30 de dezembro de 2023

“A estrela matutina havia se transformado no símbolo da dor”

Maria Antonieta aos 14 anos [Martin van Meytens (1695-1770). Palácio de Schönbrunn, Viena]

Em rememoração dos 230 anos da morte da Rainha Maria Antonieta, que reinou na França de 1774 a 1793, e foi vítima do ódio implacável revolucionário em 16 de outubro de 1793, reproduzimos um comentário do autor desta coluna. 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

M
aria Antonieta era tão delicada, tão fina, tão formosa, que a simples presença dela comunicava beleza a tudo. 

Uma Rainha deve saber fazer-se admirar. Ela dá aos seus súditos a ocasião deste ato de virtude específico e magnífico que é a admiração. 

Ela tem a missão de ser como Stella Matutina, uma estrela matutina que quando aparece cintila. Também deve ter uma luz fulgurante, o que é uma forma especial e mais fascinante de brilho. 

A Arquiduquesa d’Áustria Maria Antonieta não era só muito bonita, mas possuía uma alma bonita de se contemplar, cheia de vida e alegria — uma alegria séria, dentro de muita elegância, distinção, leveza e superioridade. 

Mas tudo isso dentro de uma ascese contínua. Não se é assim na preguiça, agindo de qualquer jeito. Não é fácil, por exemplo, entrar numa sala quase em passo de minueto, com todo o esplendor de uma estrela. Não agir desse modo seria fácil, mas muito vulgar. 

A Rainha ouvindo a acusação no dia anterior ao julgamento
[E
dward Matthew Ward (1859). Coleção Particular]
Filha do imperador por excelência — o imperador da Casa d'Áustria —, e Rainha da nação primogênita da Igreja, ela sofreu as piores calúnias, teve que caminhar entre feras, hienas e serpentes, antes de ser guilhotinada na Revolução Francesa. Ela caminhou com confiança na Providência, que lhe pediu um ato de fé. Teve de confiar em Deus, que tinha os olhos postos nela. Confiar que Deus lhe permitia aquele sofrimento, mas que a amava e a guiava até a extrema imolação. 

Podemos imaginar a placidez da Rainha e o ato de confiança que ela deve ter feito a Ele naquele momento. Isto deve ter cintilado no Céu mais do que cintilava quando ela entrava num dos salões de bailes do palácio de Versailles. A estrela matutina havia se transformado no símbolo da dor. 


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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 19 de agosto de 1994. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

27 de dezembro de 2023

Choque que produzirá uma das maiores convulsões da História


 ✅ 
 Paulo Roberto Campos

A “Declaração Fiducia supplicans”, emitida no dia 18 de dezembro pelo Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, Cardeal Víctor Manuel Fernández, e aprovada pelo Papa Francisco, já foi condenada por vários bispos. 

Esses prelados afirmam que continuarão seguindo a moral perene da Santa Igreja, ensinada ininterruptamente pelo magistério católico tradicional, e rejeitam o teor da recente Declaração, ou seja, “a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e ‘casais’ do mesmo sexo”.

No dia seguinte à sua publicação, o Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Santa Maria de Astana, no Cazaquistão, Dom Tomasz Bernard Peta, e seu bispo auxiliar, Dom Athanasius Schneider, afirmaram em um comunicado: 
“O fato de o documento não permitir o ‘matrimônio’ de casais do mesmo sexo não deve cegar pastores e fiéis para o grande engano e mal contidos na permissão para abençoar casais em situação irregular e do mesmo sexo. Tal bênção contradiz direta e seriamente a Revelação Divina e a ininterrupta e bimilenar doutrina e prática da Igreja Católica. Abençoar casais em situação irregular e ‘casais’ do mesmo sexo é um grave abuso do santíssimo Nome de Deus, uma vez que este Nome é invocado sobre uma união objetivamente pecaminosa de adultério ou atividade homossexual”. 

Ademais, os dois prelados proibiram que os sacerdotes daquela Arquidiocese concedam a referida “bênção”. 

Até o momento em que escrevemos, um crescente número de bispos, e até de conferências episcopais, vêm se opondo à esdrúxula Declaração, pois, como muitos deles afirmaram, não se pode abençoar relacionamentos pecaminosas ou qualquer pecado.

A propósito desta gravíssima questão — que abala a Igreja e causou confusão e um muito justificável escândalo no mundo inteiro —, reproduzimos a seguir uma matéria publicada na revista Catolicismo (edição de novembro de 2020, Nº 839 — https://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0839/P02-03.html

Raio atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma, no dia 28 de fevereiro de 2013.
[Foto: Alessandro di Meo/AFP]

AUTODEMOLIÇÃO DA IGREJA 


As palavras do Papa Francisco [em 2020] — propondo “uma legislação para a união” de pessoas do mesmo sexo, e afirmando que “os homossexuais têm direito a uma família” — deixaram perplexos inúmeros católicos em todo o mundo. Vêm a propósito os comentários de Plinio Corrêa de Oliveira, em 6-9-94,* analisando um artigo do Pe. Jim Galluzzo no “The Wanderer” de 24-3-94. 

“Vê-se a entrada de um esforço metódico dentro da Igreja, como nos demais setores da sociedade, não apenas de tolerância, mas de legitimação da homossexualidade, que acabará dando cumprimento aos desejos do Parlamento Europeu, de que se reconheçam à união de pessoas do mesmo sexo os mesmos efeitos jurídicos do casamento. 

“Considerando-se as heresias mais perigosas, mais carregadas de ódio, mais profundamente dissonantes da doutrina católica, não se encontra nada que destoe mais profundamente dela do que essa legitimação da homossexualidade. Ela está entrando, mas veja-se o modo como penetra. Não é um panfleto apresentado por protestantes, mas por sacerdotes católicos. Há no artigo uma referência a um documento de bispos de 1976, já bem antigo, que convida a uma espécie de mistura entre homossexuais e não homossexuais. 

“É um trabalho feito de cima para baixo, por autoridades eclesiásticas, no sentido de fazer esquecer a doutrina tradicional e dar à homossexualidade direito de cidadania na Santa Igreja de Deus. Haverá em determinado momento, dentro da Igreja Católica, uma manifestação de completa inconformidade contra esse trabalho de legitimação. E teremos então uma divisão dentro da Igreja, de caráter oficial. 

“Poder-se-ia objetar: ‘Se a grande maioria dos bispos estiver de acordo com isso, não haveria divisão’. Não existe grande maioria para mudar a doutrina católica! É indiscutível, e está claramente nas Escrituras, em todos os documentos do Magistério da Igreja e nos tratados de todos os moralistas, que este é um pecado que brada ao Céu e clama a Deus por vingança. Não pode haver entendimento — ponto final! 

“As fronteiras estão cortadas, as barreiras estão erguidas. Então haverá um choque interno dentro da Igreja, e esse choque interno produzirá uma das maiores convulsões da História”. 

