23 de agosto de 2024
Com a leitura, poderosos efeitos benéficos às crianças
20 de agosto de 2024
SÃO PIO X — Fortaleceu a igreja, fulminou a heresia
Neste mês a Santa
Igreja celebra 110 anos do trânsito de São Pio X ao Céu, ocorrido em 20 de
agosto de 1914. O único Papa canonizado no século XX, ele combateu
intrepidamente a heresia modernista, reformou o clero, recodificou o Direito
Canônico e incrementou admiravelmente a piedade católica.
✅ Plinio Maria
Solimeo
Quando
faleceu Leão XIII, em 1903, a expectativa geral era quem manobraria o leme de
Pedro naqueles tempos já tão conturbados.
O mundo
estava febrilmente contagiado pelo liberalismo anticlerical, um dos perniciosos
frutos da Revolução Francesa que tornavam tensas as relações entre a Sé
Apostólica e várias nações europeias. A revolução industrial, por sua vez,
criava situações propícias à propaganda
dos princípios marxistas da luta de classes e do anarquismo no meio proletário
nascente.
A situação
era crítica inclusive nas nações católicas. Na Itália, um governo usurpador e
violento privara o Romano Pontífice de seus Estados, confinando-o ao Vaticano,
e criava empecilhos à ação da Igreja.
Na França, uma oligarquia maçônica –– cujos expoentes eram Briand, Clemenceau,
Waldeck-Rousseau e Combes –– impôs a aprovação de diversas leis frontalmente
antirreligiosas, preparando terreno para a separação entre a Igreja e o Estado
em 1905.
Portugal
via-se às voltas com a fermentação revolucionária que culminaria no assassinato
do rei Dom Manuel e do Príncipe herdeiro em 1908, e com a proclamação da
República dois anos depois. Sem falar de uma série de medidas contra a Igreja,
como a expulsão dos jesuítas, a supressão de congregações religiosas e a
aprovação do divórcio.
Também na
outrora fiel e católica Espanha os ventos liberais e anarquistas sopravam com
violência, chegando-se à tentativa de
assassinar o rei Afonso XIII no próprio dia de suas bodas. E o império
Austro-Húngaro apresentava tantos sintomas de decadência religiosa e moral, que
a todo instante se temia sua ruína.
Não menos
trágica para Igreja e a civilização cristã era a situação no maior bloco
católico do universo, a América Latina, onde as jovens nações emulavam em
impiedade com suas maiores europeias.
No Brasil, a
célebre “Questão Religiosa” conseguira
levar à barra dos tribunais e condenar
à prisão perpétua com trabalhos forçados o intrépido bispo de Olinda, Dom Vital
Maria Gonçalves de Oliveira. No Equador, líderes católicos são perseguidos e
forçados a exilar-se. No México, as nuvens da tormenta revolucionária já se acumulavam
no horizonte para pouco depois se desencadearem numa das mais cruéis e
implacáveis perseguições religiosas conhecidas pelo mundo moderno.
Sobretudo,
no próprio interior da Igreja a situação era grave. Erros filosóficos muito em
voga, como o naturalismo, o racionalismo e o cientificismo, ao par de forte
liberalismo, influenciavam extensamente a teologia e deturpavam a fé, ao mesmo
tempo que esfriavam nas almas o amor de Deus.
Tais erros
haviam penetrado a fundo em amplas camadas do Clero, em estabelecimentos de
ensino, mesmo em seminários, criando um espírito de novidade e de revolta
crescente que ameaçava fazer soçobrar a Barca de Pedro, não tivesse ela a
promessa da perenidade.
Para fazer
face a esse terrível panorama, tornava-se necessário o advento de um Papa que
se colocasse entre os maiores da História da Igreja. Por obra do Divino
Espírito Santo, que não abandona a Sua Esposa Mística, e a rogos de Maria, o
mundo teve o Pontífice de que necessitava: Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza,
eleito com o nome de Pio X.
Entrada do Monsenhor Giuseppe Sarto em Veneza como Patriarca (24-11-1894). |
Suave...
mas forte
Quem era Pio
X, o novo Papa de cuja bondade e doçura tanto se falava em Veneza, de onde
viera como Cardeal-Patriarca? Um “conciliador”, pensava o Governo italiano,
entendendo por essa designação um homem fraco, pronto a entrar em acordo com a
Revolução. Entretanto, a famosa bênção Urbi
et Orbi, o primeiro ato do Pontífice, foi dada de um dos balcões internos
da Basílica de São Pedro para ratificar o protesto de seus antecessores contra
a tomada de Roma pelas tropas revolucionárias.
