29 de novembro de 2023

Elegância na Coroa Real, sublimidade na Coroa Imperial


✅  Plinio Corrêa de Oliveira


N
o museu do Louvre, em Paris, está exposta uma coroa que foi do Rei Luís XV. Tem toda a elegância de formas das coisas tipicamente francesas. Gosto da elegância das formas porque ela é o primeiro estágio no caminho da sublimidade [foto ao lado]. 

Aquela coroa é completamente recamada de brilhantes, de maneira que, exceto no aro que cinge a fronte do rei, nela não se vê senão brilhantes. Uma joia magnífica! 

Entretanto, nenhuma outra coroa no mundo determinou em meu espírito a impressão que produziu uma coroa mandada fazer na Boêmia por um imperador do Sacro-Império, da Casa d’Áustria [foto no topo e abaixo]. 


Rodolfo II mandou fazê-la com seu próprio dinheiro. Não pertencendo, portanto, ao Estado, mas ao imperador romano germânico. Depois, passou a ser a coroa dos imperadores austríacos. 

É uma coroa de tal maneira sublime e magnífica que, de todas as coroas do mundo, aquela é, de longe, a que mais arrebata o meu espírito. 

Quando eu soube que numa exposição em Sevilha, no pavilhão da Áustria, havia uma estampa magnífica dessa coroa, pedi que me conseguissem uma fotografia. Guardei-a dentro de uma espécie de oratório que há no meu escritório, para poder vê-la de vez em quando. Esse meu entusiasmo vem do quê? — Da especial e peculiar sublimidade que aquela coroa tem. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 26 de março de 1939. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

27 de novembro de 2023

Magistral obra pela restauração da Cristandade


Lançado em outubro de 1993, “Nobreza e Elites Tradicionais Análogas”, derradeiro livro de Plinio Corrêa de Oliveira, completou 30 anos. Sobre ele, afirmou o célebre historiador francês Georges Bordonove: “Notável em todos os pontos, especialmente pela abundância e exatidão rigorosa da documentação, pela cultura universal do autor, pela solidez da argumentação e pela transparência do pensamento.” 

  Paulo Roberto Campos

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 875, Novembro/2023

“Quando ainda muito jovem, considerei enlevado as ruínas da Cristandade. A elas entreguei o meu coração; voltei as costas ao meu futuro, e fiz daquele passado carregado de bênçãos, o meu Porvir...”.

Este mesmo objetivo, delineado por Plinio Corrêa de Oliveira na adolescência, podemos constatar ao longo de toda sua vida. Exemplo eloquente disso foi seu último livro, redigido dois anos antes de seu falecimento, ocorrido em 3 de outubro de 1995.


Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e Nobreza romana
, é o título dessa obra toda voltada para reavivar os restos das “ruínas da Cristandade”, às quais o autor “entregou seu coração” a fim de reacender as brasas de um fogo que se extinguia de um “passado carregado de bênçãos”. Com esse revigoramento — de modo particular despertando o amor pelas belas tradições que estavam sendo postas de lado, e mesmo soterradas —, ele ansiava restaurar a “Civilização Cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal”, como ele mesmo a definiu.[1] Ou seja, uma civilização sacralizada, diametralmente oposta à “civilização” tribalista, fundamentalmente igualitária, vulgar e miserabilista, tão sonhada pela corrente comuno-progressista. Essa corrente, ligada umbilicalmente à Teologia da Libertação, é a mesma que hoje impõe os rumos ao Sínodo da Sinodalidade

Ela prega a “opção preferencial pelos pobres”, segundo a qual a Igreja deve estar ao lado do mito demagógico das “massas necessitadas”, do “povo oprimido” e “morrendo de fome”, desprezando as outras classes sociais. 

O livro rebate esse sofisma e comprova com uma lógica irretorquível que a Santa Igreja Católica sempre condenou a luta de classes e pregou a harmonia entre elas; sempre procurou fazer todo o bem aos mais necessitados sem abandonar as classes mais elevadas; pelo contrário, fez com estas últimas um apostolado que redunda em “grande vantagem para a concórdia social”

Missão de frutificar uma ordem cristã na vida pública 

O Prof. Plinio discorre a respeito da importância da supracitada “opção preferencial” e da excepcional missão da nobreza e das autênticas elites tradicionais como um enorme favor para todo o conjunto da sociedade.[2] 

“Muito se fala hoje do apostolado em benefício das massas e, como justo corolário, de uma ação preferencial em favor das suas necessidades materiais. Mas importa não ser unilateral em tal matéria, e jamais perder de vista a alta importância do apostolado sobre as elites e, através destas, sobre todo o corpo social; bem como, de modo correlato, de uma opção apostólica preferencial pelos nobres. De tal sorte que, com grande vantagem para a concórdia social, se complementem harmonicamente uma opção preferencial pelos pobres e uma opção preferencial pelos nobres, como por todas as elites análogas”.[3] 

Assim se exprime o Papa Pio XII: 

“Em si não é difícil manter no povo a Religião e os bons costumes, quando as classes altas o precedem com o seu bom exemplo e criam condições públicas que não tornem desmedidamente pesada a formação da vida cristã, mas a façam imitável e doce. Porventura não é essa a vossa função, diletos filhos e filhas, que pela nobreza das vossas famílias e pelos cargos que não raras vezes ocupais, pertenceis às classes dirigentes?

