31 de outubro de 2017

500 ANOS DA REVOLTA DE LUTERO — Parte II

"Eu não posso e não vou me retratar". Com essas palavras, Lutero defende seus
escritos na "Dieta de Worms", em abril de 1521
Oscar Vidal

A propósito da comemoração do meio milênio da pseudo Reforma Protestante, publicamos ontem matéria [para visualizá-la click aqui] a respeito da inconcebível celebração de Lutero por parte de altas cúpulas da Igreja Católica — o que tem causado perplexidade entre os fiéis. Isto porque eles ficam naturalmente sem entender que lógica há em festejar a figura do revoltado heresiarca que se empenhou, entre outros malefícios à Cristandade, na destruição da Igreja Católica e na abolição do próprio Papado.


31-10-2917 — Vaticano lançou um selo 
comemorativo do 
V centenário da Reforma Protestante! 
A estampilha, tem como fundo 
a cidade Wittenberg, berço da heresia luterana
O Vaticano lançou hoje um selo comemorativo do V centenário da Reforma Protestante! A estampilha tem como fundo a cidade Wittenberg, berço da heresia luterana, no centro um crucifixo, à esquerda a figura de Lutero (portando a bíblia traduzida e deformada por ele) e, à direita seu comparsa na expansão da Revolução Protestante, Melanchton (portando a “Confissão de Augsburgo” — o primeiro documento oficial dos princípios do protestantismo) [foto ao lado]. 

Os atos festejando Lutero entram fragorosamente em contradição com a afirmação do cardeal Gerhard Müller: “Nós, católicos, não temos qualquer motivo para celebrar o dia 31 de outubro de 1517, data do início da Reforma”. Também se opõem a uma antiga advertência (2012) do cardeal Kurt Koch: “Não podemos celebrar um pecado [...]. Os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser chamados dias de festa”

Como prometido, segue a transcrição do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na “Folha de S. Paulo” em 10-01-1984. De sua leitura podemos deduzir quão absurdo é esse enaltecimento de Lutero promovido pela esquerda católica.


Máscara mortuária do heresiarca Lutero

Lutero pensa que é divino!


Plinio Corrêa de Oliveira
Transcrito da “Folha de S. Paulo”, 10 de janeiro de 1984


Não compreendo como homens da Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo, e indiretamente com todas as religiões, escolas filosóficas etc. Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria — se até lá se pudesse chegar — a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça.

Sobre Lutero — a quem caberia, sob certo aspecto, o papel de ponto de partida nessa caminhada para a balbúrdia total — publico hoje mais alguns tópicos que bem mostram o odor que sua figura revoltada espargiria nesse supermercado, ou melhor, nesse necrotério de religiões, de filosofias, e do próprio pensamento humano.

Segundo em anterior artigo prometi, tiro-os da magnífica obra do padre Leonel Franca S. J., “A Igreja, a Reforma e a Civilização” (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 3ª ed., 1934, 558 pp.). [capa ao lado].

Elemento absolutamente característico do ensinamento de Lutero é a doutrina da justificação independente das obras. Em termos mais chãos, que os méritos superabundantes de Nosso Senhor Jesus Cristo só por si asseguram ao homem a salvação eterna. De sorte que se pode levar nesta Terra uma vida de pecado, sem remorsos de consciência, nem temor da justiça de Deus.

A voz da consciência era, para ele, não a da graça, mas a do demônio!

Por isso escreveu a um amigo que o homem vexado pelo demônio, de quando em quando “deve beber com mais abundância, jogar, divertir-se e mesmo fazer algum pecado em ódio e acinte ao diabo, para lhe não darmos azo de perturbar a consciência com ninharias [...] Todo o decálogo se nos deve apagar dos olhos e da alma, a nós tão perseguidos e molestados pelo diabo” (M. Luther, "Briefe, Sends breiben und Bedenken", e. De Wette, Berlim, 1825-1828 – cfr. op. cit., pp. 199-200).

Neste sentido, escreveu ele também: “Deus só te obriga a crer e a confessar. Em todas as outras coisas te deixa livre e senhor de fazeres o que quiseres, sem perigo algum de consciência; antes é certo que, de si, Ele não se importa, ainda mesmo se deixasses tua mulher, fugisses do teu senhor e não fosses fiel a vínculo algum. E que se lhe dá (a Deus), se fazes ou deixas de fazer semelhantes coisas?” ("Werke", ed. de Weimar, 12, pp. 131 ss. — cfr. op. cit., p. 446).