Um “cura
rural”, não habituado às pompas do Vaticano nem ao trato com os grandes,
pensavam os embaixadores e enviados de potências estrangeiras. Não foi a
impressão que Pio X deixou após a primeira audiência geral, quando o
representante da Prússia, exprimindo o pensamento dos demais diplomatas,
perguntou a Mons. Merry del Val, Secretário de Estado interino, ao sair da Sala
do Trono: “Diga-nos, Monsenhor, o que há nesse homem que tanto atrai? Um Santo
–– dirá esse eclesiástico, posteriormente elevado a Cardeal, que teria um
papel tão importante nesse Pontificado ––, porque
ele é um homem de Deus”.(1)
Para o Abbé
de Cigala, capelão do Conclave, “a força
dos traços e a doçura do olhar, frutos de uma vida interior e fé” ardentes,
faziam crer “numa ressurreição do imortal
Pio IX”.(2) Mas, esclarece o Cardeal Mercier, Arcebispo de Malinas, na
Bélgica: “A invencível gentileza do Santo
Padre nada tinha do sentimentalismo dos fracos: Pio X era um forte”(3)
Isso o
reconheceu também o ex-chanceler do Império alemão, o Príncipe Von Bülow, conta
ao Cardeal Merry del Val, após uma entrevista: “Eu me encontrei com muitos monarcas e legisladores, mas raramente
encontrei em algum deles uma tão remarcável percepção da natureza humana ou um
conhecimento como o que Sua Santidade
possui das forças que governam o mundo e a sociedade moderna”(4). E, realmente, proclamará muito depois
Pio XII que, “com seu olhar de águia mais
perspicaz e mais seguro que a curta vista dos míopes raciocinadores, via o mundo tal qual era, via a missão da Igreja
no mundo[...] e seu dever no seio de uma sociedade descristianizada [...] contaminada pelos erros do tempo e pela
perversidade do século”.(5)
“Restaurar
tudo em Cristo”
O Pontificado de São Pio X pode ser sintetizado no roteiro por ele traçado em sua Encíclica-Programa: “Restaurar tudo em Cristo”. |
O
Pontificado de São Pio X pode ser sintetizado no roteiro por ele traçado em sua
Encíclica-Programa: “Restaurar tudo em
Cristo”. Essa preocupação o Pontífice já a tivera quando era Bispo de
Mântua. Depois, como Cardeal de Veneza, sua primeira Carta Pastoral continha,
em linhas gerais, o pensamento da Encíclica.
Em síntese,
diz São Pio X que a apostasia do mundo, “essa
detestável e monstruosa iniquidade [...] pela qual o homem se
substitui a Deus”, manifesta uma tal “perversão
dos espíritos”, que é de se perguntar se já não se deu o advento do “filho da perversão”. Pois o modo com
que “se lança ao ataque da religião, se
investe contra os dogmas da fé, se tende obstinadamente a aniquilar toda
relação do homem com a Divindade” é uma das características do Anticristo.
Para haver
uma restauração, os bons devem “proclamar
bem alto as verdades ensinadas pela Igreja sobre a santidade do matrimônio, a
educação da infância, a posse e uso dos bens temporais, sobre os deveres dos
que administram a coisa pública”. Ora, se não houver verdadeiros
sacerdotes, “revestidos de Cristo”,
isso não será possível. Portanto, deve-se proceder a uma reforma dos seminários
e vigiar para que os novos sacerdotes não se deixem seduzir “pelas manobras insidiosas de uma certa
ciência nova”.
“No dia em que, em cada cidade, em cada aldeia, a
lei do Senhor for cuidadosamente guardada [...] nada mais faltará para que
contemplemos a restauração de todas as coisas em Cristo”. Com isso, mesmo “os interesses temporais e a prosperidade
pública” também felizmente se ressentirão.(8) E ter-se-á na terra a “paz de Cristo, no Reino de Cristo”.