“A grande missão que vos toca, e convosco a não poucos outros — ou seja, de começar pela reforma ou aperfeiçoamento da vida particular, em vós mesmos e na vossa casa, e de vos esforçardes, cada um no seu lugar e do seu lado, por fazer surgir uma ordem cristã na vida pública — não permite dilação ou demora. 

“Missão esta nobilíssima e rica de promessas num momento em que, como reação contra o materialismo devastador e aviltante, vem-se revelando nas massas uma nova sede de valores espirituais e, contra a incredulidade, uma pronunciadíssima receptividade nas almas para as coisas religiosas. Manifestações que permitem esperar ter sido afinal superado definitivamente o ponto mais profundo da decadência espiritual. 

“Cabe-vos, pois, com a luz e a atração do bom exemplo, não menos do que com as obras, elevando-vos acima de qualquer mediocridade, a glória de colaborar para que aquelas iniciativas e aspirações de bem religioso e social sejam conduzidas a feliz cumprimento.”[4] 

Necessidade de beneficiar o operariado, mas também as elites 

Já no primeiro capítulo do livro, o autor pondera sobre a necessidade de que as ações em benefício da classe operária se conjuguem com uma simétrica atuação a favor das elites. Ele afirma: “Na nossa época, na qual tão necessária se tornou a opção preferencial pelos pobres, também se faz indispensável uma opção preferencial pelos nobres, desde que incluídas nesta expressão também outras elites tradicionais expostas ao risco de desaparecimento e dignas de apoio.”[5] 

Afirmação ratificada por este ensinamento de João Paulo II: “A Igreja faz sua a opção preferencial pelos pobres. Uma opção preferencial, note-se, não, portanto, uma opção exclusiva ou excludente, porque a mensagem da salvação é destinada a todos.”[6]

Conspiração para desdourar a missão da nobreza 

Se a ‘pandemia’ de espírito igualitário espalhada pelas três grandes Revoluções — a Protestante (1517), a Francesa (1789) e a Comunista (1917) — foi responsável pela ‘contaminação’ do igualitarismo em toda a sociedade, o medicamento eficaz contra a crise é o amor às desigualdades sacrais e antiliberais estabelecidas por Deus para a ordenação de uma sociedade hierárquica. 

Para macular esse plano divino, a classe nobiliárquica — que tinha outrora, com raras exceções, um comportamento exemplar consentâneo com sua dedicação ao bem comum — foi vítima de um gigantesco e multissecular complô visando demolir a hierarquia social e denegrir a missão da nobreza junto aos povos. 

Isso ocorreu principalmente com a Revolução Francesa, cujos chefes conspiraram para abolir os poderes da nobreza e denunciá-la como uma classe egoísta voltada para seus próprios interesses, quando a evidência histórica provava o contrário, ou seja, o empenho dos nobres em defender as populações e sua heroica dedicação ao bem comum.

Basta ver no mundo inteiro as ações da nobreza em favor dos menos favorecidos — por vezes até morrendo em defesa deles em campos de batalha — e, sobretudo na Europa, as imensas obras de caridade fundadas por nobres, como hospitais, bibliotecas, hospícios, asilos, colégios etc. 

Missão na esfera temporal, como a do clero na ordem espiritual 

O protestante Martinho Lutero
Nesse memorável livro, Plinio Corrêa de Oliveira reproduz as brilhantes alocuções do Papa Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana[7] (PNR), proferidas entre 1940 e 1958. Algumas delas esta revista já havia publicado no ano 1956 com comentários do autor, mas em Nobreza e elites tradicionais análogas ele amplia os comentários às alocuções e mostra que elas são de alcance perene e universal, não apenas para aqueles nobres romanos, mas para todas as camadas sociais; comenta, ilustra com fatos históricos e convida a classe nobiliárquica a cumprir sua missão de ser exemplo de escol para todo o corpo social. 

O autor defende a tese de que a nobreza e as elites tradicionais análogas[8] devem exercer, como no passado, essa grandiosa vocação, elevando todas as classes sociais. “O nobre era por excelência voltado para essa missão na esfera temporal, como ao clero incumbe sê-lo na ordem espiritual.”[9]  

Morte do Rei Luís XVI na guilhotina, durante a Revolução Francesa.

Se esse mandado fosse hoje revigorado e tanto a nobreza quanto as elites tradicionais influenciassem retamente a opinião pública, exercendo sobre ela uma pujante ação de presença através do bom exemplo próprio às pessoas de ilustre progênie, empenhando-se em aprimorar os costumes e a resistência moral, preservando a tradição como fator de progresso e defendendo a doutrina católica sobre a legitimidade das desigualdades sociais, todos viveriam numa autêntica harmonia e se eliminaria os fatores de desagregação que arruína as famílias e o mundo atual. 

Lenine arenga a massa contra a monarquia que durante séculos
governou a Rússia
No cumprimento dessa missão, cairia por terra a tese igualitária, a utopia revolucionária de uma sociedade proletária e sem classes, demagogicamente pregada pelos marxistas e pelo clero progressista contra as elites tradicionais. Assim, se dissiparia a difamação, pregada por eles, de que os nobres são parasitas, vivendo como ‘sanguessugas’ e explorando as camadas mais baixas da população. 

Para Plinio Corrêa de Oliveira, isso não passa de um slogan revolucionário que se repete sempre no mundo inteiro para procurar implicar a opinião pública contra a beleza da ordem hierárquica instituída pelo Divino Criador. 