Talvez ainda mais taxativo é este incitamento ao pecado, em carta a Melanchton [quadro ao lado],  de 1º de agosto de 1521: “Sê pecador, e peca a valer (esto peccator et pecca fortiter), mas com mais firmeza ainda crê e alegra-te em Cristo, vencedor do pecado, da morte e do mundo. Durante a vida presente devemos pecar. Basta que pela misericórdia de Deus conheçamos o Cordeiro que tira os pecados do mundo. Dele não nos há de separar o pecado, ainda que cometêssemos por dia mil homicídios e mil adultérios” (Briefe, Sendschreiben und Bedenken", ed. De Wette, 2, p. 37 – cfr. op. cit. p. 439).
Tão descabelada é esta doutrina, que o próprio Lutero a duras custas nela conseguia acreditar: “Nenhuma religião há, em toda a Terra, que ensine esta doutrina da justificação; eu mesmo, ainda que a ensine publicamente, com grande dificuldade a creio em particular” (Werke", ed. de Weimar, 25, p. 330 – cfr. op. cit., p. 158).

Mas os efeitos devastadores da pregação assim confessadamente insincera de Lutero, ele mesmo os reconhecia: “O Evangelho hoje em dia encontra aderentes que se persuadem não ser ele senão uma doutrina que serve para encher o ventre e dar larga a todos os caprichos” ("Wekw", ed. de Weimar, 33, p. 2 – cfr. po. cit., p. 212).

E Lutero acrescentava, acerca de seus sequazes evangélicos, que “são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez e a toda espécie de vícios. Expulsamos um demônio (o papado) e vieram sete piores” ("Werke", ed. de Weimar, 28, p. 763 – cfr. op. cit., p. 440).

“Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias para a justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem [...] E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo revivesse a doutrina que afirma a necessidade do bem fazer para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem” ("Werke", ed. de Weimar, 27, p. 443 – cfr. op. cit., p. 441).

Todas essas insânias explicam que Lutero chegasse ao frenesi do orgulho satânico, dizendo de si mesmo: “Este Lutero não vos parece um homem extravagante? Quanto a mim, penso que ele é Deus. Senão, como teriam os seus escritos e o seu nome a potência de transformar mendigos em senhores, asnos em doutores, falsários em santos, lodo em pérolas!” (Ed. Wittemberg, 1551, t. 4, p. 378 – cfr. op. cit., p. 190).
Lutero morto


Em outros momentos, a opinião que Lutero tinha de si mesmo era muito mais objetiva: “Sou um homem exposto e implicado na sociedade, na crápula, nos movimentos carnais, na negligência e em outras moléstias, a que se vêm ajuntar as do meu próprio ofício” ("Briefe, Sendschreiben und Bedenken", ed. De Wette, 1, p. 232 – cfr. op. cit., p. 198). Excomungado em Worms em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à moleza. E a 13 de julho escreveu a outro prócer protestante, Melanchton: “Eu aqui me acho, insensato e endurecido, estabelecido no ócio, oh dor!, rezando pouco, e deixando de gemer pela Igreja de Deus, porque nas minhas carnes indômitas ardo em grandes labaredas. Em suma, eu que devo ter o fervor do espírito, tenho o fervor da carne, da libidinagem, da preguiça, do ócio e da sonolência” (Briefe, Sendscheiben und Bedenken", ed. De Wette, 2, p. 22 – cfr. op. cit. p. 198).

Num sermão pregado em 1532: “quanto a mim confesso — e muitos outros poderiam sem dúvida fazer igual confissão — que sou desleixado assim na disciplina como no zelo, sou muito mais negligente agora que sob o papado; ninguém tem agora pelo Evangelho o ardor que se via outrora” ("Saemtliche Werke", ed. de Plochman-Irmischer, 28 (2), p. 353 – cfr. op. cit. p. 441).
*       *       *

O que de comum se pode encontrar, pois, entre esta moral, e a da Santa Igreja Católica Apostólica Romana?

500 ANOS DA REVOLTA DE LUTERO CONTRA A CRISTANDADE

A pseudo-reforma protestante impulsionou a humanidade ao igualitarismo comunista e à anarquia 

Oscar Vidal 

Neste dia 31 de outubro completa-se o V centenário da Revolução Protestante, marco oficial da revolta do heresiarca Martinho Lutero contra Roma, quando o monge apóstata pregou suas 95 teses na porta da capela do castelo de Wittenberg, em Augsburgo (Alemanha), no dia 31 de outubro de 1517. [pintura ao lado

Os erros de tais teses blasfemas, fruto do orgulho e da sensualidade desse fementido herege, começaram a ser difundidos pelo mundo, impulsionado outras revoltas e dando origem, séculos depois, à Revolução Francesa e à Revolução Comunista. 

