29 de junho de 2018

11.418 contra a Ideologia de Gênero

➤  Nelson Ramos Barretto


Carta apresentando ao Presidente Temer o abaixo-assinado
O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e associações Pró-Vida encaminharam ao Presidente Michel Temer um abaixo-assinado com 11.418 assinaturas resultantes da campanha promovida contra a inclusão da Ideologia de Gênero na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

A campanha apelava aos brasileiros estarrecidos com os rumos da BNCC, para que o Presidente excluísse desta a nefasta identidade de gênero. 

Primeiro, porque a Ideologia de Gênero, destituída de qualquer sustentação científica, visa quebrar nas crianças a noção de que elas nascem com um sexo definido. Segundo, porque essa ideologia já foi rejeitada pelos brasileiros, que obtiveram a sua proibição oficial em mais de 90% de nossos municípios. 


Membros do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira em frente a Catedral da Sé (SP)
coletando assinaturas contra a implantação da Ideologia de Gênero no BNCC
Tendo o Presidente Temer, no decurso da coleta de assinaturas, tomado a corajosa iniciativa de excluir a Ideologia de Gênero da BNCC e de impedir seu ensino obrigatório nos colégios, os organizadores da campanha também lhe fizeram chegar seus calorosos cumprimentos, na esperança de que esta sua valorosa postura em defesa da Família se mantenha nos diversos órgãos governamentais.

25 de junho de 2018

Suicídio — mais uma loucura do mundo moderno



Plinio Maria Solimeo 

Ultimamente têm saído notícias de suicídios de atores famosos e de pessoas do mundo das artes. Para não falar do número sempre crescente de jovens em todo o mundo, principalmente no Japão. 

Ora, afirma o 5º Mandamento da Lei de Deus: “Não matar”. Isso não se refere somente a tirar a vida do próximo, mas sobretudo a não tirar a própria. Por isso o suicida era visto como pessoa que cometera uma grande ofensa a Deus, Autor da vida. A Igreja, para manifestar seu horror a esse ato extremo, não lhe concedia cerimônias fúnebres públicas — como Missa de 7º Dia ou enterro no campo santo. (Ao mesmo tempo, como Mãe misericordiosa, não lhe negava os sufrágios em privado, desde que o escândalo fosse evitado).

Entretanto, em nossa época de relativismo, a ateização das mentes é tal, que leva a retirar na consideração do suicídio todo o aspecto religioso da questão, ou seja, a ofensa a Deus. É verdade que uma das grandes causas dos suicídios em nossos dias é a falta de esperança num porvir, o que provoca em muitos casos a depressão e a falta de objetivo na vida, levando por sua vez ao desespero. Isso acaba de certo modo, se não justificando essa atitude desesperada, pelo menos atenuando-a em muitos casos. 

Em conseqüência, essa violação da Lei de Deus passou a ser vista com indiferença, ou até com certa simpatia, como mais um dos “direitos” reclamados por um mundo “emancipado” de Deus e da Lei moral.


Por isso o chamado “suicídio assistido” e a “eutanásia” estão se tornando comuns entre os povos ditos civilizados. Alegam seus partidários, geralmente da esquerda, que é preciso conceder às pessoas uma “liberdade de eleição”.

Essa posição vem curiosamente junto com a luta para a aprovação da eutanásia, do aborto, do “casamento” homossexual, da absurda “teoria de gênero” e demais bandeiras dos movimentos ditos progressistas.

Um dos países que está liderando essa investida contra a vida é o Canadá. Em Quebec, enquanto desde 2016 se dá todo o apoio ao suicídio assistido, somente 30% da população tem possibilidade de acesso aos cuidados que conservariam a vida ou aliviariam os sofrimentos dos pacientes terminais.

O problema que alegam os hospitais é a falta de verba para atender os pacientes terminais. O Colégio dos Médicos de Quebec pediu repetidas vezes mais verbas para isso ao Ministro de Saúde, Gaetan Barrette, mas não recebeu resposta. Muitos médicos opinam que essa falta de fundos é programada, para obrigar os pacientes em estado terminal a pedirem o “suicídio assistido”. Esse problema não é só de Quebec, mas de todo o Canadá.

O site do The Star apresenta um exemplo típico dessa luta entre os que querem continuar a viver e aos quais se oferece, pelo contrário, o que é hipocritamente chamado “morrer com dignidade”, ou seja, o “suicídio assistido”.

Trata-se de Roger Foley, de 42 anos, diagnosticado com ataxia cerebral, patologia que lentamente afeta a capacidade de mover-se e de falar, internado num hospital de Ontário. Ele denunciou a província de Ontário quando o hospital, para continuar a administrar-lhe o tratamento adequado, apresentou-lhe uma conta de 1.800 dólares diários, esclarecendo que, caso ele não pudesse pagar, lhe oferecia o acesso gratuito ao “suicídio assistido”.