A bênção de Deus protege todos os berços, mas não os nivelam 

O mito de que a igualdade social é um bem supremo é cabalmente desmentido pelo Prof. Plinio: 

“Outro fator de hostilidade contra as elites tradicionais está no preconceito revolucionário de que qualquer desigualdade de berço é contrária à justiça. Admite-se habitualmente que um homem possa destacar-se pelo seu mérito pessoal. Não se admite, porém, que o fato de proceder de uma estirpe ilustre seja para ele um título especial de honra e de influência.”[10]

A este respeito, ele cita precioso ensinamento do inesquecível Pontífice:

“As desigualdades sociais, inclusive as ligadas ao nascimento, são inevitáveis. A natureza benigna e a bênção de Deus à Humanidade iluminam e protegem os berços, osculam-nos, porém não os nivelam. Olhai para as sociedades mais inexoravelmente niveladas. Nenhum artifício jamais logrou ser tão eficaz a ponto de fazer com que o filho de um grande chefe, de um grande condutor de multidões, permanecesse em tudo no mesmo estado de um obscuro cidadão perdido no povo. 

“Mas se essas inelutáveis desigualdades podem parecer, do ponto de vista pagão, uma inflexível consequência do conflito entre forças sociais e da supremacia adquirida por alguns sobre outros segundo leis cegas que se supõe regerem a atividade humana, de maneira a consumar o triunfo de alguns e o sacrifício de outros; pelo contrário, uma mente instruída e educada de modo cristão não pode considerar tais desigualdades senão como disposição desejada por Deus, pela mesma razão que Ele quis as desigualdades no interior da família, e portanto destinadas a unir mais os homens entre si na viagem da vida presente para a pátria celeste, uns ajudando aos outros do mesmo modo que um pai ajuda a mãe e os filhos.”11 

Santa Isabel da Hungria, duquesa da Turíngia, lava e cura as feridas dos doentes da tinha — Bartolomé Esteban Murillo (1617–1682). Hospital da Santa Caridade, Sevilha. 

Fidelidade à tradição e exercício das virtudes religiosas e cívicas 

A profunda, onímoda e caótica crise que abalava a civilização no ano do lançamento de Nobreza e elites tradicionais análogas era muitíssimo mais grave do que aquela dos tempos do Pontificado de Pio XII (1939- 1958), transcorrido em parte durante a II Guerra Mundial.

O modus faciendi para enfrentar tão grave crise universal seria por meio de uma reação dessas classes sociais levando uma vida exemplar, esmerando as tradições familiares e, na sociedade temporal, defendendo os vestígios de civilização cristã ainda existentes em nosso século para, assim, impulsionar as tradições autênticas de cada povo. Desse modo, poder-se-ia esperar um soerguimento da humanidade em crise e um autêntico progresso rumo à restauração da Cristandade. 

Essa tese é defendida pelo autor no livro em apreço em sua conclusão, que reproduzimos no final desta matéria. Como um farol durante as borrascas, ele orienta o rumo a seguir em meio ao caos que conturba toda a vida religiosa e temporal do mundo hodierno. 

É o que também defende o Santo Papa Pio XII com suas palavras encorajadoras:

“Antes de tudo, deveis insistir numa conduta religiosa e moral irrepreensível, especialmente na família, e praticar uma sã austeridade de vida. Fazei com que as outras classes notem o patrimônio das virtudes e dos dons que vos são próprios, fruto de longas tradições familiares. Tais são a imperturbável fortaleza de ânimo, a fidelidade e a dedicação às causas mais dignas, a piedade terna e munificente para com os débeis e os pobres, o trato prudente e delicado nos negócios difíceis e graves, aquele prestígio pessoal, quase hereditário, nas famílias nobres, pelo qual se consegue persuadir sem oprimir, arrastar sem forçar, conquistar sem humilhar o ânimo do outro, mesmo dos adversários e rivais. 

“A utilização destes dons e o exercício das virtudes religiosas e cívicas são a resposta mais convincente aos preconceitos e às desconfianças, pois manifestam a última vitalidade do espírito, na qual tem origem qualquer vigor externo e a fecundidade das obras.”[12]  

O Prof. Plinio afirma em seu livro: “Homens dos nossos dias em número crescente voltam-se para ele [o nobre], a indagar com muda ansiedade se a nobreza saberá conservar esse impulso, e até ampliá-lo destemidamente, para assim ajudar a desviar o mundo do caos e das catástrofes em que vai submergindo. 

“Se o nobre de nosso século se conservar cônscio dessa missão e se, animado pela Fé e pelo amor a uma tradição bem entendida, tudo fizer para se desempenhar dela, alcançará uma vitória de grandeza não menor do que a dos seus antepassados quando contiveram os bárbaros, repeliram para além Mediterrâneo o Islã, e sob o mando de Godofredo de Bulhão derrubaram as portas de Jerusalém.”[13] 

Autêntico progresso não despreza o passado, é fiel à tradição 

Na obra, ocupam especial realce belas páginas consagradas à defesa da excelência da autêntica tradição, que não contraria o progresso, mas o aperfeiçoa; não deve ser desdenhada — como o faz certa mentalidade progressista e marxista —, mas conservada como uma rica herança espiritual, moral, cultural e social que segue aprimorando de geração em geração. Como amostragem, transcrevemos um trecho da lavra do Prof. Plinio: 

“O apreço a uma tradição é virtude raríssima nos nossos dias. De um lado, porque a ânsia de novidades, o desprezo pelo passado, são atitudes de alma que a Revolução14 tornou muito frequentes. De outro lado, porque os defensores da tradição a entendem por vezes de modo inteiramente falso. A tradição não é um mero valor histórico, nem um simples tema para variações de um saudosismo romântico. É ela um valor a ser entendido, não de modo exclusivamente arqueológico, mas como fator indispensável para a vida contemporânea.”[15] 

E o Papa Pio XII, depois de lamentar que alguns compreendem mal a palavra “tradição” — como se fosse apenas uma lembrança de algo que não mais existe, de algo que não tem importância na vida, mas apenas para se conservar num museu —, define o verdadeiro sentido e o valor da tradição. 

