31 de maio de 2020

31 de Maio — Dia de Nossa Senhora Rainha

➤  Paulo Roberto Campos

Rainha dos Homens, Rainha dos Anjos, Rainha da Terra, Rainha do Céu, Rainha da Igreja, Rainha do Brasil, Rainha dos Corações etc. São títulos que homenageiam Nossa Senhora uma vez que Ela é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo e Rei dos Reis. 

Entretanto, em nossos tristes dias, poder-se-ia afirmar que Ela é uma Rainha Destronada. — Por quê?

Respondo com uma pergunta: A atual situação nacional e mundial não entristece a Santíssima Virgem? Certamente, nenhum católico ousaria dizer que não A entristece. Pior ainda: A catastrófica situação da Santa Igreja... Para dar apenas um exemplo: a crise verdadeiramente apocalíptica na Igreja, devido à autodemolição promovida pelo progressismo, dito católico, à cargo de altas figuras do clero esquerdista. 

Quase tudo no mundo moderno colabora para destronar a melhor de todas as Rainhas. Ela é ultrajada por seus inimigos e até abandonada por seus filhos. E por isso Nossa Senhora chora! 

Neste dia em que celebramos, segundo o calendário tradicional, Nossa Senhora Rainha, é uma boa ocasião para pedirmos a graça da total fidelidade a Ela e de não permanecermos indiferentes às Suas lágrimas. Ocasião também para fazermos um compromisso de atuar ainda mais para restabelecê-La no Trono de glória, para que Ela volte a ser coroada, e efetivamente seja Rainha de todas as nações ainda em nossos dias. 

Nesse sentido, transcrevo trecho de uma conferência de Plinio Corrêa de Oliveira (em 26-2-1966), durante a qual ele concebeu uma antológica e inesquecível metáfora: 


“Nossa Senhora é como uma Rainha que está sentada no seu trono. A sala está cheia de inimigos. Os inimigos já arrancaram-lhe o dossel; já tiraram da sua fronte veneranda a coroa de glória a que Ela tem direito; já lhe arrancaram das mãos o cetro. Ela está amarrada para ser morta. 

Dentro dessa sala cheia de gente poderosa, armada, influente — todos diante da Rainha que não faz outra coisa senão chorar —, há também um pugilo de fiéis, e Ela evidentemente olha para tais fiéis. Assim, ou este olhar faz em nós o que o olhar de Jesus fez em São Pedro, ou não há mais nada para dizer…  

A Rainha vai ser arrancada do trono. Pergunta-se o que nós vamos fazer? Nesta hora deste olhar, isso não me interessa? Este olhar não me sensibiliza?  

Poder-se-ia então perguntar: quem sou eu? Eu sou o homem para quem Nossa Senhora olhou!  

Mas serei o homem a quem Ela terá olhado em vão?”

26 de maio de 2020

Quando uma conversão é profunda


➤  Plinio Maria Solimeo 

Às vezes vemos notícias sobre conversões ao catolicismo de atletas famosos. O que nos surpreende é a seriedade com que os neo convertidos passam a viver a vida religiosa, sendo comum procurarem a forma antiga da liturgia para as suas devoções. John Scott [foto acima, com a esposa e filhas] é um desses exemplos. Nascido no Canadá 37 anos atrás, passou sua vida profissional entre seu país e os EUA, onde se formou em engenharia pela Universidade de Michigan. É casado e pai de cinco filhas, incluindo duas gêmeas.

Scott se tornou conhecido como jogador da Liga Profissional americana de hóquei sobre gelo, a qual move milhões naquele país. Esse esporte é tão violento ou mais que o futebol americano. Por isso, com seus quase dois metros de altura ele se sobrepunha aos adversários. Sua maior notoriedade ocorreu na temporada 2015-16, quando foi escolhido pelos fãs como capitão da equipe da Divisão do Pacífico da Conferência Oeste para o All-Star Game


Desde criança começou a praticar hóquei, esporte muito popular no Canadá devido à neve. Ele confessa que aprendeu a interagir com outras pessoas por meio do esporte. Como não possuía formação religiosa, o hóquei teria sido para ele a coisa mais próxima de uma religião, pois coloriu a sua visão da vida. Como profissional, Scott adquiriu fama de violento durante os jogos: “Lutar era parte rotineira da minha carreira. Fui pago para proteger meus colegas de equipe, mas gostaria de não ter feito isso”. 

