27 de julho de 2016

FRANÇA — Sacrílego e bárbaro atentado do terrorismo islâmico: sacerdote católico é degolado


Paulo Roberto Campos

Na manhã de ontem, 26 de julho, dois muçulmanos degolaram o Padre Jacques Hamel, de 84 anos [foto ao lado].


Armados com facas, os sequazes de Maomé, enquanto o sacerdote celebrava a Missa, invadiram a Igreja em Saint-Etienne-du-Rouvray (no Norte da França), gritando “Allah Akbar” (Alá é Grande) e louvores ao “Estado Islâmico”. Eles tomaram como reféns alguns assistentes da missa matinal, entre os quais duas freiras, e com suma crueldade e covardia, obrigando o sacerdote ajoelhar-se diante deles, e ali mesmo o degolaram. Ademais, feriram gravemente um dos paroquianos. Uma religiosa, irmã Danielle, conseguiu fugir e chamou a polícia, que cercou a Igreja e abateu os dois terroristas. 

O “Estado Islâmico” já assumiu a autoria de mais este cruel atentado na França, confirmando que os terroristas eram “dois de nossos soldados”. 

O sacerdote degolado mantinha relações cordiais com os muçulmanos da cidade, a ponto de há 16 anos ter oferecido um terreno para a construção da mesquita local... É bem o caso de recordar o dito espanhol: “Cria cuervos que te sacarán los ojos” (“Criem corvos, e eles te arrancarão os olhos”...). 

Enquanto alguns chefes de Estado europeus abrem indiscriminadamente suas fronteiras para a entrada de “imigrantes” maometanos, estes vão se estabelecendo e sendo aliciados e preparados por seus chefes religiosos para perpetrarem atentados terroristas visando colocar a Europa de joelhos e dominá-la. Sempre alentando o projeto de aniquilação da Cristandade europeia, por meio de uma espécie de gigantesca contra-cruzada pela destruição da Cruz Cristo e a implantação do Crescente de Maomé! 
Ao fundo, a Igreja em Saint-Etienne-du-Rouvray, onde o idoso sacerdote francês foi degolado pelos muçulmanos

Segundo a Agência de Notícias “Zenit”, o Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, difundiu uma nota à imprensa na qual lamenta o fato. Sem denunciar o islamismo, escreve: “Sigamos a situação e esperemos mais informações para compreender melhor o que aconteceu”

A fim de se “compreender melhor o que aconteceu”, seria bem o momento de relembrar ao porta-voz da Santa Sé a ameaça a Roma proferida em 1962 por Gamal Abdel Nasser (presidente do Egito entre 1954 a 1970): “O Crescente arrastou a Cruz na lama... Só uma cavalgada muçulmana é que nos poderá restituir a glória de outrora. Essa glória não será reconquistada senão quando os cavaleiros de Alá tiverem pisoteado São Pedro de Roma e Notre Dame de Paris”. (“Nouvelles de Chrétienté”, Nº. 362, de 13-9-62). 

Conviria também relembrar que, quando no século XVI a Europa esteve prestes a ser invadida por mar pelos maometanos, o Papa São Pio V conclamou os príncipes europeus a se unirem numa frente comum contra o invasor. Reuniu uma pequena esquadra, que entregou ao comando de Dom João d’Áustria, pedindo-lhe que partisse logo ao encontro do inimigo. No dia 7 de outubro de 1571 deu-se a célebre Batalha de Lepanto, travada no golfo do mesmo nome. Dom João d’Áustria mandou hastear o estandarte oferecido pelo Papa e bradou: “Aqui venceremos ou morremos”, e deu a ordem de batalha contra os seguidores de Maomé. 
Quadro "A Batalha de Lepanto", travada no dia 7 de outubro de 1571. A vitória da esquadra católica impediu a invasão maometana na Europa

Os primeiros embates marítimos foram favoráveis aos muçulmanos, que, formados em meia-lua, desfecharam violenta carga. Os católicos, com o terço ao pescoço, prontos a dar a vida por Deus e tirar a dos infiéis, respondiam aos ataques com o maior vigor possível. Por fim, através de um surpreendente auxílio da Santíssima Virgem aos cristãos, a esquadra muçulmana bateu-se em retirada. Os infiéis perderam 224 navios (130 capturados e mais de 90 afundados ou incendiados), quase 9.000 maometanos foram capturados e 25.000 morreram, enquanto as perdas católicas foram bem menores: 8.000 homens e apenas 17 galeras perdidas. 

Com essa memorável vitória católica em Lepanto, a Europa viu-se livre da dominação islâmica naqueles idos. (Cfr. William Thomas Walsh, Felipe II, Espasa-Calpe, Madrid, 1951, p. 575).


E em nossos dias? Os europeus assistirão de braços cruzados a nova tentativa de domínio do glorioso Velho Mundo? Permitirão que o perigo maometano se agigante em tais proporções que depois não adiantará fazer mais nada? 

No ano passado, após um dos atentados do terrorismo islâmico em Paris, Aboubakar Shekau, líder do grupo muçulmano Boko Haram, declarou “Estamos muito felizes com o que aconteceu no centro da França. Oh, franceses, vocês que seguem a religião da democracia, entre vocês e nós a inimizade é eterna”.

