24 de julho de 2019

Uma declaração contra a implantação do divórcio no Brasil

Já nos idos de 1943 houve uma tentativa de implantação do divórcio em nosso País, por meio de um pleito reivindicado num Congresso Jurídico Nacional, e, na ocasião, Plinio Corrêa de Oliveira fez um comunicado de imprensa. Tal tentativa resultou inútil porque a opinião católica ainda reagia fortemente contra a indissolubilidade do vínculo conjugal. Segue o texto do comunicado publicado no “Legionário” de 14 de novembro daquele ano. 

“Supérfluo é dizer quanto a opinião católica está empenhada no assunto. A indissolubilidade do vínculo conjugal decorre do direito natural, e se torna particularmente cara aos católicos por motivo da dignidade sacramental a que Nosso Senhor Jesus Cristo elevou o matrimonio. Enquanto a Igreja existir — e portanto sempre — Ela lutará pela indissolubilidade do vínculo conjugal. Razões naturais e teológicas superiores a quaisquer contingências do tempo e de lugar, a tornam inimiga irredutível do divórcio, para todos os lugares, até a consumação dos séculos. Jamais, transigirá ela neste assunto. Assim, é de se compreender a atitude de apreensão que reinava em torno do assunto, e o desafogo que lhe veio trazer o relatório do Ex.mo Sr. Ministro da Justiça. 

Mas a opinião divorcista é solerte, empreendedora, combativa. Precisamos estar sempre de atalaia e combater incessantemente o divórcio. Este continua a ser, para nós, o grande dever, por excelência. 
*   *   * 
E já que falamos em casamento, destaquemos da recente mensagem do Santo Padre aos católicos do Peru [1° de novembro de 1953, por ocasião do Encerramento do Congresso Eucarístico naquele país, cfr. LEGIONÁRIO, 7 de novembro de 1943, 1ª. página], o seguinte texto de ouro: 

“Não se pode viver sem o Espírito de Deus. E quando o pobre peregrino não suportar sobre seus ombros anêmicos, se lhe falta o alimento espiritual, a carga da própria vida; quando se dobra na fraqueza como uma folha de feno e sente a angústia no coração, por haver esquecido de comer o seu pão, como nos havemos de admirar da debilidade do indivíduo — Pai, Filho, Esposo ou Esposa — que converta em dor da família, célula fundamental da sociedade, a ameaça de desfazer-se ou pulverizar-se como um bloco de cimento mal curtido, precisamente porque lhe falta a Santidade? Sem Deus Eucarístico nem sequer é possível a coordenação mútua dos diversos elementos, nem é realizável a harmonia da paz. E todo o edifício da família, todo o complexo social, longe de ser fonte de vida, não tardará a dar sinais de dissolução, como um corpo morto, em que cada elemento parece pugnar por voltar à sua anorgânica independência”.

8 de julho de 2019

Pedagogia católica e pedagogia da barbárie


➤  Paulo Henrique Américo de Araújo

Após a recente criação da Comissão Parlamentar pelo Ensino Domiciliar, mais uma iniciativa proveniente do Congresso Nacional na área da educação deixou os esquerdistas de todos os quadrantes à beira de um ataque de histeria. Trata-se da proposta do deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) de retirar do guru marxista Paulo Freire o prestigioso título de Patrono da Educação e entregá-lo à figura veneranda de São José de Anchieta [quadro acima]. 

A polêmica já havia tido um episódio preliminar quando, em fins de abril passado, o Presidente Jair Bolsonaro declarou que o Patrono seria mudado,[1] o que suscitou o primeiro lance de indignação dos asseclas da esquerda. Dentre as várias manifestações de repúdio à possível “expulsão” de Paulo Freire [foto ao lado], a de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), foi proferida durante as minguadas manifestações dos movimentos de esquerda em 30 de maio último: “Nós estamos aqui também para defender a memória de Paulo Freire e seu legado, que nos orgulham lá fora, ao contrário dessa turma lesa-pátria que nos envergonha”.[2] 

Jesuítas boicotam Anchieta 

Entretanto, o posicionamento que causou mais estranheza foi a carta dos jesuítas do Santuário Nacional de São José de Anchieta.[3] Os sacerdotes dizem ter recebido “com preocupação a notícia”, e acrescentam: “Não podemos aceitar que o legado de São José de Anchieta seja instrumentalizado para fins meramente ideológicos. Tanto ele como Paulo Freire caminham na mesma direção”. 