Universitário, ele conheceu sua futura esposa, Danielle, uma moça católica cuja fé lhe proporcionou uma base estável de vida. Ele estava de algum modo ‘patinando no gelo fino’, pois não tinha uma explicação geral de como o mundo foi montado ou seu significado. Quando pernoitava na casa de sua namorada, dormia no porão, enquanto ela dormia em seu próprio quarto. Iam juntos à missa com os pais dela. 

Quando os dois falaram sobre o casamento, Danielle deixou claro que “se eu quisesse me casar, teria de ser na Igreja Católica, e eu teria que concordar em criar nossos filhos como católicos. Depois nos reunimos com um padre e discutimos o compromisso de toda a vida um com o outro, a procriação e instrução das crianças”. Nessa conversa ficou bem claro que o casamento era para toda a vida, que não fariam controle artificial da natalidade, pois a Igreja o proíbe, e deveriam aceitar todos os filhos que Deus mandasse. 


Quando o repórter lhe observa que o tamanho de sua família é maior que o da maioria dos americanos, ele afirma: “É estatisticamente incomum, mas o importante não é ser mediano, mas viver como a Igreja nos ensina a viver, estando abertos à vida”. Ele, com efeito, sabe o que quer e quer o que faz: “Com famílias maiores, há amigos incorporados e oportunidades de abnegação e expansão dos horizontes, há sempre algo para aprender”. 

Embora fosse à Missa com a esposa e seus familiares, John não deu logo o passo decisivo para se tornar católico. Foi só em 2016, quando se aposentou, que ele fez o curso completo de catequização, sendo batizado na Páscoa de 2017. Cumpre salientar que, além de profundos, esses cursos de catequização nos EUA são muito conservadores do que no Brasil. Para ele, os católicos são obrigados a compartilhar a fé, mas, ao mesmo tempo, permitir que cada pessoa tome a própria decisão. 

A família de John Scott adota o homeschooling, ensinando suas filhas em casa. Ele comenta que como estavam com isso perdendo um pouco o senso de comunidade, decidiram procuraram uma paróquia em que houvesse muitas famílias numerosas para se relacionarem. Encontraram então igreja do Santíssimo Rosário, em Cedar, Michigan, conhecida por seus vitrais em estilo gótico e cuja Missa é celebrada com suma reverência no rito extraordinário, além de ser uma rica fonte de catequese familiar. 


Scott comenta: “Somos afortunados por assistir a uma missa solene aos domingos. É gratificante fazer parte dela, com a precisão dos acólitos, o incenso, a música celestial, e a língua usada. Eu até estou aprendendo mais o latim para poder acolitar a Missa”. A igreja tem uma capela de adoração perpétua do Santíssimo Sacramento: “Aguardo com expectativa minha hora semanal de adoração eucarística, que é um período muito valioso para estar na presença direta de Deus”, onde há paz e se obtém ajuda para viver melhor. 

Perguntado sobre as devoções familiares, Scott diz: “Todos nós temos nossas devoções individuais. Mas juntos rezamos um Rosário diário em família, que é a coisa mais importante que todos podemos fazer juntos agora”. Em sua casa foram entronizados o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, praticam a devoção recomendada em Fátima da Primeira Sexta-feira e o Primeiro Sábado do mês, além das orações da manhã, do Ângelus, e ainda, quando podem, assistem à Missa durante a semana. Essas devoções lhes dão uma sensação de estrutura e lhes recorda a necessidade de pedir ajuda para superar as tentações do mundo e fazer a vontade de Deus. 