Tratando do processo revolucionário em sua obra Revolução e Contra-Revolução (Parte I, Cap. 6, 1 A e B), Plinio Corrêa de Oliveira descreve as tendências desordenadas e as paixões desenfreadas como sendo “a força propulsora da Revolução”.
“Como os cataclismos, as más paixões têm uma força imensa, mas para destruir. “Essa força já tem potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde nos seus piores excessos. Nas primeiras negações do protestantismo, por exemplo, já estavam implícitos os anelos anarquistas do comunismo. Se, do ponto de vista da formulação explícita, Lutero não era senão Lutero, todas as tendências, todo o estado de alma, todos os imponderáveis da explosão luterana já traziam consigo, de modo autêntico e pleno, embora implícito, o espírito de Voltaire e de Robespierre, de Marx e de Lenine”. (Cfr. Leão XIII, Encíclica Quod Apostolici Muneris, de 28/12/1878, Bonne Presse, Paris, vol. I, p. 28). 

Como até na Igreja Católica setores progressistas estão celebrando esse centenário — uma incoerência que está provocando desconcerto e perplexidade em inúmeros fiéis católicos —, reproduzimos abaixo uma colaboração do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicada na “Folha de S. Paulo” em 27-12-83. Essa leitura auxiliará uma análise sobre a gravidade dessa celebração tão ilógica. Como até autoridades eclesiásticas podem comemorar o ódio contra a Igreja Católica e o desejo de destruí-la?


Gravura representando o "casamento" do ex-frade Lutero com a ex-freira Catarina von Bora

Lutero: não e não

Plinio Corrêa de Oliveira
Transcrito da “Folha de S. Paulo”, 27 de dezembro de 1983


         Tive a honra de ser, em 1974, o primeiro signatário de um manifesto publicado em cotidianos dos principais do Brasil e reproduzido em quase todas as nações onde existiam as então onze TFPs. Era seu título: A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas – Para a TFP: Omitir-se? Ou resistir? (cfr. “Folha de S. Paulo”, 10-4-74).

Nele, as entidades declaravam seu respeitoso desacordo face à "ostpolitik" conduzida por Paulo VI, e expunham pormenorizadamente suas razões para tanto. Tudo — diga-se de passagem — expresso de maneira tão ortodoxa que ninguém levantou a propósito qualquer objeção.

Para resumir numa frase, ao mesmo tempo toda a sua veneração ao Papado e a firmeza com a qual declaravam sua resistência à "ostpolitik" vaticana, as TFPs diziam ao Pontífice “Nossa alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe”.

Lembrei-me desta frase com especial tristeza lendo a carta escrita por João Paulo II ao cardeal Willebrands (cfr. "L’Osservatore Romano", 6-11-83), a propósito do quingentésimo aniversário do nascimento de Martinho Lutero, e assinada no dia 31 de outubro p.p. data do primeiro ato de rebelião do heresiarca, na igreja do castelo de Wittenberg. Está ela repassada de tanta benevolência e amenidade, que me perguntei se o Augusto signatário esquecera as terríveis blasfêmias que o frade apóstata lançara contra Deus, Cristo Jesus Filho de Deus, o Santíssimo Sacramento, a Virgem Maria e o próprio Papado.

O certo é que ele não as ignora, pois estão ao alcance de qualquer católico culto, em livros de bom quilate, os quais ainda hoje não são difíceis de obter.

Tenho em mente dois deles. Um, nacional é “A Igreja, a Reforma e a Civilização, do grande jesuíta Pe. Leonel Franca. Sobre o livro e o autor, os silêncios oficiais vão deixando baixar a poeira.

O outro livro é de um dos mais conhecidos historiadores franceses do século XX, Funck-Brentano, membro do Instituto de França, e aliás insuspeito protestante.

Comecemos por citar textos colhidos na obra deste último: "Luther" (Grasset, Paris, 1934, 7ª ed., 352 pp.). [capa ao lado] E vamos diretamente a esta blasfêmia sem nome: “Cristo — diz Lutero — cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte, de que nos fala João. Não se murmurava em torno dele: “Que fez, então, com ela? Depois com Madalena, em seguida com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim Cristo, tão piedoso, também teve de fornicar, antes de morrer” ("Propos de table", nº 1472, ed. de Weimar 2. 107 – cfr op. cit. p. 235).

Lido isto, não nos surpreende que Lutero pense — como assinala Funck-Brentano — que "certamente Deus é grande e poderoso, bom e misericordioso [...] mas é estúpido — "Deus est stultissimus" ("Propos de table", no. 963, ed. de Weimar, I, 487). É um tirano. Moisés agia movido por sua vontade, como seu lugar-tenente, como carrasco que ninguém superou, nem mesmo igualou em assustar, aterrorizar e martirizar o pobre mundo” (op. cit. p. 230).

Tal está em estrita coerência com estoutra blasfêmia, que faz de Deus o verdadeiro responsável pela traição de Judas e pela revolta de Adão: “Lutero — comenta Funck-Brentano — chega a declarar que Judas, ao trair Cristo, agiu sob imperiosa decisão do Todo-poderoso. Sua vontade (a de Judas) era dirigida por Deus: Deus o movia com sua onipotência. O próprio Adão, no paraíso terrestre, foi constrangido a agir como agiu. Estava colocado por Deus numa situação tal que lhe era impossível não cair” (op. cit. p. 246).

