31 de outubro de 2013

Dia de Todos os Santos e Finados — oposição ao Halloween


Paulo Roberto Campos
prccampos@terra.com.br

No primeiro dia de novembro comemoram-se Todos os Santos — todos homens e mulheres que morreram, se salvaram e cujas almas estão no Céu na felicidade eterna. Conforme o Apóstolo São Paulo: “Se morremos com Cristo, temos fé de que também viveremos com Ele” (Rom. 6,8).

O segundo dia deste mês é dedicado aos fiéis defuntos, ou Dia de Finados. Com o desvelo de Mãe, a Igreja, depois de festejar a glória de todos que se encontram no Céu, volta seu olhar misericordioso para as almas que estão sofrendo no Purgatório (lugar de purificação).


Santa Catarina de Gênova, em seu “Tratado do Purgatório”, escreve: “A alma do justo, ao sair de seu corpo, vendo em si mesma alguma coisa que empana sua inocência primitiva e opõe-se à sua união com Deus, experimenta uma aflição incomparável; e como sabe muito bem que este impedimento não pode ser destruído senão pelo fogo do Purgatório, desce ali de repente e com plena vontade”. Isto porque a alma deseja apresentar-se diante de Deus purificada de qualquer mancha, de qualquer pecado.

Como filhos de Deus, devemos procurar aliviar as penas, e mesmo obter de nosso Divino Redentor o livramento das almas que padecem no Purgatório, especialmente as de nossos mais próximos, parentes, amigos. Como aliviar seus padecimentos? — Rezando e sofrendo por elas, pedindo a intercessão de Maria Santíssima para que leve as almas dos fiéis defuntos o quanto antes para a glória da bem-aventurança eterna.


Nessa intenção, devemos rezar todos os dias do ano, mas de modo particular no Dia de Finados. Daí o costume de em 2 de novembro visitar os cemitérios e rezar junto à sepultura de nossos entes queridos. Os que o fizerem de 1º a 8 de novembro podem ganhar uma indulgência plenária, nas condições estabelecidas pela Santa Igreja.

Infelizmente, em nossos tempos, procura-se desviar a atenção de assuntos relacionados com a morte. Entretanto, quem de nós sabe se viverá até amanhã? A cada passo a morte roça em nós — é um parente, um amigo, um vizinho que é chamado ao Tribunal de Deus —, mas procuramos não pensar nesse tema tão sério, como se não nos dissesse respeito. Essa não é uma atitude cristã. “Como? Morreu?”, fingimos surpresa. “Como se pudesse causar surpresa a morte de um mortal” (Bossuet, Le sermon sur la mort).

Também se procura cada vez mais esquecer esta lembrança de Finados, substituindo-a pelo Halloween (dia das bruxas), festividade evocativa de cultos do antigo paganismo, trazendo à tona recordações hediondas e sinistras — sobretudo quando associam o Halloween com as Marchas dos Zumbis (ou dos mortos vivos, como na foto ao lado), que desfilam pelas cidades seus horrores asquerosos, macabros e infernais.


No Brasil, Halloween faz parte do programa de descristianização das famílias e da sociedade em geral. Na Europa, berço da Cristandade, a onda impondo artificialmente o Dia das Bruxas deu-se há 20 anos. Esforçava-se então para levar as famílias a festejá-lo, adotando suas imagens repugnantes, conferindo uma importância semelhante à do Natal. Programas de rádio e televisão, artigos de jornais e revistas — de festejos escolares abusando da inocência até papéis de embrulho recomendados pelas associações comerciais — ostentavam morcegos dentuços, esqueletos, cadáveres ambulantes, bruxas e gatos pretos, aranhas negras e serpentes, monstros saídos de cavernas infernais. As músicas afins com este horror, tocadas em postos de gasolina, restaurantes, livrarias, causam calafrios. Aos poucos trouxeram repulsa. Crianças choravam. Velhos viravam o rosto. Sorriam, de um sorriso amarelo, somente donos das lojas, num esforço de passar imagens das trevas.


        Contou-me um Amigo, que, há uns dez anos, num posto de gasolina, na auto-estrada A-4, que liga Paris à Alemanha, uma jovem mãe hesitava em receber como brinde de um dos empregados um monstro cadavérico, típico de Halloween. O casal de filhos, a quem se destinava o “brinde”, dependurando-se na barra de sua saia, tal náufragos amedrontados pela morte: “Não, mãe. O Natal já vai chegar. Já temos o Menino Jesus”, disse o menino. “E os boizinhos e o burrico. E também os anjos”, acrescentou a menina.

Enquanto o Halloween e a Marcha dos Zumbis nos impelem para as coisas cadavéricas, para o horrendo próprio ao Inferno e seus precitos e demônios, as celebrações nos dias de Todos os Santos e de Finados elevam nossos olhos para o Céu e seus Anjos e Santos.

30 de outubro de 2013

INFANTICÍDIO?

Crianças com síndrome de down 
A respeito de matéria que aqui postamos em 4-9-13, sob o título “Nova fase na luta contra o aborto”, o Cel. Paes de Lira gravou um vídeo [veja-o abaixo] destacando os aspectos mais importantes dessa nova frente de luta contra a legalização do aborto, presentemente não apenas no seio materno, mas uma luta contra a eutanásia de recém-nascidos.

Hoje esse absurdo está em pauta na Holanda, amanhã não estará no Brasil? — Certamente, pois o lobby abortista pressionará nosso Congresso para seguir o (des)caminho da nação holandesa. Ou seja, para aprovação de uma lei que permita “eutanasiar” (para não dizer claramente “executar”) uma criança que venha a nascer com alguma deficiência, como, por exemplo, com síndrome de down.

A denúncia de tal absurdo nos chegou por meio de um colega nosso, o publicista católico Mathias von Gersdorff, diretor da Aktion Kinder in Gefahr (Ação Crianças em Perigo) da Alemanha.