Em uma demonstração da profundidade de sua conversão, John Scott fala da pouco praticada devoção ao castíssimo esposo de Maria: “O que também faz todo sentido, especialmente para nós, homens, é aprender mais sobre São José, e confiar em sua ajuda”. Considera São José o modelo de todos os maridos e pais cristãos. Foi ele quem deu o nome a Jesus e salvou-O de Herodes. Seu silêncio foi sua força, liderou e protegeu a Sagrada Família. 


John Scott fala sobre a necessidade de se praticar abertamente a fé: “Este é o momento em que precisamos ouvir mais sobre a grandeza do catolicismo, que oferece uma alternativa ao que ouvimos e vemos tanto hoje. A felicidade do mundo é muito superficial, mas a felicidade do catolicismo é profunda”. Para ele, existem muitos caminhos possíveis para partilhar a fé, mas todos eles são motivados pelo desejo de ajudar as pessoas a encontrar o caminho para o Céu. Essa é a luta que importa. A Igreja Católica, com suas devoções e seus sacramentos, torna isso possível. 

John Scott escreveu sua autobiografia [capa acima], com o título: A Guy Like Me: Fighting to Make the Cut (em tradução livre: Um homem como eu: lutando para fazer a diferença).

23 de maio de 2020

O que Nossa Senhora Auxiliadora representa para nós


Neste dia 24 de maio celebramos a invocação Auxiliadora dos Cristãos, instituída por Pio VII em 1814. 

➤  Plinio Corrêa de Oliveira

A palavra família indica uma pluralidade de pessoas. Mas há outra palavra, de especial significado, que indica uma só pessoa: mãe.

Mãe é a quintessência da família, porque é a quintessência do amor, a quintessência do afeto; e, nessas condições, a quintessência da bondade e da misericórdia. 

Assim, a alma da criança em contato com a mãe começa a compreender o que é a bondade que não se cansa, o que é a graça, o favor, o amor que não se exaure. E também aquela forma de afeto que inclina a mãe a jamais achar tedioso estar com o filho. Carregar seu filho nos braços, brincar com ele, soltá-lo no chão, vê-lo correr de um lado para outro, ser importunada por ele incontáveis vezes durante o dia com perguntinhas, com brinquedinhos. Para a boa mãe, nisto consiste a alegria da vida. 

Se alguém, no começo de sua existência, percebe o que é a alegria de ter uma boa mãe, compreende que a vida na Terra pode ser muito difícil; mas, enquanto conservar a recordação de sua mãe, guardará a lembrança paradisíaca da sua infância.

Retendo essa recordação, a pessoa mantém a esperança do Paraíso Celeste, onde a boa Mãe vai nos receber. E assim compreendemos tudo quanto representa Nossa Senhora Auxiliadora para nós.
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP em 24 de maio de 1995. 
Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

14 de maio de 2020

Santa Joana d’Arc: a França de espada na mão

No dia 16 de maio celebramos o centenário da canonização de Santa Joana d’Arc (1412-1431), heroína santa escolhida por Deus para salvar a França. Em memória desta efeméride histórica, segue um comentário de Plinio Corrêa de Oliveira numa conferência em 2 de setembro de 1966. 


O Príncipe de Metternich, grande estadista austríaco do século XIX, exprimiu de modo interessante e pitoresco a importância da França: Quando a França espirra, toda a Europa assoa o nariz. Tal relevância ainda persistia no tempo de São Pio X, quando havia nos meios católicos franceses, inclusive entre o episcopado, uma tendência de aceitar os princípios da Revolução Francesa e a separação entre a Igreja e o Estado. 

São Pio X preparou uma “bomba” contra essa tendência, beatificando Santa Joana d’Arc em 18 de abril de 1909, e anunciando sua canonização [realizada em 16 de maio de 1920 pelo Papa Bento XV, sucessor de São Pio X]. 

Esse acontecimento não agradou a Revolução, porque Santa Joana d’Arc é uma França de espada na mão, e disto a Revolução não gosta. Ela tolera, por enquanto, os santos que tenham um pote de unguento na mão, mas não tolera uma santa de espada na mão. Sobretudo porque a história da santa guerreira vinha impregnada de recordações monárquicas e da integridade das fronteiras francesas. 