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* Trecho extraído do livro “Plinio Corrêa de Oliveira — Profeta do Reino de Maria”, do Prof. Roberto de Mattei – Artpress, São Paulo, 2015, pp. 359-360.

26 de dezembro de 2023

A VIDA DOS PASTORES DE BELÉM

 

Adoração dos Pastores – Guido Reni (1575–1642). National Gallery, Londres

Quantos eram? Como se chamavam? O que foi feito deles? Quando morreram? Onde estariam enterrados? Eis como transcorreu sua maravilhosa vida após o grande prodígio de Belém.

 ✅  Luis Dufaur

São Lucas descreve uma das notas particularmente suaves e doces da abençoada noite em que nasceu o Salvador. Ela provém dos pastores que moravam nas proximidades da Gruta de Belém e foram adorá-Lo, embebidos de admiração, humildade e nobre encanto [quadro no final].

São Lucas registra onde estavam, o que faziam, a aparição inicial do Anjo, a incorporação dos coros angélicos, seu cântico, a reação dos pastores, a adoração e, depois, seu retorno narrando a todos a maravilha que tinham contemplado, glorificando e louvando a Deus.

O anunciador não foi outro senão o Arcanjo São Gabriel. O embaixador divino para a Encarnação sem dúvida era o mais indicado para dar a conhecer o nascimento do Verbo de Deus Encarnado. Ao embaixador celeste se uniram coros de anjos que entoaram a primeira e mais maravilhosa canção de Natal.

Os santos pastores de Belém

Porém, depois desse comovedor relato, o silêncio caiu sobre os santos pastores. Quantos eram? Como se chamavam? O que foi feito deles? Quando morreram? Onde estariam enterrados?

Nós os reencontramos em todo presépio natalino, representados segundo a imaginação dos fiéis, mas muito pouco ou nada nos é ensinado a seu respeito. Entretanto, após o grande prodígio de Belém, eles tiveram uma vida maravilhosa, da qual pouco se fala.

O historiador M. Ghattas Jahshan, em seu livro Estrada de Natal,[i] conta que a um quilômetro e meio a leste de Belém, há uma colina com grutas naturais rodeadas de pinheiros, oliveiras e ciprestes. Ali, Santa Paula, fundadora de dois mosteiros em Belém, e São Jerônimo, Doutor da Igreja, que morou e morreu nas proximidades da mesma cidade, onde traduziu a Bíblia Vulgata em latim, no século IV, viram os restos da Torre do Rebanho (Turris Ader, em latim), levantada sobre a moradia dos pastores, segundo recolheu o site ArtePesebre.[ii]

Hoje, no mesmo local há outra igreja, erigida em 1954 sob o patrocínio dos religiosos franciscanos, custódios da Terra Santa, conhecida como Campo dos Pastores [foto ao lado]. Essa foi construída sobre os restos de um antigo mosteiro, feito, por sua vez, sobre una primitiva igreja ampliada pelo imperador Justiniano no século VI.

Abaixo da igreja do Campo dos Pastores está a gruta que servia também de moradia aos pobres guardiães de ovelhas, que ali refugiavam seus rebanhos durante a noite, para protegê-los das intempéries. Ela hoje pode ser visitada pelos peregrinos na Terra Santa.

Por volta do ano 670, o bispo Frances Arculfus deixou registrada a existência de uma igreja dos tempos de Constantino, junto à Torre do Rebanho, que continha os três túmulos dos pastores.

Torna-se assim historicamente incontestável que os pastores foram três, que seus jazigos eram tidos como local santo já nos primeiros séculos, e que lhes foram atribuídos, como veremos, muitos milagres.

Nas pinturas e esculturas mais tradicionais nas igrejas, eles costumam ser representados nesse número, como nos afrescos da igreja do Campo dos Pastores. Um é adolescente, outro é idoso e, por fim, o terceiro é um adulto de meia idade que toca uma flauta.

Igreja do Campo dos Pastores está a gruta que servia também de moradia aos pobres guardiães de ovelhas.


Como chegaram à Espanha?

Por volta do ano 960, cavaleiros que participaram na tentativa de defender Jerusalém levaram os corpos dos três santos pastores a Ledesma, província de Salamanca, na Espanha. Eles previam que a invasão islâmica os punha em perigo, pois a fúria anticristã estava tomando conta de toda a Terra Santa.

A urna trazida da Torre do Rebanho passou por Fuenterrabia (ou Hondarribia em basco), em Guipúzcoa, onde ficou uma arca pequena de mármore branco vazia, com três compartimentos que teriam sido sepulcro provisório dos três pastores de Belém. Ela teria sido trazida do local no Oriente onde eles foram enterrados originalmente.

O arqueólogo C. Guarmani localizou-a em Belém e doou-a, no final do século XIX, a Antonio Bernal de O’Reilly, cônsul-geral de Síria e Palestina. Este, por sua vez, a doou à igreja de Hondarribia. O erudito historiador Remigio Hernández Morán assegura que ela guardou inicialmente os restos dos pastores, segundo noticiou La Gaceta de Salamanca.[iii]

Casa dos pastores, em Belém
Segundo Hernández Morán, “nos quatro ou cinco séculos seguintes houve silêncio a respeito dos restos dos pastores após a chegada a Ledesma, por causa da Reconquista”. O perigo mouro com sua onda de crimes e profanações rondava essa região central de Espanha.

“Como medida de precaução ante um possível furto ou profanação por parte dos árabes, decidiram ocultá-los”, explicou.


Anos mais tarde, uma vez afastados os invasores islâmicos, decidiu-se recuperar os restos e erigir uma nova igreja, que seria dedicada a São Pedro e Santiago, para nela venerá-los. Porém, perdera-se a lembrança do local exato onde estavam. Mas a construção continuou, e eis que, trabalhando a terra para estabelecer os fundamentos, apareceram intactas as preciosas relíquias dos pastores.

Reconhecimentos oficiais

A partir desse dia, a história das relíquias dos santos pastores registra inúmeros milagres, sobretudo um, muito grande, concedido à região de Ledesma. Esta padecia de uma grande seca, até que, em 25 de maio de 1164, foi aberta a arca das relíquias dos santos pastores. Após serem feitas as rogativas prescritas, em poucas horas caiu uma chuva que durou cinco dias.

O professor Hernández Morán descobriu, nos arquivos vaticanos, um Breve do Papa Inocêncio XI, de julho de 1677, concedendo Indulgencia Plenária, cumpridas as condições de piedade, “à Confraria reunida sob a invocação dos Santos Jacob, Isacio e Josefo, canonicamente erigida e fundada na igreja paroquial de São Pedro da vila de Ledesma, diocese de Salamanca” em vários dias do ano, especialmente no primeiro domingo depois da Epifania de Nosso Senhor Jesus Cristo e nas festas de Natal. O Breve pontifício foi emitido na basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, informou o jornal local Heraldo – Diario de Soria.[iv]

Por fim, as relíquias foram depositadas na igreja dedicada a São Pedro e São Fernando, e o bispo salmantino Andrés Josef del Barco, no mês de julho de 1786, lavrou a ata de “Reconhecimento dos ossos que dizem ser dos pastores que adoraram o Menino Deus em Belém”.