A EUTANÁSIA DE RECÉM-NASCIDOS NA HOLANDA ABRE NOVA FASE NA LUTA CONTRA O ABORTO

 

28 de outubro de 2013

Atentado à inocência: campanha publicitária do Dia da Criança exibiu uma criança em poses sensuais


Nilo Fujimoto

Oh! que saudades que tenho 
Da aurora da minha vida, 
Da minha infância querida 
Que os anos não trazem mais! 
Que amor, que sonhos, que flores, 
Naquelas tardes fagueiras 
À sombra das bananeiras, 
Debaixo dos laranjais! 
Como são belos os dias 
Do despontar da existência! 
— Respira a alma inocência 

Casimiro de Abreu põe em versos (Meus oitos anos) as saudades que sentia da sua infância. Mas, sentia ele mais saudades do quê? Das sombras das bananeiras ou da laranjeira, dos sonhos, das tardes fagueiras, das flores que eram o seu perfume? 

Sim, porém, resumia todas essas saudades em uma só palavra de profundo significado: INOCÊNCIA. Oh, inocência! Digam-me, o que é inocência? 

Plinio Corrêa de Oliveira versou sobre tema da seguinte forma: 
“Inocência é a harmonia de todas as potências da alma entre si.  
A criança ignora as leis da transmissão da vida, e por isso na linguagem corrente se diz que ela é inocente. O adulto que é acusado de um crime que não praticou, aquele que não cometeu pecado é inocente. Entretanto, pode-se tomar a expressão inocência primeva num sentido específico, que vai além da acepção usual, e que se aplica a todas as idades.  
Inocente é o homem de todas as idades que adere àquele estado de espírito primevo de equilíbrio e de temperança com que o homem foi criado, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de retidão, de maravilhoso.  
A inocência é a harmonia de todas as coisas ou de todas as potências da alma entre si. E por causa dessa harmonia, ela tem a noção fácil e imediata das coisas como elas devem ser e, portanto, do modelo ideal de todas as coisas.  
Esse conceito de inocência, portanto, vai muito além da acepção corrente da palavra. Não se trata apenas de não praticar o mal, mas sobretudo de aderir fortemente à harmonia do Verdadeiro, do Bom e do Belo.” 
Quão bela é a inocência. Mas quão criminoso é provocar a perda dela. 

Quanto entristece observar que tudo na vida presente leva à perda de tão precioso tesouro que fez gemer de saudades não só ao poeta. Quão triste é ver a juventude sucumbir às ciladas armadas contra a inocência, como a educação sexual para crianças promovida pelos governos através de cartilhas, aulas, teatrinhos e a imposição do “politicamente correto” no tratar comportamento antinatural. 

É também na propaganda e publicidade — veículo eficaz para a formação de mentalidades — que podemos verificar a triste deterioração da inocência. 

Crianças são o alvo preferido da ideologia revolucionária promotora do “homem novo”, isto porque não é fácil corromper a mentalidade do “homem velho” criado em ambientes onde ainda vigoram princípios da moral cristã. 

O provérbio “É de pequenino que se torce o pepino” é usado para transmitir a ideia de que, quanto mais cedo se ensina, melhores são os resultados. É na infância que se educa, ou… se deseduca. 

Eis um exemplo, de anúncio quebra-inocência: 

Reporta a matéria o portal de notícias G1, de 17/10/2013: “a campanha do Dia da Criança de uma marca de bolsas e calçados do Ceará, que exibiu uma menina usando produtos em poses sensuais, foi a primeira queixa do ano sobre o uso de crianças em situações erotizadas.” 

 Não reproduzimos aqui a foto por ser extremamente degradante, ofendendo gravemente todas as meninas. 

Tem havido várias denúncias, esta foi a primeira com queixa por utilizar crianças em situações erotizantes, como prossegue a matéria do G1: “Nos primeiros seis meses de 2013, 18 denúncias relacionadas à publicidade para crianças e adolescentes foram recebidas pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). O número equivale a 10% do total de reclamações sobre questões diversas, que somam 191.” 

A queixa foi formulada pelo Grupo de defesa infantil que aponta para o “risco de erotização precoce”. Qualquer que seja a providência que o Conar determinar, uma sentença é certa, definitiva e inapelável, pois fulminada pelo Divino Mestre: 

“Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar.” (São Mateus, 18, 6).

23 de outubro de 2013

Quais as condições para que um pronunciamento do Papa seja considerado inerrante?

O Bem-Aventurado Papa Pio IX chega solenemente em procissão na Basílica de São Pedro para a abertura do Concílio Vaticano I (8 de dezembro de 1869 a 18 de julho de 1870), no qual o Romano Pontífice proclamou o dogma da Infalibilidade Papal.
A Revista Catolicismo em sua edição de novembro de 1976, Nº 311, publicou uma matéria excepcional e que para os presentes dias é de suma atualidade — talvez mais atual do que naquele ano da publicação. Isto porque atualmente muitos estão a indagar em que circunstâncias pode-se afirmar que num pronunciamento do Papa entra ou não o carisma da infalibilidade.

A respeito, a mencionada revista de cultura católica estampa um resumo (que abaixo transcrevo) de um excelente artigo da revista belga Mysterium Fidei (Nº 33, julho/1976), que elucida com clareza os diversos aspectos da delicada e importante questão. Apenas tomei a liberdade de destacar em negrito algumas frases. 


A Infalibilidade da Igreja 

Revista Catolicismo,
Nº 311, Novembro/1976

Paulo VI lamentou as ambiguidades que surgiram na Igreja após o Concílio Vaticano II, perturbando a consciência de muitos fiéis e extenuando o vigor da Fé. Podemos ver nessa constatação um efeito da “fumaça de Satanás”, que poluiu os ambientes eclesiásticos e constitui um dos meios de autodemolição da Igreja, ou seja, de uma destruição por elementos que se encontram nela instalados. 

Uma das maneiras de alimentar as ambiguidades nefastas entre os fiéis é a imprecisão com que se exprimem hoje certos dogmas da Fé. Ora diminuindo-lhes o vigor, ora exagerando-os, ora conceituando-os em termos elásticos, a consequência é sempre o desassossego causado pela insegurança doutrinária. 

Entre os dogmas cuja imprecisão na terminologia causa maior confusão e intranquilidade está o da Infalibilidade Pontifícia. Alguns o ampliam, atribuindo inerrância a qualquer pronunciamento do Papa, chegando a confundir infalibilidade com impecabilidade, como se o Romano Pontífice, pelo fato de ser Papa, fosse incapaz de falhar na prática da virtude cristã. Outros há que restringem em demasia o âmbito da infalibilidade, questionando até verdades já definidas por todo o sempre, como acontece com vários pontos do ensinamento católico fixado pelo Concílio de Trento. 