Algo semelhante ocorreu no Estado de Oregon, nos Estados Unidos, onde o suicídio assistido é legal desde 1997. Um caso famoso é o de Randy Stroup, diagnosticado com câncer de próstata e a quem os médicos se negaram a tratar com quimioterapia porque o tratamento era muito caro. O Estado opôs-se ao tratamento, mas ofereceu pagar os gastos com a eutanásia. Randy exclamou: “Quase desmaiei quando me disseram isso. Como é possível que não paguem o tratamento para ajudar-me a viver, e se ofereçam a assumir o gasto para fazer-me morrer?”

Já na Califórnia, onde o suicídio assistido foi legalizado em 2015 (e temporariamente suspenso há algumas semanas por razões legais), Stephanie Packer, ainda viva, mãe de quatro filhos, viu seu seguro-saúde negar-lhe tratamento em 2016. “Antes que a lei da eutanásia entrasse em vigor, estavam dispostos a pagar. Depois da aprovação do suicídio assistido, me disseram que, como não me restava muito para viver, não cobririam o tratamento de minha esclerodermia. Mas acrescentaram que, se escolhesse o suicídio assistido, gastaria somente um dólar e vinte centavos”, declarou ao Washington Times.

Esses absurdos só são possíveis no atual mundo materialista, voltado contra o Criador de todas as coisas! [i] 

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[1] Fontes: consultadas:https://www.religionenlibertad.com/vida_familia/29536501/Caso-real-Acuidarle-a-usted-nos-cuesta-1.00-euros-al-dia-le-proponemos-la-eutanasiaA.html?utm_source=boletin&utm_medium=mail&utm_campaign=boletin&origin=newsletter&id=31&tipo=3&identificador=29536501&id_boletin=603269936&cod_suscriptor=452495753;https://www.thestar.com/opinion/contributors/2018/04/02/the-right-to-a-compassionately-assisted-life-not-death.html

23 de junho de 2018

11ª Marcha nacional contra o aborto de Brasília

  
Marcelo Augusto Siqueira

Clima ameno e céu aberto proporcionaram a realização de mais uma Marcha Nacional contra o aborto, ocorrida em Brasília no último dia 20. 

Mais de 3.000 compareceram ao evento promovido pela entidade Brasil Sem Aborto. A presença de sacerdotes, religiosas e famílias inteiras foi marcante. A juventude mostrou-se ativamente contra o aborto, marcando o evento. 


O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira compareceu também com seus estandartes, o Pendão Nacional e portando durante toda a marcha uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que foi muito notada causando a admiração e veneração do público em geral. 

A marcha tem por objetivo representar a grande e maioritária parcela da população brasileira que é conservadora e que é contra crime tão nefasto: a prática do aborto. Sobretudo, cristão de nascimento, o povo brasileiro ama e devota todo o seu esforço para que o decálogo e os princípios morais católicos sejam acatados e afirmados. 


O Brasil gloriosamente e perigosamente vai entrando no rol de países que ainda não despenalizaram o aborto totalmente. Gloriosamente, pois a luta contra este assassinato se mostra eficaz e o sacrifício de muitos que lutam, frutificou. Porém, estar neste elenco, faz com que os inimigos da lei de Deus voltem seus olhos cada vez mais para a Terra de Santa Cruz, para aqui implantar totalmente o crime do aborto.

18 de junho de 2018

Violência urbana, crise religiosa, corrupção política – Por quê?

➤  Paulo Corrêa de Brito Filho

Assaltos nas ruas, roubos à mão armada, ônibus incendiados, balas perdidas, arrombamento de caixas-eletrônicas, sequestros, enfim o quadro trágico da violência urbana é o que mais preocupa o cidadão comum. Mais ainda do que o fantasma do desemprego, do péssimo ensino escolar, do desastroso serviço de saúde, da corrupção política que se agigantou dantescamente nos últimos governos de esquerda. 

Embora se trate continuamente da violência urbana, fala-se muito pouco de seu ponto mais importante: suas causas morais.

Campeia uma televisão destruidora dos mais comezinhos princípios da moral familiar, sendo uma minoria os valentes que ousam reagir contra ela; no cinema, nos teatros, nas salas de aulas, até no interior dos lares vão rareando os bons exemplos, o ensino dos princípios formadores do caráter, o culto do dever. A própria campanha contra a disseminação da AIDS tem por fundamento a propaganda da mais crua imoralidade.

Há ainda o receio de afirmar que na base da desagregação moral no Brasil está uma terrível e dolorosa crise religiosa. Mas, para uma compreensão completa do problema, cumpre ter a coragem de conhecê-lo por inteiro, a fim de lhe aplicar a terapia acertada.

