29 de junho de 2008

Poloneses em marcha contra o aborto

Apesar da Polônia ter ficado dominada pelas garras do regime comunista por 4 décadas, sob o jugo da “bota soviética”, cresce a cada ano a “Marcha pela Vida” — contra a prática do aborto, em defesa da instituto da família naquele país do leste europeu.

A respeito transcrevo o artigo do correspondente da revista Catolicismo em Cracóvia Leonardo Przybysz e publicado na edição de julho
www.catolicismo.com.br ______________
Com a participação de quatro mil pessoas, e por iniciativa da Associação pela Cultura Cristã Padre Piotr Skarga e da Fundação Pro realizou-se em Varsóvia (Polônia), no dia 25 de maio último, a Terceira Marcha pela Vida, que visa defendê-la desde a concepção até a morte natural, também defender os valores cristãos, como a família.

“Esta já é a terceira marcha. Tudo começou quando vários membros de nossas organizações participaram da marcha anual contra o aborto em Washington, que ali se realiza há mais de trinta anos”, disse um dos organizadores do evento.

A manifestação teve início na rua Nowy Swiat, e à frente dela estava uma orquestra formada de jovens. Membros de numerosas organizações de defesa da família acorreram de várias cidades da Polônia. Animaram também a marcha representantes da Ucrânia, do Brasil e da TFP dos Estados Unidos, assim como de Acción Família, do Chile. Entre as faixas e cartazes se destacavam: “Stop aborto!”, “Médicos, defendei a vida!”, e outros. Prestigiaram a marcha com sua presença dois juízes do Supremo Tribunal de Justiça e cinco deputados, entre eles o ex-presidente da Assembléia Legislativa, Marek Jurek.
“A Europa é um Titanic demográfico. Ela passa por uma crise demográfica que começou nos anos 60, quando teve início um solapamento de valores fundamentais sobre os quais a civilização européia foi construída” — disse o presidente da Associação pela Cultura Cristã Padre Piotr Skarga, Slawomir Olejniczak, referindo-se à queda da natalidade. E ressaltou que a Polônia ainda é um sadio bastião da família, e deve manifestar muita adesão a esses valores.
Mariusz Dzierzarwski, falando em nome da Fundação Pro, comentou: “Há anos observamos ataques de ideólogos e burocratas contra a família. E vemos as tristes conseqüências disso. Entretanto, a situação da Europa depende da situação das famílias que a compõem. A Europa do futuro será apoiada na família, ou então ela não existirá”.

Vários canais de televisão e jornais deram eco ao evento.

A marcha foi encerrada com um animado lanche das famílias num dos jardins à margem do rio Vístula, que banha a capital polonesa.

24 de junho de 2008

Aborto: apesar das reações contrárias, continuam tentando “justificar” o injustificável

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Tendo o STF julgado a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco embrionárias — na lamentável sessão do dia 29 de maio último —, agora o Supremo prepara-se para julgar a constitucionalidade da prática abortiva.

Ademais, na Câmara dos Deputados, a Comissão de Constituição e Justiça e a Comissão de Direitos Humanos, estão novamente discutindo maneiras para se conseguir, por meio de subterfúgios, a legalização do aborto no Brasil, apesar da histórica rejeição do aborto por 33 votos contrários. [vide
http://blogdafamiliacatolica.blogspot.com/2008/05/unanimidade-contra-o-aborto-33-x-0.html ] E apesar também de a imensa maioria da população brasileira ser contrária ao aborto. Mesmo assim, os abortistas não param, querem impor o aborto de qualquer jeito.

Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara, informou que esse tema somente seria votado no plenário após se ter esgotado os debates entre anti-abortistas e abortistas. A Ministra de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, e o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão — ambos ferrenhamente favoráveis ao aborto — já se articulam para influenciar em tais debates, tentando “justificar” o que é injustificável.

Não nos desarticulemos também, estejamos sempre atentos a fim de agir contra a legalização do assassinato de inocentes — por assim dizer, a descriminalização do infantício.
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A revista Catolicismo [ www.catolicismo.com.br ], em sua edição deste mês, publicou uma muito oportuna entrevista com o médico português, Dr. Daniel Serrão, docente aposentado da Faculdade de Medicina do Porto, professor de Bioética e Ética Médica na Universidade Católica, no Porto e em Lisboa. Cientista conhecido no mundo inteiro, é membro da Academia de Ciências de Lisboa, da Academia Portuguesa de Medicina e da Academia Pontifícia para a Vida.