Um ano antes dessa patética declaração, Dom Amel Nona, Arcebispo de Mosul  — terceira maior cidade do Iraque , após de relatar as atrocidades praticadas pelos maometanos em sua região, como abuso de meninas, incêndios de igrejas e casas, escravidão de mulheres que viram seus maridos serem degolados etc., afirmou: “Nossos sofrimentos de hoje são um prelúdio daqueles que também vós, europeus e cristãos ocidentais, padecereis no futuro próximo, se não reagirdes a tempo”. 

Quantas cabeças ainda precisarão rolar na Europa para que as autoridades tomem providências sérias e não fiquem mais nesse blábláblá “politicamente correto”, como a repetição do "mantra" de que o “islamismo é uma religião de paz”? Ou ainda disparates como este do primeiro ministro francês Manuel Valls, que em 15 de julho último — no dia seguinte ao terrível atentado terrorista islâmico em Nice, que atropelou centenas de pessoas e matou quase 100 — declarou: “Entramos em uma nova era. E a França terá que conviver com o terrorismo.” 

Ou seja, “conviver com o terrorismo”, significa que deveremos continuar nos levantando da cama todos os dias nos perguntando: “Onde foi hoje o atentado do terrorismo islâmico?”. “Quantos morreram?” — Isto até que acordemos banhados em sangue ou voando pelos ares num dos atentados?!

25 de julho de 2016

Vida conjugal, planejamento familiar e o funesto envelhecimento da população

Enquanto a população europeia envelhece, carrinhos de bebê aguardam por crianças...

No mesmo sentido da pergunta abaixo, recebi uma sugestão de tratar neste blog dessa questão, ressaltado o grave problema do "planejamento familiar", pois é um tema muito comum em debates entre casais até mesmo entre casais católicos. Julgo que a resposta dada pelo Monsenhor José Luiz Villac e publicada na revista Catolicismo, (edição Nº 786, junho/2016), responde a questão de um modo brilhante. Confira.

PerguntaApreciei muitíssimo a reportagem de Catolicismo sobre a “Resistência à Islamização da Europa”. Gostaria de apresentar-lhe uma questão: os casais europeus têm pouquíssimos filhos. Os do Islã, ao contrário, os têm inúmeros. Em pouco tempo eles serão maioria na Europa. Que desastre! Isso não acarreta para os casais católicos obrigações morais suplementares? 

Resposta — A questão da missivista não podia ser mais atual e oportuna, não somente para a Europa, mas para todos os países de maioria cristã, especialmente os do mundo desenvolvido, onde as taxas de fertilidade por mulher em idade de ter filhos ficaram abaixo do mínimo necessário para que o número de habitantes não diminua, com o consequente envelhecimento da população. 

Na década de 1960, com base em relatórios infundados e alarmistas, propagou-se a falácia malthusiana da “explosão demográfica”, ou seja, que a população estava crescendo mais do que a produção de alimentos, tornando-se indispensável reduzir drasticamente o crescimento populacional.

A pressão midiática e política em favor da redução das taxas de natalidade influenciou hierarcas da própria Igreja Católica, a ponto de no Concílio Vaticano II um dos presidentes da assembleia conciliar, o cardeal Léon-Joseph Suenens, dizer que cabia à Igreja “responder ao problema imenso posto pela explosão demográfica atual e pela superpopulação em muitas regiões da Terra”. Ele sugeriu então que a comissão vaticana que estava estudando a liceidade do uso da pílula contraceptiva se colocasse “na linha do progresso científico”, concluindo em tom dramático: “Sigamos o progresso da ciência. Conjuro-vos, Irmãos. Evitemos um novo ‘processo Galileu’. Basta um para a Igreja”. Não é de assombrar que o cardeal Suenens, conhecido como progressista extremado, tenha sido depois um dos principais opositores da encíclica Humanae vitae, na qual o Papa Paulo VI reiterou o ensino multissecular da Igreja condenando os métodos artificiais de contracepção. 

Pecaminosa cumplicidade e envelhecimento da população
Nem a “revolução verde” e o conseguinte aumento exponencial de alimentos, nem a publicação da encíclica Humanae vitae conseguiram, porém, frear a propaganda a favor da redução drástica da natalidade, a qual passou a ser justificada em nome da preservação do meio ambiente e do desejo de maior autonomia e felicidade dos casais. Com a cumplicidade de confessores e de episcopados inteiros, milhões de mulheres católicas passaram ou continuaram a usar a pílula contraceptiva como meio de evitar a gravidez. 

Paradoxalmente, os próprios defensores da Humanae vitae contribuíram de modo involuntário para a difusão da mentalidade contraceptiva, ao insistirem no fato de que aquilo que a encíclica proibia não era o controle dos nascimentos, mas apenas utilizar um método artificial imoral, quando na realidade os casais podiam obter o mesmo resultado pelo emprego dos métodos naturais de planejamento familiar. Em muitas dioceses dirigidas por bispos conservadores favoráveis à Humanae vitae, chegou a ocorrer de os cursos de preparação para o casamento se transformarem em aulas de planejamento natural da família, contribuindo para dar solidez à ideia de que a “paternidade responsável” consiste em ter poucos filhos.

Tudo somado, nos países europeus de tradição católica houve uma queda dramática da natalidade, sendo Portugal o infeliz campeão dessa corrida rumo ao despovoamento, com uma diminuição, entre 1960 e 2014, de 3,20 para 1,33 filhos por mulher em idade fértil, sendo que o mínimo para manter a população existente é de 2,1. 

