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Meninos praticam caligrafia
em uma escola sueca. |
A total digitalização da atividade escolar contribui para criar o cenário perfeito de uma educação deplorável. Na Suécia, o retorno à escrita manual.
✅ Luis Dufaur
Diante dos estragos produzidos nas mentes infantis e juvenis pela dependência das telas LCD, escolas na Europa e nos EUA redescobrem o valor do contato pessoal, a importância da sala de aula, da memorização, da escrita, dos livros de papel e da própria caligrafia, noticiou o jornal “El Colombiano”.[1]
Estudos, livros especializados e muitos testes científicos recomendaram a des-digitalização massiva das escolas. E ela já começou nos países nórdicos e pode tornar-se tendência em todo o mundo.
Em países desenvolvidos, as crianças de famílias de baixa renda consomem quase o dobro de tecnologia do que as crianças de famílias de alta renda. Cunhou-se o termo “ciberproletariado”: uma massa de jovens minimamente capacitados, mentalmente desfavorecidos, rebaixados pelas escolas para a condição de novos servos pelo uso das tecnologias digitais.
A ministra sueca da Educação, Lotta Edholm, insurgiu-se contra esse rebaixamento. Para ela, a digitalização das aulas foi um experimento acrítico, em que a tecnologia foi aceita sem levar em conta o conteúdo e o resultado. Por sua vez, as ciências mostraram que os efeitos foram tão danosos que chegou a hora de dar marcha-à-ré, porque os alunos recebem cada vez menos conhecimentos e têm uma queda intelectual e cerebral. Eles mal sabem ler, sua compreensão da leitura caiu vertiginosamente, a caligrafia foi perdida e, acima de tudo, a capacidade de manter a atenção.
A Suécia desistiu da digitalização escolar e o governo deseja que a aula funcione como lugar de leitura e escrita. A tecnologia não será descartada, mas a solução para os problemas da educação consistirá em não abandonar os alunos diante de uma tela.
“Des-digitalizar” é progresso
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Ministra sueca
da Educação, Lotta Edholm |
Pesquisadores e educadores apalpam essa queda e veem com preocupação a geração que, segundo a UNICEF, cresceu sem conhecer a vida antes do smartphone e desanimou da leitura. As mudanças com a digitalização em todos os níveis deterioraram o QI dessa geração.
Os dispositivos digitais são poderosos e, se utilizados de modo exclusivo ou abusivo, exibem um sem-número de efeitos deseducativos e mentais danosos. Acresce que a juventude está entrando na era da ‘Inteligência Artificial’, cheia de riscos, que nem os adultos conseguem mensurar. Os especialistas recomendam que as crianças tenham acesso à tecnologia só após aprenderem a ler e escrever com fluência. De fato, o que faria um jovem que precisa escrever de próprio punho uma mensagem, mas que só pode digitar?
Os cientistas constatam que em países como os EUA há milhares de escolas públicas para crianças carentes saturadas de tecnologia, nas quais se diminuiu a importância dos professores. Resultado: estes ficaram pouco qualificados, com baixos salários e em escasso número.
Restaurar o ensino tradicional é o futuro
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A cultura medieval empregava muito os desenhos como parte da caligrafia |
Formou-se o cenário perfeito para uma educação deplorável, resultado da ausência do relacionamento entre uma pessoa qualificada — o professor — e o aluno, exaltada desde a Antiguidade pelos mestres na Grécia, por exemplo. Um grande promotor da digitalização, Steve Jobs, fundador da Apple, confessou em 2001, em um relatório intitulado “A sala de aula do futuro”:
“Eu trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”.
Se se procura uma cultura democrática, esta não pode depender de um algoritmo, método ideal para uma ditadura de Science-fiction, mas dos valores e conhecimentos que o mestre transmite aos discípulos.
Em 2023, 100 escolas públicas de Seattle (EUA) e 50 mil alunos processaram empresas de tecnologia por danos à saúde mental causados por aplicativos como TikTok, Instagram, Facebook, SnapChat ou YouTube. Restaurar a educação clássica é a maior urgência.