Coerente ainda nesta abominável sequência, um panfleto de Lutero intitulado “Contra o pontificado romano fundado pelo diabo”, de março de 1545, chamava o Papa, não “Santíssimo”, segundo o costume, mas “infernalíssimo”, e acrescentava que o Papado mostrou-se sempre sedento de sangue (cfr. op. cit. pp. 337-338).

Não espanta que, movido por tais ideias, Lutero escrevesse a Melanchton, a propósito das sangrentas perseguições de Henrique VIII contra os católicos da Inglaterra. “É lícito encolerizar-se quando se sabe que espécie de traidores, ladrões e assassinos são os papas, seus cardeais e legados. Prouvesse a Deus que vários reis da Inglaterra se empenhassem em acabar com eles” (op. cit. p. 254).

Por isso mesmo exclamou ele também: “Basta de palavras: o ferro! o fogo!” E acrescenta: “Punimos os ladrões à espada, por que não havemos de agarrar o papa, cardeais e toda a gangue da Sodoma romana e lavar as mãos no seu sangue?” (op. cit., p. 104).

Esse ódio de Lutero o acompanhou até o fim da vida. Afirma Fuck-Brentano: “Seu último sermão público em Wittenberg é de 17 de janeiro de 1546; o último grito de maldição contra o papa, o sacrifício da missa, o culto da Virgem” (op. cit., p. 340).

Não espanta que grandes perseguidores da Igreja tenham festejado a memória dele. Assim “Hitler mandou proclamar festa nacional na Alemanha a data comemorativa de 31 de outubro de 1517, quando o frade agostiniano revoltoso afixou nas portas da igreja do castelo de Wittenberg as famosas 95 proposições contra a supremacia e as doutrinas pontifícias” (op. cit., p. 272).

E, a despeito de todo o ateísmo oficial do regime comunista, o Dr. Erich Honnecker, presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa, o primeiro homem da República Democrática Alemã, aceitou a chefia do comitê que, em plena Alemanha vermelha, organizou as espalhafatosas comemorações de Lutero neste ano (cfr. "German Comments", de Osnabruck, Alemanha Ocidental, abril de 1983).

Que o frade apóstata tenha despertado tais sentimentos num líder nazista, como mais recentemente no líder comunista, nada de mais natural.

Nada mais desconcertante e até vertiginoso, do que o ocorrido quando da recentíssima comemoração do quingentésimo aniversário do nascimento de Lutero num esquálido templo protestante de Roma, no dia 11 do corrente.

Deste ato festivo, de amor e admiração à memória do heresiarca, participou o prelado que o conclave de 1978 elegeu Papa. E ao qual caberia, portanto, a missão de defender, contra heresiarcas e hereges, os santos nomes de Deus e de Jesus Cristo, a Santa Missa, a Sagrada Eucaristia e o Papado!

“Vertiginoso, espantoso” — gemeu, a tal propósito, meu coração de católico. Que, sem embargo, com isto redobrou de fé e veneração pelo Papado.
No próximo artigo me resta citar “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, do grande Pe. Leonel Franca. 

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[Amanhã 31 de outubro, publicaremos o artigo acima mencionado]

17 de outubro de 2017

NÓBREGA, 500 ANOS DEPOIS

Em São Vicente (SP), o Pe. Manuel da Nóbrega, abençoando as tropas que, sob o comando de Estácio de Sá, partiam para expulsar os invasores franceses do Rio de Janeiro. A seus pés, ajoelhado, vemos o Pe. Anchieta. Pintura de Benedito Calixto, Palácio São Joaquim (RJ).

Paulo Roberto Campos

O Padre Manuel da Nóbrega, qualificado a muito justo título de “Primeiro Apóstolo do Brasil”, nasceu em 18 de outubro de 1517 — exatamente há cinco séculos — em Sanfins do Douro, Província de Trás-os-Montes (Portugal), e faleceu no Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1570, dia em que completava 53 anos.

O Brasil, em seu processo civilizatório, muito deve ao monumental esforço do Padre Nóbrega, que juntamente com o Padre Anchieta e outros heroicos missionários catequizaram, civilizaram e salvaram nossos indígenas, libertando-os de seus costumes tribais que incluíam práticas de bruxaria, canibalismo etc.

Hoje, entretanto, uma nova corrente de missionários indigenistas procura relegar e silenciar a memória desses gigantes da fé, e até mesmo desprezar sua fantástica epopeia.

Ao mesmo tempo, desejosos de deitar por terra o nosso passado glorioso, esses neomissionários esquerdistas agitam o País com arengas favoráveis ao primitivismo dos indígenas, promovendo, por exemplo, a demarcação de suas terras para que nelas vivam como num zoológico, distantes e sem o bafejo da civilização, inflamando-os contra os brancos, provocando uma fratricida luta de raças e de classes.

