Paulo Roberto Campos
“Abolir a família” era meta defendida por Marx, que reputava a “família” como uma concepção “burguesa” oposta ao “proletariado”. E a “ideologia de gênero” não é senão a atual versão para apresentar a “jurássica” doutrina marxista com nova maquiagem.
Trata-se de mais uma farsa revolucionária feminista e antifamília visando abolir a classificação por “sexos” (masculino e feminino) e impor no seu lugar uma nova classificação por “gêneros”: heterossexual (masculino e feminino), homossexual, lésbica e bissexual). Cogita-se “fabricar” novas classificações...
Os propagadores da “ideologia de gênero” chegam ao extremo de pleitear a eliminação dos termos homem e mulher, masculino e feminino, menino e menina, pai e mãe, senhor e senhora; e também de qualquer noção de desigualdade natural existente entre os sexos, para permitir todo tipo de aberração contrária à natureza, como, por exemplo, o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo.
Alegando a “não-discriminação”, os agentes de tal ideologia marxista discriminam no fundo a própria noção de família. Querem ainda perverter meninos e meninas, ensinando-lhes nas escolas que cada criança deve fazer a sua “opção sexual” — como, aliás, consta no programa do Ministério da Educação e Cultura do governo petista. E estigmatizam de “homófobos” ou “preconceituosos” aqueles que acatam as desigualdades naturais estabelecidas por Deus.
Uma matéria de autoria do Revmo. Padre Lodi, publicada no dia 15 p.p. em seu site (http://www.providaanapolis.org.br), esclarece muito lucidamente esta questão. Transcrevemo-la abaixo. Com muita objetividade, o sacerdote faz um aperçu do livro "O gênero como ferramenta de poder", dissecando o embuste contido na “ideologia de gênero”.
A linguagem de gênero
(uma perigosa terminologia que se está disseminando)
Está para ser lançada no Brasil no fim deste ano a versão portuguesa do livro do advogado argentino Jorge Scala
[foto] “El género como herramienta de poder” sobre a perigosa e destrutiva “ideologia de gênero”.
Em nossa língua poucos são os que compreendem a origem, o significado e o perigo de tal ideologia.
Não tivemos ainda, por parte do episcopado brasileiro, um documento semelhante ao produzido pela Conferência Episcopal Peruana “La ideología de género: sus peligros y alcances” (1998)[1]. Ao contrário, não são poucas as vezes em que membros da hierarquia católica em nosso país fazem uso — inadvertidamente, é claro — de termos emprestados àquela ideologia. Falar de desigualdade de gênero, opor-se à homofobia, não aceitar discriminações contra os homossexuais, dividir as pessoas em homossexuais e heterossexuais, tudo isso se encontra em escritos de zelosos pastores de almas,
inocentes úteis nas mãos de uma doutrina tão perniciosa.
O autor, em sua monumental obra
“IPPF: a multinacional da morte” [foto], que tive a honra de traduzir para o português[2], já fazia questão de advertir os leitores contra o emprego de termos cunhados pela cultura da morte. Entre eles estava a expressão “planejamento familiar”[3], sistematicamente evitada pelo Santo Padre e pela Cúria Romana, mas amplamente usada por sacerdotes, bispos e até por Conferências Episcopais. Em vez de
“planejamento familiar” (que inclui aborto, esterilização e anticoncepção), os católicos devem falar em paternidade responsável, um termo caro ao Magistério da Igreja, que significa não só o espaçamento dos filhos (por razões graves e com respeito à lei moral), mas também a
abertura à bênção de uma família numerosa[4]
Em seu livro sobre
“gênero” a ser lançado no Brasil, Jorge Scala alerta mais uma vez que o
jogo de palavras dessa ideologia não é inocente. Segundo a
“ideologia de gênero”, não existe um homem natural nem uma mulher natural. O ser humano nasce
sexualmente neutro. A sociedade é que constrói os papéis masculinos ou femininos.