Para esclarecimentos de nossos leitores sobre a matéria, resumimos aqui um substancioso artigo da revista belga Mysterium Fidei (nº 33 de julho de 1976). 

A Infalibilidade 

Na locução de 18 de setembro de 1968, por ocasião da audiência geral de Castelgandolfo, Paulo VI insistia sobre o cuidado em procurar a informação exata e completa. Tal recomendação aplica-se também às definições da Santa Igreja. É indispensável conhecer todo o alcance do ensinamento do Magistério, sempre, porém, dentro do âmbito delimitado pelo mesmo Magistério. 

Semelhante cuidado se impõe também quando se trata da infalibilidade pontifícia. — É exato que o Papa é sempre infalível? 

L’Homme Nouveau, periódico francês, responde, em sua edição de 6 de junho deste ano: “Como todo homem, o Papa pode pecar. Mas, como todos os seus predecessores, ele é infalível para manter a Fé e os Costumes”. Jean Madiran em Itinéraires (julho/agosto 1976), ao comentar a afirmação imprecisa de L’Homme Nouveau, salienta que o tratar-se de Fé ou Costumes é uma condição necessária para que o ensinamento possa envolver infalibilidade, mas não é suficiente. 

O texto da definição 


Pio IX, proclamador da Infalibilidade
Pontifícia. [Quadro encomendado por
São João Bosco ao pintor Tommaso
Lorenzone]
Com efeito, o texto da definição deste dogma de nossa Fé não pede apenas que o objeto do ensinamento seja assunto de Fé ou Costumes. Impõe ainda outras condições. Ei-lo, na sua clareza e precisão: “O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho de sua função de Pastor e Doutor de todos os Cristãos, define, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, que uma doutrina concernente à Fé ou aos Costumes deve ser aceita por toda a Igreja, goza, graças à assistência divina, a ele prometida na pessoa de São Pedro, daquela infalibilidade da qual quis o Divino Redentor fosse dotada a sua Igreja ao definir uma doutrina sobre a Fé ou os Costumes; assim, tais definições são por si mesmas irreformáveis, e não pelo consentimento da Igreja”.(1) 


Magistério extraordinário 

Semelhantes atos pontifícios constituem a expressão do seu Magistério extraordinário (ou solene), isto é, de sua Autoridade docente de Príncipe dos Apóstolos, excepcionalmente afirmada sobre toda a Igreja, dentro das condições de sua estrita competência, com termos de uma precisão canônica, impondo-se à consciência católica e excluindo toda possibilidade de ulterior mudança. 
Concílio Vaticano I - Abertura solene em 8 de dezembro de 1869
O modo de definir 

A garantia de autenticidade destes atos solenes não reside no luxo do aparato exterior. Para uma definição, o Papa poderia utilizar igualmente uma Encíclica, uma Radio-mensagem, como um Breve ou uma Constituição Apostólica. Ele permanece livre de escolher o modo de expressão que julgar mais oportuno (2). 

Porquanto basta — mas é absolutamente necessário — que o Papa proceda conforme as condições requeridas, dogmaticamente definidas, para que um ato ex cathedra tenha sua existência objetivamente comprovada como infalível, sem lugar a dúvidas. 

“Como o uso constante da Igreja e dos Soberanos Pontífices consagra certas fórmulas, para assinalar sem possibilidade de dúvida, a toda a Cristandade, o julgamento supremo definitivo [...], segue-se que, se o Papa negligencia tais fórmulas e não exprime claramente que, apesar desta omissão, entende ele e deseja definir como juiz supremo da Fé, deve-se pensar que não exprimiu seu julgamento como infalível”.(3)

“De si e não pelo consentimento da Igreja” 

É preciso evitar o pensamento de que o carisma da infalibilidade é totalmente independente da Igreja. Pessoal embora, e possuindo um valor independente do consentimento da Igreja, não está ele desvinculado da Igreja, uma vez que o Romano Pontífice o possui precisamente enquanto chefe da Igreja e na sua função de doutor e pastor dessa Igreja. Recusando-se a ver no consentimento da Igreja a fonte da infalibilidade pontifícia, o Concílio do Vaticano absolutamente não quis dizer que o Papa — aliás, órgão da Tradição — deveria no exercício do seu Magistério infalível prescindir do contato estreito com o sensus Ecclesiae.(4) 

Magistério Ordinário 

Além do Magistério extraordinário, solene, exerce o Papa um Magistério ordinário. 

Sem dúvida, distintos, seria erro grave opor Magistério solene e ordinário, segundo as categorias muito simplistas de infalível e falível,(5) uma vez que, seja qual for a via pela qual nos chega a Doutrina, esta é sempre infalivelmente verdadeira, quando certamente ensinada pela Igreja inteira, ou somente pelo seu Chefe. Contudo, enquanto no Magistério solene a garantia pode nos ser dada pelo julgamento de um só, tomado à parte, no ensinamento ordinário ela só pode provir de uma continuidade e de um conjunto. Fora dos julgamentos solenes, a autoridade das diversas expressões do ensinamento pontifício comporta degraus e matizes. Todos, não obstante, se integram autenticamente nessa Tradição contínua e sempre viva, cujo conteúdo não poderia estar sujeito a erro sem que periclitassem as promessas de Jesus Cristo, e a própria economia da instituição da Igreja.(6)

O Magistério e a Tradição 

Assim, o critério para se avaliar um ensinamento isolado é relacioná-lo com o ensinamento continuado através dos séculos, verificado em toda a Igreja. 

Continuidade. — Ensina Pio XII: “Desde os tempos mais remotos, encontram-se diversos testemunhos, indícios ou vestígios que manifestam a Fé comum da Igreja no decurso dos séculos”.(7) A mesma conclusão emerge do costume habitual dos Papas, pois, percorrendo as Atas dos Pontífices Romanos, pode-se perceber o cuidado que tiveram eles em citar, a propósito de cada problema, as decisões de seus predecessores e de se situar, através de suas múltiplas referências, no conjunto da Tradição. 