Como isso agrada imensamente o espírito francês, ocorreram grandes peregrinações de franceses para assistir à beatificação efetuada por São Pio X; e também depois, por ocasião da canonização em 1920.

12 de maio de 2020

Ó Senhora de Fátima tolhei os passos à infiltração comunista

A fim apressarmos a aurora bendita do Reino de Maria, uma oração para rezarmos nestes apocalípticos dias de tantos perigos que ameaçam o Brasil, o mundo e a Igreja


Neste dia 13 de maio de 2020 celebramos o 103º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos (Lúcia, Francisco e Jacinta). Ocasião mais do que propícia para suplicarmos a Ela que, o mais breve possível, venha o triunfo do Imaculado Coração de Maria no Brasil e em todo o mundo. 

Plinio Corrêa de Oliveira — fundador da TFP brasileira e, sem dúvida, o maior divulgador durante o século XX da Mensagem de Fátima — indagou o seguinte: 
“O que podemos fazer para evitar o castigo anunciado em Fátima, na tênue medida em que ele é evitável? O que podemos fazer para obter a conversão dos homens, na fraca medida em que ela ainda possa ser obtida antes do castigo, dentro da economia comum da graça? O que podemos fazer para apressar a aurora bendita do Reino de Maria, e para nos ajudar a caminhar no meio das hecatombes que tão gravemente nos ameaçam? Nossa senhora o indica: afervoramento na devoção a Ela, oração e penitência”. 
Nesse sentido, segue uma muito oportuna oração para rezarmos esses trágicos dias de pandemia, iniciada na China comunista. Essa bela prece foi composta pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para recitação particular. 




Oração a Nossa Senhora de Fátima


Ó Rainha de Fátima, nesta hora de tantos perigos para as nações cristãs, afastai delas o flagelo do comunismo ateu. 

Não permitais que consiga instaurar-se, em tantos países nascidos e formados sob o influxo sagrado da Civilização Cristã, o regime comunista, que nega todos os Mandamentos da Lei de Deus.

Para isto, ó Senhora, conservai vivo e aumentai o repúdio que o comunismo encontrou em todas as camadas sociais dos povos do Ocidente cristão. Ajudai-nos a ter sempre presente que: 

1°) O Decálogo nos manda “amar a Deus sobre todas as coisas”, “não tomar seu Santo Nome em vão” e “guardar os domingos e festas de preceito”. Mas o comunismo ateu tudo faz para extinguir a Fé, levar os homens à blasfêmia e criar obstáculos à normal e pacífica celebração do culto. 

2°) O Decálogo manda “honrar pai e mãe”, “não pecar contra a castidade” e “não desejar a mulher do próximo”. Mas o comunismo deseja romper os vínculos entre pais e filhos; quer entregar ao Estado a educação dos filhos; nega o valor da castidade; e ensina que o casamento pode ser dissolvido por qualquer motivo, pela mera vontade de um dos cônjuges. 

3°) O Decálogo manda “não furtar” e “não cobiçar as coisas alheias”. Mas o comunismo nega a propriedade privada e a sua importante função social. 

4°) O Decálogo manda “não matar”. Mas o comunismo emprega a guerra de conquista como meio de expansão ideológica, promove revoluções e crimes em todo o mundo. 

5°) O Decálogo manda “não levantar falso testemunho”. Mas o comunismo usa sistematicamente a mentira como arma de propaganda. 

Fazei que, tolhendo resolutamente os passos à infiltração comunista, todos os povos do Ocidente cristão possam contribuir para que se aproxime o dia da gloriosa vitória que predissestes em Fátima, com estas palavras tão cheias de esperança e doçura: “Por fim, o meu imaculado coração triunfará”.

11 de maio de 2020

Algumas frases para reflexão nesse período de quarentena, durante o qual circula uma epidemia de inverdades

“A verdade deve ser dita com amor, mas o amor nunca pode impedir a verdade de ser dita”. 