“Tradição é algo muito diverso dum simples apego a um passado já desaparecido; é justamente o contrário duma reação que desconfia de qualquer progresso sadio. Etimologicamente, o próprio vocábulo é sinônimo de caminho e de marcha para a frente — sinonímia e não identidade. Com efeito, enquanto o progresso indica somente o fato de caminhar para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um caminho para a frente, mas um caminho contínuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranquilo e vivaz, de acordo com as leis da vida, escapando à angustiosa alternativa si jeunesse savait, si vieillesse pouvait! [se a juventude soubesse, se a velhice pudesse]; semelhante àquele Senhor de Turenne,16 do qual foi dito: ‘Teve na sua mocidade toda a prudência duma idade avançada, e numa idade avançada todo o vigor da juventude’ (Fléchier, Oração fúnebre, 1676). 

“Na força da tradição, a juventude, iluminada e guiada pela experiência dos anciãos, avança com passo mais seguro, e a velhice transmite e entrega confiante o arado a mãos mais vigorosas, que continuam o sulco já iniciado. Como indica o seu nome, a tradição é um dom que passa de geração em geração; é a tocha que, a cada revezamento, um corredor põe na mão do outro, e confia-lhe sem que a corrida pare ou diminua de velocidade. Tradição e progresso reciprocamente se completam com tanta harmonia que, assim como a tradição sem o progresso se contradiria a si mesma, assim também o progresso sem a tradição seria um empreendimento temerário, um salto no escuro. 

“Não, não se trata de remar contra a corrente, de retroceder para as formas de vida e de ação de idades já passadas, mas sim de, tomando e seguindo o que o passado tem de melhor, caminhar ao encontro do porvir com o vigor imutável da juventude.”[17] 

O livro alcançou extraordinária repercussão internacional 

Esse último livro escrito por Plinio Corrêa de Oliveira — publicado em português, alemão, espanhol, francês, inglês e italiano e com lançamentos fulgurantes em cidades da Europa e dos EUA — teve excepcional repercussão em muitos países, recebendo louvores de eminentes personalidades, como, por exemplo, dos Cardeais Alfons Stickler, Bernardino Echeverría Ruiz, Mario Luigi Ciappi e Silvio Oddi. Outras personalidades, como os grandes teólogos Pe. Anastasio Gutiérrez, CMF, Pe. Raimondo Spiazzi, OP e Pe. Victorino Rodríguez y Rodríguez, OP também louvaram a magistral obra. 

Apresentação do livro em Roma
A ela, evidentemente, a mídia não poupou críticas. Até o jornal comunista L´Unità não passou em branco. Esse periódico italiano noticiou o lançamento da obra em Roma em dois artigos de sua edição de 3 de novembro de 1993. Num deles, assinado por Enrico Vaime, comenta o evento e a transmissão feita por TV italiana, assinalando com irritação que a aristocracia romana reapareceu “com um programa ornado pelas condessas, sobre um estandarte carmesim: Tradição, Família e Propriedade”

Lançamento do livro em Nova York 

O outro comentário, assinado por Stefano Dimichele, destaca declarações da Princesa Pallavicini, nas quais ela afirma que, para a sociedade atual, “a única salvação é o retorno aos valores verdadeiros”. Ao que o jornalista pergunta: “E quais seriam, Princesa?”, apresentando em seguida a resposta por ela dada: “Tradição, Família e Propriedade, naturalmente” — direta referência à entidade fundada no Brasil pelo autor de Nobreza e elites tradicionais análogas


Princesa Pallavicini 

A igualitária, sanguinária e anticatólica Revolução Francesa pretendeu denegrir de uma vez por todas a nobreza e tudo aquilo que fosse enobrecido ou tivesse algum tônus aristocrático — do mesmo modo como a Revolução Protestante pretendeu destruir a hierarquia e o nobre esplendor da Santa Igreja e a Revolução Comunista empenhou-se em destruir os restos da sacral desigualdade na sociedade temporal —, mas em nosso século, apesar de reinar o igualitarismo e a vulgaridade, a admiração pelas coisas nobres e quintessenciadas parece ressurgir das cinzas. Exemplo característico disso assistimos recentemente nos funerais da Rainha Elizabeth II e na coroação de seu filho, o Rei Charles III. Grandiosos eventos que despertaram não apenas nostalgia, mas grande admiração e emoção no mundo inteiro. A Revolução de 1789 guilhotinou os nobres, mas não conseguiu matar a imensa admiração por aquilo que é belo, nobre e elevado, como hoje podemos notar em todas as classes sociais. 

Coroação do Rei Charles III 

Sem dúvida, com seu livro Nobreza e elites tradicionais análogas,* Plinio Corrêa de Oliveira atingiu o olho do alvo, contribuindo imensamente para o soerguimento de uma autêntica nobreza de sangue e de alma, e um recrudescimento religioso, moral e cultural em todos os níveis da sociedade, o que, com o beneplácito de Deus, redundará na restauração da Cristandade. 