Sem que esses fatores sejam atacados, pode surpreender o aumento da criminalidade, a escalada incontenível das drogas, e a transformação do outrora moralizado, ameno e reconfortante convívio domestico em ríspido, desgastante e penoso?
A cordialidade brasileira provinha de um fundo de benquerença, de um olhar sossegado em considerar a vida. 
Houve no passado numerosos estudos sobre a cordialidade brasileira, de tal modo esta nota estava presente entre nós. Ela vinha de um fundo de benquerença, de um olhar sossegado em considerar a vida, e também da sensação difusa de que, pelo nosso jeitinho, conseguiríamos afastar de nosso País as tragédias causadas pela perda do senso moral, da crise religiosa e dos maus governos. 

Desapareceram tais estudos... E estão sendo substituídos por maçudos ensaios sobre o alastramento das drogas, a respeito da violência no lar, nas ruas, nos locais de trabalho. Um modo de ser vai se apagando, enquanto outro, que lhe é oposto, vai se afirmando. 

O que está mudando? Estão mudando os hábitos morais!

Qual a solução? Primeiramente reconhecer os problemas, e depois combatê-los corajosamente.

14 de junho de 2018

O ser humano, o cisne e o gato

As mil lições que o gato proporciona ao homem simbolizam mil aspectos da realidade, com seu lado ruim decorrente do pecado original, mas com seu lado bom que tem fundamento em Deus


➤ Plinio Corrêa de Oliveira*

Os seres minerais, não tendo sensibilidade, não têm nenhum conhecimento. A planta pode ter reações, mas não tem conhecimento. O animal tem um grau de vida superior ao da planta, e tem conhecimento. Por exemplo, quando um rato passa perto de um gato, este o reconhece como um alimento e corre atrás dele, pois precisa se alimentar. Também o rato reconhece o gato, sabe que o gato costuma ter fome, identifica-o como um perigo e foge. É natural que o gato e o rato, tendo ambos o instinto de conservação, queiram sobreviver, e o mais adequado a cada um é o gato comer e o rato fugir. 


Essas reações naturais dos animais existem em seres irracionais, portanto não se devem a raciocínios, e sim ao conflito de instintos de conservação que ambos têm. Trata-se de um mundo de operações admiravelmente razoáveis que os animais possuem. Muitas vezes são operações de grande complexidade, cujo mecanismo os cientistas levam gerações estudando para explicar, e nem sempre o conseguem. Elas estão de acordo com a ordem e natureza das coisas, simplesmente por associações de imagens, reflexos, instintos, mas não são frutos de raciocínios. 



Quando o gato dá um miado choroso, cujo tom lamuriante é infalível para comover corações femininos, é porque sabe que a sua dona pode dar-lhe um pouco de leite. Ele não faz um raciocínio como este: “Ela é dona do leite, e dá se quiser. Por isso, se eu quero leite, devo manifestar a ela que estou precisando de leite. Quanto mais lacrimejante for o meu miado, mais depressa ela vai dar. Logo, vou caprichar no meu miado”. Mas o gato é totalmente incapaz disso, o que faz é movido pelo instinto. 


Não deixa de ser verdade que, quando ele tem fome, acaricia a dona, levado por um conjunto de instintos, reflexos, movimentos que decorrem do princípio vital dele, daquilo que nós poderíamos chamar “alma”. Não uma alma espiritual como a humana, mas um princípio vital do animal. Um mineral, como a pedra, não tem nenhuma vida e não é capaz de nada disso que se passa no mundo animal. 

O homem é um ser muito mais complexo, possui uma razão que o leva a compreender as coisas, e tem todos os movimentos voluntários no nível da razão. O raciocínio funciona associado ao instinto, e muitas vezes o homem completa a ação do instinto pensando, raciocinando. Algumas coisas podem ser feitas automaticamente, por um reflexo, sem precisar de raciocínio, mas outras vezes é necessário um raciocínio. Pode-se mesmo não saber, num caso concreto, se agimos racionalmente ou apenas instintivamente. Nem sempre sabemos, em nossa ação, qual é o grau de colaboração da natureza animal e qual é a colaboração da alma racional. 

Um exemplo é quando alguém entra depressa numa sala durante a noite, à procura de um objeto. Para isso, instintivamente estende a mão para o lado e acende a luz. O que se passou é uma mera associação de imagens e lembranças, e até um animal seria capaz disso. Poderá também ser resultado de um raciocínio: “Eu preciso de mais luz; para aumentar a luz, tenho que acionar este botão; portanto, vou acionar o botão”. 