Mas a história não para aí. O deputado Carlos Jordy, em resposta à nota do Santuário de Anchieta, acusou os padres jesuítas de hereges: “Eles [padres do Santuário Nacional São José de Anchieta] não são padres. Eu tenho muitos eleitores católicos que são fervorosos, praticantes, e que concordam comigo que eles são hereges, teólogos da libertação. São padres ligados a uma falsa doutrina católica, criada por comunistas para desvirtuar os princípios cristãos”.[4]

A acusação é paradoxal, pois o deputado professa a religião protestante. Veja aonde chegamos: um protestante se arvora em defensor da fé católica contra padres jesuítas! E o mais estranho de tudo é que neste ponto ele tem razão. Realmente vergonhosa e triste é a situação atual da Companhia de Jesus. Acabaram-se os dias de Santo Inácio de Loyola e da instituição por ele fundada no século XVI, considerada a força mais eficaz contra a heresia protestante. 

Mas a voz dos católicos verdadeiros também se fez ouvir numa carta aberta da deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ) rejeitando a nota dos padres jesuítas: “Muito me decepciona a Nota Oficial divulgada pelo site do Santuário Nacional de São José de Anchieta e escrita pelos senhores. Como pudemos chegar ao ponto em que a figura de São José de Anchieta, co-padroeiro de nossa amada Terra de Santa Cruz e maior educador desta nação, seja boicotada publicamente por dois sacerdotes pertencentes à mesma Companhia de Jesus?”[5] 

Doutrina marxista de Paulo Freire 

Segundo Paulo Freire, Che Guevara “um dos maiores profetas
dos silenciosos do Terceiro Mundo”
 
Diante de todo esse debate, podemos nos perguntar o porquê de tanta ânsia das esquerdas e dos próceres da teologia da libertação em manter esse título para o pedagogo dos “oprimidos”. A resposta é simples: Paulo Freire é apresentado como símbolo da doutrinação marxista escolar e goza de reconhecimento internacional; reconhecimento esse, aliás, promovido por setores marxistas mais ou menos explícitos. Argumentam os marxistas brasileiros que, se há tantas honrarias ao pedagogo no exterior, como deixá-lo de lado em seu próprio país? Não é difícil excogitar os motivos para deixá-lo de lado aqui, basta ver que, apesar de tantos louvores internacionais, nenhum outro país adota a pedagogia dele em seu sistema de ensino. E assim se chega à conclusão de que ela não convém para nenhum outro país, portanto não convém também para nós. 

Mas vamos a algumas ideias do pedagogo que arrancam tantos elogios da esquerda mundial. Constata-se facilmente o viés marxista de Paulo Freire na sua obra Ação Cultural para a Liberdade.[6] Nessa compilação, o falecido professor deixa cair a máscara de sua ideologia, algo que permanecia um tanto velado em suas publicações anteriores. Destaco apenas alguns pontos onde, no meio de uma cantilena indigesta de distorções sociológicas e conceitos quase iniciáticos, a pregação marxista desse pedagogo contém as seguintes posições:[7] 

  • Nega o conceito tradicional de “alfabetização”, o qual afirma não passar de “ato mecânico de ‘depositar’ palavras, sílabas e letras nos alfabetizandos” (p. 11), de nada servindo ao trabalhador rural ou urbano para “compreender, criticamente, a situação concreta de opressão em que se acham” (p. 12); “mera transfusão alienante” (p. 12), que em nada contribui para a “transformação revolucionária da sociedade de classes, em que a humanização é inviável” (p. 120). 
  • Acusa os métodos comuns de alfabetização de “sacralizarem”, “mitificarem” a atual ordem social com o fim de preservar o poder das classes dominantes, quebrando nos educandos “oprimidos” qualquer veleidade de contestação. Seriam métodos “opressores”, “desumanizantes”, “domesticadores” (cfr. pp. 65 e 82). 
  • Considera Che Guevara "um dos maiores profetas dos silenciosos do Terceiro Mundo” e o aponta como exemplo de “comunhão entre a liderança e as massas populares”, modelo de líder que submetia a “sua prática diária a uma constante reflexão crítica” (p. 66). 

Doutrina Paulo Freire e o caos nas escolas 

A pedagogia de Paulo Freire, dita “humanista”
é uma geradora de neobárbaros, máquina
anticivilização diametralmente oposta
aos fins do próprio ensino
Mas há algo mais em Freire do que a simples doutrinação marxista corriqueira. Ele não pretende apenas inocular nos alunos a luta de classes e a revolta contra as chamadas opressões, provocando assim o desmoronamento da sociedade capitalista rumo à utopia socialista. Ao mesmo tempo, sua pedagogia também suscita a negação imediata — ali mesmo, na sala de aula — da desigualdade natural, da hierarquia legítima que deve existir entre professor e aluno, sem as quais ficam solapadas a ordem e a disciplina indispensáveis para o convívio escolar e o aprendizado eficiente. 