A ata descreve o conteúdo com estas palavras: “Uma cabeça inteira; metade dividida em três partes; quatro ossos grandes de pernas; dez pedaços de caveira; vinte e quatro costelas, e uma mandíbula; quatorze ossos medianos; quinze da coluna; sete pedaços pequenos de costelas; três pedaços pequenos de couro; dois pedaços pequenos que parecem de cortiça de árvore; três pedaços de lenço; uma colher de pau pequena quebrada pelo cabo; um pedacinho de osso envolto num papel pequeno; outro menor envolto noutro papel sem rótulo; um olho, ao que parece, envolto num papelzinho; em outro papel maior, vários pedaços de osso sem rótulo; um pedaço de pau desconhecido; umas tesouras grandes, um papelzinho com a inscrição seguinte ‘Dos gloriosos Josefo, Ysacio e Jacob Pastores de Belém, que mereceram ver e adorar os primeiros a Cristo Deus e homem recém-nascido no Portal’”. Este papel acompanha atualmente os restos contidos na arca.

O historiador Méndez Silva, no século XVII, confirma o número, os nomes deles, e acrescenta que os três morreram virgens num dia 25 de dezembro, 40 anos depois daquela divina noite de Natal.

Em 1864, seus restos foram trasladados para a atual igreja de São Pedro e São Fernando, no bairro de Los Mesones. Porém, a poeira do esquecimento foi caindo sobre ela e seu tesouro, devido à perda generalizada de interesse da religiosidade popular e o menosprezo racionalista pelas relíquias, contra as quais alega falta de autenticidade.

A arca ficou bem guardada, mas sua lembrança voltou a se perder até 1965, quando durante a restauração da igreja se achou, sob o altar-mor dedicado a São Pedro, o tesouro esquecido, todo de madeira forrado de pele de ovelha e carneiro e primorosamente adornado.

Quando foi aberta, apareceram restos humanos com a ‘autêntica’ que dizia: “Os gloriosos Josefo, Isacio e Jacob, pastores de Belém que mereceram ser os primeiros que viram e adoraram a Cristo, Deus e Homem recém-nascido no Portal”, a qual ainda pode ser lida pelos devotos nos dias de exposição.

Nenhuma outra localidade reivindica a posse de restos relacionados com os Pastores de Belém, caso frequente com algumas outras relíquias. Fato que reforça a certeza de que elas são incontestáveis.

O Pe. Casimiro Muñoz, que foi pároco da localidade, atendeu com amabilidade os jornalistas de ArtePesebre, satisfez toda a sua curiosidade, e respondeu a tudo o que se referia aos Pastores de Belém, fornecendo-lhes toda a informação verbal e escrita solicitada.

Na vigília da Santa Noite de Natal os sinos da basílica romana de Santa Maria Maggiore reboam com intervalos de 10 minutos, em memória do remotíssimo costume dos pastores de comunicar aos colegas mais afastados de toda a região o anúncio angélico, avisando com qualquer instrumento ruidoso que tinham ao seu alcance.

Os fiéis de Ledesma veneram a urna aberta dos Santos Josefo, Isacio e Jacob, e em toda a Terra os católicos seguem seu santo exemplo em todos os presépios de igrejas e casas de família.

As relíquias dos três pastores estão depositadas na igreja dedicada a São Pedro e São Fernando, na cidade de Ledesma, Espanha.


Pastores e Reis

A este respeito, comenta Plinio Corrêa de Oliveira: “O anúncio aos pastores foi diferente ao feito aos Reis Magos, que o receberam de um modo místico e silencioso.

“Dom Guéranger, grande teólogo, observa que a dignidade dos Reis era maior que a dos pastores, mas estes foram os primeiros a chegar com anúncio angélico. Eles pertenciam ao povo eleito, enquanto os Reis que chegaram depois representavam os povos gentios.

“O anúncio foi feito aos pastores pelos anjos e aos Magos por uma estrela e comunicações místicas silenciosas. Dom Guéranger defende que vale muito mais a pena crer assim do que por um milagre externo pela palavra de Nosso Senhor. Tomé, tu creste porque viste, bem aventurados os que não viram mas creram.”

A paz prometida aos pastores em 2023

Os fiéis de Ledesma veneram a urna aberta dos Santos Josefo, Isacio e Jacob

Encerramos fazendo uma adaptação de comentários do Prof. Plinio:

O ano se extingue num caos generalizado, como o ano passado, mas com uma potencialidade de confusão e de risco ainda maior em todos os países do Ocidente e do Oriente e na própria Igreja Católica.

É a ocasião de implorarmos a efetivação do cântico angélico que os pastores ouviram no primeiro Natal: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade.


Mas não uma paz e tranquilidade qualquer. Há a paz dos cemitérios, na sua imobilidade, tristeza e silêncio: não é essa. Só há paz genuína nas igrejas onde se professa na sua integridade a doutrina católica, apostólica, romana, onde o rito se faz em inteira harmonia com o culto e o dogma católico. Mas quantas são?

Onde encontraremos na Terra a paz que Nosso Senhor Jesus Cristo quis trazer ao mundo? Infelizmente, em poucos lugares. Encontramo-la no celestial Presépio em que, na manjedoura, o Rei da paz recebe com amor criaturas humildes, não só os pastores, mas até seus animais.

Os santos pastores foram soldados da paz e da ordem, enquanto a Terra gemia na revolta e na desgraça da desordem suprema, fingindo festa e alegria, espalhando o falso anúncio de que se vai para um ano melhor.

A paz de Cristo no Reino de Cristo implica a luta pela ordem contra a desordem, como quando no Céu São Miguel Arcanjo e os Anjos da fidelidade enxotaram Satanás e os anjos da infidelidade, indignos de permanecerem nas mansões celestiais e de continuarem hoje a enfumaçar a Igreja Católica.[v]

 

Ledesma na atualidade

25 de dezembro de 2023

ESTIRPE NOBRE, PRECIOSO DOM DE DEUS

Adoração dos Reis Magos – Bartolo di Fredi (1330–1410). Pinacoteca Nazionale, Siena.