Por mais que o animal esteja abaixo do homem, há um ponto em que está acima dele: no animal não há uma luta interior, que ora o leva para um lado, ora para outro. Exemplo: uma das atitudes mais vis no reino animal, e por isso muito simbólica, é uma galinha quando foge espavorida. Ela pode hesitar, mudando várias vezes o seu rumo de corrida, pois de alguma forma o conhecimento dela indica que o perigo mudou de lugar, ou então ela primeiro viu o perigo de um jeito, depois viu de outro. Mas ela não tem uma divisão interna, uma incerteza, uma dúvida, obedece ao instinto. 

Já o ser humano tem dúvidas. Em geral sentimos duas leis opostas. São Paulo chama isso “a lei da carne e a lei do espírito”. Queremos algo pela apetência carnal, mas pela apetência espiritual desejamos outra coisa. Há um combate interior, que nos leva a contradições, e às vezes fazemos uma coisa, depois mudamos e fazemos outra. O animal, nesse ponto, é superior ao homem. 
*       *       *
Quando eu era pequeno, ia ao Jardim da Luz em São Paulo, onde havia um lago artificial com cisnes, e gostava de vê-los nadando. A maioria eram cisnes brancos, e um ou outro preto. Eu ficava encantado de ver a decisão suave, mas sem nenhuma forma de hesitação, com que um cisne tomava rumo na água, aparentemente sem motivo. Algumas vezes seguia em frente, outras vezes dava uma volta, nadava sem rumo aparente pelo meio do lago, mas nunca tontamente. Seguro de si, olhando o lago com aquele pescoção alto e a superioridade de cisne, flutuando como quem não se molha, mas regozijando-se do contato com a água. 

Eu não conhecia ainda a doutrina do pecado original, e me perguntava: por que não sou assim? Por que não tenho essa segurança que tem o cisne, essa lisura no viver? Não seria melhor que eu tivesse nascido cisne? 

Eu percebia que o cisne não tinha luta interior. Mesmo quando fazia alguma coisa sem razão aparente, a decisão era determinada por algo do seu instinto. Não havia luta interior, e durante muito tempo ele tornou-se para mim o próprio símbolo da falta de hesitação e da ausência de dúvida interior. Parecia haver um acordo implícito do cisne com as águas — elas nunca tentavam contra ele, nem ele contra elas. Deslizando sobre aquelas águas, ele parecia orná-las, e elas nunca se moviam de modo a contrariá-lo. O cisne ficava seco, com a toalete perfeita para o dia inteiro. Agradava-me enormemente contemplá-lo. 

Essa divisão — ora querendo uma coisa, ora outra — nos joga tão baixo que parece representar uma vergonha. No entanto, isso nos coloca muito acima dos cisnes e dos outros animais, representa de fato uma vantagem. Nós somos capazes de nos conhecer a nós mesmos e de conhecer os outros. Somos capazes de conhecer o mundo externo. Nosso intelecto nos torna capazes de conhecer a Deus. Nós compreendemos. O simples fato de compreendermos a nossa alteridade — que cada um de nós é eu, e não o outro — o fato de cada um poder dizer “sou eu” é uma superioridade fabulosa. Somos inteligentes, conhecemos a Deus e o mundo externo, conhecemo-nos, sabemos quem somos. Também por isso o homem é o rei da criação. Um rei que cambaleia e que cai, se não abrir os olhos e se não rezar muito. Rei cego, mas que tem em sua fronte um diadema, uma coroa. 

O que move o homem a agir nas várias situações? Move-o um modo de conhecimento animal que há em si, em face da realidade exterior. Exemplifico com as características deste nosso grupo de pessoas conhecidas. Meus olhos os veem, a todos e a cada um, e essa função de meus olhos é puramente animal. No entanto, a ela se somam imediatamente mil memórias, recordações sobre o nosso relacionamento anterior: as razões pelas quais estamos juntos; as metas que tenho, ao aceder em estar junto dos conhecidos; as facilidades e dificuldades que tenho na obtenção dessas metas. Portanto, levam-me a avaliar o que devo dizer e como devo dizer, para a obtenção dessas metas. Entra aí uma pirâmide de dados que foram intermediados pelo corpo e estão na inteligência, são armazenados na inteligência. 

O corpo tem seu papel, e bem maior do que muitos imaginam. Se meu corpo fosse outro — se, por assim dizer, minha animalidade fosse outra — eu veria as pessoas como estou vendo, mas ressaltaria algumas coisas e outras não, reagiria de modo diferente em relação a umas coisas e outras. Portanto, o mesmo quadro que estou vendo agora, para mim teria relevos e cores diferentes. Cada homem é assim, à maneira de um tapete que, colocado junto à luz, toma reflexos variados. Nenhum homem tem, em face das coisas que vê, uma atitude inteiramente idêntica à de outro homem. 

