27 de dezembro de 2022
SÃO FRANCISCO DE SALES
26 de dezembro de 2022
Árvore de Natal tem sua origem no paganismo? É símbolo religioso?
Mercado de Natal de Estrasburgo, França.
✅ Pe. David Francisquini
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 864, dezembro/2022
Pergunta — Já ouvi algumas pessoas dizerem que a árvore de Natal é de origem pagã, e também que teria sido introduzida por Lutero. Seria isso verdade? De qualquer forma, ela é realmente um símbolo religioso comparável ao presépio?
Resposta — Começo pela segunda pergunta, por ser mais fácil e rápida de ser respondida. Tudo depende da definição que se dê à expressão “símbolo religioso”. Se significa apenas um objeto ou gesto ao qual se possa atribuir um significado religioso, não há dúvida de que se pode atribuí-lo à árvore de Natal. A associação mais apropriada é com a Árvore da Vida colocada por Deus no Éden, a qual é evocada pelos adornos “paradisíacos” de que era revestida.
O fato de se utilizar o pinheiro como árvore de Natal transmite também a ideia de perenidade, de vida eterna, uma vez que, ao contrário das demais árvores, ele nunca perde as folhas, nem sequer no inverno. Agora, se a expressão “símbolo religioso” de uma festividade litúrgica significa um objeto tangível intrinsecamente ligado a esse feriado, sem o qual o feriado não seria o mesmo, então a árvore de Natal não tem esse significado. Simplesmente porque a celebração da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo não requer árvores de Natal, que durante 15 séculos não foram colocadas como símbolos do período natalino.
“Nascimento do Invicto”
Surge, então, a primeira pergunta: qual é a origem desse costume de montar árvores de Natal? É fácil historiar a aparição dos presépios, pois foi São Francisco de Assis que os popularizou em 1223, no vilarejo de Greccio, três anos antes de sua morte. Já a origem da árvore é mais nebulosa.
Segundo alguns, ela remontaria às religiões pagãs anteriores ao cristianismo. A hipótese é válida, pois, ao que tudo indica, a própria data de 25 de dezembro, destinada a festejar a Natividade de Cristo, teria sido gradualmente recomendada na Roma cristianizada para suplantar as festas pagãs do solstício de inverno, que culminavam com a celebração do Natalis invicti, ou seja, a vitória do sol, quando no hemisfério norte os dias começam a ficar novamente mais longos.
De fato, a mais antiga aproximação cristã entre a vitória do sol e o nascimento do Salvador é a exclamação de São Cipriano (De pasch. Comp. XIX), no século III: “O quam præclare providentia ut illo die quo natus est Sol... nasceretur Christus” (Oh, quão maravilhosamente agiu a Providência dispondo que naquele dia em que o Sol nasceu... Cristo deveria nascer).
Um século mais tarde, São João Crisóstomo escreveu: “Mas Nosso Senhor também nasce no mês de dezembro... no oitavo dia antes das calendas de janeiro [ou seja, o 25 de dezembro]... Mas eles [os pagãos] o chamam de 'Nascimento do Invicto'. Quem de fato é tão invicto como Nosso Senhor? ... Ou, então, se dizem que é o nascimento do Sol, Ele é o Sol da Justiça” (Del Solst. Et Æquin, II, p. 118, ed. 1588).
Tradição desde o século XV
No norte da Europa, entre certos povos germânicos e na Escandinávia, o período do solstício de inverno era chamado de “Yule”. Na mitologia desses povos, o deus Heimdall vinha visitar à noite todos os lares humanos, deixando presentes para aqueles que tivessem se comportado bem durante o ano. Local da primeira árvore de
Natal em Riga, na Letônia
Uma constante dessas festividades nórdicas é o uso de árvores perenes como elementos decorativos, pelo motivo já evocado, ou seja, simbolizando que no auge do inverno os pinheiros com folhas sempre verdes prenunciam o retorno dos dias mais longos e da primavera.