Em memória do V centenário do nascimento do grande Padre Manuel da Nóbrega, segue uma análise de Plinio Corrêa de Oliveira, extraída de sua obra Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, publicada em 1977.
“Quomodo obscuratum est aurum! Como chegou a tornar-se escuro o ouro! — exclama o profeta Jeremias (Lm. 4, 1).  
Desde Nóbrega e Anchieta, a luminosa atuação dos missionários em nosso País consistiu em evangelizar, educar, civilizar nossos irmãos silvícolas.  
Mas o ouro inestimável, ao qual a ação missionária tradicional pode ser comparada, obscureceu-se.
Em nossos dias, uma poderosa corrente missionária, influenciada pelo progressismo cada vez mais difundido em nossos meios eclesiásticos, visa precisamente o contrário: proclama o estado dos silvícolas como a própria perfeição da vida humana, opõe-se à integração do silvícola na civilização, afirma o caráter secundário — quando não a inutilidade — da catequese, e não poupa críticas à ação dos grandes missionários de outrora, nem mesmo a de Nóbrega e Anchieta, os quais o Brasil todo venera.  
Do fundo de nossas selvas, esses neomissionários lançam apelos em prol da luta de classes, que desejam ver corroendo, até às entranhas, o Brasil civilizado. 
O estudo do pensamento dessa corrente neomissiológica é indispensável para quem queira conhecer a grande crise da Igreja no Brasil. E compreender de que maneira essa crise tende a contagiar o País, transformando-se, de crise da Igreja, em crise do Brasil”.

12 de outubro de 2017

Há um século Nossa Senhora operou o “Milagre do Sol”

Foto original feita no momento do “Milagre do Sol”

Os céus de Portugal serviram de “púlpito” para a Providência Divina pregar ao mundo inteiro. O prêmio e o castigo! Promessas e advertências da Santa Mãe de Deus, por meio de portentosos sinais do Céu, para tocar os corações dos fiéis, mas também os corações endurecidos.


Paulo Roberto Campos

Não deixa de ser sintomático e simbólico que em Fátima, no dia 13 de outubro de 1917, Nossa Senhora tenha escolhido o “astro-rei” para realizar o “Milagre do Sol”.

Portentoso prodígio sobrenatural que Ela operou a fim de confirmar aos olhos de todos, até dos incrédulos, a grandeza e a veracidade de suas revelações, assim como a sinceridade dos três pequenos pastores de Fátima, Lúcia, Francisco e Jacinta.

Lúcia, ao descrever a Virgem Santíssima em suas Memórias, registrou de modo inspirado: “Era uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal, cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente”.1

Há na Sagrada Escritura uma referência muito evocativa à Santa Mãe de Deus: “Quae est ista quae ascendit sicut aurora consurgens pulchra ut luna electa ut sol terribilis ut castrorum acies ordinata?” (Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha? [Cant. 6,10]). A lua simboliza a sua misericórdia, enquanto o sol é o símbolo da justiça d’Aquela que é “terrível como um exército em ordem de batalha”. Veremos como no “Milagre do Sol” a justiça e a misericórdia se manifestaram em Nossa Senhora. 

“Em outubro farei um milagre para que todos acreditem”

Os três pastorezinhos de Fátima,
junto a um arco erguido pelo povo
para marcar o local das Aparições
O “Milagre do Sol”, ocorrido durante a sexta e última aparição da Virgem Fátima [vide quadro no final deste post], foi testemunhado por aproximadamente 60 mil pessoas na Cova da Iria — local onde hoje se encontra a célebre Capelinha das Aparições. O deslumbrante sinal do Céu não foi visto apenas pelos portugueses daquela região, mas também por pessoas provenientes de diversos pontos do país — pertencentes a todas as classes sociais, crentes e não crentes, e de todas as idades. A maioria chegou caminhando, muitos até descalços na lama, pois chovia constantemente; outros chegaram a cavalo, em charretes e automóveis, alguns até luxuosos. Nas vésperas do dia 13 de outubro, era tanta gente que se pôs em marcha rumo a Fátima, que alguns diretores de jornais portugueses, apesar de céticos, resolveram mandar correspondentes para noticiar o que de fato aconteceria.

    E aconteceu o grandioso milagre, que, além de ter sido assistido pela multidão presente na Cova da Iria, foi visto por incontáveis outros portugueses, pois a manifestação do fulgor solar alcançou um raio de mais de 30 quilômetros do local das aparições.