Embora sendo do mundo animal, devido às nossas inteligências nós somos capazes de julgar. Se algo não for conforme à Lei de Deus, conforme à verdade que minha inteligência percebe, sou capaz de reprimir o que é ruim e aceitar o que é bom, e até de desenvolver o que é bom. Portanto, minha alma continua a rainha, mesmo em águas convulsas. A batalha e a dificuldade são diferentes de uma pessoa para outra, e cada um pode também compreender a Deus de um modo ou de outro. 

Voltando ao exemplo do gato. Volto de bom grado a ele, porque é um animal muito interessante, muito sugestivo e muito velhaco. E tem a vantagem de seus estados de animalidade serem muito matizados, ele muda continuamente en dégradé, sem saltos, como numa espécie de opala. Inspira também um certo medo, porque pode ter mudanças muito súbitas e muito variáveis. 

Há gatos que são a própria imagem do raffinement. Sedosos, peludos, movem-se com elegância, fazem poses. Outros são a própria imagem do carinho, brinquedinhos vivos, que brincam de modo encantador. Gatinhos bebendo juntos de uma mesma tigela com leite, por exemplo, podem fazer coisas encantadoras. 

Uma proeza felina que enraivece a dona, é quando ele consegue enfiar a pata pela porta da gaiola, agarra o passarinho e se banqueteia com uma refeição requintada. Cunharam até essa expressão bem achada, para a cara de fingido arrependimento quando alguém é apanhado em flagrante delito: cara de gato que comeu passarinho. Quem nunca viu a cena, pode facilmente imaginá-la. 

Outra é a do gato que sobe no aquário e fica observando os movimentos do peixinho. Quando ele está numa posição conveniente, o gato mete rapidamente a pata e joga o nadador para fora da água, depois dá um salto felino e o apanha. Há em Paris uma Rue du Chat-qui-Pêche (Rua do gato que pesca) [foto abaixo], em memória de um gato que sobressaiu-se nessa habilidade no rio Sena, e era espetáculo gratuito para muitos, a ponto de merecer essa homenagem da municipalidade. 

Por que Deus criou o gato com todas essas diversidades? Funcionaria igualmente bem o mundo, se não houvesse gatos? Evidentemente, Deus criou o gato para os homens, mas o que lucram os homens com a existência do gato? Ele distrai o homem, e também lhe serve de exemplo. Ora o encanta, ora o frustra. Por mais mansinho e apreciador de carinho, de repente lhe mete uma unhada. 

O gato deixa no homem certo pesar de não existir o gato ideal: interessante como o gato ruim e encantador como o gato bom; vivo como o gato de goteira e sedoso como o gato criado sobre a almofada vermelha de uma marquesa; gatinho de brinquedo para distrair, mas nunca agredindo nem arranhando, nunca pregando má surpresa; capaz de arranhar e pregar má surpresa aos inimigos do homem, que são os ratos da casa. Na verdade o homem desejaria um gato duplo: tigrinho para o rato e brinquedinho para ele, pressupondo-se também a condição de não incluir peixinhos e passarinhos na sua dieta, nem derrubar louças frágeis. 

Em todos esses estados de espírito que o contato com o gato proporciona, não estaria o homem sonhando com o Paraíso perdido? Não fica propenso a sentimentos de bondade? De outro lado, não fica propenso a sentimentos de prudência? E junto com a virtude da prudência, não exercita também a virtude da bondade, da caridade, da mansidão? Mais ainda a virtude da fortaleza, quando o gato atrapalha e o homem sai em sua perseguição? Não recebe do gato uma lição de vigilância, quando o vê levantar as orelhas e começar a olhá-lo? Nessa situação, o homem não se sente um bobo em face do gato? O reboliço que os gatos fazem dentro de um “saco de gatos” pode lembrar muito bem a consciência acusadora do pecador... 

Essas mil lições que o gato proporciona ao homem simbolizam mil aspectos da realidade, com seu lado ruim decorrente do pecado original, mas com seu lado bom que tem fundamento em Deus. O sedoso e macio do gato simbolizam de algum modo as delícias do convívio divino. O interessante e o novo que há no gato simbolizam de algum modo o que há de inesgotável e sempre surpreendente para nós em Deus: sempre o mesmo, mas motor imóvel, causando todas as coisas e fazendo coisas que nos deixam continuamente surpresos, encantados e tranquilamente habituados a algo que não muda nunca. E assim, subindo até o mais alto ponto, elevamo-nos a Deus. 

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* Comentários feitos por Plinio Corrêa de Oliveira durante um almoço no dia 7-7-1983, extraídos de gravação em fita magnética. A fim de serem publicados, alguns comentários foram ligeiramente adaptados. Essa transcrição não passou pela revisão do autor.
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 810, Junho/2018.