A árvore de Natal, segundo essa hipótese, seria uma apropriação pela Igreja dessa tradição ancestral, depois que São Bonifácio, o evangelizador da Alemanha, derrubara a golpes de machado o “carvalho do trovão” sob o qual os pagãos sacrificavam uma criança ao deus Thor. Outra lenda atribui essa tradição a São Columbano, monge irlandês que viajou extensamente pela Gália. Numa noite de Natal, ele teria levado alguns monges do mosteiro de Luxeuil, fundado por ele no sopé dos montes Vosges, para o topo de uma das montanhas vizinhas. Havia ali um pinheiro muito antigo, objeto de um culto pagão entre os celtas, que o consideravam “a árvore do parto”. São Columbano e seus companheiros teriam então pendurado suas lanternas nos galhos da árvore, desenhando uma cruz luminosa. Mas essa história parece lendária, pois não a atesta nenhum documento da época.
Na realidade, a associação da árvore com a festa da natividade é atestada somente a partir dos primórdios do século XVI, e, ao que se presume, começou a se tornar comum no século XV — bem antes, portanto, da revolta de Lutero, que nada teve a ver com a introdução desse costume, reivindicada por várias cidades da Europa do Norte.
Os habitantes de Freiburg, na Alemanha, afirmam que essa tradição se iniciou em 1419 com os padeiros da cidade, que a partir desse Natal teriam passado a decorar anualmente uma árvore com Lebkuchen (os tradicionais biscoitos de gengibre), nozes, maçãs e outras frutas. Mas apenas no dia de Ano Novo as crianças podiam sacudir a árvore para comer suas iguarias.
Natal em Londres |
Belas tradições em outros países
Por sua vez, a cidade de Riga, capital da Letônia, reivindica oficialmente a paternidade da primeira árvore de Natal, a qual teria sido instalada por uma corporação de mercadores em 1510. Inicialmente destinada a ser queimada no dia do solstício, acabou por ser preservada, decorada e erguida no mercado da cidade para celebrar o Natal. Ainda hoje, uma laje de pedra marca o local.
A primeira menção escrita desse costume data de 1521, em um livro de contas da cidade de Sélestat (Alsácia, França), que na época pertencia ao Sacro Império Romano Alemão. Este registro indica a seguinte despesa: “Quatro xelins aos guardas florestais para vigiar o mais [do alemão meyen, “árvores festivas”] de São Tomás”, cuja festa era celebrada no dia 21 de dezembro. O município de Sélestat sustenta que, se era preciso proteger a sua floresta, dever-se-ia supor que decorar uma árvore nesta época do ano era relativamente comum e fazia parte dos costumes locais...
A origem do costume de trazer árvores da floresta e decorá-las provém, por sua vez, dos chamados “mistérios”, ou seja, das representações teatrais com cenas da Bíblia e do Jardim do Éden, que eram feitas durante a Idade Média no átrio das igrejas por ocasião das grandes festas litúrgicas. Como macieiras com seus frutos não fossem encontráveis no início do inverno, colocava-se um pinheiro com decorações que imitavam as maçãs.
Seja como for, o costume de se erguer nas casas árvores de Natal com bolas coloridas e guirlandas, encimadas por uma estrela de Belém, começou no século XIX no mundo germânico. Foram princesas alemãs, cujas infâncias tinham sido iluminadas pela presença do pinheiro em um salão do palácio, que levaram essa tradição aos demais países da Europa.
Na França, a inciativa partiu da princesa Helena de Mecklembourg Schwerin, Duquesa de Orléans, que em 1837 pediu ao seu sogro, o rei Luís Filipe, permissão para colocar uma árvore de Natal no palácio das Tulherias.
Na Inglaterra, foi o marido da rainha Vitória, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo Gotha, também nascido na Alemanha, que importou essa tradição na década de 1840. As ilustrações de jornais da época representam a família real inglesa diante de uma árvore de Natal ricamente decorada, na qual se percebem velinhas acessas.