O Prof. Dr. Daniel Serrão responde questões que alguns leitores deste Blog da Família têm levantado — como, por exemplo, o problema dos traumas pós-aborto —, por isso aqui transcrevo as respostas do ilustre médico, entrevistado de Catolicismo:


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Catolicismo — No ano passado, Portugal tornou o aborto legal por meio de um referendo popular. No seu entender, faltaram mais pessoas do ambiente católico e de outros setores da sociedade para defender a posição contra o aborto? O Sr. poderia narrar como se deu essa consulta popular, e quais os frutos da aprovação da lei?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Perdemos o referendo por uma escassa margem na contagem global dos votos; mas em muitas mesas de voto e em muitas regiões, ganhamos, e até com maiorias importantes. Tal como no referendo anterior, oito anos antes, nas zonas onde se constituiu um movimento organizado e coerente a favor do não, ganhamos. Só que, no referendo anterior, o cômputo global foi-nos favorável, igualmente por pequena margem, e muitos pensaram que a guerra estava ganha, quando só tínhamos vencido uma batalha.
Quem ganhou, de fato, tanto num como no outro referendo, foi a abstenção: mais da metade dos portugueses não votou. Sendo Portugal um país de grande maioria de católicos, tenho de concluir que, num momento da maior gravidade, em que estava em causa a vida humana, os católicos ficaram em casa, atraiçoando a sua fé. E tenho de concluir que a Igreja institucional, os seus pastores e os seus sacerdotes não souberam chamar os católicos à responsabilidade de não se absterem. Porque, seguramente, nenhum dos adeptos do sim ficou em casa no dia da votação.
A nova lei é a mais laxista da Europa. A mulher grávida decide livremente fazer-se abortar num hospital público, sem encargos, até a 10ª semana de gravidez; ou numa clínica privada de abortos (duas destas empresas espanholas de matar crianças ao abrigo da lei se instalaram logo em Portugal) que tenha acordo com o Serviço Nacional de Saúde, o qual paga o aborto por uma tabela convencionada, que obviamente dá lucro à empresa abortista.
Não se conhecem ainda números oficiais de abortos já realizados, mas os adeptos do sim andam inquietos, porque parece que são menos do que esperavam. Tenho exigido publicamente que esses números sejam divulgados, para que se possa, com segurança, fazer uma análise dos efeitos da lei. E espero conseguir esses números.

Catolicismo — Que conselho o Sr. daria, como médico, como católico e como pai de família, a uma jovem que o procurasse manifestando dúvida se pratica ou não um aborto?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Daria o conselho que tenho dado muitas vezes: não assumas a responsabilidade de decidir em nome de uma vida que não é a tua; o que está dentro de ti é uma vida nova que apela a viver, e tu tens de ouvir esse apelo, que é biológico antes de ser humano. Nenhum dos motivos pelos quais me dizes que queres abortar vai ficar resolvido com o aborto, e tu vais comprar uma guerra contigo própria, que te vai acompanhar ao longo de toda a tua vida.
Não uso argumentos de cariz religioso, porque quem tenha verdadeira fé nunca colocará, a si própria, a possibilidade de se fazer abortar, sejam quais forem as situações da gravidez. Nem mesmo em casos de violação brutal.

Catolicismo — Que papel uma santa e médica –– como Santa Gianna Beretta Molla, que preferiu ter o filho, apesar da recomendação de ordem terapêutica para abortar –– pode representar como exemplo para as mulheres nos dias de hoje?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Representa o apelo às virtudes heróicas que devem ser sempre apresentadas à juventude, porque ela é sensível à heroicidade e à dedicação absoluta a ideais, que são vividos até às últimas conseqüências. Infelizmente, à medida que a idade avança, o pragmatismo leva ao enfraquecimento da paixão pelos valores superiores; e os exemplos, como os de Santa Gianna, são menos eficazes.

Catolicismo — Em sua experiência médica, que traumas e conseqüências o aborto pode causar nas mulheres que o praticam?