“Gêneros” são papéis socialmente construídos. Como não existe uma masculinidade e feminilidade naturais, cada um pode “desconstruir” o papel que lhe foi imposto por convenção social. Surge assim a liberdade de
“casar-se” com uma pessoa do mesmo sexo e a exigência de o Estado reconhecer essa forma de
“família”. Se não existe uma vocação da mulher à maternidade, pode-se falar no direito a
“interromper a gravidez”, colocado entre os
“direitos sexuais e reprodutivos”. Homossexualismo, transexualismo, travestismo, adoção de crianças por duplas homossexuais, prostituição, pedofilia e aborto são algumas das tristes consequências dessa ideologia.
Além da palavra
“gênero”, Jorge Scala faz uma lista de locuções habilmente usadas para manipular a linguagem: opção sexual, igualdade sexual, direitos sexuais e reprodutivos, saúde sexual e reprodutiva, igualdade e desigualdade de gênero,
“empoderamento” da mulher,
“patriarcado”, “sexismo”, cidadania,
“direito ao aborto”, gravidez não desejada,
“tipos” de família, “androcentrismo”, “casamento homossexual”, sexualidade polifórmica, “parentalidade”, “heterossexualidade obrigatória” e
“homofobia”. “Como se pode ver — prossegue o autor —
trata-se de uma nova linguagem, de características esotéricas, cuja função é assegurar a confusão”. É digno de nota como ele adverte-nos sobre o perigo de usar a palavra “heterossexual”:
Devo confessar ao leitor que não sou “heterossexual”. Na realidade os “heterossexuais” não existem. Explico-me: sou apenas homem, sem nenhum acréscimo porque qualquer um deles é desnecessário. Todos nós, seres humanos,
podemos ser apenas homens ou mulheres, em relação à sexualidade. Não existe nenhum “terceiro sexo”. É verdade que existem pessoas com anomalias sexuais de diversos tipos. Isto é verdade. Entre tais anomalias, existem algumas de origem biológica, como o hermafroditismo; e outras de origem psíquica, como a homossexualidade, o lesbianismo, o travestismo etc.. Portanto, quem utiliza o termo
“heterossexual” para contrapô-lo a
“homossexual”, está afirmando, implicitamente, que ambas as categorias são igualmente válidas e opcionais; por isso, alguns escolheriam ser “heterossexuais” e outros “homossexuais”. A realidade é o contrário:
a normalidade física e psíquica em matéria de sexualidade tem apenas duas versões: mulher e homem. Então, a “heterossexualidade” não existe. Do mesmo modo que ninguém pensa em chamar uma pessoa de “não leproso” ou “não diabético”, por contraposição a um “leproso” ou a um “diabético”. É tão absurdo quanto incorreto falar de “heterossexuais”. Esse vocábulo não é inocente, ainda quando
a maioria das pessoas utiliza o termo sem perceber que está sendo manipulada semanticamente.
É preocupante
ver como no Brasil os cristãos têm-se deixado cair nas armadilhas da linguagem de “gênero”. Diz-se, sem mais, que a Igreja é contrária à
“discriminação” aos homossexuais. Ora, isso não é exato. O Catecismo da Igreja Católica teve o cuidado de distinguir:
“evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta” (n.º 2358). O texto supõe, portanto, que a Igreja admite
discriminações justas para com os homossexuais. E de fato admite. Uma delas é a proibição de receberem a Sagrada Comunhão, enquanto não abandonarem seu pecado (o que vale também para qualquer outro pecado grave). Outra é a impossibilidade de serem admitidos em seminários e casas religiosas.
De modo semelhante, um cristão não deve dizer que se opõe à
“homofobia”, pois este
vocábulo pejorativo foi criado para designar as discriminações justas[5].
Diferenças naturais entre os sexos
Para combater a ideologia de gênero, Jorge Scala mostra as diferenças naturais que existem entre o homem e a mulher, que são
“dois modos diferentes de encarnar a humanidade”.