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Notas: 

1. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Artpress, São Paulo, 4ª ed., 1998, Cap. II, 1, p. 93. 

2. Por "autênticas elites sociais", o autor não considerava apenas os nobres, como historicamente se reconhece na nobreza europeia, mas a pessoas de todas as classes chamadas a exercer um papel de direção, sobretudo pela vida exemplar, em toda a sociedade. 

3. Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, Livraria Civilização Editora, Porto, 1993, Cap. VI, p. 100. 

4. Alocução ao Patriciado e à Nobreza romana (PNR) de 1943, pp. 360-361.

5. Nobreza e elites tradicionais, Cap. I, p. 27. 

6. Ad Patres Cardinales et Curieae Pontificalisque Domus Prelatos, imminente Nativitate Domini coram admissos, 21-12-84, Acta Apostolicae Sedis, Typis Polyglottis Vaticanis, 1985, vol. LXXVII, nº 5, p. 511. 

7. O Patriciado romano subdividia-se em duas categorias: a) Patrícios romanos, que descendiam daqueles que, na Idade Média, haviam ocupado cargos civis de governo na Cidade Pontifícia; b) Patrícios romanos conscritos, os quais pertenciam a alguma das 60 famílias que o Soberano Pontífice havia reconhecido como tais numa Bula Pontifícia especial, na qual eram citadas nominalmente. Constituíam o creme do Patriciado romano. A Nobreza romana também se subdividia em duas categorias: a) Os nobres que provinham dos feudatários, ou seja, das famílias que tinham recebido um feudo do Soberano Pontífice; b) Os nobres simples, cuja nobreza provinha da atribuição de um cargo na Corte ou então diretamente de uma concessão Pontifícia. Das alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, as de 1952 e 1958 compendiavam tudo quanto o Pontífice dissera nas anteriores. Em 1944 houve uma alocução extra, pronunciada em 11 de julho, na qual Pio XII agradeceu a famílias da Nobreza de Roma a oferta de uma generosa soma em dinheiro para ajuda aos necessitados. Entre 1953 e 1957, Pio XII não fez alocuções ao Patriciado e à Nobreza romana. Reatou-as, mais tarde, ao pronunciar uma alocução em janeiro de 1958. E faleceu no dia 9 de outubro desse ano. 

8. Como exemplo de formação de elites tradicionais análogas no Brasil, veja o Apêndice I (da Parte II do livro). O autor narra o desenvolvimento das elites aristocráticas “No Brasil Colônia, no Brasil Império e no Brasil República: gênese, desenvolvimento e ocaso da ‘Nobreza da terra’". 

9. Nobreza e elites tradicionais, Cap. VII, p. 137 

10. Op. cit., Cap. V, p. 76. 

11. PNR de 1943, p. 347. 

12. PNR de 1958, 709. 

13. Nobreza e elites tradicionais, Cap. VII, p. 138. 

14. O termo "Revolução" é usado no mesmo sentido que lhe é atribuído no ensaio Revolução e Contra-Revolução, do mesmo autor. Designa ele um movimento iniciado no século XV tendente a destruir a civilização cristã e implantar um estado de coisas diametralmente oposto. Constituem etapas desse processo a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa, o Comunismo nas suas múltiplas variações e na sua subtil metamorfose dos dias presentes. 

15. Nobreza e elites tradicionais, Cap. V, p. 74. 

16. Refere-se a Henrique Latour d'Auvergne, Visconde de Turenne, Marechal de França (1611-1675). 

17. PNR de 1944, pp. 178-180; cfr. Documentos VI. 

* Esta obra pode ser adquirida no site da Livraria Petrus: https://livrariapetrus.com.br/produto/nobreza-e-elites-tradicionais-analogas/ . Encontra-se também disponível integralmente na seção “Livros” do site www.pliniocorreadeoliveira.info.

26 de novembro de 2023

A Medalha Milagrosa

“AS GRAÇAS SERÃO ABUNDANTES PARA AS PESSOAS QUE A USAREM COM CONFIANÇA” 


Paulo Roberto Campos

Um grande acontecimento na História da Igreja com repercussão mundial foram as revelações da Santíssima Virgem a Santa Catarina Labouré no ano de 1830. Em particular a relativa à Medalha Milagrosa. [foto do verso e do reverso da medalha

Corpo incorrupto de Sta. Catarina Labouré
que se pode venerar na Capela da Rue du Bac
Santa Catarina Labouré (1806-1876) pertenceu à congregação religiosa Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, cujo convento se encontra no número 140 da Rue de Bac, em Paris. Foi na capela ali localizada que ela recebeu as revelações sobrenaturais. Endereço abençoadíssimo, que tive graça de visitar em junho de 2012 e que considero obrigatório para quem vai a Paris.

Foram diversas e extraordinárias revelações da Mãe de Deus à 
Nesta cadeira Nossa Senhora sentou-se
numa das aparições a Sta. Catarina Labouré
santa francesa, mas limitar-me-ei neste breve artigo à do dia 27 de novembro de 1830 (portanto, há exatos 193 anos)
. Depois de descrever pormenorizadamente a aparição daquele dia, Santa Catarina Labouré narrou: 
“Formou-se um quadro em torno da Santíssima Virgem, um pouco oval, onde havia, no alto do quadro, estas palavras: ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós’, escritas em letras de ouro. [...] Então uma voz se fez ouvir, que me disse: ‘Fazei cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança’”.