Prof. Dr. Daniel Serrão — O mais grave, conforme a minha experiência, é a persistência, na memória afetiva, de um sentimento de profunda angústia existencial, que torna a vivência comum muito difícil. Tive um caso grave de suicídio iminente, que só foi controlado com tratamento psiquiátrico especializado durante quase um ano. Uma jovem de 17 anos, que se fez abortar de uma gravidez resultante de uma relação incestuosa consentida, ficou totalmente inibida de ter vida sexual. O aborto de tóxico-dependentes torna a recuperação da dependência muito mais difícil, parecendo que a jovem quer castigar-se pelo que fez. Mas o mais grave é que persiste a memória da decisão e do ato, muitas vezes com representação durante o sonho ou com alucinações. Uma das jovens, que obviamente não “viu” o ato de aborto feito sob anestesia, descrevia com profundo sofrimento a morte do seu filho, com os pormenores que lhe apareciam nos sonhos. A sua angústia era tão profunda, que necessitou de tratamento psicológico durante quatro anos. Na minha experiência, nenhuma mulher se recupera completamente de um ato de aborto. Há uma ferida biológica que muito dificilmente cicatriza.

Catolicismo — Fala-se muito que a legalização tem como finalidade combater os abortos clandestinos. No seu entender, essa é uma razão real?

Prof. Dr. Daniel Serrão — É uma falsa e hipócrita razão. É evidente que, se todos os abortos passarem a ser feitos gratuitamente, à vontade da mulher, sem qualquer condicionalismo, deverão acabar os abortos clandestinos nos hospitais públicos, porque seriam absurdos. Mas não é isto que acontece. Em Portugal não há números fidedignos, mas os abortistas lamentam o número baixo de abortos hospitalares; e insinuam, eles próprios, que os clandestinos continuam. É claro que continuam, porque muitas mulheres que decidem fazer-se abortar, por este ou aquele motivo, desejam que esse ato lhes seja praticado de forma clandestina, e não numa enfermaria de um hospital onde toda a gente vai saber que ela está internada para fazer aborto.

Catolicismo — Na Esparta pagã, e em outras culturas afastadas do Direito Natural, praticava-se o infanticídio no caso de crianças nascidas com defeitos físicos. No caso de prosseguir a atual ofensiva contra a vida, não é de se recear que cheguemos a esse ponto?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Sem nenhuma dúvida. Na Holanda o infanticídio é já praticado como uma extensão, tolerada pelos tribunais, da lei atual da eutanásia. De acordo com esta lei, a eutanásia deixou de ser um homicídio despenalizado, e tornou-se uma decisão dos médicos como qualquer outra. O infanticídio, por assimilação da lei, deixou de ser um crime e passou a ser, igualmente, uma decisão do médico.

Catolicismo — Muitas abortistas alegam que a mulher é dona de seu corpo, e portanto caberia a ela a escolha e o direito de abortar. O que a ciência diz a respeito disso?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Não é preciso a ciência, basta o senso comum. É evidente que a mulher é “dona” do seu corpo e deve procurar para este, sempre, o seu melhor bem. A cirurgia estética é um bom exemplo dessa espécie de propriedade sobre o corpo. Só que o embrião em desenvolvimento durante nove meses é um corpo próprio, que se serve do corpo da mãe para se alimentar e desenvolver, e a partir de 500 gramas de peso já pode dispensar o corpo da mãe. A mãe é dona do seu corpo, mas não é dona do corpo do seu filho ou filha.

Catolicismo — Freqüentemente acusa-se a Igreja Católica de ser inimiga do progresso e da ciência. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, inspirador da revista Catolicismo, sempre sustentou o contrário. Sempre ensinou que a Igreja é a grande benfeitora do autêntico progresso, da cultura e da civilização. Gostaríamos de conhecer sua opinião a respeito.

Prof. Dr. Daniel Serrão — Tinha Plinio Corrêa de Oliveira — que tive o ensejo de conhecer em uma de suas visitas a Portugal — toda a razão. O recente caso das células-tronco ou estaminais é uma demonstração eloqüente disso. A oposição da Igreja à destruição de embriões para se obterem estas células levou investigadores em todo o mundo a procurarem fontes alternativas. Essas fontes apareceram pelo trabalho científico, e hoje pode dizer-se que, para se conseguirem resultados terapêuticos, não são necessárias células tiradas de embriões, destruindo-os, já que as encontramos no líquido amniótico e no sangue do cordão umbilical.