Fato que desmentiu irrefutavelmente tanto os ateus quanto a imprensa anticlerical da época, que, mesmo tomando conhecimento daquela extraordinária comprovação da existência de Deus, procuraram espalhar a ideia de que o “acidente” não passava de “sugestão coletiva” ou de algum “efeito hipnótico”, porquanto não havia sido registrado por nenhum observatório astronômico. Ora, justamente o fato de não ter sido registrado pelos astrônomos comprova o milagre, pois o que ocorrera não foi um mero fenômeno natural...

Naquele histórico dia, a Santa Mãe de Deus cumpriu o que havia prometido aos três pequenos pastores de Fátima na quinta aparição (13 de setembro de 1917), quando afirmara: “Em outubro farei um milagre para que todos acreditem”.2 

Incontáveis testemunhas fidedignas

Os portugueses que receberam a graça de presenciar o “Milagre do Sol” descreveram-no como algo apocalíptico. Muitos tiveram a impressão de que chegava o fim do mundo; rezavam o Ato de contrição ou o Credo; confessavam em voz alta pedindo perdão de seus pecados. Mesmo os ímpios que foram a Fátima apenas para desdenhar e fazer chacotas, “prostram-se por terra, entre soluços e orações patéticas”.3

O que os ateus quiseram qualificar como sendo um “fenômeno de sugestão coletiva” foi um verdadeiro e deslumbrante milagre presenciado por centenas de milhares de pessoas. Muitos testemunhos estão publicados em centenas de livros e periódicos. Como não é possível sequer sintetizá-los aqui, seguem apenas excertos de alguns depoimentos. Mesmo porque eles se repetem — uma comprovação a mais de sua veracidade, pois todos viram a mesma manifestação no sol.

Nesse sentido, iniciamos com um documento de grande valor, que constitui um dos primeiros reconhecimentos oficiais da Igreja às revelações feitas pela Santíssima Virgem aos pastorzinhos em Fátima. Ele foi redigido pela autoridade eclesiástica da região, o Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva [foto acima] u à página 11 de sua Carta Pastoral sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima (1930):

“O fenômeno solar de 13 de outubro de 1917, descrito nos jornais da época, foi o mais maravilhoso e o que maior impressão causou aos que tiveram a felicidade de o presenciar.

“As três crianças fixaram com antecedência o dia e a hora em que se havia de dar. A notícia correu veloz por todo o Portugal e, apesar de o dia estar desabrido, chover copiosamente, juntaram-se milhares e milhares de pessoas que, à hora da última Aparição, presenciaram todas as manifestações do astro-rei, homenageando a Rainha do Céu e da Terra, mais brilhante que o sol no auge das suas luzes.”

“O sol bailou ao meio-dia em Fátima”

Na sua esplêndida obra Nossa Senhora de Fátima — Aparições, Culto, Milagres, o Pe. Luiz Gonzaga Ayres da Fonseca, professor no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, após transcrever relatos de testemunhas, inclusive da “mídia” liberal e maçônica da época, consignou:

“Toda a imprensa periódica se ocupou largamente dos acontecimentos daquele dia, em particular do “Milagre do Sol”. Tiveram maior ressonância os artigos do ‘O Século’ (13 a 15 de outubro de 1917): ‘Em pleno sobrenatural: as Aparições de Fátima’ e ‘Coisas espantosas: como o sol bailou ao meio-dia em Fátima’, porque o autor, AVELINO DE ALMEIDA, principal redactor do jornal, apesar da sua ostentada incredulidade e sectarismo, prestou lealmente homenagem à verdade: o que depois lhe atraiu as iras do ‘Livre Pensamento’”.4

No livro, portador do inspirado título Era uma Senhora mais brilhante que o sol — um clássico para se conhecer bem a história de Fátima —, do Pe. João M. de Marchi, I.M.C. reproduz notícia do jornal “O Dia”, de 19 de outubro de 1917, do qual extraímos um trechinho sobre o momento da manifestação solar:
    
“[...] Tudo chorava, tudo rezava de chapéu na mão, na impressão grandiosa do Milagre esperado! Foram segundos, foram instantes que pareceram horas, tão vividos foram!”.5

       Também o Pe. De Marchi transcreve um belo relato do Dr. Almeida Garrett, então catedrático da célebre Universidade de Coimbra, redigido por solicitação do Cônego Doutor Manuel Nunes Formigão:

       “[...]       De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol, conservando a celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra ameaçando esmagar-nos com o peso de sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica”.6

“Meu filho, ainda duvidas da existência de Deus?”