Não cabe
analisar aqui o pontificado de São Pio X para constatar como ele seguiu à risca
este programa. Só o que foi publicado de Cartas Apostólicas, Motu Proprio, Encíclicas, e discursos,
ultrapassa a casa dos 350. Se a isso se somam os decretos das Congregações
romanas e os diversos documentos emanados da Secretaria de Estado, aos quais o
Papa não podia ser estranho, chega-se ao número de 3322(9), o que torna esses
onze anos de pontificado um dos mais fecundos da História da Igreja.(10)
Basta pensar
no trabalho monumental de recodificação do Direito Canônico, que durou todo o
Pontificado de São Pio X, sendo promulgado só no de Bento XV; na fundação do
Instituto Bíblico; na reforma da Cúria Romana; na instituição da Acta Apostolicae Sedis, noticiário oficial do Vaticano; na
reforma do Breviário Romano; em normas dadas para a disciplina e reforma do Clero,
além de todas as medidas para facilitar a comunhão frequente dos fiéis,
antecipar a Primeira Comunhão das crianças, regulamentar a comunhão dos
enfermos, elaborar adequadamente o catecismo, orientar o cântico litúrgico etc.
O
modernismo
Ao condenar o movimento Sillon –– em muitos pontos precursor do atual progressismo –– afirma São Pio X que ele “semeia [...] noções erradas e funestas [...] Para ele, toda desigualdade de condição é uma injustiça ou, pelo menos, uma justiça menor! Princípio soberanamente contrário à natureza das coisas, gerador de inveja e de injustiça, subversivo de toda ordem social”.(11)
Entretanto,
foi a seita modernista infiltrada na Igreja –– qualificada por ele de “síntese de todas as heresias” –– a que mais o fez sofrer e mais
preocupações lhe trouxe, por sua profunda nocividade e subtileza. Além de
numerosos atos, três importantes documentos emanaram de São Pio X para
condená-la: o Decreto Lamentabili sane
exitu, de 4 de julho de 1907, que condena 65 proposições modernistas; a
Encíclica Pascendi dominici gregis, de
8 de setembro do mesmo ano, na qual condena diretamente o modernismo –– a mais
longa de seu pontificado, devido à delicadeza da matéria; e, finalmente, o Motu Proprio Praestantia Scripturae sacrae, de
18 de novembro do mesmo ano.
São Pio X,
elevado à honra dos altares por Pio XII em 1954, seja junto à Virgem Santíssima
e a seu Divino Filho o grande intercessor de todos os católicos que lutam em
nossos dias para permanecerem fiéis à Santa Igreja e à sua verdadeira doutrina.
O Santo
Pontífice, que soube tão bem desmascarar e condenar o modernismo, certamente
obterá abundantes graças para os fiéis de nossa época, muito pior do que a
época daquela heresia. Sim, a trágica era em que vivemos, na qual, segundo
expressões de Paulo VI, tem curso um misterioso processo de “autodemolição da Igreja”, tendo nela
penetrado a “fumaça de Satanás”.
____________
NOTAS:
1. Cardeal Merry del Val, Memories of Pope Pius X, Burns Oates & Washbourne Ltd.,
Londres, 1939, pp. 9-10.
2. Abbé de Cigala, Vie Intime de Sa Saintité le Pape Pie X,
Lethielleux Editeurs, Paris, 1926, p. IX.
3. Lettre Pastorale et Mandement de Câreme de 1915, apud Merry del Val, op. cit, p. 29.
4. Merry del Val, op. cit, p. 12.
5. Breve por ocasião da Beatificação de Pio X,
Documentos Pontifícios, n° 83, Vozes,
1958,2ª edição.
6. Documents relatifs au mouvement cathólique italien sous le pontificat de St. Pie X, apud
Gianpaolo Romanato, Pio X: Profilo Storico, in Sulle Orme di Pio X,
Amministrazione Comunale di Salzano, 1986, p. 19.
7. Doc. cit, apud Merry del Val, op. cit, p. 27.
8. Encíclica E supremi Apostolatus, Vozes, Petrópolis, Documentos Pontifícios, nº 87, 1958,2ª edição.
9. René Bazin, da
Academia Francesa, Pie X, Flammarion,
Editeur, Paris, 1928, p. 65.
10. D. Benedetto Pierami, apud René Bazin, op. cit, p. 66.
11.
Notre Charge Apostolique (Sobre os erros do Sillon), Vozes, Petrópolis, Doc.
Pontifícios, nº 53, 1953,2ª edição.
18 de agosto de 2024
“Mais esplêndida glória que a Tua: Tem só Deus do Universo Senhor”
✅ Plinio Maria Solimeo
O espanhol Jesus Ignacio Falgueras Salinas [foto abaixo], bacharel
em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, licenciado na
mesma matéria ‘magna cum laude’ pela Universidade Pontifícia de Salamanca,
e atual catedrático de História da Filosofia Moderna e Contemporânea na
Universidade de Málaga, escreveu na revista Burgense (número 38 de 1997),
longo e interessante estudo para demonstrar a tese de que Nossa Senhora não
era, como muito se propala, uma “simples
mulher do povo, com a mesma escassa cultura e formação e com a estreiteza de
horizontes” no restrito âmbito doméstico em que viveria.