O ambiente convulsionado (dir-se-ia quase selvagem) nas escolas do Brasil não constitui novidade para ninguém: falta de educação, desrespeito, indisciplina são frequentes entre os alunos, bem como nas suas relações com os professores. Não estaria o método revolucionário de Paulo Freire na raiz desse estado caótico nas salas de aulas? E, como consequência, não se encontra aí uma das principais razões dos baixíssimos níveis de aprendizado dos estudantes brasileiros? Tudo indica, aliás, que a atual tendência à militarização das escolas públicas seria a última tábua de salvação antes do completo desfazimento das estruturas de ensino público no País. 

Essas questões se impõem. Diante delas os adeptos do retrógrado pedagogo marxista se poriam em silêncio ou tentariam desviar do assunto incômodo, mas não reconheceriam a necessidade de abandonar o método. Por que motivo? Na realidade, os esquerdistas entendidos pouco se importam com a qualidade do ensino propriamente dito. O que lhes interessa é a criação de jovens revoltados e indignados, que então se tornam instrumentos dóceis — “soldados”, enfim — na guerra contra o “sistema social opressor”. Aqui reside talvez a grande eficácia às avessas do método de Paulo Freire: sua pedagogia dita “humanista” é uma geradora de neobárbaros, máquina anticivilização diametralmente oposta aos fins do próprio ensino. 

Bem outra é a visão católica da educação escolar. A Igreja tem como meta, na alfabetização e instrução intelectual dos homens, a sua dignidade, elevação e civilização. Ou seja, que se assemelhem a Deus. A pedagogia de Freire e dos marxistas em geral deseja, pelo contrário, a degradação do homem, a ponto de assemelhá-lo a um animal bruto, irracional. 


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Volto à nota dos padres jesuítas do Santuário de São José de Anchieta. Ao apontar pontos de convergência entre Paulo Freire e o santo e venerável Apóstolo do Brasil, os mencionados jesuítas se dizem “preocupados com a instrumentalização ideológica da imagem do santo”, mas não se eximem de favorecer a ideologia marxista, qualificando o Padre Anchieta de educador dos “marginalizados” e “oprimidos” contra a “ambição dos poderosos”. Uma afirmação ridícula e contraditória, além de blasfemadora. A declaração dos jesuítas revela-se uma negação contundente da pedagogia verdadeira e um manifesto em prol da pedagogia da barbárie. 

Peçamos a São José de Anchieta que nos proteja da ação maléfica desses pseudo-educadores. Ele merece ser proclamado “Patrono da Educação”. 

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Notas 
1. Cf. https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/bolsonaro-indica-que-paulo-freire-nao-sera-mais-patrono-da-educacao/ 
2. Cf. https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2019/05/estamos-aqui-tambem-para-defender-a-memoria-de-paulo-freire-diz-boulos/ 
3. Cf. https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/psl-propoe-substituir-paulo-freire-por-jose-de-anchieta-padres-jesuitas-recusam/ 
4. Idem. 
5. Cf. https://filhosdedeus.blog.br/2019/05/anchieta/ 
6. Cf. versão em PDF disponível em:https://drive.google.com/file/d/1h8zV09aDlvbYg8rhas8bvYB0Zu6vHHhT/view 
7. Catolicismo publicou um estudo detalhado sobre o tema na edição de março/1977. 

7 de julho de 2019

Uma deputada digna defensora da família católica


Paulo Roberto Campos

Dedicando seu mandato a Cristo, Rei do Universo, e a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, a deputada federal Chris Tonietto (PSL–RJ), entre diversos compromissos morais em defesa da família tradicional, tem o de combater o aborto, defendendo a vida inocente desde a concepção. 

No dia 4 do corrente mês de julho, a jovem deputada fluminense pronunciou um histórico discurso no Congresso Nacional sobre a identidade Católica do Brasil, nascido como Terra de Santa Cruz. Sem qualquer respeito humano, iniciou seu pronunciamento rezando uma Ave-Maria, como costumava fazer o grande São Bernardo de Claraval antes de suas homilias. Recomendo vivamente a nossos leitores assistir ao vídeo (abaixo) com seu discurso.

“As Leis de Deus acima das leis dos homens”. Ela reafirmou sua resolução de combater no Congresso Nacional qualquer tentativa de implantar leis que possam debilitar a instituição familiar e de defender e fortalecê-la em toda medida do possível em nossa legislação. 

