sem amar o outro.” 
(São Francisco de Sales) 

 “Tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria Santíssima é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus.” 
(Santo Agostinho) 

 “A menor oração à Mãe de Deus não fica sem resposta.” 
(Santo André Corsino) 

 “Jamais se ouviu dizer no mundo que alguém tenha recorrido com confiança a essa Mãe Celeste e não tenha sido prontamente socorrido.” 
(São João Bosco) 

 “Redunda em honra do Filho tudo quanto se oferece à Mãe Santíssima.” 
(Santo Idelfonso) 

 “Depois de Deus tudo podes, e teu Filho, Deus e Senhor de todos nós, Te concede tudo como à Mãe, pois com toda a justiça se rende a tuas entranhas maternais.” 
(Santo Eutímio)

3 de maio de 2023

O dragão comunista chinês seduzindo países para abocanhá-los

A China vermelha avança em seu projeto de escravizar, política e economicamente, muitas nações 

Fonte: Editorial da e Revista Catolicismo, Nº 868, Maio/2023 

Ao tratar da China, a mídia esquerdista — hoje um pleonasmo —coloca “cortinas” para que o público não veja os horrores da ditadura comunista ali vigente. 

Mas essa mesma mídia abre parcialmente algumas frestas nas cortinas “para inglês ver”, a fim de deixar o público impressionado com a riqueza daquele país. Riqueza obtida graças à bobeira, traição e/ou entreguismo dos nababos do Ocidente que transferiram para lá grandes empresas, prejudicando assim seus próprios países. 

Foi o que ocorreu na recente viagem de Lula à China, acompanhado de algumas dezenas de sequazes petistas. Eles ficaram hospedados em mega-hotéis, se regalaram em restaurantes Cinco Estrelas, tudo por conta do regime de Pequim. Os muito bem treinados guias turísticos e anfitriões, todos agentes do Partido Comunista Chinês, lhes mostraram aquelas faraônicas construções, indústrias moderníssimas, centros comerciais e arranha-céus etc., mas não as periferias da China de Xi Jinping, com suas favelas proporcionais à imensidão do país, onde estadeiam as mais cruéis violações dos “direitos humanos”. 

Nessa viagem, sob o pretexto de atrair investimentos chineses, Lula não fez outra coisa senão vender algo da nossa soberania àquela tirania comunista. O que nos faz recordar uma declaração do ex-chanceler Ernesto Araújo: “Queremos vender soja e minério, mas não vender nossa alma”... 

A matéria de capa da revista Catolicismo deste mês [capa acima] reproduz uma denúncia que boa parte da mídia esconde: a tática utilizada pela China comunista de seduzir por meio do dinheiro para depois subjugar os países receptivos ao seu canto de sereia. Nesse seu incontido expansionismo ela tem também o plano da chamada “Nova Rota da Seda, que não passa do velho projeto de Mao Tsé-Tung para dominar o mundo inteiro. 

Para o dragão comunista chinês é fácil abocanhar um país cujo governo está disposto a trair a sua vocação, a vender sua alma. Supliquemos à Rainha e Padroeira do Brasil que suscite fortes reações anticomunistas para que isso não aconteça. E que dê intrepidez à pequenina Taiwan, que poderá repetir naquelas longínquas terras a mesma façanha que a Ucrânia está realizando para se defender da brutal agressão russa. Lembrados sempre de que os gigantes do mal têm pés de barro. 

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1 de maio de 2023

SANTA GEMA GALGANI


Celebramos os 120 anos da entrada no Céu desta grande mística italiana do século XX, falecida aos 25 anos em 11 de abril de 1903, reproduzindo um precioso comentário analítico feito por um seu devoto e admirador. 

  Plinio Corrêa de Oliveira 

No olhar de Santa Gema Galgani vemos um mundo. Uma alma nada desbotada, com personalidade a conta inteira! 

A meu ver, ela, sem ser lindíssima, é bem bonita. O oval do rosto muito bem traçado; o nariz, a boca, as sobrancelhas e o cabelo muito regulares; os olhos bonitos. Pele muito limpa e muito agradável de ver; à sua posição de cabeça não falta certa nobreza. 

Uma beleza feita de dois elementos: fisicamente bonita, espelhando uma linda alma. Uma alma que considera que o bem é o bem e o mal é o mal; o bem não pode ser violado e não é admissível que se pratique o mal. Como que dizendo: custe o que custar, farei o bem e não praticarei o mal. Se alguém praticá-lo, terá a minha censura porque sou combativa, não me limito a cruzar os braços. 

Ela é íntegra e virginal, uma pessoa que se entregou inteiramente a Deus Nosso Senhor. Uma guerreira, mas sem ter sido uma batalhadora no sentido “joanadárquico”. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 14 de junho de 1968. Esta transcrição não passou pela revisão do autor. Recomendamos a leitura da vida de Santa Gema Galgani publicada na edição da revista Catolicismo de abril/2006: 

http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/6226D339-3048-560B-1C0CACA66BEF9DF0/mes/Abril2006