Em Portugal, a árvore de Natal foi introduzida por volta de 1844, no Paço Real das Necessidades, por Dom Fernando II, duque de Saxe-Coburgo-Gotha e rei consorte, pelo seu casamento com a rainha Maria II, filha de Dom Pedro I. Uma gravura desenhada pelo próprio rei [foto ao lado] mostra-o vestido de São Nicolau, junto à árvore decorada com velas, bolas e frutos, distribuindo presentes aos sete principezinhos.
A primeira árvore de Natal nas Américas teria sido instalada em 1781, na cidade canadense Sorel, pela Sra. Friederike Riedesel von Lauterbach, esposa do general comandante das tropas alemãs enviadas pelo Duque Brunswick como auxiliares do exército inglês para tentar impedir a independência dos Estados Unidos.
Convém destacar que, a partir de 1982, iniciou-se a tradição de erguer na Praça de São Pedro, em Roma, uma enorme árvore de Natal, doada cada ano por um país diferente.
A cidade de Gramado (RS) no mês de dezembro |
Brasil: tradição vinda da Europa
E como a árvore de Natal chegou ao Brasil? Alguns dizem que foi através de Dona Leopoldina, Arquiduquesa da Áustria e esposa do Imperador Dom Pedro I. Ela teria instalado a primeira árvore de Natal no Palácio da Boa Vista. Embora isso possa ser verdade, não consta que o costume tenha se difundido muito, continuando a predominar entre nós aquele dos países do sul da Europa, de privilegiar o presépio.
Mais realista é supor duas origens paralelas. De um lado, com a difusão das árvores de Natal a partir dos paços reais, palácios e mansões da aristocracia e da alta burguesia europeias, é possível que durante a segunda metade do século XIX as famílias da aristocracia brasileira — que viajavam muito à Europa e seguiam a moda europeia — importaram o costume para as nossas terras, e provavelmente também as decorações.
De outro lado, é certo que os imigrantes alemães que se fixaram no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia não somente trouxeram as receitas natalinas e a Coroa de Advento [foto ao lado], mas também as árvores de Natal, difundindo-as nas demais classes sociais.
O certo é que por mais de um século as crianças brasileiras têm se encantado com as árvores de Natal, nutriente de sua inocência ao ajudá-las, por essa via, a aceitar com simplicidade e alegria as maravilhosas verdades da Fé, especialmente o dogma da Encarnação do Deus que se fez homem e nasceu de uma Virgem numa noite fria na Gruta de Belém.
25 de dezembro de 2022
CONSOADA DA NOITE DE NATAL
Cerimônia de Natal,
na Basílica de São Pedro
✅ Luis Dufaur
A milenar liturgia católica recomendava o jejum aos fiéis antes de todas as grandes festas religiosas. E o Brasil inteiro o praticava com muitos apreciáveis costumes.
No período do Advento, prévio ao Natal, o jejum consistia na abstenção de carne vermelha desde o quarto domingo anterior ao dia 25, ou até às 23h59min do dia 24. Na véspera da comemoração do nascimento do Menino Jesus, o jejum era total. Mas os fiéis o compensavam desde o início da noite reunindo-se, rezando e cantando na igreja enquanto aguardavam a Missa de Galo. Bacalhau português
A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. Muitos círios iluminavam o Santíssimo Sacramento no altar, enquanto as paredes ficavam revestidas com tecidos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta. Em alguns locais mais frios costumava-se deitar palha no chão para aquecer o ambiente.
O jejum da vigília era praticado como forma de mortificação das más inclinações e um convite à contemplação do grande mistério que seria celebrado. A Igreja mitigou o jejum total da noite de 24 de dezembro e entrou o costume de uma ceia especialmente preparada para ser degustada à meia-noite, depois da Missa do Galo. Strudels
Comia-se então quase que exclusivamente peixe — em Portugal, bacalhau, costume que ainda perdura em muitos lares brasileiros. Na França, o bacalhau era tido como o rei dos peixes. Em outros países entraram outras iguarias “penitenciais”, dependendo dos recursos naturais dos respectivos habitantes.