Catolicismo — Discute-se na Supremo Tribunal Federal o tema da utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas médicas. Em caso de aprovação por parte dos magistrados, o Sr. acha que isso trará mesmo algum avanço para o mundo científico brasileiro?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Como acabo de responder, não há hoje necessidade de usar células-tronco de origem em embriões. No recente livro Cell Therapy, editado pela McGrawHill, e no qual tive a honra de colaborar, estão apresentados os resultados, nos diferentes campos, do uso terapêutico de células somáticas com função estaminal. No interesse dos doentes, os países que têm condições para fazer investigação com estas células devem subsidiar os ensaios com as células de adultos, pois com estas podem obter-se, em curto prazo, resultados positivos, particularmente em doenças cardíacas e do sistema nervoso.

Catolicismo — Sabe-se que em alguns países essas pesquisas com células-tronco embrionárias já se fazem há algum tempo. Divulga-se algum fruto real dessas pesquisas?

Prof. Dr. Daniel Serrão — Não há um único resultado terapêutico em seres humanos com células-tronco de origem em embriões humanos. Os principais problemas –– que são o controle da capacidade de transformação dessas células-tronco embrionárias em células tumorais, e a própria estabilidade do fenótipo de célula-tronco não diferenciada e das células diferenciadas obtidas das células-tronco –– não estão resolvidos. E sem estarem resolvidos, não se vislumbra qualquer aplicação em doentes. Pelo contrário, as células-tronco obtidas em estruturas adultas, em particular na medula óssea, há muitos anos dão resultados excelentes em leucemias e linfomas, e nos casos de neoplasias em que é necessário aplicar terapias que destroem a medula óssea. Atualmente é possível “guardar” células-tronco obtidas da criança logo após nascer, e se for necessário, usá-las anos depois, sem nenhum problema de rejeição imunológica. Se os resultados dos investigadores japoneses e americanos vierem a ser desenvolvidos com sucesso, qualquer célula do nosso organismo adulto poderá ser transformada, por engenharia de genética molecular, em célula com as características de célula-tronco embrionária.

Catolicismo — Que mensagem o Sr. gostaria de dar aos leitores de Catolicismo, para incentivá-los na luta contra a prática do aborto?

Prof. Dr. Daniel Serrão — A mensagem é só uma: aprender a ter respeito pelo corpo próprio e pelo corpo do outro. Respeito, antes de mais, biológico, pois todo corpo vivo apela a viver, e esse apelo tem de ser escutado e respeitado. A criança que está a desenvolver-se apela à mãe para viver, com a linguagem própria do equilíbrio biológico. Depois, respeito ao nível humano, porque o feto é já da nossa família humana, mesmo que ainda não fale conosco; mas vai falar em breve, e se já falasse, pediria que não fosse morto. Finalmente, respeito espiritual, porque o ser que se desenvolve no útero da mãe não é uma coisa, mas uma estrutura pessoal, que irá manifestar-se como pessoa espiritual à medida que o tempo passar.
No ato de abortar, o abortador destrói uma vida biológica, mata um corpo humano pessoal e anula a expressão de um espírito. Espírito que, para nós católicos, é a marca do Criador em nosso corpo, desde a concepção.


16 de junho de 2008

29 de maio de 2008: dia de luto na História do Brasil — II

Conforme me comprometi na matéria abaixo (Um dia negro na História do Brasil: 29 de maio de 2008 ), em postar alguns textos sobre a doutrina católica que condena os métodos antinaturais de procriação — como a fecundação in vitro, assim como as pesquisas com embriões humanos —, segue a transcrição de alguns trechos que selecionei da Instrução Donum Vitae, da “Congregação para a Doutrina da Fé”. Tomei a liberdade de assinalar em negrito algumas passagens que me pareceram essenciais.