Vale dizer que eles quiseram, assim, sublinhar uma fidelidade pastoral e doutrinária, da qual depende o valor da inerrância do julgamento presente, proceda ele do Magistério solene ou do ordinário. 

Com efeito, o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de São Pedro para lhes permitir publicar uma doutrina nova, sob sua inspiração; mas para guardar de modo estrito, e expor fielmente com sua assistência, a Revelação transmitida pelos Apóstolos, isto é, o Depósito da Fé.(8) São Vicente de Lérins resumiu muito bem o critério na matéria: “Na Igreja Católica deve-se ter o máximo empenho em professarmos aquilo que, em todo o lugar, sempre e por todos foi crido".(9)

Fora deste conjunto e desta continuidade, que são os dois aspectos da Tradição, e fora da assistência divina prometida ao Magistério, agindo em sua ordem de acordo com o costume, não há espécie alguma de garantia formal, para o exercido correto do cargo supremo na Igreja, e, portanto, nenhum dever de obediência incondicional. Assim, é necessário, portanto, para nossa salvação, que a virtude da obediência comporte esforços de discernimento, que sejam a contrapartida meritória do Dom do Conselho.

Alguns exemplos históricos

Bem examinada a definição da infalibilidade, proclamada no Concílio do Vaticano I, vê-se que o exercício do magistério pessoal infalível, considerando-se seu campo e suas condições, não atinge todos os atos pontifícios, como também se evidencia que “não será preciso crer que a infalibilidade abarca todos os domínios da atividade pontifícia”. É isso de tal modo verdadeiro, que os teólogos estudam o caso de um Papa escandaloso, de um Papa herético, de um Papa cismático... Resulta, aliás, que os casos nos quais a infalibilidade pessoal do Papa está engajada são marcadamente raros. Quanto ao Concilio Vaticano II, Paulo VI, formalmente, excluiu-o do magistério infalível. Eis suas palavras: “Dado seu caráter pastoral, o concilio evitou pronunciar, de maneira extraordinária, dogmas dotados de nota da infalibilidade”.(10)

Alguns exemplos históricos ilustram a doutrina exposta. 

João XXII e Bento XII 


Em três sermões, pronunciados respectivamente em 1° de novembro de 1331, 15 de dezembro de 1331 e 5 de janeiro de 1332, o Papa João XXII [quadro ao lado] expôs suas opiniões singulares sobre a sorte dos homens depois da morte. Ele ensinava, especialmente, que as almas dos eleitos deviam aguardar a ressurreição da carne e o Juízo final, antes de poderem gozar da visão beatifica de Deus, e que, de maneira semelhante, nem os demônios nem os homens condenados não iam para a pena eterna antes desse dia. Tal opinião parecia ter algum fundamento em certas passagens da Sagrada Escritura; mas o conjunto da Tradição lhe era contrária, embora naquela época todas as verdades reveladas, concernentes a este assunto, não tivessem ainda sido definidas. Estribado, no entanto, em certos teólogos e em suas interpretações dos Doutores da Igreja, o Soberano Pontífice persistia em sua opinião, publicando mesmo, em 1333, um libelo para sustentá-la. 

A oposição dos fiéis ameaçava ser violenta. A pedido do Rei da França, as sumidades da Universidade de Paris e das Ordens religiosas estudaram o assunto e chegaram a uma conclusão contrária à opinião do Papa. Este, no Consistório de 3 de janeiro de 1334, declarou-se disposto a retratar-se, se se verificasse que seu pensamento se opunha à Doutrina comum... E o fez realmente. Em 3 do dezembro de 1334, na véspera de sua morte, assinou a Bula Nec super his, pela qual, na presença do colégio dos Cardeais, revogava solenemente a doutrina que ensinara. 

Seu sucessor, Bento XII [quadro ao lado], publicou a Bula da retratação, e alguns anos mais tarde definiu solenemente, como verdade de Fé, a opinião contrária à de João XXII. O fato histórico torna patente que o Papa não é infalível em todos os seus ensinamentos (11). 

Clemente VII 

No século XVI, tentou-se um conúbio entre o Paganismo da Renascença e a Igreja. Daí o fato de homens da Igreja se proporem a celebrar as festas cristãs valendo-se de odes clássicas ao sabor da Antiguidade pagã. Tratava-se de “adaptar” os textos litúrgicos às necessidades da época! Nos hinos, reformados pelos cuidados do Cardeal humanista Zacarias Ferreri (12), a Virgem Maria é muitas vezes designada como “felix dea, deorum máxima, nympha candidíssima”. A Santíssima Trindade é chamada “triforme numen Olympi”. Personagens da mitologia pagã, como Baco e Vênus, foram também introduzidos na Liturgia. 


Apesar do que há de profanação das coisas sagradas em todo esse delírio renascentista, o resultado dessas “experiências” foi aprovado em 11 de dezembro de 1525 pelo Papa Clemente VII [quadro ao ladoem um Breve. Neste, após um elogio entusiasta das inovações, leem-se estas palavras: “... por determinação própria e de nossa ciência certa, Nós concedemos e mandamos com autoridade apostólica, pelo teor das presentes letras, que todo o fiel, mesmo Padre, possa usar estes hinos, mesmo nos Ofícios divinos”. 

Compreende-se que São Pio V [quadro abaixo], ao coibir os abusos que se filtravam na celebração da Santa Missa e dos Ofícios litúrgicos, nem se refira a tão inaudito documento pontifício. Considerou-o como não existente. 

Não obstante, encontraram-se naquele tempo pessoas que pensavam cumprir seu dever vagando à deriva do sentimento, do mimetismo, da estultícia e da tibieza. Possa o exemplo servir para orientar a legítima obediência aos superiores, de acordo com o pensamento de Santo Tomás de Aquino: “Non in omnibus praelatis est oboediendum” [Não é preciso obedecer em tudo aos Prelados].(l3)

Estêvão VI e Sérgio III 

Com a finalidade de fazê-lo passar por um simulacro de processo, Estêvão VI mandou desenterrar o corpo do Papa Formoso, falecido nove meses antes. Fê-lo revestir dos ornamentos pontifícios, colocá-lo num trono e submetê-lo a um interrogatório cerrado, no qual um diácono, ao lado do cadáver, se encarregava de responder pelo defunto. Em seguida, o Papa insultou, numa alocução, os restos de Formoso, cuja eleição contestava. Declarou inválidas todas as suas sagrações de Bispos e fez cortarem-lhe os dedos que estendia quando abençoava. 