(Santo Agostinho)

“Eu sempre digo toda verdade; se não querem sabê-la, não me procurem”. 

(Santa Teresinha)

“Quando o erro não é combatido, termina sendo aceito; quando a verdade não é defendida, termina sendo oprimida”. 

(São Félix III)

“O que não corresponde à verdade e à lei moral não tem objetivamente nenhum direito à existência, nem à propaganda, nem à ação”. 

(Pio XII)

“A confusão não se remedeia senão com a verdade. Mas com a Verdade por excelência, plena e sem jaça, que só se encontra n’Aquele que é ‘Caminho, Verdade e Vida’”. 

(Plinio Corrêa de Oliveira)

“Eu sei que Vossa Excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade”.

(Machado de Assis)

“A mistura do falso com o verdadeiro é muito mais tóxica que o totalmente falso”. 

(Paul Valéry)

9 de maio de 2020

“Tu te machucaste, meu filho?”

"O amor materno tem de mais sublime e tocante: seu desinteresse completo, sua inteira gratuidade, sua ilimitada capacidade de perdoar. A mãe ama seu filho quando é bom. Não o ama, porém, só por ser bom. Ama-o ainda quando mau. Ama-o simplesmente por ser seu filho" 


Em homenagem ao Dia das Mães, de coração ofereço a todas elas o precioso texto abaixo. Trata-se de um artigo, que considero antológico, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (publicado na “Folha de S. Paulo” de 18-12-1968), no qual faz um enaltecimento ímpar do sublime papel de uma mãe. 


O amor materno no que tem de mais sublime e tocante 


➤  Plinio Corrêa de Oliveira 

É de Emile Faguet, se não me engano, o seguinte apólogo: Havia certa vez um jovem dilacerado por uma situação afetiva crítica. Queria ele com toda a alma sua graciosa esposa. E tributava afeto e respeito profundos à sua própria mãe. 

Ora, as relações entre nora e sogra eram tensas e, por ciumeiras, a jovem encantadora mas má, concebera um ódio infundado contra a idosa e veneranda matrona. 

Em certo momento, a jovem colocou o marido entre a espada e a parede: ou ele iria à casa da mãe, a mataria, e lhe traria o coração da vítima, ou a esposa abandonaria o lar. Depois de mil hesitações, o jovem cedeu. Matou aquela que lhe dera a vida. Arrancou-lhe do peito o coração, embrulhou-o em um pano, e se dirigiu de volta para casa. No caminho, aconteceu ao moço tropeçar e cair. Ouviu ele então uma voz que, partida do coração materno, lhe perguntou cheia de desvelo e carinho: “Tu te machucaste, meu filho?” 

Com este apólogo, quis o autor destacar o que o amor materno tem de mais sublime e tocante: seu desinteresse completo, sua inteira gratuidade, sua ilimitada capacidade de perdoar. A mãe ama seu filho quando é bom. Não o ama, porém, só por ser bom. Ama-o ainda quando mau. Ama-o simplesmente por ser seu filho, carne de sua carne e sangue de seu sangue. Ama-o generosamente, e até sem nenhuma retribuição. Ama-o no berço, quando ainda não tem capacidade de merecer o amor que lhe é dado. Ama-o ao longo da existência, ainda que ele suba ao fastígio da felicidade ou da glória, ou role pelos abismos do infortúnio e até do crime. É seu filho e está tudo dito. 


Este amor, altamente conforme a razão, tem nos pais, também, algo de instintivo. E, enquanto instintivo, é análogo ao amor que a Providência pôs até nos animais por suas crias. Para se medir a sublimidade deste instinto, basta dizer que o mais terno, o mais puro, o mais soberano e excelso, o mais sacral e sacrificado dos amores que tenha existido na Terra, o amor do Filho de Deus pelos homens, foi por Este comparado ao instinto animal. Pouco antes de padecer e morrer, chorou Jesus sobre Jerusalém, dizendo: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, e tu não o quiseste!” 