Escreveu, no próprio dia 13 de outubro de 1917, o Pe. Manuel Pereira da Silva a seu colega da região da Guarda, o Cônego António Pereira de Almeida:

“[...] Numa carruagem de luxo, junto da qual se encontrava o Dr. Formigão, uma senhora de meia idade, elegantemente vestida, volta-se para um rapaz, tipo de estudante universitário, e pergunta-lhe, presa de indizível comoção: — ‘Meu filho, ainda duvidas da existência de Deus?’ — ‘Não, minha mãe’, — responde-lhe o jovem com os olhos marejados de lágrimas. ‘Não, agora é impossível!’”.7

“Caí de joelhos”. Parecia ter chegado o fim do mundo

Nossa Senhora de Fátima é outro imprescindível livro a respeito dos magnos acontecimentos na Cova da Iria, redigido pelo historiador e escritor norte-americano William Thomas Walsh, que viajou a Portugal com o objetivo de interrogar testemunhas oculares. Em seus interrogatórios, ele entrevistou pessoas que lhe disseram ter exclamado na ocasião do milagroso sinal celeste: “Ai Jesus, vamos todos morrer aqui”; “Nossa Senhora, salvai-nos!”; “Ó meu Deus, pesa-me de Vos ter ofendido”; “Ó meu Deus! Quão grande é o Vosso poder!”; “Milagre! Maravilha!”; “As crianças tinham razão!”. Muitas outras exclamações repercutiram por toda a região, de pessoas que rezaram o Confiteor imaginando que aquele seria seu último instante neste mundo. Todos desejavam beijar as mãos das três crianças, a quem chamavam de “santinhas”, ou pelo menos tocar nelas.

Após reproduzir depoimentos e entrevistas que colheu pessoalmente, narra Thomas Walsh: “Conversei com muitas, inclusive tio Marto e sua Olímpia [pais de Jacinta e Francisco], Maria Carreira, duas irmãs de Lúcia [Maria dos Anjos e Glória] e muitas outras pessoas da aldeia. Todos relataram-me a mesma história com evidente sinceridade. Ao mencionarem a queda do sol tinham na voz vestígios do terror que experimentaram. O Padre Manuel Pereira da Silva forneceu-me, substancialmente, os mesmos pormenores: ‘Ao ver o sol cair em ziguezague’, disse, ‘caí de joelhos. Pensei que o fim do mundo tivesse chegado’”.8 

O sol pareceu ameaçar cair sobre a terra

O renomado escritor norte-americano, além de colher depoimentos de pessoas que presenciaram in loco o “Milagre do Sol”, reproduz também declarações daquelas que testemunharam o prodígio estando bem distantes da Cova da Iria. Eis algumas: “O poeta Afonso Lopes Vieira pôde presenciar o fenômeno, em sua residência de S. Pedro de Moel, a uns quarenta quilômetros de Fátima. Padre Inácio Lourenço contou, mais tarde, como havia visto o fato de Alburita, a dezoito ou dezenove quilômetros de distância. Contava ele, por esse tempo, nove anos de idade. Ele e mais alguns alunos ouviram o povo gritando sobressaltado na rua, diante da escola. Em companhia da professora Dona Delfina Pereira Lopes, viram, com estupefação, a rotação e a queda do sol. [...] Repentinamente, pareceu que baixava, em ziguezague, ameaçando cair sobre a terra. Aterrado, corri a esconder-me no meio do povo. Todos choravam, aguardando, de um momento para outro, o fim do mundo’.

‘Junto de nós estava um incrédulo, sem religião, que tinha passado a manhã toda a caçoar dos simplórios que haviam feito a caminhada a Fátima para se pasmar diante de uma menina. Olhei para ele. Estava como paralisado, assombrado, olhos fitos no sol. Depois, vi-o tremer dos pés à cabeça, e, levantando as mãos para o céu, cair de joelhos gritando: ‘Nossa Senhora! Nossa Senhora!’”

Fátima: manifestação da justiça e da misericórdia

Algumas testemunhas que tiveram a dádiva de assistir ao milagre contaram que, depois do medo de serem castigadas pelo sol e de que seria o fim do mundo, uma vez encerrada aquela manifestação portentosa, viram-se de joelhos, mas sentindo uma indizível alegria por terem sobrevivido. Durante o fenômeno muitos choraram de medo; depois de alegria, e abraçavam seus próximos. O que podemos interpretar como símbolo de justiça e misericórdia, dos castigos e dos prêmios anunciados em Fátima. Castigo, por exemplo, quando Nossa Senhora revelou, na terceira aparição (13 de julho de 1917), que “várias nações serão aniquiladas”. Prêmio, quando profetizou “Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará”.

     O “Milagre do Sol” nos mostra um trailer da magnitude do anunciado castigo que cairá sobre o mundo, por ordem da justiça divina, uma vez que a humanidade não se converteu como pedira a Senhora de Fátima. Mas também manifestação da divina misericórdia, um trailer da alegria daqueles que se mantiverem fiéis a Ela, com a instauração na Terra do Reino de Maria.
       
Em nossos conturbados dias, prenhes de ameaças de todo tipo, até de bombas atômicas que como moderníssimas “espadas de Dâmocles” pairam sobre nossas cabeças, Fátima representa, além da justiça, a esperança e a solução para os graves problemas que afligem a humanidade. Na Aparição focalizada neste artigo, a de 13 de outubro de 1917, a Santa Mãe de Deus suplicou há exatos 100 anos: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido”.