Em seus 13 anos de (des)governo, seguindo a cartilha marxista do Foro de São de Paulo, o PT fez de tudo para conspurcar e apagar a identidade católica do Brasil. Mas percebemos que na onda conservadora que se expande em todos os estados, despontam jovens — e Chris Tonietto é disso um bom exemplo — destemidamente dispostos a restaurar a grandeza católica desta Terra de Santa Cruz. Luta que é árdua como uma batalha de reconquista, mas se formos fieis à nossa identidade católica, Cristo Rei, e sua Mãe Rainha, voltarão a reinar no Brasil em todas as famílias.
 

3 de julho de 2019

A ofensiva contra a família


Plinio Corrêa de Oliveira
“Legionário”, 27 de junho de 1943

Há dois modos de combater a família. Um, consiste em investir contra ela abertamente, quer visando extingui-la por completo, como é o caso do comunismo, quer visando destruir-lhe a parte mais importante e fundamental, o vínculo indissolúvel. 

O outro modo, porém, é inteiramente diverso, e se compõe de dois momentos. O primeiro se caracteriza pelo elogio e pela defesa do instituto familiar: “é preciso, dizem, sustentar a Família contra forças pagãs do comunismo, porque a Família é a base da organização social, a Família é o fulcro da civilização cristã ocidental, a Família é a fonte de vida da nacionalidade, a Família é isto; a Família é aquilo, a Família é uma beleza”. Este primeiro momento, pois, é ditirâmbico, estrondoso, publicitário, e põe a Família nos cornos da Lua. Ai do infeliz que ouse sequer um instante suspeitar das benemerências da Família! E os comunistas de água doce clandestinamente rangem os dentes de ódio, ante tamanha exaltação da Família. Mas, depois, do primeiro momento, vem o segundo.

Este segundo momento é o contrário do primeiro. Vem de mansinho, com pés de lã, e enquanto todas atenções e todos os ouvidos estão cheios da declamação ditirâmbica, vai corroendo tudo o que há de substancial em torno da Família, reduzindo-a à expressão mais simples, reduzindo-a mesmo, afinal de contas, a um simples rótulo sem conteúdo. Porque o instituto familiar vai sendo depenado tão impiedosamente e conscienciosamente de todas aquelas coisas que lhe dão a fisionomia própria, que acaba por ser um nome, um fantasma vago e flutuante, um sonho, uma miragem. A Família, é verdade, continua a existir, mas só poderá ser encontrada nos dicionários. Como os nossos leitores já devem ter percebido, este modo desleal de combater a Família é próprio aos regimes nazifascistas, que se caracterizam pela fraude e pela mentira despudorada, e contra os quais arremetem vitoriosamente as Democracias, a fim de pôr termo ao império do embuste.

Graças a Deus [NB: o autor escreve em 1943... Se fosse em 2019, o que diria da instituição familiar hoje atingida por tantos fatores de desagregação, como o "divórcio express" e a propaganda do pseudo "casamento homossexual" ?], a Família no Brasil está amplamente amparada não só por dispositivos constitucionais, mas também por uma série de medidas de alto alcance econômico-social que têm por objetivo fazer com que a Família não seja apenas um instituto jurídico, mas uma realidade concreta e palpitante. Isto, no entanto não impede que alguns indivíduos, pouco afinados com os sentimentos nacionais, procurem a cada momento destruí-la. 

Não faz muito tempo, presenciamos os furores da onda divorcista, que parecia um mar encapelado, e acabou por ser uma tempestade num copo d’água. Porém, a malfadada corrente divorcista, vendo fracassarem seus ataques diretos, recorre aos indiretos, procurando envenenar sub-repticiamente quanta iniciativa louvável surge em prol das famílias. Nada mais digno de encômios, por exemplo, do que a previdência social, em tão boa hora instituída a favor de nossas pobres famílias operárias; pondo-as a salvo da iminência da miséria. É visível, entretanto, que, pervertendo tão elevadas intenções, se está procurando criar, em concorrência com a mulher legítima, e em igualdade de condições com ela, a figura da “companheira”, equiparando-se assim o matrimônio cristão ao concubinato pagão. 

Ainda agora o “Diário Popular”, jornal que lamentavelmente se encarreirou no esquadrão divorcista, louvou rasgadamente a decisão de certo magistrado, que autorizou um viúvo a reconhecer filho adulterino, havido na constância do casamento. Diz aquela folha que o referido Juiz outra coisa não fez a não ser aplicar logicamente os princípios da lei que autorizou o reconhecimento dos filhos adulterinos, por parte dos desquitados. Mas, a ser assim, que resta da Família?