A íntegra dessa Instrução encontra-se disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html#_ftn21

Esse documento foi assinado pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, em 22 de fevereiro de 1987, sobre “o respeito à vida humana nascente e à dignidade da procriação”. Nele o leitor encontrará consubstanciado o ensinamento do Magistério da Igreja a respeito desse importante tema. Aliás, diga-se de passagem, teria sido de suma eficácia se nas vésperas do julgamento no STF, sobre as condenáveis pesquisas com células-tronco embrionárias, todos os membros da Hierarquia eclesiástica tivessem insistido em divulgar e pregar aos fiéis essa doutrina tradicional da Igreja. Talvez tivessem influenciado a decisão do STF...

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Excertos da Instrução Donum Vitae, de 22-2-1987, sobre “o respeito à vida humana nascente e à dignidade da procriação”

“Desde o momento da concepção, a vida de todo ser humano deve ser respeitada de modo absoluto, porque o homem é, na Terra, a única criatura que Deus ‘quis por si mesma’,(1) e a alma espiritual de cada um dos homens é ‘imediatamente criada’ por Deus; (2) todo o seu ser traz a imagem do Criador. A vida humana é sagrada, porque desde o seu início comporta ‘a ação criadora de Deus’ (3) e permanece para sempre em uma relação especial com o Criador, seu único fim.(4) Somente Deus é o Senhor da vida, desde o seu início até o seu fim: ninguém, em nenhuma circunstância, pode reivindicar para si o direito de destruir diretamente um ser humano inocente.(5)

“A procriação humana exige uma colaboração responsável dos esposos com o amor fecundo de Deus;(6) o dom da vida humana deve realizar-se no matrimônio, através dos atos específicos e exclusivos dos esposos, segundo as leis inscritas nas suas pessoas e na sua união.(7) [...]

“Esta Congregação tem conhecimento das discussões atuais acerca do início da vida humana, da individualidade do ser humano e da identidade da pessoa humana. Ela relembra os ensinamentos contidos na Declaração sobre o aborto provocado: ‘A partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é aquela do pai ou da mãe, e sim de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca se tornará humano se já não o é desde então. A esta evidência de sempre [...] a ciência genética moderna fornece preciosas confirmações. Esta demonstrou que desde o primeiro instante encontra-se fixado o programa daquilo que será este vivente: um homem, este homem-indivíduo com as suas notas características já bem determinadas.

“Desde a fecundação tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades exigem, cada uma, tempo para organizar-se e para encontrar-se prontas a agir’.(8) Esta doutrina permanece válida e, além disso, é confirmada — se isso fosse necessário — pelas recentes aquisições da biologia humana, que reconhece que no zigoto [célula resultante da fusão dos núcleos dos dois gametas] derivante da fecundação já está constituída a identidade biológica de um novo indivíduo humano.

“É certo que nenhum dado experimental, por si só, pode ser suficiente para fazer reconhecer uma alma espiritual; todavia, as conclusões da ciência acerca do embrião humano fornecem uma indicação valiosa para discernir racionalmente uma presença pessoal desde esta primeira aparição de uma vida humana: como um indivíduo humano não seria pessoa humana? O Magistério não se empenhou expressamente em uma afirmação de índole filosófica, mas reafirma de maneira constante a condenação moral de qualquer aborto provocado. Este ensinamento não mudou e é imutável.(9) [...]

“Os embriões humanos obtidos in vitro são seres humanos e sujeitos de direito: a sua dignidade e o seu direito à vida devem ser respeitados desde o primeiro momento da sua existência. É imoral produzir embriões humanos destinados a serem usados como ‘material biológico’ disponível.

“Na prática habitual da fecudação in vitro, nem todos os embriões são transferidos para o corpo da mulher; alguns são destruídos. Assim como condena o aborto provocado, a Igreja proíbe também o atentado contra a vida destes seres humanos. É necessário denunciar a particular gravidade da destruição voluntária dos embriões humanos obtidos in vitro, unicamente para fins de pesquisa, seja mediante fecundação artificial como por ‘fissão gemelar’. Agindo de tal forma, o pesquisador toma o lugar de Deus e, mesmo se não é consciente disso, faz-se senhor do destino de outrem, uma vez que escolhe arbitrariamente quem fazer viver e quem mandar à morte, suprimindo seres humanos indefesos.