Diz-se que a natureza nunca perdoa. Os efeitos catastróficos da queda da natalidade agora começam a aparecer com o envelhecimento da população, a falência dos sistemas de previdência social, a pressão migratória de populações para os países mais desenvolvidos onde não há mais braços jovens etc. O que, por sua vez, recoloca o problema moral do verdadeiro conceito de “paternidade responsável”, que não consiste em evitar os filhos, mas em tê-los numerosos.

“Do Criador vem a própria instituição do matrimônio”
Cumpre inicialmente relembrar que o casamento não se reduz a um contrato privado entre um homem e uma mulher que se amam e querem viver juntos. Ele é uma instituição fundada na Lei natural, um ato público verdadeiro e real que dá origem a uma sociedade, a qual é, por sua vez, a célula-mater da sociedade: a família. “O matrimônio, na verdade, não é um acontecimento que diz respeito só a quem se casa. Por sua própria natureza é também um fato social, que compromete os esposos ante a sociedade” (João Paulo II, Familiaris Consortio, nº 68). 


Mais ainda, como lembra Pio XI na encíclica Casti connubi [foto ao lado], “a união santa do verdadeiro casamento é constituída, ao mesmo tempo, pela vontade divina e humana: de Deus vem a própria instituição do matrimônio, os seus fins, as suas leis e os seus bens”, o primeiro dos quais é, precisamente, a progenitura: “Entre os benefícios do matrimônio ocupa, portanto, o primeiro lugar, a prole”, ensina Pio XI na mesma encíclica. E acrescenta: “Na verdade, o próprio Criador do gênero humano que, na sua bondade, quis servir-se dos homens como ministros seus para a propagação da vida, assim o ensinou quando, no paraíso terrestre, instituindo o matrimônio, disse aos nossos primeiros pais e, neles, a todos os futuros esposos: ‘crescei e multiplicai-vos e enchei a Terra’”

Tanto mais quanto o casamento tem como fim primário não somente gerar novos cidadãos para a sociedade, mas também novos eleitos para o Céu: “Precisamente neste papel de colaboradores de Deus, que transmite a sua imagem à nova criatura, está a grandeza dos cônjuges, dispostos a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles aumenta cada dia mais e enriquece a sua família’” (João Paulo II, Evangelium Vitae, n° 43). Por isso é que Jesus Cristo o elevou à dignidade de sacramento, dotando-o de conteúdo e de meios espirituais sobrenaturais, inserindo-o desse modo no plano da salvação. Donde resultou maior responsabilidade aos cônjuges, “pois, em primeiro lugar, atribuiu-se à sociedade conjugal uma finalidade mais nobre e mais excelsa que antes, porque determinou-se que sua missão não consistia apenas na propagação do gênero humano, mas também na geração da prole da Igreja, ‘concidadãos dos santos e membros da família de Deus’ (Ef 2, 19), isto é, a procriação e a educação do povo para o culto e a religião do verdadeiro Deus e de Cristo nosso Salvador” (Leão XIII, Arcanum Divinae Sapientiae, n° 8).

O real sentido da vida conjugal
De onde resulta que a verdadeira e principal responsabilidade de um casal consiste em ter filhos, e não em evitá-los: “Esta paternidade-maternidade é chamada ‘responsável’ nos documentos recentes da Igreja, a fim de destacar a consciência e a generosidade dos esposos sobre a sua missão de transmitir a vida, que possui em si um valor de eternidade, e para revocar o seu papel de educadores”, declara o Vademecum para os confessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal, preparado pelo Conselho Pontifício para a Família e assinado pelo seu então presidente, cardeal Alfonso López Trujillo. 


Em vista do que foi dito, explica-se que Pio XII [foto ao lado], num discurso dirigido às famílias numerosas, tenha chegado a dizer que “convém colocar entre as aberrações mais daninhas da sociedade moderna paganizante a opinião de alguns que ousam qualificar a fecundidade dos casais como ‘doença social’, da qual as sociedades afetadas deveriam tratar de curar-se por qualquer meio” (Discurso de 20-1-1958). 

Pelo contrário, as famílias numerosas constituem uma grande riqueza para as nações e, em particular, para a Igreja, porquanto é sabido que elas são também um viveiro de vocações sacerdotais e religiosas. 

Em vista disso, mesmo que seja lícito a um casal limitar o uso do matrimônio aos períodos de esterilidade natural da mulher, é preciso que os motivos sejam graves e proporcionados. Pois, como ensinou Pio XII, “o contrato matrimonial, que concede aos esposos o direito de satisfazerem a inclinação da natureza, estabelece-os num estado de vida, o estado conjugal. Ora, aos esposos que fazem uso deste, praticando o ato específico do seu estado, a natureza e o Criador impõem a função de prover à conservação do gênero humano. Tal é a prestação característica que faz o valor próprio do estado deles, o bonum prolis. Na ordem estabelecida por Deus, o indivíduo e a sociedade, o povo e o Estado, a própria Igreja, dependem, para a sua existência, do matrimônio fecundo. Por consequência, abraçar o estado de matrimônio, usar constantemente da faculdade que lhe é própria e que só é lícita em seus limites, e, por outra parte, subtrair-se sempre e deliberadamente, sem grave motivo, ao seu dever principal, seria um pecado contra o próprio sentido da vida conjugal” (Discurso sobre o apostolado das parteiras, de 29-10-1951). 
Famílias inteiras de sírios buscam refúgio na Europa. Seus carrinhos de bebê já chegam ocupados...