Fonte: Revista Catolicismo, Nº 876, Dezembro/2023 

Continuação do post: https://blogdafamiliacatolica.blogspot.com/2023/12/no-presepio-mais-elevada-nobreza-foi.html

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A nobreza é um dom de Deus  

Da alocução de Pio IX ao Patriciado e à Nobreza romana, em 17 de junho de 1871: 

“Certo dia um Cardeal, Príncipe romano, apresentava um sobrinho seu a um dos meus predecessores, o qual naquela ocasião proferiu uma justa sentença: manterem-se os tronos principalmente por obra da nobreza e do clero. A nobreza é também, não se pode negar, um dom de Deus, e se bem que Nosso Senhor tenha querido nascer humilde num estábulo, também se lê d'Ele, no início de dois Evangelhos, uma longa genealogia, segundo a qual descende de Príncipes e Reis. Vós usais dignamente deste privilégio, mantendo sagrado o princípio da legitimidade. [...] “Continuai, pois, a usar bem esta prerrogativa e nobilíssimo será o uso que podereis fazer dela para com os que, pertencendo à vossa classe, não seguem os vossos princípios. Algumas palavras afetuosas de bons amigos podem muito sobre as suas almas, e ainda mais poderão as vossas orações. Tolerai com alma generosa os dissabores que possais encontrar. Deus vos abençoe, como o peço de todo o coração, por toda a vossa vida”.[1]

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Nosso Senhor Jesus Cristo quis nascer nobre; Ele mesmo amou a aristocracia 

Da alocução de Pio IX ao Patriciado e à Nobreza romana, em 29 de dezembro de 1872: 

“O próprio Jesus Cristo amou a aristocracia. E, se não me engano, já uma vez vos manifestei esta ideia, de que também Ele quis nascer nobre, da estirpe de David. E o seu Evangelho nos dá a conhecer a sua árvore genealógica até José, até Maria, de qua natus est Jesus. 

“Portanto a aristocracia, a nobreza é um dom de Deus. Por isso, conservai-o diligentemente, usai dele dignamente. Já o fazeis com as obras cristãs e de caridade, às quais continuamente vos dedicais com tanta edificação do próximo e com tanta vantagem para as vossas almas”.[2] 

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A nobreza de nascimento parece ser fato fortuito, mas resulta de benévolo desígnio do Céu

Da alocução de Leão XIII ao Patriciado e à Nobreza romana, em 21 de janeiro de 1897: 

“Alegra-Nos a alma rever-vos após um ano, neste mesmo lugar, irmanados por consonância de pensamentos e de afetos que vos honram. A Nossa caridade não conhece, nem deve conhecer acepção de pessoas, mas não pode ser censurada se se compraz particularmente convosco, precisamente em razão do grau social que vos foi assinalado, aparentemente por circunstância fortuita, mas na verdade por decisão benigna do Céu. Como negar uma particular estima à distinção da estirpe, se o Divino Redentor manifestou tê-la em apreço? É verdade que na sua peregrinação terrena Ele adotou a pobreza, e não teve como companheira a riqueza. Mas, por outro lado, escolheu nascer de estirpe real. 

“Rememoramo-vos estas coisas, diletos filhos, não para adular um orgulho insano, mas para estimular-vos a obras dignas da vossa categoria. Todo o indivíduo e toda a classe de indivíduos têm a sua função e o seu valor: do entrelaçamento ordenado de todos brota a harmonia do consórcio humano. Não obstante, é inegável que nas ordens privada e pública, a aristocracia do sangue é uma força especial, como o patrimônio e o talento. Tal aristocracia, se discrepasse das disposições da natureza, não teria sido, como foi em todos os tempos, uma das leis moderadoras do acontecer humano. Donde, argumentando com o passado, não é ilógico deduzir que, por mais que os tempos mudem, nunca deixará de ter eficácia um nome ilustre, para quem saiba portá-lo dignamente”.[3]

Santiago Delgado Carrera (Escultor espanhol) 


4

Jesus Cristo quis nascer de raça real 

Da alocução de Leão XIII ao Patriciado e à Nobreza romana, de 24 de janeiro de 1903: 

“E Jesus Cristo, se quis passar a sua vida privada na obscuridade de uma habitação humilde e ser tido por filho de um artesão; se, na sua vida pública, se comprazia em viver no meio do povo, fazendo-lhe o bem de todas as maneiras, entretanto quis nascer de raça real, escolhendo por mãe a Maria, e por pai nutrício a José, ambos filhos eleitos da estirpe de David. Ontem, na festa dos seus esponsais, podíamos repetir com a Igreja as belas palavras: Regali ex progenie Maria exorta refulget [Maria manifesta-se-nos fulgurante, nascida de uma raça real]”.[4] 

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Nosso Senhor Jesus Cristo quis nascer pobre, mas quis também ter uma insigne relação com a aristocracia 

Da alocução de Bento XV ao Patriciado e à Nobreza romana, em 5 de janeiro de 1917:

 “Não há diante de Deus acepção de pessoas. Mas é indubitável, escreve São Bernardo, que a virtude nos nobres a torna mais aceite, porque neles ela resplandece mais. 

Também Jesus Cristo foi nobre e nobres foram Maria e José, descendentes de estirpe real, embora a sua virtude eclipsasse o esplendor disso, no pobre nascimento que a Igreja comemorou dias atrás. Cristo, pois, que quis ter tão insigne relação com a aristocracia terrena, acolha na onipotente humildade do seu berço os votos calorosos que vos apresentamos: assim como no Presépio a mais alta nobreza foi sócia da mais gloriosa virtude, assim seja com os Nossos diletos filhos, os Patrícios e os Nobres de Roma. E que a virtude deles traga a regeneração cristã da sociedade, e com ela as graças que lhe são inseparáveis: o bem-estar das famílias de todos e de cada um e a suspirada paz do mundo”.[5] 

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Maria, José e, pois, Jesus nasceram de estirpe real 

De um sermão de São Bernardino de Siena (1380-1444) sobre São José: 

Santiago Delgado Carrera (Escultor espanhol)
“Em primeiro lugar, consideremos a nobreza da esposa, isto é, da Santíssima Virgem. A Bem-aventurada Virgem foi mais nobre do que todas as criaturas que tenham existido na natureza humana, que possam ou tenham podido ser geradas. Pois São Mateus (cap. 1), colocando três vezes catorze gerações, desde Abraão até Jesus Cristo inclusive, mostra que Ela é descendente de catorze Patriarcas, de catorze Reis e de catorze Príncipes. [...]

“São Lucas, escrevendo também no cap. 3 a nobreza d’Ela, a partir de Adão e Eva, prossegue na sua genealogia até Cristo Deus. [...] 

“Em segundo lugar, consideremos a nobreza do esposo, isto é, de São José. Nasceu ele de raça patriarcal, régia e principesca, em linha reta, como já foi dito. Pois São Mateus (cap. 1) leva em linha reta todos esses pais desde Abraão até ao esposo da Virgem, demonstrando claramente que nele desfechou toda a dignidade patriarcal, régia e principesca. [...] 