Sem este amor, não há paternidade ou maternidade digna deste nome. Quem nega este amor em sua excelsa gratuidade nega, portanto, a família. 

É este amor que leva os pais a amarem seus filhos mais do que os outros — de acordo com a lei de Deus — e a desejar para eles, com afã, uma educação melhor, uma instrução maior, uma vida mais estável, uma ascensão verdadeira na escala de todos os valores, inclusive os de índole social. Para isto, os pais trabalham, lutam e economizam. Seu instinto, sua razão, os ditames da própria fé os levam a tal. Acumular uma herança para ser transmitida aos filhos é desejo natural dos pais. Negar a legitimidade desse desejo é afirmar que o pai está para seu filho como para um estranho. É arrasar a família. 



E não só a família e a propriedade, como também a tradição. Com efeito, das múltiplas formas de herança, a mais preciosa não é a do dinheiro. A hereditariedade — o fato é de observação corrente — fixa muitas vezes em uma mesma estirpe, seja ela nobre ou plebeia certos traços fisionômicos e psicológicos que constituem um elo entre as gerações, a atestar que de algum modo os ancestrais sobrevivem e se continuam em seus descendentes. 

Cabe à família, cônscia de suas peculiaridades, destilar ao longo das gerações o estilo de educação e de vida doméstica, bem como de atuação privada e pública, em que a riqueza originária de suas características atinja a sua mais justa e autêntica expressão. Este intuito, realizado no decurso dos decênios e das centúrias, é a tradição. Ou uma família elabora sua própria tradição como uma escola de ser, de agir, de progredir e de servir, para o bem da pátria e da cristandade, ou ela corre o risco de gerar, não raras vezes, desajustados, sem definição do seu próprio eu e sem possibilidade de encaixe estável e lógico em nenhum grupo social. 

Do que vale receber dos país um rico patrimônio, se deles não se recebe — pelo menos um estado germinativo, quando se trata de famílias novas — uma tradição, isto é, um patrimônio moral e cultural? Tradição, bem entendido, que não é um passado estagnado, mas é a vida que a semente recebe do fruto que a contém. Ou seja, uma capacidade de, por sua vez, germinar, de produzir algo de novo que não seja o contrário do antigo, mas o harmônico desenvolvimento e enriquecimento dele. Assim vista, a tradição se amalgama harmonicamente com a família e a propriedade, na formação da herança e da continuidade familiar. 

Este princípio está no bom senso universal. E por isto vemos casos em que mesmo os países mais democráticos o acolhem. É que a gratidão tem algo de hereditário. Ela nos leva a fazer pelos descendentes de nossos benfeitores, mesmo quando já falecidos, o que eles nos pediriam que fizéssemos. A essa lei estão sujeitos não só os indivíduos como os Estados. 

Haveria uma flagrante contradição em que um país guardasse em um museu, por gratidão, uma caneta, os óculos, ou até os chinelos de um grande benfeitor da pátria, mas relegasse à indiferença e ao desamparo aquilo que ele deixou de muitíssimo mais seu que os chinelos, isto é, a descendência. 

Daí a consideração que o bom senso vota aos descendentes dos grandes homens ainda que sejam pessoas comuns. Por isto é que, por exemplo, nos Estados Unidos, todos os descendentes de Lafayette, o militar francês que lutou pela independência, gozam das honras da cidadania americana, tenham eles nascido em qualquer outro país. Daí também a pensão que governos brasileiros têm dado muito justamente a descendentes de grandes figuras, caídos em um honrado estado de necessidade: filhos ou netos de Campos Sales, Rui, etc. Daí também um lance histórico dos mais belos, ocorridos durante a mais recente guerra civil espanhola. 


Brasão de armas 
do Duque de Veraguas
Os comunistas se haviam apoderado do duque de Veraguas, último descendente de Cristóvão Colombo, e iam fuzilá-lo. Todas as repúblicas da América se uniram para pedir clemência para ele. É que não podiam elas ver, com indiferença, extinguir-se sobre a terra a descendência do heroico descobridor. 