O Islã conquistará a Europa pela “guerra dos berços”? 
Pio XII dava-se bem conta de que, na vida matrimonial, mesmo quando não está em jogo o pecado grave, a consciência bem formada impõe amiúde a alternativa “heroísmo ou pecado”. Por isso, ele já dizia numa alocução a jovens casais de 6 de dezembro de 1939: “Os deveres da castidade conjugal vos são conhecidos. Eles exigem verdadeira coragem, por vezes até heroica, e uma filial confiança na Providência: mas a graça do sacramento vos foi dada precisamente para assumir esses deveres”

Compreende-se que o pelo menos inoportuno comentário feito pelo Papa Francisco no voo de retorno das Filipinas tenha causado espécie nos heroicos pais de famílias numerosas: “Alguns acreditam que — desculpem a palavra — para ser bons católicos devemos ser como coelhos. Não. Paternidade responsável” — afirmou. Poucos dias depois, numa homilia na residência Santa Marta, ele se viu obrigado a retificar tal assertiva, criticando “estes matrimônios que não querem os filhos, que desejam permanecer sem fecundidade. Esta cultura do bem-estar de dez anos atrás convenceu-nos: ‘É melhor não ter filhos! É melhor! Assim tu podes ir conhecer o mundo, de férias, podes ter uma casa no campo, tu estás tranquilo’”. Ele acrescentou, num discurso pronunciado pouco depois para a Associação Nacional das Famílias Numerosas: “Cada família é célula da sociedade, mas a família numerosa é uma célula mais rica, mais vital, e o Estado tem todo o interesse em investir nela!” E ressaltou um dos aspectos desse benefício: “os filhos e as filhas de uma família numerosa são mais capazes de comunhão fraterna desde a primeira infância. Num mundo muitas vezes marcado pelo egoísmo, a família numerosa é uma escola de solidariedade e de partilha; e destas atitudes se beneficia toda a sociedade”

Mas o maior grau desse benefício é gerar um povo “para o culto e a religião do verdadeiro Deus e de Cristo nosso Salvador”.

Cumpre relembrá-lo, antes que na Europa o Islã vença a “guerra dos berços”...

16 de julho de 2016

A Amoris laetitia abre os braços da Igreja e da sociedade para a demolição programada do casamento e da família

PRONUNCIAMENTO DO 
INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA 

A Amoris laetitia abre os braços da Igreja e da sociedade para a demolição programada do casamento e da família 



Apelo aos Prelados e aos movimentos leigos silenciosos 


Papa Francisco assinando a Amoris Laetitia
Face às sérias reservas e objeções apresentadas por personalidades da Igreja e do laicato católico à Exortação Apostólica Amoris Laetitia (AL) [foto ao lado], e dada a crescente confusão que esse documento vem semeando nos espíritos em temas de moral familiar, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira julgou seu dever se pronunciar publicamente a respeito. No dia 16 de julho, festa de Nossa Senhora do Carmo, ele emitiu uma declaração pública sob o título acima. 

Integrado por leigos católicos, o Instituto tem-se empenhado desde sua fundação na defesa da instituição da família, alvo central da ofensiva revolucionária no século XXI.

O documento lembra os quase 900 mil fiéis do mundo todo, incluindo Cardeais, Arcebispos e Bispos, que enviaram ao Papa Francisco uma “Filial Súplica”, na qual Lhe pediam respeitosamente que não permitisse “a relativização do próprio ensinamento de Jesus Cristo” no tocante à família. Após a publicação de Amoris laetitia esse escol da população católica mundial só experimentou o gosto amargo da decepção. O Papa Francisco, tão pródigo em receber e afagar acatólicos e até anticatólicos do mundo todo, não teve uma palavra para esses fiéis. 

Grave ruptura com o ensinamento de Igreja – Relativização do Decálogo 

Caberia esperar que um documento pontifício dedicado à família advertisse sobre essa gravíssima ameaça. Mas, pelo contrário, na AL se encontra uma indissimulada mudança fundamental na prática pastoral relativa aos chamados “casais irregulares”, e em particular os divorciados ditos “recasados”, permitindo que sejam absolvidos na confissão e recebam a Sagrada Comunhão, com a única ressalva de que seja “caso a caso”, conforme o “discernimento” do sacerdote. 

Autorizadas figuras da Igreja e do laicato têm denunciado que tal mudança não é apenas disciplinar, mas implica grave ruptura com o ensinamento tradicional da Igreja. E pedem, portanto, a revogação da AL, pedido com o qual o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira se solidariza fundamentadamente. Isso se dá enquanto eclesiásticos progressistas aplaudem calorosamente a AL. O cardeal Cristoph Schönborn, ao apresentar oficialmente o texto, regozijou-se porque este “supera” a divisão — que ele julga “artificial”— entre uniões ditas regulares e irregulares, ou seja, lícitas e pecaminosas. 

De fato, conforme às circunstâncias, o concubinato e o adultério (a AL evita as palavras, mas o sentido é claro) poderiam até constituir para a AL uma “doação” a Deus!; e nessas situações de pecado haveria inclusive “sinais de amor” que “refletem de algum modo o amor de Deus”. Com essa linguagem insidiosa, não apenas perdem sua validade prática o 6° e o 9° Mandamentos (“Não cometerás adultério” e “Não desejarás a mulher do teu próximo”), mas é toda a ordem natural e divina sintetizada no Decálogo que fica relativizada, em nome de uma apreciação subjetiva das circunstâncias.