Solene Missa do Galo |
O nome “consoada”
O povo chamava aquela ceia de Natal de “consoada” — nome surgido no século XVII que significa pequena refeição —, a qual se tornou mais abundante após o fim do jejum. Até a revolução “pós-conciliar”, depois da Missa do Galo as famílias voltavam para suas casas, colocavam a imagem do Menino Jesus no Presépio, cantavam e rezavam em seu louvor, faziam a consoada e trocavam presentes.
Pão de Deus
A calma do mundo pré-industrial presidia a consoada: pratos leves, com a alegria do convívio familiar intenso e abençoado pela liturgia católica. Ainda se estava longe da era das velocidades, em que tudo se faz apressadamente, da civilização da imagem, da comida fast food, do disk-pizza.
A vida comum, aprazível, amável, da doçura de viver, foi atropelada pela aflição do corre-corre que abriu a era das neuroses e psicoses.
Naquela Noite Santa, os vitrais pareciam querer transmitir graças especialmenteBode ao forno
encantadoras da ordem, em um equilíbrio de cores e numa atmosfera feérica de paz e doçura que iluminavam as almas. Os fiéis levavam consigo para a consoada a lembrança indelével e comunicativa haurida na Missa do Galo pelo nascimento do Menino-Deus.
O nome Missa do Galo usa-se apenas em português e espanhol. Na maior parte do mundo chama-se simplesmente Missa da noite de Natal ou Missa da meia-noite.
Tradição brasileira
Bolo de rolo com queijo do reino
No Brasil colonial, a liturgia cristã e a consoada obedeciam ao hábito português, embora com peculiaridades locais. Pois o Natal não era uma reunião íntima com a família fechada, como é hoje. Era, sobretudo, uma celebração aberta a todos, com muitos pratos e doces regionais. Ninguém ficava de fora da comemoração, da senzala à casa grande, dos trabalhadores urbanos aos administradores públicos, todos participavam e se confraternizavam. Havia ainda o costume de indivíduos ou famílias trocarem presentes, aliás com uma generosidade comovedora. Na maioria dos casos, os presentes eram víveres, sendo o chamado “pão de Deus”, coberto com creme e coco ralado, um dos regalos preferidos.
Empadão goiano
No dia seguinte havia o grande almoço de Natal. O gosto pelo peru veio da América do Norte, enquanto o do foie-gras, das ostras e do salmão vieram do apetitoso cardápio preferido na França. Os hábitos alimentares carregados de significados simbólicos continuaram presentes mesmo após o abandono da liturgia antiga, com destaque para o vinho, que nos remete ao Sangue de Cristo e à Redenção na Terra Santa.
Frango caipira
“No Nordeste, muitas famílias servem pernil de bode ao forno, cuscuz com manteiga de garrafa, bolo de rolo com queijo do reino. No Centro-Oeste, sobremesas com frutas do cerrado, o empadão goiano, o frango caipira. No Norte, peixes de água doce ao lado das farofas com castanhas, do arroz de tucumã e da salada de folhas de jambu. No Rio, o bacalhau português; em Minas, os suínos pururucados; em São Paulo, o arroz enriquecido dos bandeirantes; no Espírito Santo, a torta capixaba super enfeitada. E, por fim, no Sul, strudels, carnes assadas em fogos de chão e pães recheados, tanto doces como salgados”, descreveu a especializada Paula Salles.*
Mas algo essencialíssimo nunca faltava aos que procuravam os imponderáveis do Natal, irradiados há dois milênios de um pobre presépio da Gruta de Belém, convidando as famílias a degustar e participar de tradições penetradas pelo sobrenatural que só a Igreja Católica é capaz de transmitir.
Consoada de bacalhau |
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*http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/16993-ceia-de-natal-m%C3%BAltiplas-tradi%C3%A7%C3%B5es-postas-%C3%A0-mesa
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 864, dezembro/2022
24 de dezembro de 2022
ENCONTRO DE OLHARES
Na noite de Natal, quando o Menino Jesus olhou pela primeira vez para sua Mãe virginal, o que teria se passado?