“Em terceiro lugar, examinemos a nobreza de Cristo. Ele foi, portanto, como decorre do que ficou dito, Patriarca, Rei e Príncipe, por parte de mãe e de pai. [...] 

“Os referidos Evangelistas descreveram a nobreza da Virgem e de José para manifestar a nobreza de Cristo. José foi portanto de tanta nobreza que, de certo modo, se é permitido exprimir-se assim, deu a nobreza temporal a Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo”.[6]

— 
Deus Filho quis nascer de estirpe real para reunir na sua Pessoa todos os gêneros de grandeza 

Dos escritos sobre São José, de São Pedro Julião Eymard (1811-1868): 

“Quando Deus Pai resolveu dar o seu Filho ao mundo, quis fazê-lo com honra, pois Ele é digno de toda a honra e de todo o louvor. 

“Preparoul-lhe, pois, uma corte e um serviço régio dignos d´Ele: Deus queria que, mesmo na Terra, o seu Filho encontrasse uma recepção digna e gloriosa, senão aos olhos do mundo, ao menos aos seus próprios olhos. 

“Esse mistério de graça da Encarnação do Verbo, não foi realizado por Deus de improviso e aqueles que haviam sido escolhidos para tomar parte nele, foram preparados por Ele muito tempo antes. A corte do Filho de Deus feito Homem compõe-se de Maria e de José; o próprio Deus não poderia ter encontrado para seu Filho servos mais dignos de estarem junto d´Ele. Consideremos particularmente São José. 

“Encarregado da educação do Príncipe real do Céu e da Terra, incumbido de dirigi-lo e de servi-lo, era necessário que os seus serviços fizessem honra ao seu divino pupilo: não ficava bem a um Deus, ter que se envergonhar do seu pai. Portanto, devendo ser Rei, da estirpe de David, faz nascer São José desse mesmo tronco real: quer que ele seja nobre, até mesmo da nobreza terrena. Nas veias de São José corre, pois, o sangue de David, de Salomão, e de todos os nobres reis de Judá e se a sua dinastia tivesse continuado a reinar, ele [São José] seria o herdeiro do trono e haveria de ocupá-lo por sua vez. 

“Não vos detenhais a considerar a sua pobreza atual: a injustiça expulsou a sua família do trono a que tinha direito, mas, nem por isso ele deixa de ser Rei, filho desses Reis de Judá, os maiores, os mais nobres, os mais ricos do universo. Também nos registros do recenseamento em Belém São José será inscrito e reconhecido pelo Governador romano, como o herdeiro de David: esse é o seu pergaminho real, facilmente reconhecível e leva a sua régia assinatura. 

“Mas, que importa a nobreza de José? — direis talvez. Jesus só veio para se humilhar. Respondo que o Filho de Deus, o qual se quis humilhar por algum tempo, também quis reunir na sua Pessoa todos os gêneros de grandeza: Ele também é Rei por direito de herança, pois é de sangue real. Jesus é nobre, e quando escolher os seus Apóstolos entre os plebeus, Ele os enobrecerá: esse direito pertence-Lhe, já que é filho de Abraão e herdeiro do trono de David. Ele ama esta honra de família; a Igreja não entende a nobreza em termos de democracia: respeitemos, portanto, tudo o que Ela respeita. A nobreza é de Deus. 

“Mas então, é preciso ser nobre para servir a Nosso Senhor? Se o sois, dar-Lhe-eis uma glória a mais; porém, não é necessário, e Ele contenta-se com a boa vontade e a nobreza do coração. Contudo, os anais da Igreja demonstram que um grande número de Santos, e dos mais ilustres, ostentavam um brasão, possuíam um nome, uma família distinta: alguns até eram de sangue real. 

“Nosso Senhor compraz-se em receber a homenagem de tudo quanto é honorífico. São José recebeu no Templo esmerada educação e Deus preparou-o assim para ser o nobre servidor do seu Filho, o cavalheiro do mais nobre Príncipe, o protetor da mais augusta Rainha do Universo”.[7]

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A nobreza de sangue é poderoso estímulo para a prática da virtude 

Do magnífico texto da homilia de São Carlos Borromeu (1538-1584), Arcebispo de Milão, na festa da Natividade de Nossa Senhora, em 8 de setembro de 1584: 

Santiago Delgado Carrera (Escultor espanhol) 

“O início do Santo Evangelho escrito por São Mateus, que deste lugar vos foi há pouco proclamado pela Santa Madre Igreja, nos induz antes de tudo a examinar atentamente a nobreza, a insigne linhagem e a magnificência desta Virgem Santíssima. Se, pois, se deve considerar nobre aquele que tira a sua origem do mérito de antepassados ilustres, quão grande é a nobreza de Maria, que teve princípio de geração em Reis, Patriarcas, Profetas e Sacerdotes da tribo de Judá, da raça de Abraão, da estirpe régia de David? 

“Ainda que não ignoremos sermos nós de verdadeira nobreza — a cristã — a qual nos conferiu a todos o Unigênito do Pai, quando a todos aqueles que ‘O receberam lhes deu o poder para se tornarem filhos de Deus’ (Jo 1, 12), e que a todos os fiéis cristãos é comum essa dignidade e nobreza, não obstante de nenhum modo pensamos que deve ser desprezada ou rejeitada a nobreza segundo a carne. Pelo contrário, quem não reconhecesse esta mesma nobreza igualmente como dom e favor singular de Deus, e não desse também por ela graças especiais a Deus, que é o dispensador de todos os bens, este seria na verdade absolutamente indigno da denominação de nobre, posto que, por deformidade de um espírito ingrato, que mais vergonhoso não pode ser, obscureceria o brilho dos seus maiores. Pois a nobreza da carne muito contribui também para o verdadeiro reluzimento da alma e proporciona-lhe não pequenos benefícios. 

“Antes de tudo, o esplendor do sangue, a virtude dos antepassados e os feitos famosos predispõem de modo maravilhoso o varão nobre a marchar sobre as pegadas daqueles de quem ele descende. E é fora de dúvida também que a sua própria natureza é mais inclinada ao bem e à virtude: seja porque isto lhe toque pela conformidade do seu sangue com o dos seus progenitores e, em consequência, pela transmissão do espírito deles; seja pela perene memória que retém das suas virtudes, as quais considera como mais caras — o que ele sabe avaliar — por terem brilhado nos seus consanguíneos; seja, por fim, pela reta educação e formação que recebeu de varões ilustres. É certamente reconhecido como verdadeiro que a nobreza, a magnificência, a dignidade, a virtude e a autoridade dos pais induzem muito os filhos a manterem o zelo por essas mesmas coisas. De onde se segue que os nobres, por um como que instinto da natureza, são desejosos da honra, cultivam a magnanimidade, desprezam as vantagens de baixo preço, aborrecem enfim tudo aquilo que reputam indigno da sua nobreza. 