12 de junho de 2018

A radical intolerância dos “tolerantes”

Momento de uma das várias agressões físicas. A polícia, presente o tempo todo, teve temor de intervir
Julio Loredo 

Fui convidado pela Fundação Civitas Christiana (TFP holandesa) para fazer algumas conferências em Nijmegen, uma das mais tradicionais cidades da Holanda. O programa previa um dia dedicado a um pequeno grupo de rapazes, sobre o tema A santidade da civilização cristã; e meio dia de palestras para cerca de 60 simpatizantes, ávidos por informações sobre Plinio Corrêa de Oliveira, o cruzado do século XX. O interesse pelo pensamento e a ação desse eminente líder católico contra-revolucionário brasileiro vem crescendo cada vez mais no país. 

Chamam a atenção as imagens de “Che” Guevara
portadas pelos agitadores LGBT. Afinidades ideológicas
com o comunismo, cada vez mais claras
No sábado à tarde, como parte do programa juvenil, fomos ao centro de Nijmegen para protestar contra um cartaz imoral divulgado na cidade, o qual mostra dois homossexuais se beijando. Hugo Bos, diretor da TFP dos Países Baixos, definiu corretamente o cartaz como “altamente impróprio para a moral pública, especialmente para as crianças”. A manifestação consistia na distribuição, de forma pacífica e legal, de um folheto exortando as pessoas a assinar uma petição on-line de protesto contra esse cartaz. 

Poucos minutos após o início da campanha, apresentou-se um magote com cerca de 100 militantes LGBT, claramente preparados para um ato de guerrilha urbana. Alguns tinham o rosto coberto por lenços, outros usavam capacetes que lhes cobriam toda a cabeça. Revoltados, atacaram-nos fisicamente, de forma bastante violenta; atingiram nossos olhos com balões contendo pó de pimenta e purpurina; arrebataram com força os folhetos das nossas mãos, para em seguida rasgá-los; e tentaram apossar-se dos nossos banners, sem o conseguir. 

Começamos a rezar o Santo Rosário, mas os hooligans LGBT ignoraram o caráter estritamente religioso deste ato, e passaram a arrancar os terços de nossas mãos, arrebentá-los e zombar de nós. O ódio à Fé era óbvio. Mas nossa calma, coadjuvada por indiscutível superioridade moral, impediu que a situação se degradasse. A Polícia, muito favorável ao nosso trabalho, só nos protegeu em parte, pois temia ser erroneamente censurada como favorecedora de “atos homofóbicos”. 

Não foi esta a primeira vez que estive na rua, lidando com agitadores LGBT. Mas neste caso tão característico de intolerância, algumas conclusões eram evidentes. 

Um dos hooligans LGBT
1. A Holanda é considerada um país liberal e tolerante. Mas a tolerância parece ter mão e não ter contra-mão. Basta mencionar que quatro gráficas se recusaram a imprimir os nossos folhetos, por temerem represálias do movimento homossexual. Conseguimos que uma pequena tipografia aceitasse o encargo, mas só depois de nos comprometermos a manter sigilo. Como pode ser considerado liberal um país onde a liberdade de imprensa é coibida? Até onde nos consta, o controle da imprensa é um elemento típico das ditaduras. Outro elemento é o clima de terror ideológico imposto pelo lobby LGBT. Liberdade em teoria, mas intolerância na prática. 

2. A Polícia afirmou que só podia nos proteger até certo ponto, pois deveria ter muito cuidado para não ser acusada de “crime de homofobia”, o qual poderia implicar em expulsão e processo penal. É um direito do cidadão ser protegido pelas forças da ordem, mas outro elemento típico das ditaduras é esse controle da Polícia. 

3. Além de ordeiro e pacífico, nosso protesto estava firmemente motivado, tanto do ponto de vista intelectual quanto moral. Apresentávamos de forma serena um ponto de vista: o da moral católica e do direito natural. Porém a intolerância da ditadura LGBT é radical, total, absoluta. Ninguém tem o direito de manifestar um ponto de vista contrário ao dela. Quem o faz, literalmente põe em risco a própria pele. Eis um terceiro elemento da ditadura: o controle do pensamento por meio da força bruta. 

4. A fúria dos elementos LGBT atingiu seu paroxismo quando começamos a rezar o Santo Rosário. Não só arrancaram o terço das nossas mãos, mas também praticaram atos lascivos em nossa presença, chegando mesmo a colocar as mãos sobre nós. Não reagimos com desforço físico, pois seríamos imediatamente acusados de praticar “violência de gênero”. Mais um elemento da ditadura: virtual proibição de praticar a própria religião, inclusive no domínio moral. 