Com essas comoventes palavras, às quais nossos ouvidos não podem permanecer surdos, Nossa Senhora encerrou as maravilhosas e apocalípticas aparições em Fátima. Com elas encerramos também estas considerações, permitindo-nos apenas acrescentar: “Si vocem ejus hodie audieritis, nolite obdurare corda vestra” (Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações [Ps 94,8]).

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Notas:
1.   Um caminho sob o olhar de Maria – Biografia da Irmã Lúcia Maria de Jesus e do Coração Imaculado, Carmelo de Coimbra, Edições Carmelo, Coimbra, 2013, p. 50.
2.   A respeito, assim como para se ter uma visão de conjunto dos acontecimentos de Fátima, recomendamos a matéria de capa desta revista em maio último.
3.   William Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Melhoramentos, S. Paulo, 1947, p. 131.
4.   Pe. Luiz Gonzaga Ayres da Fonseca, S.J., Nossa Senhora de Fátima, Aparições, Culto, Milagres, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1947, 2ª edição, p. 125.
5.   Pe. João M. de Marchi, I.M.C., Era uma Senhora mais brilhante que o sol, Edição do Seminário das Missões de Nossa Senhora de Fátima, Cova da Iria, p. 168.
6.   Id., Ib. p. 169.
7.   Id., Ib. p. 171.
8.    William Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Melhoramentos, S. Paulo, 1947, p. 134.
9.   Id., Ib. pp. 133-134.

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Sexta e última aparição: 13 de outubro de 1917*

Como das outras vezes, os videntes notaram o reflexo de uma luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira:

— LÚCIA: “Que é que Vossemecê me quer?”

— NOSSA SENHORA: “Quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas".

— LÚCIA: “Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir. Se curava uns doentes e se convertia uns pecadores...”

— NOSSA SENHORA: “Uns sim, outros não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados”. E tomando um aspecto triste: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido”.

Em seguida, abrindo as mãos, Nossa Senhora fê-las refletir no sol, e enquanto se elevava, continuava o reflexo da sua própria luz a projetar-se no sol.

Lúcia, nesse momento, exclamou: “Olhem para o sol!”

Desaparecida Nossa Senhora na imensa distância do firmamento, desenrolaram-se, aos olhos dos videntes, três quadros, sucessivamente, simbolizando primeiro os mistérios gozosos do rosário, depois os dolorosos e por fim os gloriosos. [...]

Finalmente apareceu, numa visão gloriosa, Nossa Senhora do Carmo, coroada Rainha do Céu e da Terra, com o Menino Jesus ao colo.

Enquanto estas cenas se desenrolavam aos olhos dos videntes, a grande multidão de 50 a 70 mil espectadores assistia ao milagre do sol.

Chovera durante toda a aparição. Ao encerrar-se o colóquio de Lúcia com Nossa Senhora, no momento em que a Santíssima Virgem Se elevava e que Lúcia gritava “Olhem para o sol!”, as nuvens se entreabriram, deixando ver o sol como um imenso disco de prata. Brilhava com intensidade jamais vista, mas não cegava. Isto durou apenas um instante. A imensa bola começou a "bailar". Qual gigantesca roda de fogo, o sol girava rapidamente. Parou por certo tempo, para recomeçar, em seguida, a girar sobre si mesmo, vertiginosamente. Depois seus bordos tornaram-se escarlates e deslizou no céu, como um redemoinho, espargindo chamas vermelhas de fogo. Essa luz refletia-se no solo, nas árvores, nos arbustos, nas próprias faces das pessoas e nas roupas, tomando tonalidades brilhantes e diferentes cores. Animado três vezes de um movimento louco, o globo de fogo pareceu tremer, sacudir-se e precipitar-se em ziguezague sobre a multidão aterrorizada.

Durou tudo uns dez minutos. Finalmente o sol voltou em ziguezague para o ponto de onde se tinha precipitado, ficando novamente tranquilo e brilhante, com o mesmo fulgor de todos os dias.

O ciclo das aparições havia terminado.

Muitas pessoas notaram que suas roupas, ensopadas pela chuva, tinham secado subitamente.

O milagre do sol foi observado também por numerosas testemunhas situadas fora do local das aparições, até a 40 quilômetros de distância.

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(*) Antonio Augusto Borelli Machado, As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, Editora Vera Cruz Ltda., 46ª edição, São Paulo, 1997, p. 56-60. A obra desse fatimólogo de renome internacional — publicada em primeira mão por Catolicismo em maio de 1967 — tornou-se um best-seller, já ultrapassou os cinco milhões de exemplares em 20 línguas, em edições em 30 países.