*   *   * 

Estas as consequências lógicas da existência da família e dos reflexos dela na tradição e na propriedade. 

Privilégios injustos e odiosos? Não. Desde que se salve o princípio de que a hereditariedade não pode acobertar o crime, nem tolher a ascensão de valores novos, trata-se simplesmente de justiça. E da melhor... 

5 de maio de 2020

VÍRUS DO PÂNICO: Gigantesca e catastrófica operação de baldeação ideológica

A pretexto do novo coronavírus, forças ponderosas parecem visar o domínio das mentes e das nações por meio de uma ditadura do pensamento único. Isso nos faz recordar de uma experiência orwelliana rumo a uma nova (des)ordem mundial para a implantação de um governo totalitário que ditaria normas para tudo. Todos seriam obrigados a levar um estilo de vida neo-comunista e miserabilista. 


➤  Fonte: Revista Catolicismo, Nº 833, Maio/2020

Enquanto a mídia se encarrega de espalhar ad nauseam previsões apocalípticas do contágio do vírus chinês, o mundo inteiro parece contagiado pelo vírus do medo. Mas muitos já começam a desconfiar dessa mesma mídia e estranhar os despóticos decretos governamentais de confinamento; por exemplo, a ordem “fique em casa”. Alguns acatam de modo pacifico tal ordem, e voluntariamente ficam em “prisão domiciliar”. Mas outros percebem que se está manipulando a opinião pública numa experiência orwelliana.

No célebre romance “1984” (publicado em 1949 sob o pseudônimo George Orwell), o escritor Eric Blair prenuncia o advento de uma governança mundial, que mandaria em todo o mundo, perseguindo quem pensasse por si próprio ao invés de pensar de acordo com a coletividade. A tecnologia chinesa de reconhecimento facial dos cidadãos, inspirada na vigilância policial do “grande irmão” imaginado por Orwell, teria condições para espionar e controlar os passos de todos, suas emoções, o que veem na internet, o que falam e fazem, os arquivos de uso dos celulares etc. 

Muitos comentam que nada no mundo será como antes da pandemia Covid-19. Certos próceres, entre os quais o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, subserviente à China comunista, repetem sem cessar a palavra de ordem: o mundo pós-coronavírus será um “novo mundo”, no qual teremos “um novo normal” numa “nova ordem”. 


Estaria a opinião pública mundial passando por um processo de “baldeação ideológica” para aceitar semelhante sistema de controle planetário? Passaria ela por um teste para o estabelecimento de uma República Universal, com um só governo totalitário ditando normas para tudo e para todos? Haveria forças poderosas desejando implantar um “mundo novo”, nos moldes de um “mundo chinês”? Esse governo mundial imporia a todos um mesmo estilo coletivista de vida? O brusco confinamento das pessoas, com graves consequências econômicas e a falência de inúmeras empresas, jogará muitas regiões na extrema pobreza? Pretende-se fazer desaparecer os derradeiros restos de uma Cristandade hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal? Seria ela substituída por uma sociedade mundial igualitária, miserabilista e tribalista? 

Alguns elementos para resposta, nossos leitores os encontrarão na matéria de capa da revista Catolicismo deste mês. Nesta mesma edição, como é natural, outras matérias se relacionam com essas questões. O fechamento de igrejas, não só no Brasil mas em todo o Ocidente, é decisão com a qual concorda a maior parte das autoridades eclesiásticas, comprazendo o regime chinês, comunista e ateu. Responsável, aliás, por ferrenha perseguição à Igreja, com o fechamento de templos, destruição de cruzes e imagens sagradas. 

Nossos leitores poderão tomar conhecimento da íntegra da referida matéria no seguinte link: 
http://www.abim.inf.br/aproveitando-o-panico-da-populacao-e-o-apoio-espiritual-do-vaticano-articula-se-a-maior-operacao-de-engenharia-social-e-baldeacao-ideologica-da-historia/