Estamos caminhando com celeridade para aquela “ditadura do relativismo” denunciada pelo Papa Bento XVI. Na Holanda, já conseguiram criar um clima de terror ideológico. Fatos como esses, frequentes também em outros países, devem abrir os olhos das pessoas sobre o perigo de uma ditadura LGBT em franca expansão. 

Nestas páginas, algumas fotos da campanha em Nijmegen não dão bem a ideia do ódio e da violência dos hooligans LGBT. A imprensa holandesa evitou difundir as cenas mais violentas, mas filmamos tudo e nos reservamos o direito de publicar o vídeo integral, caso julguemos necessário.

9 de junho de 2018

SOL, ESPELHO DE DEUS


Plinio Corrêa de Oliveira * 

Deus nos deixou uma imagem d’Ele mesmo, mais significativa que qualquer outra: o Sol. Ficaríamos desapontados se percebêssemos no Sol a intenção de dar um show, fazendo poses no céu para ser admirado por nós. Pelo contrário, por não ser inteligente, não pode ter intenções. Enche-nos de benefícios com sua luz e seu calor, mas em nenhuma extremidade dos seus raios se preocupa em ser bem visto. Composto de uma massa de gazes em fricção, gerando altíssimas temperaturas, não tem pensamento, nem conhecimento, nem plano. Arde sem cessar, mas é indiferente a tudo e prossegue o seu ciclo. 


O Sol brilha com seu fogo e penetra em todas as partes, iluminando tudo. Tem a sua rota de todos os dias, com um aspecto na aurora, outros ao longo do dia, ambos distintos do ocaso. Pela faiscante frase de Edmond Rostand — o Sol, sem o qual as coisas seriam apenas o que elas são — o astro-rei acrescenta a todas as coisas aspectos que por si mesmas elas não teriam. 



Quantas auroras, quantos ocasos ao longo dos anos, dos séculos, dos milênios, sem se repetir nunca. Mas nessa existência tão luminosa e variegada, ele nem tem consciência de que existimos. O que de melhor ele nos faz é espelhar continuamente Alguém infinitamente maior que ele. Quando olhamos para o céu, podemos pensar em Deus criador, puro espírito, e exclamar: Ó Deus, como sois grandioso! 

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(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 19 de setembro de 1981. Sem revisão do autor.

3 de junho de 2018

Rótulos da perseguição religiosa


Paulo Henrique Américo de Araújo 

Cada vez mais o mundo se torna inimigo implacável da moral católica, e não surpreende que isso se transforme em perseguição religiosa franca e declarada.

Recentemente, uma pequena propaganda online mostrava duas simpáticas meninas sorridentes [foto abaixo]. Até aí, nada demais, é bom e agradável ver duas meninas simpáticas e sorridentes, e os peritos em propaganda nunca o ignoraram. Pelo contrário, usam e abusam de imagens assim tanto quanto podem, e eu não perderia meu tempo com mais essa. Mas a inscrição associada à imagem atraiu a minha atenção: “Love has no labels”, que se traduz por “O amor não tem rótulos”. A pergunta inevitável me veio à mente: o que tem a ver uma coisa com a outra? 


Contradição aparente e insensatez são armas poderosas de atração em muitas propagandas. Havia uma relação intrigante entre a imagem das crianças e essa “chamada”, e por meio dela os idealizadores do anúncio me atraíram. Procuro sempre controlar a “louca da casa” (é assim que os doutores em vida espiritual denominam a curiosidade), mas preciso também conhecer os novos passos que vem dando a Revolução, para melhor combatê-la, daí minha decisão de clicar na figura. Não foi sem proveito, pois tenho agora a possibilidade de alertar nossos leitores sobre o que se esconde por trás da imagem das duas inocentes meninas, como também sobre uma verdadeira avalanche midiática que nos ameaça. 

O link leva ao site lovehasnolabel.com,* onde um vídeo mostra o público das arquibancadas durante o intervalo de uma partida de futebol americano. Parece ter-se tornado um costume nesse tipo de evento esportivo um telão exibir pessoas da plateia, inclusive casais, demonstrando sua afeição, com abraços e beijos. Crianças, casais e famílias assim o fazem, sob aplausos do público. Uma cena bem ensaiada focaliza então um casal em tais demonstrações de afeto. Em seguida o rapaz se vira para o lado oposto ao da moça, onde está seu “companheiro”, e o novo “casal” passa a demonstrar sua afeição do mesmo modo. Surpresa, risos e aplausos dos espectadores, provavelmente tão ensaiados quanto os três atores. Pessoas de origens diversas, famílias, adultos, crianças, todos em harmonia, todos festejando as demonstrações de afeto entre personagens tão heterogêneos... 