“Em segundo lugar, a nobreza é igualmente um estímulo a aferrar-se às virtudes. Difere este do primeiro benefício que referimos pelo fato de que aquele predispõe o nobre a abraçar mais facilmente as obras retas; este segundo, porém, acrescenta ainda, àquilo que se tornou fácil, estímulos veementes; e, como um freio, coíbe os vícios e as ações que desconvêm ao nobre, e faz com que, se alguma vez o nobre cair em alguma falta, logo se tomará de um pudor extraordinário e cuidará, com todas as suas forças, de se purificar dessa mancha. 

“Por fim, o último benefício a considerar na nobreza é que, assim como uma pedra preciosa refulge mais quando engastada em ouro do que em ferro, assim as mesmas virtudes são mais esplendorosas no nobre do que no plebeu; e à virtude junta-se a nobreza, como o maior ornamento dela. 

“Não apenas é verdade que se deve atribuir valor à nobreza e ao lustre dos antepassados, como além disso sustentamos muito firmemente estas duas teses, a saber: a primeira é que, tal como no nobre é muito mais esplêndida a virtude, também nele o vício é de longe muito mais vergonhoso. Assim como mais facilmente se nota a sujidade num lugar claro e batido pelos raios do sol do que num canto obscuro, e as manchas numa veste de ouro do que numa veste comum e andrajosa, ou, por fim, marcas e cicatrizes no rosto do que em outra parte oculta do corpo, assim também os vícios são mais notáveis e chamam muito mais a atenção, e mais vergonhosamente desfiguram o espírito dos culpados, nos nobres do que nos homens de condição vulgar. Que há, na verdade, de mais indigno do que o adolescente nascido de pais ilustres e de fino trato, que se vê corrompido e entregue às tabernas, jogos, bebidas e comedorias desregradas? 

“A segunda tese é que, ainda quando alguém seja nobilíssimo, se à nobreza dos seus maiores não acrescenta as próprias virtudes, imediatamente se torna obscuro. Pois, com a descontinuidade da virtude, cessa nele a nobreza, uma vez que, se permanecem nele os vestígios do lustre dos seus antepassados, são certamente inúteis; pois nem sequer atingem o seu fim, a saber: que o tornem mais inclinado aos grandes feitos, que sejam para ele estímulos à virtude, e freio que o coíba de pecar. E toda a nobreza serve, para ele, de sumo opróbrio, ou não acrescenta à sua honra o mínimo grau. E isto é o que exprobava Nosso Senhor Jesus Cristo aos fariseus que se jactavam de ser filhos de Abraão, dizendo-lhes: ‘Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão’ (Jo 8, 39). Pois alguém só pode vangloriar-se de ser filho, ou neto, e partícipe da nobreza daquele cuja vida e virtudes imita. E, por isso, o Senhor dizia aos mesmos: ‘Vós tendes por pai o Diabo’ (Jo 8, 44); e eram chamados, além disso, pelo santíssimo Precursor de Cristo, ‘raça de víboras’ (Lc 3, 7). 

“Quem é na verdade tão ignorante e inadvertido que ainda encontre base para duvidar da suma nobreza da Santíssima Virgem Maria? Quem não sabe que Ela não apenas igualou as virtudes dos progenitores, mas muitíssimo de longe os excedeu, a tal ponto que se pode e deve chamá-La, com razão, nobilíssima, pois que o esplendor de tão ilustres Patriarcas, Reis, Profetas e Sacerdotes, cujas séries o Evangelho de hoje descreve, tomou n’Ela o máximo desenvolvimento? 

“Perguntará sem dúvida alguém por que razão, de tudo quanto foi até aqui exposto, se pode deduzir a nobreza dos antepassados de Maria, uma vez que é descrita a origem de José, que foi esposo de Maria. Porém, quem mais diligentemente tiver estudado as Sagradas Escrituras resolverá facilmente esta dúvida. Porquanto na Lei Divina era estabelecido que a virgem não tomasse varão fora da própria tribo, principalmente em vista da linha de sucessão hereditária (cfr. Num. 36, 6 ss.); e por isso fica claríssimo terem sido José e Maria da mesma tribo e família, e desta descrição da geração humana do Filho de Deus, torna-se patente ser uma e a mesma a nobreza de uma e de outro”. 

E o Santo passa a encarar outro aspecto do grande tema sobre o qual discorre. Diz ele:

“Em terceiro lugar, por fim, ó dilectíssimas filhas — pois isto vos concerne — é descrita a progênie de José e não a de Maria para que aprendais a não vos ensoberbecer, nem dizer de modo insultante aos vossos maridos: ‘Eu introduzi a nobreza na tua casa; eu trouxe-te o brilho das honras; a mim deves referir, ó varão, o que recebestes de dignidade’. Sabei, na verdade, e isto insculpi constantemente nos vossos espíritos, que o decoro e a nobreza da família da esposa, não é devida a outra família senão à do esposo; e são detestáveis aquelas esposas que ousam preferir-se de algum modo aos seus maridos, ou — o que é pior — se envergonham das famílias dos seus maridos; calam o apelido gentílico deles, e mencionam apenas a sua própria origem. Há aqui realmente um diabólico espírito de soberba. Qual é pois a família de Maria? A de José. Qual é a tribo, qual a casa, qual a nobreza de Maria? A do seu esposo José”.[8]

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Notas: *Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, Livraria Civilização Editora, Porto, 1993, Parte III, Documentos IV, p. Xx-yy. 287-290. 

1. Discorsi del Sommo Pontefice Pio IX, Tipografia di G. Aurelj, Roma, 1872, vol. I, p. 127. 

2. Discorsi del Sommo Pontefice Pio IX, Tipografia di G. Aurelj, Roma, 1872, vol. II, p. 148. 

3. Leonis XIII Pontificis Maximii Acta, vol. XVII, Ex Typographia Vaticana, Romae, 1898, pp. 357-358. 

4. Leonis XIII Pontificis Maximi Acta, Ex Typographia Vaticana, Romae, 1903, vol. XXII, p. 368. 

5. “L´Osservatore Romano”, 6-1-1917. 

6. Sancti Bernardini Senensis Sermones Eximii, vol. IV, in Aedibus Andreae Poletti, Venetiis, 1745, p. 232. 

7. Mois de Saint Joseph, le premier et le plus parfait des adorateurs – Extrait des écrits du P. Eymard, Desclée de Brouwer, Paris, 7ª ed., pp. 59-62. 8. Sancti Caroli Borromei Homiliae CXXII, Ignatii Adami et Francisci Antonii Veith Bibliopolarum, Augustae Vindelicorum, editio novissima, versio latina, s.d., Homilia CXXII, cols. 1211-1214.