Não podendo no espaço disponível acompanhar todos os muitíssimos e interessantes argumentos que ele dá ao longo do seu estudo, nos restringiremos a pegar somente alguns que nos chamaram mais a atenção.
Comenta ele por exemplo que, quando o Arcanjo São
Gabriel apareceu a Nossa Senhora e anunciou que Ela seria a Mãe de Deus [quadro acima], Ela
lhe fez a pergunta: “como se daria isso,
pois tinha resolvido permanecer virgem?”. Por outro lado, o sacerdote Zacarias,
pai do futuro São João Batista, quando o mesmo arcanjo lhe anunciou que teria
um filho, também lhe fez uma pergunta semelhante: “como se daria isso, pois tanto ele quanto sua mulher já eram avançados
em anos?”
Nota Dom Ignacio que as perguntas são parecidas, mas
o sentido de ambas muito diferente: Zacarias pede um sinal porque parece duvidar
que lhe fosse possível, à sua idade e à de sua mulher, procriar. O que supõe
duvidar do poder de Deus de fazer o que lhe fora anunciado. Por isso lhe foi
infligido um castigo.
“Já a pergunta de Maria Santíssima mereceu outro tratamento, pois Ela não duvida de que o que se lhe anuncia seja possível para Deus, mas quer se certificar da procedência divina da mensagem e pede um esclarecimento. Antes de crer, é necessário examinar diligentemente a ‘quem’ e no ‘que’ se crê. Assim, a fé de Maria não é uma fé cega, mais é inteiramente inteligente, pois Ela pensa tudo isto sem nenhuma demora assim que ouve e entende a primeira mensagem do anjo, sem que a presença angélica perturbe em nada a nitidez de sua inteligência iluminada pela fé. Maria demonstra assim ter o altíssimo dom do discernimento de espíritos, ao mesmo tempo que uma portentosa claridade, rapidez e penetração no mais alto e difícil: averiguar qual é a vontade de Deus”. Isso não ocorreria se Ela fosse uma simples e ignorante mulher do povo.
O erudito teólogo vai
ainda mais longe em suas elucubrações:
“A colaboração que Maria sabe que lhe é pedida é total, afeta a integridade de seu ser. É-lhe pedido entrar em um plano divino que supera toda compreensão humana, e que afeta toda a Humanidade. Não há, nem nunca houve, alguém a quem haja sido comunicado um mistério mais difícil de entender, pois para nós é mais difícil entender que Deus se faça homem, que inclusive [o dogma da] Trindade de Pessoas em Deus. Com efeito, é natural e crível que a divindade seja em si mesma superior a toda compreensão; mas que a divindade se abaixe até se fazer homem é algo em princípio não crível, já que a distância entre Deus e a criatura é maior do que a que existe entre o ser e o não-ser. A máxima dificuldade de intelecção estriba, para nós, em que Deus se faça criatura, ao que se acrescenta que, entre as criaturas, ele já fazer-se homem [no seio de uma Virgem]. Sem embargo Maria, uma vez ouvida a resposta do anjo, compreende a intrínseca vinculação de sua isenção do Pecado Original e da maternidade que se lhe propõe, e não tarda nem um instante em se decidir: ‘Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra’”.
Voltamos a
insistir: isso tudo é de um nível tão elevado e sublime, que ultrapassaria as
cogitações de uma mera dona de casa, ainda que muito dotada intelectualmente.
