✅ Plinio Maria Solimeo
As editoras costumavam lançar pelo menos um título por mês, dada a apetência de leitura que o público tinha. Com o surgimento da TV, e sobretudo da internet, passou a prevalecer a “civilização da imagem”, e a capacidade de abstração do homem foi se reduzindo a ponto de hoje não despertar interesse senão aquilo que se dirige diretamente à fantasia. Daí a dificuldade que se tem em nossos dias da leitura de um livro de caráter doutrinário ou histórico.
Entretanto, Santo Antônio Maria Claret [foto acima e abaixo], o grande missionário espanhol do fim do século XIX, fundador dos claretianos, ressaltava o papel preponderante da leitura para a evangelização, pois ela alimenta a alma do mesmo modo que a comida nutre o corpo faminto. Mas assim como a comida deteriorada prejudica a saúde do corpo, a leitura de maus livros corrompe a alma.
Periódicos ímpios, folhetos heréticos e demais escritos perniciosos corrompem as crenças, pervertem os costumes, extraviam o entendimento e corrompem o coração. E do coração corrompido saem todos os males, como diz Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 15, 19), até se chegar a negar a primeira verdade, que é Deus, origem de todo o verdadeiro: “Disse o depravado em seu coração: ‘não há Deus’” (Sl 2, 16).
Santo Antônio Claret passou grande parte de sua vida como missionário. E para que seus sermões tivessem efeito duradouro sobre os fiéis, procurava todos os meios que a sua fértil imaginação lhe sugeria. Um deles, ensinado pela experiência, que considerava o melhor e mais poderoso, era a imprensa, se bem seja igualmente a arma mais letal quando dela se abusa, acrescentou ele. Por isso, dedicou-se com afinco à publicação de bons livros e mesmo de folhetos de fundo religioso como auxiliares de sua pregação.
Em sua autobiografia diz: “Quando ia missionando, cuidava de todos os aspectos da missão; e, segundo via e ouvia, escrevia um livrinho ou um folheto. Assim, se na população observava que havia o costume de entoar cânticos desonestos, publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral”. Pelo que desde o início de seu apostolado publicou folhetos que continham meios para se combater a blasfêmia.
Na ocasião em que começou a pregar, constituía coisa escabrosa a quantidade e a gravidade de blasfêmias que se ouviam em todas partes. Parecia a ele que todos os demônios do inferno se haviam espalhado pela Terra a fim de fazer os homens blasfemarem. Igualmente, a impureza havia rompido os seus diques, e por isso resolveu escrever dois folhetos com instruções para combatê-la.
Segundo ele, para todos os males, é remédio muito poderoso a devoção a Maria Santíssima, assim no início dos folhetos escreveu a oração:
“Ó Virgem e Mãe de Deus, eu me entrego por filho vosso e, em honra e glória de vossa pureza, vos ofereço minha alma e corpo, potências e sentidos, e vos suplico que me alcanceis a graça de não cometer nenhum pecado [neste dia]. Amém. Mãe, aqui tendes vosso filho! Em vós, Mãe dulcíssima, pus toda minha confiança, e jamais serei confundido. Amém”.
Percebendo os bons resultados que esta publicação produzia nas almas, resolveu escrever outras, segundo as necessidades que observava na sociedade, e distribuía esses folhetos com profusão não só aos adultos, mas aos meninos e meninas que se aproximavam dele. Afirma um seu biógrafo que na Catalunha essa oração tornou-se tão popular como a Salve Rainha.
Tal foi a repercussão da ação deste ardoroso missionário, de sua pregação e de seus escritos que um periódico de Madri registrou no tempo dele: “A Catalunha se comove ouvindo a divina palavra da boca de um homem de 36 anos, e este homem é Antônio Claret. [...] O Padre Claret não tem um momento de descanso. Seus sermões duram geralmente hora e meia. O confessionário lhe ocupa boa parte do dia, de maneira que rouba ao sono o tempo que consagra em escrever livros piedosos para uso do povo. [...] Louvor, pois, a esse eclesiástico benemérito que soube adquirir uma justa celebridade, que como São Vicente Ferrer aparta os povos do lodo dos vícios, e os instrui na ciência da vida. Grande é a sua missão regeneradora”.
O êxito obtido em todas as camadas da sociedade foi tão grande que o próprio missionário chegou a afirmar: “Graças sejam dadas a Deus, todos os livrinhos têm produzido bons resultados; mas dos que produziram mais conversões foi O Caminho Reto, e o Catecismo Explicado”.
Principalmente o primeiro teve muita procura, não só entre a gente do povo mas igualmente das mais altas autoridades do país, observou ele. Da leitura desses livros saíram muitas conversões, e mesmo na Corte, não passava dia em que não se apresentassem almas determinadas a mudar de vida por sua leitura. Todos o buscavam, e não descansavam até obtê-lo.
Tal desejo o obrigou a fazer uma impressão de luxo [foto ao lado] para as pessoas mais categorizadas. Com efeito, o procuraram a rainha, o rei, a infanta, damas do palácio, fidalgos e toda a nobreza. Pode-se dizer que na classe alta não houve casa ou palácio onde um ou mais exemplares da edição de luxo de O Caminho Reto não tivesse penetrado, e nas demais classes, da edição popular.
Apenas um exemplo do bem que as leituras contidas em estampas religiosas ou nos folhetos operava. Narra ele que numa cidade, quatro réus aguardavam as respectivas execuções, e não queriam se confessar. Santo Antônio deu então a cada qual uma estampa religiosa, com considerações espirituais no verso. Lendo-as, eles refletiram e se confessaram, receberam o Santíssimo Viático, e tiveram morte edificante.
Considerando o grande bem que faziam seus livros e folhetos, Santo Antônio Maria Claret, para torná-los mais acessíveis, em 1848 fundou em Barcelona uma Imprensa Religiosa, colocando-a sob a proteção de Maria Santíssima de Montserrat, como padroeira que é da Catalunha, e do glorioso São Miguel.
Com a impressora fundou a Livraria Religiosa para difundir sua literatura espiritual, fazendo com que eclesiásticos e seculares se provessem de bons livros, os melhores de que se sabe, ao mais ínfimo preço, de modo que nenhuma impressora da Espanha fornece livros tão baratos como os da Livraria Religiosa.
Afirma o santo: “Em todos os livros publicados não se buscou o lucro, mas a maior glória de Deus e o bem das almas. Nunca cobrei um centavo como propriedade intelectual do que mandei imprimir; ao contrário, doei milhares e milhares de exemplares, e continuo doando e, com a ajuda de Deus, doarei até a morte, pois considero ser a melhor esmola que se pode fazer”.
Hoje fala-se muito nos pobres, mas se faz pouco por eles. Há muita demagogia sobre seu bem-estar material. Até entre eclesiásticos de todos os níveis fala-se muito pouco ou quase nada do bem-estar espiritual deles. Esquecem-se que, como diz o grande Santo Antônio Maria Claret que dedicou a vida a dar aos desprovidos dos bens materiais a “maior esmola que se pode dar”, ou seja, a instrução e assistência religiosa para lhes abrir as portas da bem-aventurança eterna.