Entre inúmeros outros olhares, podemos considerar o olhar dos dois no encontro no Templo, quando Jesus discutia com os doutores da lei; o olhar após a última Ceia; o olhar, como que de despedida, antes de Nosso Senhor iniciar sua Paixão a caminho do Calvário; o pungente olhar no encontro d´Ela com Jesus com a Cruz às costas. Enfim, tantas outras trocas de olhares da Mãe com seu Divino Filho.
O primeiro encontro de olhares foi no Natal, o último foi quando Ele estava no alto da Cruz e Ela a seus pés.
Os encontros desses olhares são fantásticos! Podemos meditar Maria Santíssima olhando para seu Filho dormindo. Meditar no próprio olhar que aparece no Santo Sudário, com os olhos baixos, quando Ele vê mesmo através das pálpebras. Com seus olhos fechados, sentimos o olhar d´Ele ali estampado.
Imaginar esses olhares nos facilita atos de contrição, propicia um pedido de perdão e cem outras atitudes que nos unem muito a Nossa Senhora. Contemplando os olhares, temos uma devoção especial a Ela.
Essa devoção, ou a meditação desses olhares, pode trazer consigo o discernimento do Lumen Christi. Compreendemos neste prodigioso tipo de relação como o mundo seria quando considerado em Nosso Senhor Jesus Cristo! A astronomia, que é tão bela, passa a ser apenas do tamanho de um pires em comparação com isso!
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 4 de janeiro de 1974. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.
23 de dezembro de 2022
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”*
O júbilo do Natal — este gáudio cristão ungido de paz e de caridade que faz com que durante alguns dias todos os homens experimentem um sentimento bem raro neste triste século: a alegria da virtude.
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
Fonte: Catolicismo, Nº 12, Dezembro/1951
Na festa do Santo Natal há várias noções que por assim dizer se superpõem. Antes de tudo, o nascimento do Menino Deus torna patente a nossos olhos o fato da Encarnação.
É a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que assume natureza humana e se faz carne por amor de nós. Ademais, é o início da existência terrena do Senhor. Um início refulgente de claridades, que contém em si um antegosto de todos os episódios admiráveis de Sua vida pública e privada.
No alto desta perspectiva está sem dúvida a Cruz. Mas nas alegrias do Natal mal divisamos o que ela tem de sombrio. Vemos apenas jorrar do alto dela, sobre nós, a Redenção.
O Natal é assim o prenúncio da libertação, o sinal de que as portas do Céu vão ser reabertas, a graça de Deus vai novamente se difundir sobre os homens, e a Terra e o Céu constituirão outra vez uma só sociedade sob o cetro de um Deus Pai, e não mais apenas Juiz.
Se analisarmos detidamente cada uma destas razões de alegria, compreenderemos o que é o júbilo do Natal, este gáudio cristão ungido de paz e de caridade que faz com que durante alguns dias todos os homens experimentem um sentimento bem raro neste triste século: a alegria da virtude.
Encarnação: gáudio do encontro de Nosso Senhor com os homens
A primeira impressão que nos vem do fato da Encarnação é a ideia de um Deus presente sensivelmente, e muito junto de nós. Antes da Encarnação, Deus era para nossa sensibilidade de homens o que seria para um filho um pai imensamente bom, mas morando em terras distantes. De todos os lados nos vinham os testemunhos de sua bondade. Porém não tínhamos a ventura de haver experimentado pessoalmente seus afagos, de ter sentido pousar em nós seu olhar divinamente profundo, gravemente compreensivo, nobremente afetuoso. Não conhecíamos a inflexão de sua voz.
A Encarnação significa para nós o gáudio deste primeiro encontro, a alegria do primeiro olhar, o acolhimento carinhoso do primeiro sorriso, a surpresa e o alento dos primeiros instantes de intimidade. E por isto, no Natal, todos os afetos se tornam mais expansivos, todas as amizades mais generosas, toda a bondade mais presente no mundo.