A ministra da Educação da Suécia foi apoiada pela ministra da Cultura, e os partidos conservadores aceitam a “mudança de paradigma”, ainda que num país como a Suécia isso possa parecer retrógrado. Os políticos pensam na reação positiva dos pais de família, preocupados com a queda cultural das crianças.
A História registra a importância da leitura da escrita na idade infantil. Os textos cuneiformes sumérios de 2.500 anos atrás insistiam em que os alunos requintassem a caligrafia. As escolas sumérias tinham um “encarregado do chicote” para aqueles que não cultivassem na perfeição a arte da escrita. Um grande educador e teólogo, o Pe. Henri Ramière SJ, fiel ao estilo que elevou a Companhia de Jesus a um patamar educativo superior, exigia dos alunos uma redação pessoal primorosa de apenas uma página, não só sem erros de ortografia ou gramática, mas com perfeição caligráfica, sem manchas, borrões ou outras imperfeições.[2]
Progressistas contra a ciência
Os opositores da restauração não gostam que as evidências científicas reprovem a digitalização das aulas. É fácil encontrar estudos de pediatria, neurociência e psicologia alertando para os danos do uso excessivo de tecnologias digitais. A ira modernista foi contra o fato de o governo se apoiar em “evidências científicas”. Quando a ciência se posiciona contra as utopias esquerdistas, vituperam a ciência, como registrou
Critical Studies of Education & Technology.[3]
A mentalidade ‘moderna’, revoltada contra as ciências, reclama uma liberdade irrestrita para os alunos navegarem no mundo digital, mas pouco se importam com a educação dos jovens.
Confirmação de professor português
O português Prof. Antonio Duarte[4] ressaltou que em 15 anos as aptidões intelectuais dos alunos suecos diminuíram, a dependência da informação pronta na Internet lhes tirou a vontade de pensar, e ficaram cada vez mais incapazes de se exprimir, enquanto enfraquecia a leitura.
As ministras suecas da Educação e da Cultura anunciaram o retorno ao ensino baseado nos livros, e pensam em dispensar os computadores e tablets. O desenvolvimento cerebral e a habilidade manual são essenciais, mas se ficam inibidos pelas telas LCD estaremos voltando às cavernas, iluminadas, é claro, pelos reflexos das telas acesas.
É indispensável a avaliação rigorosa, isenta, honesta, que o mestre faz da experiência pedagógica de cada aluno, não jogando nossas crianças e jovens num sistema que não tem dado bons resultados e caminha para um desastre civilizacional. Para isso, a Suécia investe R$ 315 milhões em livros, observou “O Estado de S. Paulo”.[5]
O mencionado jornal acrescentou que, segundo a ministra Lotta Edholm, “novas descobertas na ciência cognitiva mostram que os alunos aprendem mais quando leem em um livro do que em um tablet”. Segundo ela, professores e alunos gostaram da decisão: “As respostas são muito positivas. Ter livros é quase visto como um luxo e, mais do que tudo, muitos pais aceitam a mudança”.
Em maio de 2023 a avaliação global PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), mediu a capacidade dos alunos do 4º ano do ensino fundamental para a leitura e intelecção de textos em 57 países. A Suécia ficou na 13ª posição, e o Brasil, dói dizê-lo, ficou à frente só do Irã, da Jordânia, do Egito da e África do Sul.
O governo de São Paulo tinha um plano de mandar imprimir 10 milhões de livros didáticos, que seriam distribuídos gratuitamente. A repercussão foi tão negativa que o governo mudou de ideia.
Equilíbrio entre letra e imagem
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que foi catedrático da PUC, defendia o equilíbrio entre caligrafia e imagem. Ele dava como exemplo as iluminuras nos livros e pergaminhos medievais. A letra capitular poderia ter um passarinho cantando, uma flor, uma cena da vida quotidiana etc. A cultura medieval empregava muito os desenhos como parte da caligrafia. Essa harmonização, no aprendizado, da letra e da contemplação da imagem, agradava muito e foi se aprimorando com o tempo, formando uma geração que forjou a civilização ocidental cristã.
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Notas:
1.http://surl.li/lhebc
2.http://surl.li/lhecl
3.http://surl.li/lhedk
4.http://surl.li/lheea
5.http://surl.li/lheeu