Toda a “cerimônia” se processou em Sínodo, com Prelados assistindo o Papa e coonestando sua ação. Enfim, despojaram o cadáver de suas vestes, e não conseguindo arrancar o cilício, incrustado já na carne, deram-lhe uma Extrema-Unção. [Como se vê, para esse Papa, não contava nem o respeito dos Santos Sacramentos, nem o dogma sobre o valor dos Sacramentos administrados para pecadores, infiéis ou hereges]. Um tremor de terra, que abalou a Basílica de Latrão, passou despercebido pelos autores do ignominioso processo, conhecido na História como Sínodo Cadavérico. [quadro abaixo] 
O povo, profundamente indignado, alguns meses depois prendeu Estêvão VI, vestiu-o de monge e estrangulou-o na prisão. Os sucessores de Estêvão VI repararam as injúrias feitas a Formoso pelo tristemente célebre Sínodo Cadavérico. Entretanto, Sérgio III (Papa de 904-911), homem cruel, mundano e de maus costumes — o qual inaugurou a “pornocracia” em Roma — novamente reeditou as medidas contra as ordenações de Formoso, obrigando os Bispos sagrados a serem novamente sagrados e os Padres ordenados por esses Bispos a serem novamente ordenados, sob pena de exílio, prisão ou mesmo excomunhão (14). 

Inocêncio IV 


Roberto Grosseteste (Bispo de Lincoln, na Inglaterra, de l235-1253) [iluminura ao lado], erudito, piedoso e cheio de zelo, cuidou da reforma do seu Clero, voltando sua atenção especialmente contra os abusos dos prebendados que não cumpriam seus deveres. O Papa Inocêncio IV, no entanto, não hesitou em nomear seu sobrinho para o Cabido de Lincoln, impondo ao Bispo que o empossasse sem delongas. Como se tratava de uma pessoa que não merecia a dignidade a que era elevada, Roberto respondeu tranquilamente ao Papa: “Precisamente por causa da obediência que me liga e do meu amor de união à Santa Sé, no Corpo de Cristo, como filho obediente eu Vos desobedeço, eu Vos contradigo, eu me rebelo. E Vós não podeis tentar nada contra mim, porque minhas palavras e meu ato não são uma rebelião, mas o afeto filial exigido pelo Mandamento de Deus a pai e mãe. E assim que o digo, a Sé Apostólica, na sua santidade, não pode destruir, mas unicamente construir. Eis o que significa a plenitude do poder: pode-se fazer tudo, com vistas à edificação. Mas as prebendas em pauta não edificam. Elas destroem. Elas não podem, pois, ser obra da Sé Apostólica”.(15)

Sob o impulso da cólera, Inocêncio IV quis punir Roberto Grosseteste, mas seus conselheiros o dissuadiram: seria um escândalo para toda a Cristandade. 

Conclusão 

Como se viu, é na medida de sua conformidade com a
Altar de São Pedro e São Paulo
na Abadia de Melk (Áustria)
Tradição católica
— que transmite o Depósito da Fé — que os atos do Magistério da Igreja podem ter um valor de inerrância, quer se trate do Magistério supremo, solene, quer do Magistério ordinário. Os casos aduzidos mostram bem que o Soberano Pontífice, o Papa, não é impecável, nem pode erigir-se em proprietário supremo da Religião. Ele é um administrador, (16) que há de se ater a determinar as normas no exercício de seu mandato. São Paulo as aponta: 

“Guardar o Depósito da Fé” (I Tim. 6,20); 
“Transmitir, antes de tudo, o que recebeu” (1 Cor. 15,3); 
“Edificar e não destruir” (2 Cor. 10,8); 
“Guardar as Tradições” (2 Tes. 2,14); 
“Manter-se afastado de todo irmão que vive na desordem sem seguir a tradição recebida” (2 Tes. 3,6); 
“Mostrar-se fiel” (1 Cor. 4,1-2). 

A razão é que os Bispos e o Papa, sucessores dos Apóstolos e do Príncipe dos Apóstolos, São Pedro, têm uma missão determinada pela constituição divina da Igreja. Pois esta deve conduzir os homens a Deus, a fim de que eles se entreguem ao Criador sem reservas... A Igreja não pode jamais perder de vista esta finalidade estritamente religiosa, sobrenatural.(17) E a maneira como a Igreja realiza esta sua finalidade sobrenatural é indicada pela mesma Revelação. Daí a obrigação de seguir a Tradição, segundo a frase de São Paulo aos Gálatas, aplicada aos Bispos por Paulo VI: “Se eu ou um anjo do Céu vos evangelizar diversamente do que vos foi evangelizado, que seja anátema (1,8)”.(18)
________________
Notas 
1. Vaticano I, Const. Pastor Aeternus. 
2. São Pio X, Const. Apost. Promulgandi, de 29 de setembro de 1908. 
3. Gregório XVI, Il trionfo della Santa Sede, Veneza, 1838. 
4. R. Aubert, Va. I, col. Hist. des Conciles, Docum. nº 12, Paris, 1964, pp. 292-298. 
5. D. Nau, OSB, Le Magistère pontifical ordinaire, lieu teologique, Solesmes, 1956, Club du Livre Civique, 1962. 
6. Ibidem. 
7. Const. Apost. Magnificentissimus, A.A.S. 42. 1950, p. 757. 
8. Vaticano I, Const. Dogm. Pastor Aeternus, 18 de julho de 1870. 
9. São Vicente de Lérins, Commonitorium, 2, 5, in Kirch. Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Antique, 742. 
10. Marquês de la Franquerie, L’infallibilité pontificale, le Syllabus, La condamnation du Modernisme et la crise actuelle de l’Église, Chiré-en-Montreuil, 1973, p. 35. 
11. Denziguer-Schmetzer, Enchiridion Symbolorum et Definitionum, n° 980. 
12. Ludovico Pastor, Storia dei Papi, Desclé de Brouwer, vol. IV, p. 418. 
13. Suma Teológica, 2.2, q. 104, a.5. 
14. Mangenot Vaccant e Michel Amant, Dictionaire de Théologie Catholique, vol. 14, coluna 1918 e ss. 
15. Christian Order, vol. 16, n° 12, dezembro de 1975. art. Robert Grosseteste: Pillar of the Papacy. colunas 722-723. 
16. I Cor 4, 1-2. 
17. Pio XII, Alocução de 6 de março de 1956. 
18. Exortação por ocasião do primeiro lustro após o encerramento do Concílio.