A humanidade reabilitada, enobrecida e glorificada
Na alegria do Natal há, porém, uma grande nota de solenidade. Pode-se dizer que o Natal é de um lado a festa da humildade, mas de outro lado a festa da solenidade. Com efeito, o fato da Encarnação traz ao nosso espírito a noção de um Deus que assumiu a miséria da natureza humana na mais íntima e profunda das uniões que há na criação.
Se da parte de Deus há a manifestação de uma condescendência quase incalculável, reciprocamente, quanto aos homens há uma promoção quase inexprimível. Nossa natureza foi promovida a uma honra que jamais pudéramos imaginar. Nossa dignidade cresceu. Fomos reabilitados,
enobrecidos, glorificados.
E por isto, há qualquer coisa de discreta e familiarmente solene nas festas de Natal. Os lares se enfeitam como para os dias mais importantes, cada qual usa seus melhores trajes, a polidez de todos se torna mais requintada. Compreendemos à luz do presépio, a glória e a bem-aventurança de ser pela natureza e pela graça irmãos de Jesus Cristo.
Jesus veio mostrar que a graça abre para nós as veredas da virtude
Na alegria do Natal há também um quê do júbilo do prisioneiro indultado, do doente curado. É um júbilo feito de surpresa, de bem-estar e de gratidão.
Com efeito, não há o que possa exprimir a tristeza desabusada do mundo antigo. O vício havia dominado a Terra, e as duas atitudes possíveis perante ele conduziam igualmente ao desespero. Uma consistia em buscar nele o prazer e a felicidade. Foi a solução de Petrônio, que morreu pelo suicídio. Outra consistia em lutar contra ele. Foi a de Catão, que, depois da derrota de Tarsus, esmagado pela borra do império, pôs fim à vida exclamando: “Virtude, não és senão uma palavra”. O desespero era, pois, o termo final de todos os caminhos.
Jesus Cristo nos veio mostrar que a graça abre para nós as veredas da virtude, que torna possível na Terra a verdadeira alegria que não nasce dos excessos e das desordens do pecado, mas do equilíbrio, dos rigores, da bem-aventurança, da ascese. O Natal nos faz sentir a alegria de uma virtude que se tornou praticável, e que é na Terra um antegozo da bem-aventurança do Céu.
Com o Natal começa a derrota do pecado e da morte
Não há Natal sem Anjos. Sentimo-nos unidos a eles, e participantes daquela alegria eterna que os inunda. Nossos cânticos procuram neste dia imitar os seus.
Vemos o Céu aberto diante de nós, e a graça elevando-nos desde já a uma ordem sobrenatural em que as alegrias transcendem a tudo quanto pode o coração humano excogitar. É que sabemos que com o Natal começa a derrota do pecado e da morte. Sabemos que ele é o início de um caminho que nos levará à Ressurreição e ao Céu. Cantamos no Natal a alegria da inocência redimida, a alegria da ressurreição da carne, a alegria das alegrias que é a eterna contemplação de Deus.
E por isto é que, quando os sinos anunciarem à Cristandade dentro de alguns dias o Santo Natal, haverá mais uma vez a alegria santa sobre a Terra.
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* Populus qui habitabat in tenebris vidit lucem magnam; habitantibus in regione umbrae mortis lux orta est eis (“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” - Isaías 9,1).
22 de dezembro de 2022
Em Belém, durante as trevas, nasceu a Luz do mundo, Sol de eterno fulgor
Resplandeceu uma Luz, é Natal, um sentimento raro neste século: a alegria pela posse da virtude, a alegria da inocência redimida e da contemplação de Deus.
20 de dezembro de 2022
Há 200 anos falecia o “Bandeirante de Cristo”
Mosteiro da Luz, na capital paulista [Foto PRC]
Patrono dos engenheiros e arquitetos
O que são as “Pílulas do Frei Galvão”?
Azulejo de Frei Galvão no Mosteiro da Luz [Foto PRC] |
Essas “pílulas”, em papeizinhos brancos, têm operado verdadeiros milagres — curas inexplicáveis pelas ciências, inclusive de câncer, e até mesmo curas espirituais de pecadores. São particularmente benfazejas às mães com dificuldades na gravidez ou em momentos antes do parto; tomando-as com fé, seus filhos nascem normalmente e saudáveis. Sobre a origem das “pílulas” milagrosas, ver texto abaixo extraído de um folheto disponível no Mosteiro da Luz.