O teólogo Falgueras analisa outra objeção: no episódio da Perda e do Encontro do Menino Jesus no Templo, às palavras do Divino Infante, Maria e José “ficaram surpresos”. Explica ele que a Vulgata usa aqui o verbo admirar. E pondera que:
“Admirar é atender concentradamente à verdade; quer dizer, abrir a mente à verdade, acolhê-la e dirigir a ela toda a atenção para se deixar penetrar por ela. Essa pureza de atenção à palavra de Deus é o que mereceu à Virgem o ser eleita como Mãe da Palavra encarnada. Sua abertura, acolhimento e concentração em fazê-la própria, a tornou digna de ser não só habitada corporalmente pelo Verbo encarnado, mas de ser Mãe e receptora ativa e livre da mesma. Como soube dizer magistralmente Santo Agostinho, Maria foi mãe antes com seu espírito do que com seu corpo; frente ao louvor de sua maternidade corporal, Ela deve ser considerada feliz porque guardou a Palavra. Pois Maria amava a seu Filho já antes de que se encarnasse e durante toda sua vida porque, ‘se alguém me ama, guardará minhas palavras’ (Jo 14,15,21,23; 15, 7-10). E isso é o que Ela sempre fez. A admiração de Maria, longe de ser pois sintoma de ignorância, é o que a converteu por graça divina em Sapientiae incarnatae Genitrix, Mãe da Sabedoria encarnada”
Acrescenta Dom Ignacio que, nesse episódio da perda no Templo, “Temos a primeira dor que conhecemos que perfurará o coração de Maria, e que a profecia que Simeão lhe tinha anunciado, e que começa a se cumprir. E que Maria vê com surpresa como, a razão de toda sua felicidade, seu Filho, se torna para Si uma causa de dor. Esta dor está associada à busca de Jesus, mas não é a simples dor angustiante dos pais que temem pela vida ou pela liberdade do filho, mas sobretudo a dor de ter sido afastada livre e conscientemente da vida e presença de seu Filho. Isto é o que Maria não entende e que pergunta. A sua pergunta contém assim um pedido de luz, mas também a detecção de algo incrível: não foram outros, mas o próprio Jesus quem, livre e conscientemente, causou a dor de seus pais, por algo que eles não fizeram, algo que eles nunca teriam evitado, mas que teriam compartilhado com Ele com alegria”.
Concluímos este rápido apanhado do
suculento estudo com o episódio das Bodas de Caná.
As Bodas de Caná. 1562-63. Por Paolo Veronese, atualmente no Museu do Louvre (Paris). |
A cena é muito conhecida. Nossa Senhora, seu Filho e alguns dos Apóstolos participavam de umas bodas na cidadezinha de Caná da Galiléia. Maria Santíssima, vendo que o vinho estava acabando, para poupar um vexame aos noivos, alerta seu divino Filho.
“Diante da aparente indiferença da resposta de Cristo ‘o que nos importa isso a ti e a mim?, e antes de tudo e mais além do ‘ainda não chegou minha hora’ Maria sabe descobrir o apaixonado desejo de pôr fogo ao mundo com suas obras e palavras que arde no coração de seu Filho, e também no amor redentor do Pai: ambos estão dispostos a adiantar os passos para o começo da vida pública de Jesus. Maria, que conhece os segredos de Deus e a oportunidade do momento, toma a iniciativa, se adianta a seu Filho, e O incita à sua terceira epifania: a vida pública. Por que Ela se adianta à decisão de seu Filho? Porque quer ser Ela quem o lance à vida pública. Não só quer ser condutora, quer positivamente pôr fim à vida doméstica de seu Filho. Ela renuncia de modo voluntário ao privilégio de convivência de que havia desfrutado durante tantos anos, a fim de que seu Filho se dedique aos assuntos de seu Pai e seja conhecido por todos. Trata-se da primeira manifestação da maternidade universal de Maria: Ela nos entrega a seu Filho para que O possamos conhecer e amar a todos os homens como Ela conhece e ama. Não se reserva para si seu próprio Filho: ama-nos mais que a si mesma. Assim esta iniciativa de Maria não é mais do que um adiantamento da entrega que Ela fez de seu Filho ao pé da cruz”
* * *
Diante
de tanta grandeza, só nos resta exclamar como o fazia um hino muito popular na
Igreja antes do Vaticano II:
“Salve ó Mãe, Salve ó Virgem Santíssima, do universo portento e primor: mais esplêndida glória que a tua, tem só Deus do universo Senhor!”.
14 de agosto de 2024
Assunta em corpo e alma à glória celestial
Comemoramos neste dia 15 a Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Concebida sem pecado original, Ela não padeceu as dores próprias à morte, que foi apenas, como define a Igreja, a Dormitio Beatae Mariae Virgine (“Dormição da Bem-Aventurada Virgem Maria”).
Acompanhada por anjos, Ela gloriosamente subiu ao Céu em corpo e alma. Dogma definido pelo Papa Pio XII em 1º de novembro de 1950, com a Constituição dogmática Munificentissimus Deus.
Como auxilio para refletirmos nesta magna data, eis algumas frases de grandes personagens, grandes devotos da Santa Mãe de Deus.