Um novo modelo familiar anti-hierárquico

Gravemente questionável é também o modelo “comunitário” de família proposto pela AL, que abunda em alusões negativistas e depreciativas à família tradicional baseada na autoridade paterna, enquanto apresenta a figura idílica de um modelo familiar igualitário, que despoja o marido de sua função de chefe de família e dilui o princípio de autoridade.

Ademais, desvaloriza o preceito de São Paulo, “as mulheres sejam submissas a seus maridos” (Ef. 5: 22), aduzindo ser uma mera “roupagem cultural” da época. E nisto se contrapõe à doutrina católica magistralmente exposta na Encíclica Casti Connubi de Pio XI [quadro ao lado], que ensina ser imutável a ordem hierárquica na família. 
A instituição da família é um dos fundamentos da civilização cristã.
“Em nenhum tempo e lugar é lícito subverter ou prejudicar a estrutura essencial da própria família e a sua lei firmemente estabelecida por Deus” (Papa Pio XI)

Evolucionismo antropológico – inversão da ordem nas finalidades do casamento 

Tanto a relativização do adultério quanto o novo paradigma familiar preconizado pela AL se justificariam por uma suposta “mudança antropológica” que estaria a requerer “soluções mais inculturadas”, conforme o grau evolutivo dessa mudança em cada lugar. O cardeal Kasper, principal inspirador da AL, traz exemplos dessa “inculturação”, nos quais o sentimentalismo e o subjetivismo erigem-se em critério para admitir divorciados “recasados” aos Sacramentos. 

Afastando-se do modelo tradicional e institucional do matrimônio e aproximando-se do modelo individualista contemporâneo, no qual o vínculo matrimonial fica reduzido a um mero reconhecimento social e legal do afeto mútuo do casal, a AL consagra uma radical inversão na hierarquia dos fins do matrimônio, ao sustentar que este seria “em primeiro lugar”, uma “comunidade da vida e do amor conjugal”. Esta afirmação contradiz frontalmente o ensinamento magisterial da Igreja compendiado na Casti Connubi, de que o casamento “tem por fim primeiro e íntimo, não o aperfeiçoamento pessoal dos esposos, mas sim a procriação e a educação da nova vida. Os outros fins, embora sendo igualmente queridos pela natureza, [...] lhe são essencialmente subordinados”.

Nesse sentido, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira faz notar que, ao se rebaixar a finalidade procriativa do casamento a um segundo lugar e dar a primazia ao “compromisso público de amor”, até os indivíduos LGBT poderão alegar que eles também se “amam”, e reclamar assim um status matrimonial!

Legítima e respeitosa resistência – Apelo aos Prelados silenciosos 

São Pedro ensina que é preciso 
“obedecer a Deus antes que aos homens” (At. 5, 29)
Em conclusão de sua pormenorizada e documentada análise, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira assinala que, ante um texto tão próprio a desorientar os fiéis e a diluir neles a adesão aos ensinamentos morais da Igreja, “por um dever de consciência e com todo o respeito que merecem a investidura e a pessoa do Sumo Pontífice, vemo-nos obrigados a externar publicamente os graves reparos que o documento suscita em nós”, e “dizer lealmente ao Papa Francisco que não podemos em consciência aceitar os enunciados, a disciplina sacramental e as propostas pastorais da Amoris laetitia que vimos questionando aqui”.

Ao dar este passo de “legítima e respeitosa resistência” aos pontos da AL conflitantes com a doutrina da Igreja, os membros do Instituto em seu documento afirmam que se sentem amparados no ensinamento de São Pedro, de que é preciso “obedecer a Deus antes que aos homens” (At. 5, 29); bem como no exemplo de São Paulo, que “resistiu em face” ao mesmo São Pedro (Gal. 2, 11), precisamente a propósito de erros disciplinares que este propunha; e também pelo Direito Canônico, que no cânon 212 § 3 consagra o direito, e por vezes o até dever, de expor respeitosamente a discordância da Autoridade eclesiástica. E acrescenta o documento: “Pela similitude de situações, adotamos aqui a afirmação do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na conclusão de seu famoso manifesto de Resistência à política de distensão do Vaticano com os governos comunistas: ‘Esta explicação se impunha. Ela tem o caráter de uma legítima defesa de nossas consciências de católicos’”

O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira conclui instando aos Prelados e movimentos até aqui silenciosos a “dissipar a confusão doutrinária reinante”, e reafirmar “publicamente e por todos os meios ao seu alcance, os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santa Igreja” sobre a natureza divina e irreformável do matrimônio, seu caráter indissolúvel, a primazia da procriação sobre as demais finalidades do casamento, a estrutura hierárquica da família, e “a impossibilidade de se dar a absolvição sacramental e a Sagrada Comunhão aos que se obstinam em viver publicamente numa situação objetiva de pecado”

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Recomentamos a leitura da íntegra do documento em: Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

14 de julho de 2016

Brasil: pais e mães de família lutam para “despetetizar” a educação


Gonzalo Guimaraens – Destaque Internacional (*)

No Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT), nascido em ambientes da “Teologia da Libertação” e defensor da revolução cubana, aproveitou-se de uma longa década no Poder para assegurar que o sistema educacional permanecesse em suas mãos, mesmo na eventualidade de perder o governo.

Em direção oposta, pais e mães de família de todo o País estão se organizando para conseguir o apoio de deputados federais e estaduais, e proclamam que chegou a hora de uma profunda “despetetização” da educação no Brasil, ou seja, que é necessário desmontar essa máquina de proselitismo criada pelo PT. 