“Os métodos de observação e de experimentação que causam dano ou impõem riscos graves e desproporcionados aos embriões obtidos in vitro são moralmente ilícitos pelos mesmos motivos. [...]

“As técnicas de fecundação in vitro podem abrir possibilidade a outras formas de manipulação biológica ou genética dos embriões humanos, tais como as tentativas ou projetos de fecundação entre gametas humanos e animais e de gestação de embriões humanos em úteros de animais, bem como a hipótese ou projeto de construção de úteros artificiais para o embrião humano. Estes procedimentos são contrários à dignidade do ser humano própria do embrião, e ao mesmo tempo lesam o direito de cada pessoa a ser concebida e a nascer no matrimônio e pelo matrimônio.

Também as tentativas ou hipóteses destinadas a obter um ser humano sem conexão alguma com a sexualidade, mediante ‘fissão gemelar’, clonagem ou partenogênese, devem ser consideradas contrárias à moral por se oporem à dignidade tanto da procriação humana como da união conjugal”.
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Notas:
1. Const. past. Gaudium et Spes, 24.
2. Cfr. Pio XII, Encicl. Humani Generis: AAS 42 (1950) 575; Paulo VI, Professio Fidei: AAS 60 (1968) 436.
3. João XXIII, Encicl. Mater et Magistra, III: AAS 53 (1961) 447.
4. Cfr. Const. past. Gaudium et Spes, 24.
5. Cfr. Pio XII, Discurso à União Médico-Biológica “São Lucas”, 12 de novembro de 1944: Discorsi e Radiomessaggi VI (1944-1945) 191-192.
6. Cfr. Const. past. Gaudium et Spes, 50.
7. Cfr. Const. past. Gaudium et Spes, 51.
8. Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre o aborto provocado, 12-13: AAS 66 (1974), 738.
9. Cfr. Paulo VI, Discurso aos participantes do XXIII Congresso Nacional dos Juristas Católicos Italianos, 9 de dezembro de 1972: AAS 64 (1972).

8 de junho de 2008

Um dia negro na História do Brasil: 29 de maio de 2008

Para a obtenção do amparo legal às pesquisas com embriões humanos — com a controvertida decisão do STF —, cientistas e instituições pró-aborto, dispondo largamente da mídia, fizeram “propaganda enganosa”, venderam ilusões e muitos compraram suas falsas promessas.

Paulo Roberto Campos

prccampos@terra.com.br

No dia seguinte à votação final no Supremo Tribunal Federal — que em controvertida sessão aprovou por 6 votos a 5 as pesquisas com células-tronco embrionárias (conforme a Lei de Biossegurança) — 99% dos meios de comunicação do Brasil festejaram tal aprovação como sendo um dia radioso e de grandes esperanças. Entretanto, não temos a menor dúvida em afirmar que foi um dia negro e triste para a história de nosso País.

Com a deplorável votação no STF, interpreta-se que nossa Constituição não reconhece o direito à vida senão depois do nascimento. Isso corresponde a um verdadeiro atentado contra a ordem natural das coisas, contrario à moral católica e à ética. Além do mais, contraria fundamentadas pesquisas de grandes cientistas do Brasil e do exterior, que comprovam que a vida inícia-se na fecundação e demonstram que o embrião humano não é apenas um aglomerado de células, mas possui uma vida em estado inicial, com um patrimônio genético próprio. (a respeito, vide neste blog a matéria intitulada: A vida inicia-se na fecundação. Mas cientistas a serviço da causa abortista tudo fazem para tentar provar o contrário.

É o que por exemplo afirma a renomada médica Dra. Alice Teixeira Ferreira: “Está demonstrado pela ciência que a origem do ser humano se situa no momento da concepção. O Sr., eu, todos nós tivemos nossa origem na concepção. Esse é um fato que foi descrito pela ciência. A ciência não dá o ‘porquê’, ela dá o ‘como’. Já em 1827 isso foi descrito por Karl Ernst von Baer. Ele observou o ovo, ou zigoto, em divisão na tuba uterina e o blastócito no útero de animais. Em duas obras descreveu os estágios correspondentes ao desenvolvimento do embrião. Por isso é chamado, ‘pai da embriologia moderna’. Todo livro moderno de embriologia humana traz esta descrição. Todos os textos consultados, nas suas últimas edições, afirmam que o desenvolvimento humano se inicia quando o ovócito é fertilizado pelo espermatozóide. Todos afirmam que o desenvolvimento humano é a expressão do fluxo irreversível de eventos biológicos ao longo do tempo, que só pára com a morte”.