“Remédios e consultas médicas hoje são caros. Nosso povo tem fé e, por isso, as ‘pílulas’ de Frei Galvão são cada vez mais procuradas no Mosteiro da Luz. Há um boletim que as irmãs concepcionistas dessa casa religiosa publicam mensalmente denominado Celeste Orvalho. Nele, são relatadas as graças recebidas mediante a intercessão do novo Beato, as quais são comunicadas pelos beneficiários, por escrito, ao Mosteiro da Luz.Chama a atenção, neste último mês, o fato de que muitas pessoas apresentavam câncer num primeiro exame. Submetidas a um segundo, não denotavam mais nenhum sintoma da doença.Eu levei para o Vaticano um registro de tais graças, obtidas desde 1930 até 15 de setembro de 1990: o total era 23.920 graças!”
A milagrosa cura de Daniela Cristina
Caso Daniela Cristina |
Santa morte e sepultura no Mosteiro
Capela do Mosteiro da Luz [Foto PRC] |
“Hic jacet Fr. Antonius a Sant’Anna Galvão, hujus almae domus inclytus fundator et director qui animam suam in manibus suis semper tenens placide obdormivit in Domino die 23 decembris anno 1822”. (Aqui jaz Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, ínclito fundador e diretor desta casa, que tendo sua alma sempre em suas mãos, placidamente faleceu no Senhor no dia 23 de dezembro de 1822).[3]
Canonização — “honrado entre os santos”
“PILULAS DE FREI GALVÃO”
16 de dezembro de 2022
DOM PEDRO II — ARQUÉTIPO DO BRASIL
Dom Pedro II retratado por Mathew Brady (1876)
Para a atual e caótica situação política brasileira vem muito a propósito o grande exemplo do Imperador Dom Pedro II, agindo em inteira consonância com a afetividade do brasileiro e representando arquetipicamente nosso povo.
Esse aspecto foi comentado por Plinio Corrêa de Oliveira em sua conferência, em 17-2-89, para sócios e cooperadores da TFP.
O Imperador retratado por Delfim da Câmara (1875). |
“No tempo de Dom Pedro II, éramos indiscutivelmente um povo em que a organização da família ainda estava viva e pujante, muito de acordo com o modo de ser afetivo do brasileiro. O velho Imperador — respeitável, venerável e bondoso, com cabelos e barbas brancos — foi durante décadas, por assim dizer, “o vovô do Brasil”; e o Brasil se deliciava em ser neto de Dom Pedro II.
O modo como ele governava e dirigia a política brasileira era inteligente e cheio de jeitinhos, como o brasileiro gosta. O que fosse imposto à força, de acordo com o modelo de Frederico II da Prússia, não era apreciado pelos brasileiros e poderia “azedar” as relações muito desagradavelmente, ou até fatalmente.
Naqueles tempos, a Constituição brasileira era liberal e reduzia muito os poderes do monarca. Mas ele era muito sagaz e servia-se do prestígio de Imperador para negociar nos bastidores o curso da política, de tal maneira que se tornou o principal político do País. Acomodava os problemas e abafava as revoltas, fazendo reinar a paz com muita prosperidade. Assim o Brasil se tornou uma das maiores nações, com uma esquadra mercante que era a segunda maior do mundo.
Apesar de o Imperador seguir inteiramente a Constituição, os políticos liberais reclamavam muito dele, dizendo que exercia um “poder pessoal” extra-constitucional, porquanto acumulava os dois poderes. A resposta dele era que nada na Constituição o impedia de exercer influência política. Os liberais vociferavam, mas nada podiam contra a força moral do Imperador. Assim ele conduziu a política até o fim de sua vida, quando foi destronado. Deixou nos brasileiros saudades daquela época, pois o Imperador os representava arquetipicamente”.