Uma impressão de simpatia penetra implicitamente, imperceptivelmente, as pessoas que assistem ao vídeo. E a mensagem não formulada, mas muito evidente, é que o afeto entre um homem e uma mulher ou entre dois homossexuais são ambos igualmente aceitáveis. Tanto o enredo quanto os sorrisos e aplausos conduzem o espectador, portanto, a simpatizar com as uniões homossexuais. E outra conclusão, que não está longe de ser explicitada, é a rejeição dos princípios religiosos contrários às uniões homossexuais, a mesma rejeição que se aplica a um vil racista ou xenófobo. 

Seguem-se relatos das mesmas pessoas que apareceram no vídeo, e algumas frases pontuais: “Nossa amizade não tem religião”; “O amor diz respeito a quem você é, e não a o que você é”. Para arrematar, uma música insinuante completa as cenas, repetindo ad nauseam o refrão Show me love (mostre-me amor). 

A coisa não para aí, na realidade o vídeo mostra apenas a ponta de um iceberg. A pesquisa mais detalhada do site revela uma ampla campanha internacional, com o objetivo de combater “preconceitos” e “discriminações”. Inúmeras frases-chave se espalham por suas páginas: “Está na hora de assumir a diversidade”; “Coloque de lado os rótulos, em nome do amor”

Há guias práticos ensinando como empreender esse combate, e podem ser “baixados” por qualquer visitante. No chamado “Guia para o orgulho”, lê-se: “Saiba mais como apoiar a comunidade LGBTQ”. Na sequência, explica que o guia “inclui dicas de como ser um bom aliado, um glossário de termos relacionados com a identidade de gênero e sugestões para quando aparecerem ‘novos amigos’”

Outra seção procura determinar claramente as metas: “Love Has No Labels encoraja as pessoas a examinarem e contestarem seus próprios preconceitos. A Liga Antidifamação (ADL), um parceiro deste projeto, desenvolveu este guia para ajuda-lo na promoção de discussões em sua casa sobre preconceito e discriminação”

Mais adiante, de modo habilidoso, o texto coloca no mesmo patamar vários tipos dos chamados “preconceitos”, como se todos tivessem as mesmas razões (ou a falta delas) para existirem. Mas não há dúvida de que a nota tônica da campanha é um violento ataque aos princípios católicos em matéria de moral sexual: “[...] destina-se ao entendimento e à aceitação de todas as comunidades, a despeito de raça, religião, gênero, orientação sexual, idade ou habilidade”

Não poderia faltar nisso a famigerada Ideologia de Gênero. Como exemplo do funcionamento dessas instruções na prática, eis um pequeno trecho que tem por alvo as crianças: “O vídeo [mencionado acima] fornece uma grande abertura aos pais e outros membros da família, para conversarem com as crianças sobre formas implícitas e explícitas de preconceito. [...] Torne o mais inclusiva possível a sua casa e a sua vida de família”. Não só na sua casa: “Se não há muita diversidade [na escola ou em seus círculos sociais], tenha em mente formas de tornar sua vida mais inclusiva. Esforce-se para que seus filhos travem contato com pessoas de origens diferentes: raça, religião, idade, orientação sexual. [...] Leia livros, assista programas de TV, filmes”...

Para o leitor medir a envergadura da tal campanha, basta observar os nomes que aparecem em destaque ao fim da página, como seus patrocinadores: Coca-Cola, Pepsico, Bank of America, Google, Johnson&Johnson, dentre outros.

Apesar de o site apresentar-se em inglês, visa atingir todos os países. O próprio anúncio contendo a foto das duas meninas, ao qual me refiro no início, apareceu também numa página brasileira. Versões em outras línguas, ou publicações similares, provavelmente já estão se disseminando na mídia mundial. Não se surpreenda o leitor, caso se depare com um desses guias no seu ambiente de trabalho ou na escola de seus filhos, num futuro próximo. Se isto acontecer, defenda-se com calma e firmeza, demonstrado e sustentando os perenes princípios morais da Santa Igreja. 

A perseguição anticatólica parece a nota preponderante da atual intolerância neopagã. Dir-se-ia que já não há espaço no mundo para o ensino católico tradicional sobre a família, num embate que vai se ampliando a cada dia. Mas não devemos esmorecer, nem temer a perseguição religiosa. A Igreja conhece esse inimigo desde os seus primórdios. “Se o mundo vos odeia, antes odiou a mim”, disse Nosso Senhor. Continuemos reagindo com o auxílio de Nossa Senhora, que nunca deixa de ouvir a súplicas de seus filhos.

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Nota: * Todas as citações, transcritas em tradução livre, foram extraídas do site http://lovehasnolabels.com e dos textos em PDF por ele fornecidos. 
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 810, junho/2018. http://catolicismo.com.br/