Quem destampou a panela desse drama, e mostrou os descontentamentos subterrâneos existentes em todo o território brasileiro, não foi nenhum meio de comunicação nacional, mas sim o diário “El País”, de Madrid (edição para o Brasil), com uma série de artigos e reportagens referidos nos links no final desta matéria, cuja leitura recomendamos. 


“O professor de minha filha comparou Che Guevara com São Francisco de Assis”, lembra com indignação o advogado Miguel Nagib.[foto“As pessoas desejam deformar as cabeças das crianças, associando as duas coisas, levando-as a dizer que Che Guevara é um santo”, afirmou o entrevistado. O episódio foi o suficiente para que o advogado Nagib criasse em 2004, junto com outros pais de família, a ONG “Escola Sem Partido”, que atualmente tem uma presença ativa na Câmara dos Deputados em Brasília, e em Câmaras Estaduais da Federação. Suas ideias, análises e propostas encontram-se no site: www.escolasempartido.org. 


A tarefa não é fácil, mas o ânimo e a dedicação desses pais de família no Brasil são notáveis, como se pode constatar na reportagem do “El País”. Em direção contrária, sindicatos de professores de orientação esquerdista estão exercendo pressão muito forte para que nada seja “despetetizado”. Trata-se de uma árdua luta contra a “hegemonia” anticultural das esquerdas, e de um exemplo não apenas para o Brasil, mas para toda a América Latina. 

Na educação, as esquerdas brasileiras fundamentam sua ação de deformação principalmente em dois pilares ideológicos: a ideologia marxista gramsciana e a chamada “Ideologia de Gênero”, que ensina aos jovens e às crianças a ideia de que eles podem escolher livremente seu gênero, independentemente do sexo masculino ou feminino. 

Segundo esses pais e mães, isso é algo oposto aos princípios cristãos, contunde o senso comum e contraria a ordem natural. Ademais, programas escolares que defendem a “Ideologia de Gênero”, do ponto de vista jurídico “transgridem princípios constitucionais” e acordos interamericanos de direitos humanos, os quais afirmam que “os pais têm o direito de que seus filhos recebam educação religiosa e moral de acordo com suas respectivas convicções”, esclarece Nagib.


Esses pais e mães de família no Brasil vêm travando há anos uma luta moral e de princípios, mas os grandes meios de comunicação praticamente os ignoram. Pareceu-nos necessário contribuir para torná-los conhecidos também nos países de língua espanhola, bem como nas comunidades hispânicas dos Estados Unidos, onde existem movimentos semelhantes ao da “Escola Sem Partido”, propiciando compartilhar assim as interessantes informações contidas nas reportagens do “El País”.

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Links do “El País” (edição brasileira): 
> “A educação brasileira no centro de una guerra ideológica” http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/22/politica/1466631380_123983.html
> “O professor de minha filha comparou Che Guevara com São Francisco de Assis” http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/23/politica/1466654550_367696.html 
> “Católicos e evangélicos em cruzada contra a palavra gênero” http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/11/politica/1434059650_940148.html 
Sobre o tema, alguns sites recomendados
Escola Sem Partido: www.escolasempartido.org
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira: www.ipco.org.br 

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(*) Notas de “Destaque Internacional” — uma visão “politicamente incorreta” feita a partir da América do Sul. Documento de trabalho (11 de julho de 2016). Este texto, traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode ser divulgado livremente.

10 de julho de 2016

Outros motivos do “Tchau Querida” do Reino Unido para a União Europeia


Paulo Roberto Campos

O fato de o Reino Unido ter abandonado a União Europeia (UE) não reside meramente em questões econômicas, como certa mídia tem trombeteado em sua visão superficial dos acontecimentos. Outros fatores mais profundos — como o verdadeiro perigo da “invasão islâmica” na Inglaterra; do desvanecimento de sua gloriosa História; do desbotamento de seu rico passado; de suas “pompas e circunstâncias” etc. — pesaram mais significativamente na resolução da maioria dos britânicos em “pular fora” do barco furado da União Europeia, conduzido (ditatorialmente) pelos arrogantes burocratas de Bruxelas.


Parece não deixar dúvidas que o “Tchau Querida” à UE — com a vitória do Brexit, que surpreendeu os europeístas de plantão, devido ao resultado do plebiscito do último dia 23 no Reino Unido — se deve ao receio dos britânicos de perder algo de suas belas e gloriosas tradições.


O grave perigo de uma unificação forçada e artificial de povos tão desiguais, com costumes tão diversificados quanto seus sabores e aromas, suas músicas e seus trajes típicos, foi motivo para que Plinio Corrêa de Oliveira, já durante a II Guerra Mundial, alertasse a opinião pública para catastróficas consequências de um projeto de reorganização das nações em blocos superpoderosos, dirigidos por supergovernos, como se começava a cogitar numa “nova ordem mundial” para o pós-guerra. 

A respeito, recomendo dois memoráveis artigos do Prof. Plinio (links no final deste post) sobre o mesmo problema de se constituir blocos de países fundidos numa federação, regida por tratados impositivos, com leis únicas, moeda única etc. — conforme as convenções da atual UE. 

A data da publicação de ambos artigos(*) é bem remota, dista de 73 anos da referida vitória. Entretanto, já naquele longínquo passado, o autor previra o que assistimos em nossos dias: a realização, com a “União Europeia”, de um projeto antinatural que debilitaria o poder das nações, quase conseguindo extingui-las com a formação de grandes federações de países, com a finalidade de se estabelecer no futuro a tal “ordem nova”, no sentido de se constituir uma só nação universal — uma “República Universal” dirigida por um só “governo mundial”. 