Dra. Alice Teixeira Ferreira, formada na Escola Paulista de Medicina em 1967, doutorada em Biologia Molecular em 1971, pos-doc na Research Division da Cleveland Clinic Foundation, EUA, Livre Docente da UNIFESP/EPM. Trecho de sua entrevista concedia à revista Catolicismo (edição de janeiro/2006). Os leitores que desejarem a íntegra dessa elucidativa entrevista, basta um click no link: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/7D89A3F2-3048-560B-1CBC961F22FE5DE8/mes/Janeiro2006
Ou, se preferirem receber o texto por e-mail, basta enviar uma mensagem para prccampos@terra.com.br escrevendo no “assunto”: Entrevista da Profª Alice Teixeira.


Resolução que abre as portas para a prática do aborto
Com a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias (CTEH), abrem-se as portas para a despenalização do aborto, pois o feto é um embrião mais desenvolvido. Uma vez que se pode destruir a vida embrionária, porque proibir que se tire a vida de um feto no ventre materno?

O ministro Marco Aurélio Mello, deixou claro que, com a aprovação da Lei de Biossegurança, o STF está pronto para julgar a causa de aborto nos casos de anencefalia. Segundo ele: “o julgamento do processo sobre as pesquisas com CTEH, aplainou o terreno”. Primeiramente, apenas a legalização do aborto nos casos de bebês anencefálicos, depois...

Depois de aprovadas pelo STF as pesquisas com embriões humanos, é chegada a vez de se tentar legalizar o aborto — em qualquer tempo de gestação, até mesmo quando praticado no 9º mês da gravidez.

Com isso, abrem-se as portas também para outros tipos de práticas antinaturais. Como, por exemplo, a clonagem (técnica de reprodução humana sem o concurso do casal). Primeiramente alegar-se-á que a finalidade da clonagem seria para a obtenção de “material biológico” (peças de reposição) para servir na cura de certas doenças ou de órgãos para transplantes. Depois será a vez de se revelar que a finalidade é a produção de seres humanos, por meio da chamada “engenharia genética”. Portanto, tal aprovação merece o repúdio de todos aqueles que defendem a lei natural e a ordem da criação estabelecida por Deus.

Nessa escalada de disparates, não se chegaria também a propor no Brasil experiências de gestação de embriões humanos em úteros de animais? Causa horror só de pensar, mas... “cesteiro que faz um cesto, faz um cento” ou, conforme um salmo: “Abyssus abyssum invocat” (Um abismo atrai outro abismo...)

Recentemente o Parlamento Britânico aprovou essa monstruosidade: a criação de embriões híbridos — ou seja, a implantação de células humanas em animais. (cfr. “O Estado de S. Paulo”, 24-3.08, “Ministro defende lei de embriões híbridos”) O homem distanciando-se da ordem natural, revoltando-se contra o Criador, pode chegar a esse abismo de infâmia e aberração. Que monstros não seriam gerados?

Ian Wilmut, cientista britânico, responsável pela clonagem da ovelha Dolly

A tecnologia da clonagem já não estará sendo experimentada nos subterrâneos de laboratórios, espalhados em diversos países, às escondidas das leis atualmente proibitivas? Assim como “criaram” uma ovelha “Dolly” (o primeiro mamífero clonado - foto acima), não tentariam criar um “humano”? Quem teria segurança em afirmar que já não se fazem experiências com esse objetivo?

Com a prática abortiva, mata-se um ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus; com a clonagem “constrói-se” um ser humano, criado em laboratório. É a utopia atéia e materialista dos propugnadores do chamado “mundo novo” a ser construído. E, para habitar esse “mundo novo”... a criação de um “homem novo”. Uma “nova era” para aqueles que negam a lei natural e a existência de Deus Criador de todas as coisas.
As declarações “salvadoras” antes da votação no STF
Nos últimos dias de maio, notamos a movimentação de uma gigantesca articulação para se obter a liberação das pesquisas com CTEH. Por detrás disso, notou-se que há fortes interesses de instituições pró-aborto (por exemplo, a fundação Rockefeller), que sustentam ONGs e o lobby nacional e internacional para forçar a aprovação de leis que despenalizem o aborto.