A mulher tem uma capacidade inata de dar atenção, o que a torna mais predisposta a dar aulas a crianças pequenas. Esse dom inato permite que várias mulheres falem simultaneamente, prestem atenção e respondam a cada uma das interlocutoras. Um homem submetido a essa
“pressão” em pouco tempo começa com enxaqueca.
O homem tem maior capacidade de concentração, o que torna para ele muitas vezes mais fácil a demonstração de um difícil teorema matemático.
Com relação à percepção visual, a mulher capta os detalhes; o homem tem uma visão de conjunto. A visão estratégica, a capacidade de síntese, o amor a toda a humanidade — desconsiderando em parte o próximo —, a paixão pela coisa pública são atitudes varonis. Ao contrário, a percepção sensível e amorosa de um dos detalhes, o interesse autêntico pelo próximo e o tornar acolhedores os espaços físicos que ocupa são modos femininos de se relacionar com o ambiente.
Diante de um fato externo — qualquer que seja ele — a mulher reage de forma integrada, isto é, capta-o simultaneamente com sua inteligência, sua vontade e seus afetos. O homem reage primeiramente de forma racional, colocando os sentimentos e a vontade como que entre parênteses. Isso lhe possibilita analisar com frieza fatos comoventes, sem que signifique insensibilidade.
O que é ser homem e o que é ser mulher?
Identificar o ser mulher com a maternidade é algo execrado pelas feministas de gênero. Em 31/01/2000, o Comitê sobre e Eliminação da Discriminação contra a Mulher criticou a Bielo-Rússia (ou Belarus) por ter reintroduzido símbolos como o
“Dia das Mães” e o
“Prêmio das Mães”, o que foi visto como
“um encorajamento aos papéis tradicionais das mulheres”. O mesmo Comitê propôs a
“introdução da educação de direitos humanos e de gênero” como remédio para essa “estereotipação”[6]. No entanto, Jorge Scala afirma que o que define cada um dos sexos é justamente sua vocação procriadora:
Em definitivo, ser mulher é a maternidade e ser homem é a paternidade. Ora, isto deve ser entendido em um sentido antropológico. É, portanto, independente do fato de terem sido mãe ou pai biológicos.
E o que é a
maternidade ou — o que dá no mesmo — o que é a mulher? A maternidade é a qualidade inata pela qual as mulheres sempre acolhem outros seres humanos — especialmente os entes queridos. E isto implica duas coisas: 1º) que elas estão sempre presentes — transcendendo até a distância física da separação; e 2º) que essa presença significa incondicionalidade absoluta em relação ao outro — em especial ao filho.
[...]
E o que é a
paternidade ou — o que é equivalente — o que é o homem? A paternidade é a missão masculina que consiste em encarnar a autoridade. Para isso deve dar — sempre e sem exceções — o bom exemplo, fazendo o que deve ser feito em cada situação, ainda que isso signifique, muitas vezes, sofrer um prejuízo ou padecer uma injustiça.
Essa lição é particularmente oportuna neste momento em que o
Supremo Tribunal Federal,
seguindo a ideologia de gênero, reconheceu como “família” as uniões de pessoas do mesmo sexo, totalmente fechadas à procriação e à complementação homem-mulher.
Anápolis, 15 de julho de 2011.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz.
______
[1] CONFERENCIA EPISCOPAL PERUANA. Comisión Episcopal de Apostolado Laical. Comisión ad–hoc de la mujer. La ideología de género: sus peligros y alcances. Lima, abr. 1998. Disponível em http://www.vidahumana.org/vidafam/iglesia/genero.html.
[2] SCALA, Jorge. IPPF: a multinacional de morte. Anápolis: Múltipla Gráfica, 2004.
[3] Cf. SCALA, Jorge. IPPF: a multinacional de morte. Introdução (p. 11-12).
[4] Cf. PAULO VI. Humanae Vitae, 1968, n. 10.
[5] É intenção do PLC 122/2006, cuja atual relatora é a senadora Marta Suplicy (PT/SP), tornar crime qualquer conduta “homofóbica”.
[6] Concluding Observations of the Committee on the Elimination of Discrimination Against Women: Belarus. 31/01/2000.