Pode-se afirmar que mais do que naquela época, a Medalha de Nossa Senhora das Graças — mais conhecida como Medalha Milagrosa, devido aos inúmeros e estupendos milagres operados por meio dela — é de suma relevância para nossos dias, perturbados por tantas crises. 

Ela representa uma graça especial concedida por Deus, como que um “salva-vidas”, para não afundarmos no caos atual. Realmente necessitamos de um milagre para obter a conversão da humanidade voltada quase que exclusivamente para os bens terrenos, olvidada que está dos indispensáveis bens espirituais. 

15 de novembro de 2023

Descalabro chinês, fruto do controle da natalidade

Prédios paralisados pelo colapso do setor imobiliário na China vermelha

A
economia da China ruma para o pior dos cenários devido ao longo controle demográfico, disse o Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman. 

O país carece de jovens trabalhadores e encara um horizonte de paralisia. 

Sua economia está desequilibrada, a demanda de consumo caiu muito e só sobrevivia pelo inchaço dirigista, agora colapsado, do setor imobiliário. 

O comunismo chinês desintegrou a coesão social e o regime autoritário não é capaz de pôr ordem no país sem recorrer à repressão.

10 de novembro de 2023

Na eventualidade de nova guerra mundial


Tendo em vista a guerra na Terra Santa, em que temos de um lado os EUA aliados dos israelenses, e de outro a Rússia aliada dos palestinos e dos movimentos terroristas Hamas, Hezbollah e Jihad islâmica, pareceu-nos oportuno transcrever trechos de um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em nossa edição de abril de 1951.


Inútil seria enumerar os muitos motivos que tornam iminente uma nova guerra mundial.

Não há pessoa de critério e responsabilidade que, fazendo planos para o futuro, não tome em consideração as modificações que uma possível guerra imporia à marcha regular de suas previsões. 

Esta provável guerra terá algumas notas preponderantes, que influirão em todos os seus outros aspectos. 

Terroristas do Hamas na Faixa de Gaza
Primeiramente, será mundial num sentido muito mais real e profundo do que o conflito de 14-18 ou mesmo o de 39-45. De um lado, os campos de operações militares serão muito mais numerosos. 

Todas estas circunstâncias exigirão uma participação militar e econômica muito mais efetiva, das próprias nações que não forem diretamente atacadas em seus cidadãos e seus territórios. O esforço de guerra mobilizará pois, de um modo ou de outro, os recursos do mundo inteiro. 

Em segundo lugar, esta guerra em que todas as nações talvez tomem parte, será principalmente uma guerra entre duas nações. Os russos e americanos de tal maneira se avantajam em força e poder sobre os respectivos aliados que a vitória de qualquer dos dois blocos não será senão o triunfo da nação-líder do bloco vencedor.

6 de novembro de 2023

OCIDENTE EM GUERRA

 


✅  Roberto de Mattei 

“Allah Akbar!” – “Alá é grande!” Este grito ressoou em todo o mundo por meio de vídeos documentando a violência de terroristas islâmicos contra mulheres, crianças, jovens de todas as nacionalidades, massacrados ou raptados [fotos abaixo] no dia 7 de outubro de 2023, enquanto uma avalanche de mísseis atingia Israel. A mesma invocação “Allah Akbar!” ressoou nos dias seguintes nas praças árabes e nas redes sociais ocidentais pró-islâmicas, para celebrar a agressão do Hamas contra Israel. Pouco importa que isto tenha ocorrido em território israelita e não em território europeu. O importante é que uma nova guerra foi declarada. 

O ataque ocorreu no alvorecer de um dia simbólico para o Ocidente — o aniversário da vitória de Lepanto em 7 de outubro de 1571 —, tal como o ataque às Torres Gémeas em 11 de setembro coincidiu com o aniversário da libertação de Viena dos turcos, ocorrida entre 11 e 12 de setembro de 1683. Dois acontecimentos emblemáticos que para o Islã devem ser vingados mediante a Jihad ou “guerra santa”, a doutrina que obriga cada muçulmano a estender ao mundo a sharia, lei religiosa e política de Alá. 

O Islã não é uma religião monolítica, mas todas as tendências dentro dele concordam com a necessidade de lutar contra o Ocidente corrupto. Nesta luta o Islã não distingue entre cristãos e judeus. A Declaração da Frente Islâmica Mundial para a jihad contra Judeus e Cruzados data de 23 de fevereiro de 1998, inspirada e assinada por Osama Bin Laden e Ayman al-Zawahiri. O primeiro objetivo da Frente Islâmica, tal como do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), é a reconquista de Jerusalém, cidade de onde o profeta Maomé fugiu num carro de fogo e onde se ergue a Mesquita de Al-Aqsa, construída sobre as ruínas do Templo. O segundo objetivo é a conquista de Roma, também definida como a “Maçã Vermelha” (Kizil-Elma), em analogia ao globo de ouro que encimava a estátua do imperador Constantino na capital bizantina. Depois de Constantinopla, Roma tornou-se a “Maçã Vermelha”, ou seja, o destino do triunfo do Islã sobre o Cristianismo. 

