➤ Nelson R. Fragelli
A multidão marchava decidida e manifestativa em direção à Suprema Corte dos Estados Unidos, bradando slogans de protesto contra a prática do aborto no país. Era a multitudinária e tradicional March for Life, que se realiza todos os anos na capital americana, sempre no mês de janeiro. Alguns slogans, sob a forma de refrões musicais, eram cantados alegremente por vagalhões esparsos de jovens em movimento.
Nesse contínuo mover-se, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, levada num andor, causava surpresa a muitos, e a todos profundo respeito. Diante dela, vinham à mente dos participantes os pedidos da Virgem em Fátima, e também as catástrofes anunciadas caso seus pedidos não fossem atendidos. Milhões de inocentes sacrificados nas clínicas abortistas são um indício inequívoco de que tais pedidos foram negligenciados. Fátima continua sendo um apelo, e hoje é também um desafio.
“Muito obrigado por terem dito sim” — disse uma senhora a um membro da TFP americana (American Society for the Defense of Tradition, Family, and Property). Em seguida se inclinou reverente diante da imagem e continuou a caminhar sobre a neve e sob o vento gélido. O que quis ela dizer? Em seu olhar se encontrava a resposta: a TFP havia dito sim ao chamado de Nossa Senhora, bem como aos sacrifícios daí decorrentes.
Um dos participantes da marcha parou diante da imagem de Nossa Senhora e interpelou os custódios: “Por que esse ar tão solene?”. Um jovem que a acompanhava respondeu simplesmente: “Porque eles são os guardas de Nossa Senhora”.
Alguns protestantes tiveram o mau gosto de comparecer à March for Life a fim de criticar os católicos. Após gritar ataques à Igreja e ao Papa, ofenderam Nossa Senhora em brados. Nesse momento, um jovem começou a recitar em alta voz a Ave Maria. Imediatamente todos em volta uniram suas vozes à dele, com aguerrido ímpeto, revidando a ofensa protestante com a saudação à Mãe de Deus. As vozes aumentaram de volume, e com elas a indignação dos presentes. Ao grupelho ultrajante não restou senão calar e desaparecer na multidão.
Quando se deparou com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, um jovem cuja esposa acabava de dar-lhe o primogênito interrompeu sua caminhada e a fitou com surpresa e agrado. Nesse instante a evocação da Mãe de Deus era completada pela harmonia longínqua de trompetes e tambores, executada pela exímia banda de música da TFP norte-americana [foto ao lado], cujos acordes realçavam na manifestação a convocação dos presentes ao combate. O jovem pai tirou do bolso um rosário, e ali ficou a rezar. Para ele, a Constitution Avenue (a grande avenida central de Washington) se transformara numa catedral.
Um dos participantes, John Moore, percorreu a pé 4.000 km, de São Francisco (Califórnia) até Washington, portando às costas uma cruz de madeira. Sua filha Laura o acompanhou em automóvel, fornecendo-lhe água e alimentos. Em seu trajeto, John Moore foi ajudado por inúmeras pessoas, até mesmo ateus e indiferentes à questão do aborto, mas comovidas com seu esforço.
A marcha superou em número e seriedade os anos anteriores. Meio milhão de participantes demonstravam seu repúdio ao aborto. Os norte-americanos sabem que, além do aborto, outros graves desvios morais ameaçam seu país e o mundo.
Duas pesquisas de opinião recentes — uma da Universidade Marista, e outra do Instituto Gallup — mostram que a maioria dos norte-americanos (75%) deseja restrições à prática do aborto. Mesmo os que se declaram favoráveis ao aborto passam a achar que ele já foi demasiadamente longe. 53% desejariam eliminar toda forma de aborto ou a maior parte dos casos em que é permitido.
Tal como no ano passado, o Presidente Trump, em transmissão direta da Casa Branca, dirigiu palavras acolhedoras aos manifestantes. O Vice-presidente Mike Pence compareceu com sua esposa ao palanque, no início da marcha [foto ao lado, no telão]. Dali saíram numerosos grupos de paroquianos liderados por seus vigários. Grande era o número de batinas entre os jovens sacerdotes. Alguns bispos se destacavam à frente da marcha. O bispo de Toledo, Dom Daniel Thomas, marchava à frente de seus fiéis. Seguiam-se representantes de ordens religiosas masculinas e femininas, seminários, escolas e colégios. Entre os movimentos do exterior, distinguia-se Droit de Naître [foto abaixo]— associação co-irmã do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira — que combate a prática do aborto na França. [Fonte: Revista Catolicismo, Nº 818, Fevereiro/2019].
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