Naquela época, o autor advertira: “Para o progresso da humanidade, para a grandeza espiritual e material do gênero humano, é preciso que os homens vivam unidos na variedade. Cada povo tem a sua índole nacional, sua psicologia coletiva, suas tradições próprias. Este fato, que é de comezinha observação, não existe sem um sábio e amoroso desígnio da Providência Divina [...]. Como teria sido mais pobre a civilização ocidental e cristã, se todos os povos europeus tivessem tido a mesma arte, a mesma cultura, a mesma mentalidade!”.


Entretanto é essa pobreza cultural que os burocratas de Bruxelas por meio de decretos vem estabelecendo para cada nação dentro de seu intuito de absorver os regionalismos, frutos de séculos da Civilização Cristã no Velho Continente. Isto com o pretexto de se criar uma “Europa sem fronteiras”, e que, de tal “globalização”, adviria abundância de bens materiais.

Continua o Prof. Plinio: “Que produções intelectuais e culturais terá um homem assim prisioneiro de um mundo que parece mais feito contra ele do que para ele? Provavelmente a mesma que teria uma sardinha enlatada viva. [...] E quando o homem vive oprimido, contrafeito, subjugado pela ditadura cultural do cosmopolitismo, ele mingua, definha, se deforma e finalmente decai.”

Plinio Corrêa de Oliveira mostra ainda que o projeto da criação de grandes federações detentoras de soberanias nacionais, desorganizando a ordem natural das nações, poderia contribuir para a eclosão de nova grande guerra mundial mais catastrófica que as duas anteriores. Ele expõe também a respeito da necessidade de uma reforma do mundo, mas que antes implica na reforma moral do homem. Ademais, ele indicou a solução: o retorno da humanidade “às rotas gloriosas da civilização cristã católica”

Mas também o recente “NÃO” à UE revelou uma represália da parcela mais conservadora das famílias do Império Britânico devido às pressões de Bruxelas em forçar a aprovação do “casamento” homossexual, da adoção de crianças por parte desses “pares”, da prática da eutanásia e outras imposições atentatórias aos valores tradicionais inerentes à instituição familiar. 


Assim, vemos com bons olhos a reviravolta surpreendente com a vitória do Brexit e que, depois da retirada do Reino Unido, surgem manifestações pela saída da França (Frexit), saída da Suécia (Swexit), saída da Espanha (Espxit)...

E para se evitar tal diáspora é que a mídia esquerdista vem gastando rios de tinta... e também de lágrimas... 
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(**)http://www.pliniocorreadeoliveira.info/LEG_430509_ReformemosoHomem.htm#.V4A96NKU3IU

2 de julho de 2016

O Brexit e o ocaso do Ocidente


Roberto de Mattei (*)
O referendo inglês de 23 de junho (Brexit) chancela o colapso definitivo de um mito: o sonho de uma “Europa sem fronteiras”, construída sobre a ruína dos Estados nacionais. 

O projeto europeísta, lançado com o Tratado de Maastricht de 1992, continha as sementes de sua autodissolução. Era inteiramente ilusório pretender realizar uma união econômica e monetária antes de uma união política. Ou, pior ainda, imaginar servir-se da integração monetária para impor a unificação política. Porém, tanto e ainda mais ilusório era o projeto de chegar a uma unidade política extirpando as raízes espirituais que unem os homens em torno de um destino comum. 

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, aprovada pelo Conselho Europeu em Nice, em dezembro de 2000, não só elimina todas as referências às raízes religiosas da Europa como constitui uma negação visceral da ordem natural cristã. O seu artigo 21º, introduzindo a proibição de discriminação relativa à “orientação sexual”, contém, em germe, a legalização do pseudo-casamento sexual e a criminalização da “homofobia”.

O projeto de “Constituição”, elaborado entre 2002 e 2003 pela Convenção sobre o futuro da Europa, foi rejeitado por dois referendos populares, um na França, em 29 de maio de 2005, e o outro nos Países Baixos, três dias depois. Mas os eurocratas não desistiram. Após dois anos de “reflexão”, em 13 de dezembro de 2007, foi aprovado pelos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia o Tratado de Lisboa, que deveria ser ratificado exclusivamente por via parlamentar. A Irlanda, o único país obrigado a expressar-se por meio de referendo, rejeitou o Tratado em 13 de junho de 2008. Mas como era necessária a unanimidade dos Estados signatários, foi imposto aos irlandeses um novo referendo, que graças à fortíssima pressão econômica e midiática, deu finalmente resultado positivo.

Na sua curta vida, a União Europeia, incapaz de definir uma política externa e de segurança comum, se transformou numa tribuna ideológica, produzindo resoluções e diretrizes para compelir os governos nacionais a se livrarem dos valores familiares e tradicionais. Dentro da UE, a Grã-Bretanha, em vez de pisar no freio para retardar o plano franco-alemão de um “superestado europeu”, pisou pelo contrário no acelerador, a fim de difundir em escala europeia as suas “conquistas civis”, do aborto à eutanásia, das adoções homossexuais às manipulações genéticas. Essa deriva moral foi acompanhada na Inglaterra por uma embriaguez multicultural, culminando com a eleição, em maio de 2016, do primeiro prefeito muçulmano de Londres, Sadiq Khan.