16 de outubro de 2013

Um bebê, uma mãe e uma cena comovedora!

  

Observem a reação de um bebê, que nasceu surdo, logo após o médico ter implantado um aparelho auditivo na criancinha.

Que imensa felicidade manifesta ao ouvir a voz de sua mãe! Esse sorriso e esse olhar não há ouro que pague. Entretanto, tem "gente" que defende o aborto para casos de bebês que eventualmente venham a nascer com alguma enfermidade!

Será que assistindo a essa gravação os abortistas se comoveriam? Ou perderam eles toda sensibilidade que normalmente desperta a cena do bebê sorrindo para sua mãe?

13 de outubro de 2013

Ainda sobre o evento (esdrúxulo) ocorrido na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte



O Cel. Paes de Lira comenta o simpósio na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte, no qual pessoas com ideias radicalmente opostas à da Igreja Católica foram convidadas a expor suas ideologias — por exemplo, em matéria de aborto. O oposto, certamente, jamais ocorreria: num simpósio anti-católico os organizadores convidarem católicos autênticos para exporem suas ideias... Por quê dar voz e vez a adversários para denegrirem a Igreja Católica?! 


O ilustre coronel comenta também a estranheza que tem causado nas fileiras católicas certas declarações do Papa Francisco. Comentários que Paes de Lira expõe com todo respeito, mas sem deixar de mostrar o quanto tais declarações, entrevistas etc., estão deixando os próprios católicos muito preocupados e perplexos.

12 de outubro de 2013

“Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus” (São Lucas, XVIII, 16)


Neste glorioso dia de nossa Rainha e Padroeira, Nossa Senhora Aparecida, comemora-se também o “Dia das Crianças”. Assim, o Blog da Família presta sua homenagem aos pequeninos, pedindo à Santíssima Virgem que proteja sob seu manto protetor todas nossas crianças — hoje, mais do que nunca, ameaçadas por tantos fatores de corrupção, televisiva ou não, que as rondam noite e dia a fim de arrancar-lhes a inocência. 

Sempre vale a pena relembrar as severas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo a respeito daqueles que tentam como que roubar das crianças a inocência infantil: “Quem escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor fora que lhe pendurassem ao pescoço uma dessas mós de moinho que só um jumento é capaz de mover e fosse, com ela, submergido no fundo do mar” (São Mateus XVIII, 6). 

Na linha da inocência dos pequeninos, hoje recebi um vídeo, que abaixo compartilho com os leitores de nosso blog. Apesar de alguns senões da gravação, lembra muito da inocência primaveril. Trata-se de uma apresentação da encantadora menina norte-americana, Jackie Evancho, com sua voz angelical.

9 de outubro de 2013

PERPLEXIDADES


Paulo Roberto Campos 

Nestes últimos dias tenho sido “bombardeado” por perguntas
de amigos (alguns nem tanto assim...) questionando-me sobre o que penso a respeito das recentes declarações do Papa Francisco — feitas de modo geral à mídia, mas sobretudo nas entrevistas concedidas à revista italiana “La Civiltà Cattolica”(1), em 19-9-13, e ao diário “La Repubblica”(2), em 1º-10-13 — e a confusão que elas vêm causando nos meios católicos. 

Para alguns tenho respondido que a mídia tem dado muito destaque a tais declarações; que estas foram feitas na condição de um particular, mas que a mídia as tem publicando como se fossem em nome da Igreja e representando o seu pensamento. Tal equivoco tem provocado desnorteamento nas fileiras católicas, uma vez que muitos não discernem que um Papa só fala em nome da Igreja quando faz algum pronunciamento oficial ex cathedra e seguindo uma série de condições.


Pelo que tenho lido — de modo especial em fóruns de leitores — as referidas declarações têm causado muita perplexidade nos católicos e muita satisfação em indivíduos declaradamente anticatólicos. Apenas um exemplo: O movimento abortista Pro-Choice women everywhere esta espalhando cartazes, como este da foto ao lado, com os dizeres: “Caro Papa Francisco, Obrigado”. 

Aos meus questionadores tenho dito também que precisaria de tempo para maturar o assunto antes de emitir alguma opinião segura. Entretanto, nas ocasiões em que as perplexidades nos assaltam, aconselho que tenhamos plena confiança na promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo: “As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja”. Christus vencit, Christus regnat, Christus imperat (“Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera”).

Ontem, relendo algumas das perplexitantes declarações do Romano Pontífice e comentários sobre elas, encontrei um artigo que, imagino, poderia esclarecer alguma coisa. É de autoria do Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa (de Anápolis – GO) e foi publicado no site “Capela Santa Maria das Vitórias” 
(http://santamariadasvitorias.org/nao-existe-um-deus-catolico/). O ilustre sacerdote trata apenas de duas declarações, mas transcrevo aqui seu artigo com a esperança de poder auxiliar em algo os meus indagadores, amigos ou não... 

Não existe um Deus Católico? 

Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa 

Confesso que fiquei perplexo lendo esta frase ontem: “Não existe um Deus católico.” 

Embora a expressão “Deus católico” seja insólita, negá-la no contexto em que foi negada tem consequências desastrosas. Realmente. 

O Antigo Testamento está repleto da expressão o Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, atestando que o Deus vivo e verdadeiro se revelava ao povo eleito, depositário de suas promessas e ensinamentos, e se distinguia dos ídolos das falsas religiões que aterrorizavam os povos pagãos. 