23 de dezembro de 2023

NO PRESÉPIO — a mais elevada nobreza foi aliada da mais elevada humildade


O Menino Jesus teve como berço uma manjedoura, em uma gruta que servia de estábulo aos animais. Depois, viveu em uma habitação simples. Entretanto, nasceu nobre, descendende de Príncipes e Reis da mais alta estirpe, herdeiro do trono do Rei David. 

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 876, Dezembro/2023

Felizmente, muito se fala da Sagrada Família — Jesus, Maria e José —, mas, lamentavelmente, muitos omitem o aspecto fundamental: a altíssima nobreza terrena e o passado aristocrático dessa divina Família. Com efeito, ensina-nos São Bernardino de Siena: 
“A Bem-aventurada Virgem foi mais nobre do que todas as criaturas que tenham existido na natureza humana, que possam ou tenham podido ser geradas. Pois São Mateus (cap. 1), colocando três vezes catorze gerações, desde Abraão até Jesus Cristo inclusive, mostra que Ela é descendente de catorze Patriarcas, de catorze Reis e de catorze Príncipes”. 
A nobreza de alma e a nobreza de coração são aspectos tão evidentes, que na presente matéria concernente ao Natal não insistiremos nelas; vamos nos cingir aos aspectos omitidos, as virtudes e verdades esquecidas. 

Na edição anterior reproduzimos um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira no qual ele aponta a missão específica de nossa revista, isto é, insistir nos “aspectos menos conhecidos de nossa realidade religiosa ou social”


Assim, é missão inerente a Catolicismo assestar os holofotes sobre aquilo que é especialmente precioso, mas muito relegado pelas autoridades em nossos dias, pela mídia e até mesmo pelo clero progressista.

Por que não acentuar que os Pais do Menino Jesus são de raça real? Por que não acentuar que Ele é Príncipe Real não só do Céu, mas também da Terra? Por que esta tão injusta e incompreensível sabotagem? 

No cumprimento de nossa missão, e esclarecendo essas perguntas, oferecemos aos nossos leitores a matéria principal desta edição como tema de meditação para o Santo Natal que se aproxima.

Os trechos serão publicados amanhã neste blog. Eles são de autoria de Papas e Santos, foram extraídos da obra Nobreza e Elites Tradicionais Análogas, a última que o Prof. Plinio escreveu, sobre a qual também tratamos na edição anterior a propósito do trigésimo ano de seu lançamento. 

Da Redação de Catolicismo

21 de dezembro de 2023

Pequenino em Belém, Rei do Universo, Redentor dos homens


 ✅  Paulo Roberto Campos 

Aproxima-se uma das festas magnas da Cristandade, o Natal do Divino Infante. Ele logo mais chegará. Será a Luz esplendorosa e sacrossanta a brilhar nas trevas deste nosso século neo-pagão. 

Momento precioso para suplicarmos à Sagrada Família, Jesus, Maria e José, que não permita que os erros do neo-paganismo e do progressismo nos contagiem, mas, pelo contrário, fiquemos invulneráveis a eles e nos conceda a graça da fortaleza para combatê-los intrepidamente. Assim, estaremos lutando para que se cumpra logo que o rezamos no “Pai Nosso”: “Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu”

Para meditarmos nestas vésperas de Natal, seguem alguns pensamentos de grandes santos como regalos natalinos aos nossos leitores. 


“Veio [Jesus] para o que era seu, mas os seus não O receberam. Mas a todos aqueles que O receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.
(São João Evangelista, 1, 11-12) 

“Quem é esse Rei dos judeus? Pobre e rico, humilde e exaltado, carregado como um recém-nascido e adorado como um Deus: pequeno na manjedoura, imenso no Céu, indigente entre panos, precioso entre as estrelas.” 
(São Fulgêncio) 

“Uma criança gosta de achar-se entre crianças, no meio de flores e nos braços dos que a amam”.
(São Boaventura) 

“O vosso Deus desta vez procura-vos não para vos punir, mas para vos salvar”.
(São Bernardo) 

“Eis um dia de doçura para os penitentes: hoje se apagou o pecado; que pecador poderia ainda desesperar de sua salvação?” 
(Santo Agostinho) 

“Não sei verdadeiramente como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo em que passou com o Menino Jesus, sem dar graças a São José, pelo auxílio que lhes prestou”. 
(Santa Teresa de Jesus)


 


20 de dezembro de 2023

Declaração da Arquidiocese de Santa Maria em Astana



Sobre a Declaração “Fiducia supplians”, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovada pelo Papa Francisco a 18 de dezembro de 2023 


O objetivo declarado do referido documento da Santa Sé é dar “a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e ‘casais’ do mesmo sexo”. Ao mesmo tempo, o documento assegura que tais bênçãos far-se-ão “sem validar oficialmente o seu estatuto ou alterar de qualquer forma o ensinamento perene da Igreja sobre o Matrimônio”

O fato de o documento não permitir o “matrimônio” de casais do mesmo sexo não deve cegar pastores e fiéis para o grande engano e mal contidos na permissão para abençoar casais em situação irregular e do mesmo sexo. Tal bênção contradiz direta e seriamente a Revelação Divina e a ininterrupta e bimilenar doutrina e prática da Igreja Católica. Abençoar casais em situação irregular e “casais” do mesmo sexo é um grave abuso do santíssimo Nome de Deus, uma vez que este Nome é invocado sobre uma união objetivamente pecaminosa de adultério ou atividade homossexual. 

Portanto, nem mesmo as mais belas afirmações da citada Declaração da Santa Sé podem minimizar as consequências destrutivas e de longo alcance que derivam deste tipo de bênçãos legitimadas. Com tais bênçãos, a Igreja Católica torna-se, senão em teoria pelo menos na prática, uma propagandista da globalista e ímpia “ideologia de gênero”.

Como sucessores dos Apóstolos e fiéis ao nosso juramento solene, na consagração episcopal, de “preservar o depósito da fé na pureza e na integridade, segundo a tradição sempre e em toda parte observada na Igreja desde o tempo dos Apóstolos”, exortamos e proibimos os sacerdotes e fiéis da Arquidiocese de Santa Maria de Astana de receber ou praticar qualquer forma de bênção de casais em situação irregular e de “casais” do mesmo sexo. É supérfluo dizer que todo o pecador sinceramente arrependido com o firme propósito de não pecar doravante e de pôr fim à sua situação pecaminosa pública (como, por exemplo, coabitação fora de um casamento canonicamente válido, união entre pessoas do mesmo sexo) pode receber uma bênção. 

Com sincera caridade fraterna dirigimo-nos com o devido respeito ao Papa Francisco, que — ao permitir a bênção dos casais em situação irregular e dos “casais” do mesmo sexo — “não caminha retamente segundo a verdade do Evangelho” (cf. Gal 2, 14), usando as palavras com que o apóstolo São Paulo advertiu publicamente em Antioquia o primeiro Papa. Portanto, no espírito da colegialidade episcopal, pedimos ao Papa Francisco que revogue a permissão para abençoar casais em situação irregular e “casais” do mesmo sexo, para que a Igreja Católica possa brilhar inequivocamente como “coluna e fundamento da verdade” (1Tim 3,15) para todos aqueles que procuram sinceramente conhecer a vontade de Deus e, cumprindo-a, alcançar a vida eterna. 

