Panorama da pequena cidade italiana de Genazzano [Fotos PRC]
✅ Plinio Maria Solimeo
Nosso mundo materializado e ateu não merece testemunhar grandes milagres, como os que ocorriam em épocas de muita fé. É por isso que os há tão poucos.
Lendo um documentadíssimo livro sobre Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, escrito no final do século XIX por Monsenhor George F. Dillon, deparei-me com um fato surpreendente, portador de não somente um, mas de vários milagres sucessivos.
Descrevendo a capela da Basílica de Nossa Senhora em Genazzano, o autor fala de um altar lateral onde há um afresco da Crucifixão de tamanho natural, muito venerado pelos peregrinos que ali acorrem. Isso se dava na época em que ele escrevia, 1883, e continua em nossos dias.
O que tem esse altar de especial, para atrair tanta devoção?
Segundo Mons. Dillon, esse afresco é muito antigo, tendo entrado para a História no ano de 1540, quando o príncipe Colonna, senhor de Genazzano, rebelado contra o Papa Paulo III por uma questão de tributação, fez com que as tropas pontifícias se vissem obrigadas a sitiar suas principais fortalezas, entre as quais a de Genazzano.
No considerável período desse sítio, alguns dos soldados de Colonna começaram a beber e a jogar para passar o tempo, como é comum entre as tropas. Eis que um deles, tendo perdido tudo no jogo e excitado pelo vinho, começou a blasfemar horrivelmente contra Deus e seus Santos.
Mas não se deteve aí. Entrou depois na igreja de Santa Maria, onde se deparou com o afresco da Crucifixão [foto]. Em vez de se comover ante tão piedosa cena, atribuindo a culpa de seu infortúnio a Deus, desembainhou a espada e, para horror dos presentes, desferiu um tremendo golpe no rosto do Crucificado, outro em seu sagrado peito, e um terceiro nas suas pernas.
Ocorreu então um estupendo milagre: como se as feridas tivessem sido infligidas ao Corpo vivo de Cristo, o sangue jorrou de todas elas, e cobriram a espada do malfeitor que as causou.
Vários dos companheiros do soldado testemunharam com horror o insano sacrilégio. E passado o primeiro impacto, decidiram punir seu miserável autor. Este, em vez de mostrar qualquer sinal de arrependimento à vista do claríssimo milagre, procurou fugir. Alcançado pelos companheiros, foi trucidado por suas espadas.
Afirma Mons. Dillon que essa história foi assim contada por vários historiadores. Contudo, diz ele que “este escritor ouviu de um velho padre agostiniano outra versão do destino do soldado. Que o infeliz escapou da morte que tão justamente merecia, arrependeu-se e terminou por tendo vida santa e penitencial como irmão leigo agostiniano”.
Sucederam-se outros fatos milagrosos relacionados a esse. Um deles é que a referida espada se dobrou em três [foto ao lado], exatamente nos lugares em que atingiu a figura sagrada, e nunca pôde ser endireitada.
Por exemplo, em 1688, por ordem do Cardeal Colonna, na presença dele e de várias testemunhas, a espada foi endireitada pelo ferreiro André Barbarano, que usou fogo e marreta para isso.
Ocorreu entretanto que, tão logo terminado seu trabalho, a espada voltou instantaneamente à posição dobrada, que mantém até hoje. Por isso ela é guardada cuidadosamente em um nicho de vidro perto do altar da Crucifixão, como um registro perpétuo do milagre. Esse altar passou a ser objeto de especial veneração pelos peregrinos.
Mons. Dillon afirma que esse fato, ocorrido no século XVI, estava ainda muito vivo em 1883, quando ele escrevia.
O autor das presentes linhas quis saber se isso ainda ocorre em nossos dias, isto é, no ano de 2023. Escrevendo a Nestor Fonseca, um amigo residente na Itália, recebi dele a seguinte informação:
“Tivemos a graça de, por ocasião do Natal, passar em Genazzano. Lá rezei pelo senhor e pelo bom andamento do livro sobre Nossa Senhora do Bom Conselho. Sim, efetivamente o altar com a pintura de Nosso Senhor crucificado continua tal e qual a descrição de Mons. Dillon, bem como a espada torcida dentro de uma espécie de nicho. Ao lado deste último há três textos emoldurados (em italiano, inglês e francês [foto]) com o relato explicativo daqueles portentos (21-1-2023)”.
Como dissemos, milagres como esses, que ocorriam com tanta frequência nos bons tempos de antanho e alimentavam a piedade dos fiéis, são raros em nossos dias. Ainda os há — basta ver Lourdes —, mas são raros e pouco conhecidos.