Completando-se com a encarnação do Verbo de Deus a Revelação Divina, a qual se encerra com a morte do último apóstolo, e sendo a Igreja Católica a depositária de tal revelação, dizer que não se crê em um “Deus Católico” parece-me favorecer a heresia monolátrica, isto é, a crença em um deus único, concebido pela mente humana, distinto do Deus Uno e Trino, que se revelou, encarnou, fundou a Igreja Católica para perpetuar sua obra de salvação do mundo. 

Dizer “não existe um Deus Católico”, no ambiente atual de ecumenismo maçônico e diálogo interreligioso sem fronteiras, só contribui para a demolição da fé católica e reforça a marcha do mundo contemporâneo rumo ao deísmo, ao panteísmo, à gnose universal. Afirmar “não existe um Deus Católico” é um convite dirigido aos “irmãos” pedreiros livres e aos “homens de boa vontade” para trabalharem todos juntos na fundação de uma nova religião de uma nova era da humanidade, em que o homem será a sua própria lei. 

A infelicidade de tal afirmação cresce ainda mais quando se tem presente que nos dias de hoje o Deus da Metafísica, o Ser Absoluto, o primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira incausada, o Ato Puro dos estudiosos da Ontologia, que serve de base para uma exposição racional do mistério da Revelação Divina, desapareceu completamente da cultura contemporânea. De modo que negar o “Deus Católico” não significa ceder lugar ao Ser Absoluto na mente dos homens de hoje, mas sim ceder lugar à “energia cósmica” que alguns imaginam como um demiurgo. 

Acresce que na mesma entrevista o bispo de Roma disse que “cada um tem a sua própria concepção de bem e mal e deve escolher seguir o bem e combater o mal como concebe .” Ora, isto equivale a proclamar a soberania absoluta da consciência individual, que já não terá sua autoridade e legitimidade à proporção em que aplica fielmente a lei de Deus na direção da vida humana. 

Sinceramente, estou convencido de que a chave para entender o drama dos nossos tempos, não está tanto em meditar as promessas de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, quanto na meditação da passagem do Evangelho segundo Lucas: “Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?" (Lc. 18, 8). Sim, as portas do inferno não prevalecerão, mas os homens maus têm um poder enorme de corromper a fé e desfigurar a Igreja e reduzi-la a frangalhos. 

Se se dispensa um “Deus Católico”, se cada um pode seguir o bem como o concebe, será necessária a Igreja para a salvação? No máximo, será um auxílio para aqueles que querem construir uma utopia de um mundo novo, de um mundo melhor de liberdade, igualdade e fraternidade. Em tal perspectiva, que restará da Igreja? Restarão grupos esparsos de homens que conservam a fé imutável no Deus Uno e Trino. 

Que Deus tenha misericórdia de nós. As tentações são muitas. Que Nossa Senhora das Vitórias, neste mês do Rosário, esmague as esquadras do modernismo, como em Lepanto esmagou o inimigo infiel. 
Anápolis, 2 de outubro de 2013. 
Festa dos Santos Anjos Custódios. 
______________ 
1. www.repubblica.it 
2. http://www.laciviltacattolica.it/it/

8 de outubro de 2013

Rio de Janeiro — Marcha por um Brasil sem Aborto


Edson Carlos de Oliveira 

A 1ª Caminhada em Defesa da Vida, por um Brasil sem Aborto, no Rio de Janeiro, ocorreu no dia 5 p.p., contando com aproximadamente 2 mil participantes. Iniciada na praça em frente à igreja da Candelária, encerrou-se no Largo da Carioca. Ocasião em que personalidades civis e religiosas, como Dom Orani Tempesta, incentivaram os presentes à luta contra a legalização do aborto no Brasil.

Com seus estandartes e sua fanfarra, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira participou da manifestação anti-aborto portando num andor uma bela imagem de Nossa Senhora de Fátima [fotos abaixo. Click nas imagens para ampliá-las]. Os cooperadores do Instituto levaram também um grande faixa com os dizeres: "A força dos maus está na fraqueza dos bons" — Lutar contra o aborto sem hesitação: Eis a chave da Vitória!”

O evento teve como objetivo fazer na capital fluminense uma manifestação contra o aborto, em defesa do nascituro — agora especialmente ameaçado pela recente aprovação, pelo governo Dilma Rousseff, de uma lei que favorece ainda mais prática abortiva. 

4 de outubro de 2013

Pluralismo seletivo: “Jesus dialogou com Satanás” (!), mas a FAJE não dá a palavra aos Católicos.


Estivemos em Belo Horizonte, onde a abortista Roseli Fischman fez seu proselitismo laicista na FAJE. Apresentamos os nossos argumentos à Coordenação da FAJE sobre a falácia dos eufemismos e como os inimigos da Igreja estão agindo por dentro, com sofisticação semântica, para semear o joio por dentro da instituição. Ao final, dissemos: viemos aqui para não pecar por omissão e afirmar a nossa fidelidade ao Magistério da Igreja. Não foram autorizadas fotos nem filmagens do evento. Mas estivemos lá  afirmando com veemência  o valor do Evangelho da Vida. 

Por Hermes Rodrigues Nery (*)

Após a leitura do artigo do Pedro Anísio de Alcântara, fizemos uma pesquisa do histórico da Profª. Roseli Fischman e realmente constatamos que ela colabora com o CLADEM, que segundo ela própria define como “uma articulação plural de organização e pessoas da sociedade civil latino americana e caribenha em defesa e promoção dos direitos humanos a uma educação pública, laica e gratuita para todos”. A Profª Roseli Fischman costuma fazer seu proselitismo laicista para justificar o direito à autonomia individual e os demais direitos decorrentes dessa premissa laicista, como os direitos das mulheres acima do direito dos pais em educar seus filhos, os direitos sexuais e reprodutivos, inclusive o direito ao aborto, etc. 