Mas já em 2009, o então prefeito conservador, Boris Johnson, convidou todos os londrinos a participar, pelo menos por um dia, do jejum do Ramadã e entrar em uma mesquita ao pôr do sol. Mais recentemente, o primeiro-ministro David Cameron, polemizando com o candidato à presidência americana Donald Trump, definiu-se como “orgulhoso por representar um dos países multirraciais, multirreligiosos e multiétnicos mais bem-sucedidos do mundo” (“HuffPost Politics”, 15 de maio, 2016). 

O Brexit representa certamente um sobressalto de ufania de um povo com longa história e antiga tradição. Mas a identidade e a liberdade de um povo se fundam no respeito à lei divina e natural, e nenhum gesto político pode restaurar a liberdade de um país que a perde por causa de sua decadência moral.

O “não” à União Europeia foi um protesto contra a arrogância de uma oligarquia que pretende decidir, sem o povo e contra o povo, quais são os interesses do povo. Mas os poderes fortes que impõem as regras burocráticas de Bruxelas são os mesmos que desfazem as regras morais do Ocidente. Quem aceita a ditadura LGBT, perde o direito de reivindicar o próprio Independence Day, porquanto já renunciou à sua identidade. Quem renuncia a defender as fronteiras morais de uma nação, perde o direito de defender as suas fronteiras, porque já aceitou o conceito “líquido” da sociedade global. Sob este aspecto, o itinerário de autodissolução da Grã-Bretanha segue uma dinâmica que o Brexit não pôde parar, e da qual pode vir de fato a constituir mais uma etapa.

A Escócia já ameaça com um novo referendo para deixar o Reino Unido, seguida da Irlanda do Norte. Além disso, quando a Rainha, que tem 90 anos, deixar o trono, não é de se excluir que alguns países da Commonwealth declarem a independência. Alguém disse que a rainha Elizabeth foi coroada imperatriz do British Empire e talvez morra à frente de uma Little England. Mas este itinerário de desunião política tem como resultado final a republicanização da Inglaterra.

O ano de 2017 marca o terceiro centenário da fundação da Grande Loja de Londres, a mãe da Maçonaria moderna. Mas a Maçonaria, que nos séculos XVIII e XIX se serviu da Inglaterra protestante e deísta para difundir no mundo o seu programa revolucionário, parece hoje determinada a afundar a monarquia britânica, na qual vê um dos últimos símbolos ainda sobreviventes da ordem medieval. 

Após o Brexit, cenários de desintegração podem também abrir-se no resto da Europa. Na Grécia, pela explosão da crise econômica e social; na França, onde as periferias urbanas estão ameaçadas por uma guerra civil jihadista; na Itália, pelas consequências de uma irrefreável invasão migratória; na Europa Oriental, onde Putin está pronto para aproveitar a fraqueza das instituições europeias para assumir o controle do território oriental da Ucrânia e exercer sua pressão militar sobre os Estados Bálticos. 

O general britânico Alexander Richard Shirreff, ex-vice-comandante da OTAN de 2011 a 2014, previu, na forma de romance (2017 War with Russia. An Urgent Warning From Senior Military Command — “Guerra em 2017 com a Russia. Um aviso urgente do Alto Comando Militar” — Coronet, Londres 2016), a explosão de uma guerra nuclear entre a Rússia e o Ocidente, em maio de 2017, uma data que para os católicos lembra algo. Como podemos nos esquecer, no primeiro centenário de Fátima, das palavras de Nossa Senhora, segundo as quais muitas nações serão aniquiladas e a Rússia será o instrumento do qual Deus se servirá para punir a humanidade impenitente?

Diante dessas perspectivas, os próprios partidos conservadores europeus estão divididos. Se Marine Le Pen na França, Geert Wilders na Holanda e Matteo Salvini na Itália, exigem a saída de seus países da União Europeia e confiam em Putin, bem diversas são as posições do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e do líder polonês Jaroslaw Kaczynski, que veem na UE e na NATO uma barreira contra o expansionismo russo. 

Em 1917 foi publicado Der Untergang des Abendlandes (“O declínio do Ocidente”), de Oswald Spengler (1880-1936). Cem anos mais tarde, a profecia do escritor alemão parece começar a se cumprir. “Ocidente”, mais do que um espaço geográfico, é o nome de uma civilização. Esta civilização é a Civilização Cristã, herdeira da cultura clássica greco-romana que a partir da Europa se difundiu para as Américas e para as ramificações longínquas da Ásia e África. Ele teve seu batismo na noite da aparição a São Paulo, quando Deus deu ao Apóstolo a ordem de virar as costas para a Ásia a fim de “ir para a Macedônia” anunciar a Boa Nova (Atos 16, 6-10). Roma foi o local do martírio de São Pedro e São Paulo e o centro da civilização que nascia.

Spengler, convencido do inexorável declínio do Ocidente, lembra uma frase de Sêneca: Ducunt volentem fata, nolentem trahunt (“O destino guia os que lhe obedecem e arrasta consigo os que se lhe opõem”). Mas à visão relativista e determinista de Spengler nós opomos aquela de Santo Agostinho que, enquanto os bárbaros sitiavam Hippona, anunciava a vitória da Cidade de Deus na História, sempre guiada pela Divina Providência. O homem é artífice de seu próprio destino e, com a ajuda de Deus, o ocaso de uma civilização pode transformar-se na aurora de uma ressurreição. As nações são mortais, mas Deus não morre, e a Igreja não tem ocaso. 
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(*) Fonte: “Corrispondenza Romana”, 29-6-16. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.