A estratégia de expansão do Islã envolve a invasão migratória da Europa e a destruição do Estado de Israel. Nos dias do ataque a Israel, nasceu em Paris a “Aliança das Mesquitas”, a nova associação de muçulmanos de toda a Europa, inspirada na ala da Irmandade Muçulmana, que teoriza a “soft-jihad”, a jihad de islamização “suave” da Europa. O ataque do Hamas em 7 de outubro é antes uma expressão sensacional da “jihad dura”, que passa pelo terrorismo e pela guerra. Por trás da primeira linha estratégica está a Turquia, que controla os fluxos migratórios na Europa e que durante anos tentou aderir à União Europeia para miná-la. Atrás da segunda linha está o Irã, por meio dos seus agentes Hamas e Hezbollah, que sitiam o Estado de Israel ao sul e ao norte. 

No dia 5 de outubro, na Universidade Luiss de Roma foi apresentado um relatório, elaborado pela Fundação Med-Or, sobre o tema: Inimigo Silencioso. Presença e evolução da ameaça jihadista no Mediterrâneo mais amplo. O relatório descreve detalhadamente o desenvolvimento do fenômeno jihadista, operando em muitas áreas do Mediterrâneo mais amplo, com particular atenção para a África, principal área de incubação desse fenômeno. O conflito ucraniano monopolizou a atenção internacional, mas o jihadismo, alerta o relatório, faz parte de uma ampla operação para desestabilizar o Ocidente, num contexto geopolítico em que o Islã não é o único ator. 

Em 5 de outubro, na XX assembleia do think tank russo Valdaj Club, Vladimir Putin fez um discurso sobre A multipolaridade justa. Ele falou da existência de uma “guerra de civilizações em curso” e apelou para os laços que a Rússia mantém com o mundo árabe, a China e a Índia para combater o papel hegemônico do Ocidente. Por outro lado, o conflito russo-ucraniano revelou a existência de uma frente interna na Europa e nos Estados Unidos, que olha com simpatia para Putin e critica o apoio ocidental à Ucrânia. A ideia de “inimigos do Ocidente” parece estar se evaporando na consciência de parte da opinião pública europeia. Esta atitude de benevolência para com os agressores é um dos fatores psicológicos que explicam a debacle do sistema de inteligência israelita, considerado o mais eficiente do mundo, mas que se revelou incapaz de prever o ataque de 7 de outubro, também por se ter iludido sobre a possibilidade de diálogo entre Israel e o Hamas. 

Mesquita de Al-Aqsa, construída sobre as ruínas do Templo, em Jerusalém

Entrementes aproxima-se a abertura de uma terceira frente de guerra, a de Taiwan, que a China se prepara para invadir. Não será fácil aos Estados Unidos apoiar simultaneamente seus aliados em múltiplos campos de batalha, na Europa Oriental, no Médio Oriente e no Extremo Oriente. Isto acontece um ano depois das eleições americanas, em que se anuncia a luta entre dois candidatos, Joe Biden e Donald Trump, desgastados e mutilados por vários motivos, enquanto nas eleições europeias se perfila a vitória de um “terceiro partido”, na linha do novo presidente eslovaco, Robert Fico, e da possível presidente francesa, Marine Le Pen, determinados a aprofundar o fosso entre a Europa e os Estados Unidos. 


É com a fraqueza do Ocidente que seus inimigos contam, especialmente depois do vergonhoso abandono do Afeganistão em 2021, que marcou uma dura derrota moral para os Estados Unidos e a Europa. Essa fraqueza, antes de ser política, é moral e tem sua raiz na perda de identidade do Ocidente. 

Um sintoma tragicamente eloquente desta confusão é-nos oferecido pela situação em que a Igreja Católica se encontra hoje. Na meditação proferida no dia 1º de outubro aos participantes da assembleia geral do Sínodo dos Bispos, o Padre Timothy Radcliffe, ex-mestre geral dos Dominicanos, começou afirmando: “Quando o Santo Padre me pediu para pregar este retiro, senti-me muito honrado, mas também nervoso. Tenho plena consciência das minhas limitações pessoais. Sou velho – branco – ocidental – e homem! Não sei o que é pior! Todos esses aspectos da minha identidade limitam minha compreensão. Peço, portanto, perdão pela inadequação de minhas palavras.” 

A rejeição da identidade de branco, de ocidental, de homem — e por que não também de padre? — revela o abismo em que caem os líderes da Igreja, confrontados com um ataque muito pior que o das invasões bárbaras dos séculos V e VI. Com efeito, então a Igreja, guiada pelos grandes pontífices, não abandonou o seu lugar, mas hoje renuncia ao cumprimento da sua missão. 

Existe uma profunda diferença teológica entre católicos e judeus, que na sua negação da Santíssima Trindade são mais parecidos com o Islã do que com a Igreja de Roma, mas o que resta da Europa cristã luta contra o mesmo inimigo que Israel. Da mesma forma, a Rússia quer recolher o legado de Constantinopla, enquanto o Islã é o herdeiro dos turcos que o destruíram, mas hoje têm um inimigo comum. Este inimigo é o Ocidente, alvo econômico, político e militar da China comunista, que se autoproclama herdeira dos erros de Marx e Lenine, espalhados pela Rússia pelo mundo.