Astana, 19 de Dezembro de 2023 

+ Tomash Peta

 Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Santa Maria de Astana (Cazaquistão) 

+ Athanasius Schneider

Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria de Astana

8 de dezembro de 2023

Cruzada Mundial de Oração em honra do Imaculado Coração de Maria, implorando uma intervenção Divina para a crise da Igreja


N
ossa Senhora em Fátima deu-nos, para o nosso tempo, como meio espiritual eficiente para obter favores Divinos especiais a oração do Rosário e a prática dos Cinco Primeiros Sábados. 

A prática dos Cinco Primeiros Sábados consiste no seguinte: no primeiro sábado de cinco meses consecutivos, receber o sacramento da Confissão e a Sagrada Comunhão, rezar o Terço e meditar durante quinze minutos pelo menos sobre um dos quinze mistérios do Rosário, com a intenção de reparar os pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria. 

Face à tremenda crise que atualmente aflige a Igreja Católica, a Confraria de Nossa Senhora de Fátima lança uma cruzada espiritual mundial que consiste na oração diária do Santo Terço e na prática dos Cinco Primeiros Sábados, para implorar, através do Imaculado Coração de Maria, a ajuda e intervenção de Deus, especialmente para a Santa Sé em Roma.

Esta cruzada espiritual começará no primeiro sábado de janeiro de 2024 (6 de janeiro) e terminará no primeiro sábado de dezembro de 2024 (7 de dezembro). 

8 de dezembro de 2023

Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria 


Christopher P. Wendt 

Diretor Internacional da Confraria de Nossa Senhora de Fátima 


+ Dom Athanasius Schneider 

Assistente Espiritual da Confraria de Nossa Senhora de Fátima, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria em Astana (Cazaquistão).

7 de dezembro de 2023

IMACULADA CONCEIÇÃO

Afresco, no Vaticano, representando Pio IX no momento da proclamação do Dogma da Imaculada Conceição

Dogma proclamado no dia 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

Em tese, uma pessoa poderia ser concebida sem pecado original e não ter toda a santidade que Nossa Senhora teve. Mas essa exceção única foi-Lhe concedida dentro do mundo de pecadores em vista da santidade que Ela teria, e para que pudesse chegar à santidade perfeita. Não é só santidade, é a excelência em todos os aspectos do conjunto da pessoa. Isto estava para a Imaculada Conceição como o aroma está para a flor. 

Com a Imaculada Conceição nossas almas sentem alegria, rememorando que houve na Terra alguém assim. As pessoas sentem-se como se estivessem desmaiadas, prostradas no chão, depois se sentam, levantam-se e se ajoelham para venerar a Imaculada, dizendo: “Tínhamos necessidade de que tivesse havido pelo menos uma pessoa assim, para que todas as coisas boas, santas, grandes, de que são hábeis as coisas dessa Terra, tivessem o próprio élan e justificassem sua marcha ascensional”. 

Todas as caminhadas ascensionais tomam força, todas as coisas nobres, belas e grandes tomam alento, se explicam e começam a andar pelo fato de ter havido uma pessoa como Ela. A partir disto, sentem uma forma especial de alegria e um desejo de ir para o Céu.

O dogma da Imaculada ordena as pessoas, concede uma meta-concepção do Universo, ao saber que Ela foi concebida sem pecado original. O céu com todas suas estrelas nasceu para mim a partir do momento que me falaram da Imaculada Conceição. É como um holofote para eu ver e explicar todas as coisas. 

Imagine que Deus, por sua ordenação, não permitisse o pecado original. Seriam possíveis outros mundos, outros universos. Assim como se diz que na noite de Natal toda a natureza reverdejou, poder-se-ia dizer que isso ocorreu também quando Nossa Senhora foi concebida. Deus depositou n’Ela todas as quintessências. Acho altíssimo esse tema. Mais alto ainda seria falar de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 12 de maio de 1982. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

5 de dezembro de 2023

O Divino Infante nasceu nobre, descendente de Príncipes e Reis, herdeiro do trono de David

Adoração dos Reis Magos – Atribuído a Francisco Varela (1580-1645). Coleção Particular.


Fonte: Editorial da e Revista Catolicismo, Nº 876, Dezembro/2023* 

O Evangelho de São Mateus inicia-se assim: “Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão”. Segue-se extensa lista genealógica, mostrando como Nosso Senhor descende de Príncipes e Reis. O evangelista, no versículo 17, conclui: “Portanto, as gerações, desde Abraão até David, são quatorze. Desde David até o cativeiro de Babilônia, quatorze gerações. E, depois do cativeiro até Cristo, quatorze gerações”

Conquanto fosse de sangue real, da estirpe do Rei David, o Menino Jesus, devido a uma série de infortúnios, nasceu pobre. São José, o castíssimo esposo de Maria Santíssima e Pai adotivo de Jesus, trabalhou como simples carpinteiro. Foi proclamado pelo Papa Leão XIII “Patrono dos Príncipes lançados no infortúnio”. 

Como herdeiro do trono de Judá, caso essa dinastia estivesse reinando, São José seria Rei. Sobre ele afirmou São Pedro Julião Eymard: “A injustiça expulsou a sua família do trono a que tinha direito, mas nem por isso ele deixa de ser Rei, filho desses Reis de Judá, os maiores, os mais nobres, os mais ricos do universo”. 

O Menino Jesus nasceu da raça de Patriarcas, Reis e Príncipes, por parte de mãe e de pai. Títulos próprios ao Salvador do gênero humano. Entretanto, quando se fala d’Ele, destaca-se quase sempre um só aspecto: nasceu pobrezinho, num estábulo de Belém. Embora isso seja verdade, há outra verdade muito esquecida, que também deve ser lembrada: a altíssima nobreza do Divino Infante. 

É o que desejamos recordar de modo especial com a matéria de capa de Catolicismo comemorativa do Santo Natal, uma vez que é a revista das verdades esquecidas e da denúncia dos erros esquecidos, como, por exemplo, o de se falar de São José apenas como operário e patrono dos trabalhadores. 

Convidando os nossos diletos leitores a refletirem sobre esse tema natalino, suplicamos ao Divino Príncipe de Belém, à sua Santa Mãe, Rainha do Universo, e a São José, de linhagem patriarcal, régia e principesca em linha direta, que lhes concedam copiosas graças e bênçãos de Natal e um Bom Ano Novo. 

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* Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo envie um e-mail para: catolicismo@terra.com.br