Sugerimos então que houvesse uma mobilização de e-mails e telefonemas, especialmente para evitar que a exposição da Prof.ª Roseli Fischman, que, segundo Pedro Anísio de Alcântara, “faz parte do Grupo de Estudos sobre o Aborto (GEA), que conta com o apoio do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e seu foco é capilarizar a discussão do tema do aborto sob o prisma da Saúde Pública e retirá-lo da esfera do crime. Entre seus participantes o GEA declara outras organizações, como por exemplo, as Católicas pelo Direito de Decidir e o Ipas Brasil, que possuem a mesma finalidade, além do Ministério da Saúde e da Secretaria de Política para as Mulheres. Para alcançar seu fim o GEA produz novos materiais e estimula a difusão de informação e dados de pesquisas através de entrevistas e matérias nos veículos de comunicação do Brasil e no mundo e realiza seminários, colóquios e encontros com mais parceiros nessa iniciativa. Tudo isso para descriminalizar o aborto. 

Para se ter ideia da importância do GEA, alguns dos seus membros e o próprio grupo tiveram importância na discussão e julgamento favorável ao aborto de fetos anencéfalos pelo STF na ADPF 54. Pró-aborto, a Dra. Roseli realizou nos anos de 2007 e 2008 o projeto “Ensino Religioso em Escolas Públicas: legislação e normas e seu impacto sobre a cidadania e os direitos sexuais e reprodutivos”. Tal projeto teve como financiadores as Católicas pelo Direito de Decidir e apoio financeiro da MacArthur Foundation (ambas abortistas) com consultoria do GEA. Em 2009, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a Dra. Roseli Fischmann, contrária ao acordo entre o Brasil e o Estado do Vaticano, defendeu a sua inconstitucionalidade e seus perigos. Tendo ela mesma, por conta desta ocasião, pedido a viagem de representante(s) da virulenta ATEA Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos para Brasília.” 

Não conseguindo audiência com Dom Walmor, arcebispo de Belo Horizonte, para lhe falar sobre o histórico de militância abortista e anticatólica da prof.ª Roseli Fischman, conversei por telefone com o Reitor da FAJE, Pe. Vitório, destacando os vários documentos pontifícios que primam por afirmar a identidade católica nas instituições acadêmicas católicas, e dizendo que acolher a Prof.ª Fischman naquela instituição acadêmica católica e jesuíta é alargar o relativismo ainda mais, em detrimento do Magistério da Igreja, esse sim, que deveria ser priorizado. Ao que o Pe. Vitório disse que, em nome do pluralismo, aceita dialogar com o diferente, inclusive com os inimigos da Igreja, aludindo que Jesus dialogou com Satanás. Vindo uma declaração desta de um padre e reitor de uma instituição católica, foi chocante. E concluiu dizendo que já havia falado com Dom Walmor, e de que garantiria, sim, o direito da Prof.ª Fischman falar na FAJE sobre a laicidade do Estado, em nome do pluralismo. Diante da negativa de cancelamento, sugerimos então um debate com a Prof.ª Fischman, para refutar suas posições laicistas e anticatólicas, e solicitei ao Pe. Berardo Graz e Pe. Pedro Stepien que ligassem para ver essa possibilidade. 

Fui então, representando a Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, na manhã do dia 3 de outubro, até a FAJE, com o objetivo de ao menos fazer uma fala em defesa do Magistério da Igreja, nesse contexto. Mas ao chegar à FAJE, com uma pequena comissão pró-vida formada por Adonias, Nina, Marta Ceravolo e esposo, não tivemos autorização de fazer uso da palavra, nem de fotografar nem de filmar o que quer que fosse, e Pe. Vitório delegou ao Pe. Álvaro Pimentel (que nos deu boa acolhida) que se reunisse conosco em uma sala, junto com a Assessora de Imprensa da FAJE. 

Pe. Álvaro Pimentel disse que a FAJE não estava realizando evento pró-aborto, mesmo eu ter explicado que a tática dos inimigos da Igreja é utilizar-se de eufemismos (lembrei a ele o Léxicon publicado pela CNBB), assim como acontece no Congresso Nacional com os Projetos de Lei, a exemplo do PLC 03/2013), o termo “aborto” não é mencionado, mas trata-se na realidade de uma estratégia semântica. A Prof.ª Roseli Fischman faz a defesa do direito à autonomia individual e das mulheres ao aborto quando discorre sobre as premissas do laicismo, a exemplo do que já escreveu em seus textos e em suas demais abordagens e exposições. O Pe. Álvaro disse que para entrar na palestra dela, tínhamos que ter feito a inscrição para o simpósio, procedimento este que ficou a cargo de Pe. Pedro. Para corroborar a posição de militante anticatólica da Prof.ª Roseli, sugerimos então disponibilizar o vídeo da sua palestra, ao que ele nos disse que a palestra dela não tinha autorização para ser fotografada nem filmada. Pe. Álvaro Pimentel afirmou que conhecia a posição divergente da Prof.ª Roseli Fischman em relação ao Magistério da Igreja, mas que todos os professores e especialistas que lá participaram do simpósio eram de conhecimento de Dom Walmor e demais bispos, bem como do próprio Vaticano. E que a proposta do seminário era justamente esta: trazer especialistas que pensam diferente do Magistério da Igreja, para que os alunos possam fazer o discernimento. Insistiu na tese de que é preciso dialogar com o inimigo, lembrando que Jesus disse que é preciso amar nossos inimigos. Perguntou-me se eu tinha titulação acadêmica. Ao que respondi que sou especialista em Bioética, pela PUC-RJ, em curso promovido pela CNBB e Vaticano (Pontifícia Academia para a Vida). Disse ainda que ficou horrorizado com os mais de mil compartilhamentos pelo facebook só de uma página chamada “Santa Igreja”, e dos comentários dos internautas, o que tudo isso será objeto de providências posteriores, sugerindo inclusive, em nome da correção fraterna, reconsiderações apropriadas. Disse a ele, com ênfase, de que o seguimento a Jesus Cristo (a missionariedade e discipulado) requer fidelidade ao Magistério da Igreja, exigindo muitas vezes o deserto e a cruz, e que diante do holocausto silencioso que vitima hoje milhões de crianças privadas ao direito à vida, atenderemos o clamor feito por João Paulo II, na Evangelium Vitae, de afirmar a cultura da vida, mesmo em meio a tantas hostilidades contra a vida, a família e a fé católica. 

Cordialmente, em Cristo e Maria! 
_________________
(*)Prof. Hermes Rodrigues Nery e comissão formada por Adonias Martins de Souza, Nina Viana, Marta Maria Ceravolo Pelypec e esposo.