A confusão é dramática e a guerra, tal como as catástrofes naturais, parece comprimir a Europa num círculo inexorável. É uma “guerra do caos” da qual não se pode escapar, escreve Vittorio Macioce no Il Giornale de 9 de outubro: “É um destino que nos persegue de casa em casa e toca a Europa e a Itália”. A Itália é o coração do mundo, porque acolhe a sede da Cátedra de Pedro, que é o único fundamento de um possível renascimento da civilização cristã. E é preciso lembrar que tudo é possível com Deus, quando tudo parece perdido. Devemos acreditar nisso com profunda confiança na Providência Divina, numa das horas mais sombrias da História. 
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Fonte: Corrispondenza romana, 11-10-2023. Tradução Hélio Viana.

2 de novembro de 2023

Missão da nobreza e das elites tradicionais congêneres

O quadro do artista alemão Ferdinand Piloty, o Velho (1786-1844), representa o Rei Luís XIV da França recebendo em Paris representantes das diferentes classes sociais — clero, nobreza e povo.



Na crise do mundo hodierno, missão primordial para enfrentar o caos 


Fonte: Editorial da e Revista Catolicismo, Nº 875, Novembro/2023

Os ventos pestíferos das revoluções, sobretudo a partir da que eclodiu na França em 1789, espalharam pelo mundo uma balbúrdia que confunde todos os conceitos referentes às elites e às desigualdades sociais. 

Na Revolução Francesa — que, segundo expressão atribuída a Churchill, dividiu a França em duas partes por um “rio de sangue” — as calúnias contra a nobreza foram largamente disseminadas por espíritos revolucionários (quase diríamos “demoníacos”) para difamar e responsabilizar a classe nobiliárquica e as elites por tudo quanto de pernicioso acontecesse doravante no mundo. E tachar, ao mesmo tempo, de “apego, inimigo do progresso”, o amor às tradições. 

Aqueles ventos revolucionários provocam estragos até hoje, fazendo incontáveis de nossos contemporâneos acreditarem nas calúnias e colaborarem para difundi-las ainda mais, intoxicando o mundo de igualitarismo, vulgaridade, luta de classes e caos generalizado. Os miasmas de tais ventos penetraram na Igreja, onde a pregação do clero progressista favorece a utopia comunista segundo a qual a igualdade é um bem supremo e a desigualdade um malefício para todos. 

Capas de algumas traduções da obra

Refutando tudo isso — mostrando a beleza da ordem hierárquica estabelecida por Deus, os maravilhosos frutos que ela produziu na civilização, e que a tradição não é prejudicial ao progresso, mas fator de melhor desenvolvimento —, Plinio Corrêa de Oliveira lançou em 1993 o livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e Nobreza romana.**

Ancorado no pranteado Pontífice, em outros grandes autores e em exemplos históricos, o livro — tão bem ilustrado que parece um álbum —mostra também o crime moral, cultural e social praticado pelos revolucionários, de fora e dentro da Igreja, visando a demolição da Cristandade. 

O autor faz um apelo à nobreza e às elites tradicionais análogas para que, mesmo vivendo num regime republicano e democrático, voltem a cumprir a missão que desempenhavam outrora, como fermento e não como mera poeira do passado, e sejam caldo de cultura para o surgimento das condições propícias à restauração da civilização cristã. 

Celebrando o 30º aniversário dessa obra-prima — último legado escrito que o Prof. Plinio nos deixou —, Catolicismo a escolheu para ser rememorada na matéria de capa de sua edição deste mês.

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* Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo envie um e-mail para: catolicismo@terra.com.br

** Esta obra pode ser adquirida no site da Livraria Petrus: https://livrariapetrus.com.br/produto/nobreza-e-elites-tradicionais-analogas/

Encontra-se também disponível integralmente na seção “Livros” do site www.pliniocorreadeoliveira.info


1 de novembro de 2023

“Lembra-te de teu fim” — O fim é o começo


✅  Paulo Roberto Campos 

Logo após a Santa Igreja Católica comemorar a festa de Todos os Santos, no dia 1º de novembro, ou seja, a Igreja Triunfante (todos os bem-aventurados que estão no Céu), celebramos o Dia de Finados, a Igreja Padecente — todas as almas que estão no Purgatório, sofrendo, mas com a esperança da chegada do grandioso dia de, purificadas, entrarem na glória eterna. 

Dias muito apropriados para meditarmos nos Novíssimos — as coisas que sucederão aos homens no final de suas vidas (Morte, Juízo Particular, Purgatório, Céu ou Inferno), como aconselha as Sagradas Escrituras: “Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás” (Ecl. 7, 40).

Como auxílio para a recomendada meditação, seguem alguns pensamentos.



“Cuida de teu corpo como se fosses viver para sempre. Cuida de tua alma como se fosses morrer amanhã.” 
(Santo Agostinho) 


“Se na hora da morte tivermos Maria a nosso favor, o que poderemos temer?” 
(Santo Afonso M. de Ligório) 

“Lembra-te que ao abandonares esta Terra, não poderás levar contigo nada do que tens recebido, somente o que tens dado: um coração enriquecido pelo serviço honesto, o amor, o sacrifício e o valor.”
(São Francisco de Assis) 


“Se soubesses com que rapidez as pessoas se esquecerão de ti após a tua morte, não procurarias em vida agradar a ninguém senão a Deus." 
(São Joao Crisóstomo) 


"Eu digo que o túmulo que sobre os mortos se fecha, abre o firmamento. E o que acreditamos aqui embaixo ser o fim, é o começo."
(Victor Hugo) 


“Homo? Humus. 
Fama? Fumus. 
Finis? Cinis." 
[O homem é barro. A glória é fumaça. O fim é cinza] 
(Verso medieval)