Na mesma ocasião, observamos também uma grande atividade midiática de desinformação. Muitas vezes a mídia adulterava os fatos, noticiava sucessos com pesquisas com células-tronco, insinuando que se tratava de células-tronco embrionárias (CTEH), quando os bons resultados tinham sido obtidos a partir de células-tronco adultas (CTAH). Estas sim, extraídas da medula óssea, do cordão umbilical e de outros tecidos humanos, têm produzido excelentes resultados. O que não é divulgado pela grande mídia.

Manipulou-se também o sentimentalismo do povo brasileiro, divulgando apenas a “voz do sentimento” e não a “voz da razão”— como se, para o bem do progresso e dos deficientes físicos, a ciência tivesse direito a qualquer coisa. Portanto, que os fins justificariam os meios.

Para sensibilizar, e até mesmo criar uma comoção na opinião pública e assim influenciar os senhores Ministros, não tiveram escrúpulos em utilizar deficientes, enganados por falsas promessas de curas repentinas. Divulgou-se que, caso fossem aprovadas as pesquisas com CTEH, eles seriam curados. Como se, por uma mágica qualquer (algo como promessas de curandeiros fazedores de “milagres”), a cura se daria em pouco tempo. Na linha de que os cegos passariam a ver, o mudos a falar, os surdos a ouvir e os paralíticos a andar. Muitos deficientes foram então conduzidos em suas cadeiras de rodas para o prédio do STF, a fim de serem televisionados e fazerem declarações emocionantes. Inúmeras reportagens afirmaram que em todo o Brasil, milhões de deficientes e portadores de moléstias degenerativas torciam pela autorização das pesquisas, pois, desse modo, em pouco tempo, eles seriam curados. Só faltou a mídia afirmar que a dor desapareceria da face da Terra e que os “humanos” se tornariam imortais...

É curioso observar que esse era o discurso antes da aprovação no STF. Após a aprovação, o discurso mudou... Os mesmos cientistas e porta-vozes das pesquisas com CTEH, que prometeram as curas, começaram a dizer que ainda tinham pela frente longos anos de pesquisas, que não havia nenhum resultado concreto para apresentar... Por exemplo, a geneticista Mayana Zatz (da USP), declarou: “Todos vamos nos beneficiar dessa vitória. Temos uma enorme responsabilidade pela frente. Quero deixar claro que não estamos prometendo cura imediata, mas dar o melhor de nós nas pesquisas”...

É a velha tática revolucionária: Menti, menti, sempre alguma coisa ficará [nas cabeças das pessoas], como dizia o ímpio Voltaire.

A verdade sobre as pesquisas com células-tronco
Ainda que o tratamento com células-tronco embrionárias (CTEH) curasse, ele não seria lícito, pois sob nenhum ponto de vista se pode sacrificar uma vida humana para salvar outra. Renomados cientistas dizem justamente que todas as pesquisas com CTEH fracassaram, mas que eles depositam grandes esperanças no tratamento com células-tronco adultas (CTAH), com as quais já se tem obtido ótimos resultados concretos.

Oportunamente postarei neste blog uma excelente matéria mostrando que os experimentos com CTEH não têm proporcionado curas e são criminosas e que, pelo contrário, a aplicação de CTAH já tem proporcionado diversas curas, além de não atentar contra a vida.

Transcrevo trecho de um documento da citada Profa. Dra. Alice Teixeira, intitulado: “A verdade sobre as células embrionárias contra as mentiras divulgadas”:

“Durante a conferência, organizada pela Associação Nacional para a Defesa do Direito à Objeção de Consciência (ANDOC) na Academia de Medicina de Granada, a pesquisadora Natália López Moratalla, catedrática de Bioquímica da Universidade de Navarra, afirmou que hoje a pesquisa ‘derivou decididamente para o emprego das células-tronco adultas’, que são extraídas do próprio organismo e que já estão dando resultados na cura de doentes.

A pesquisadora Natália López Moratalla

“Segundo López Moratalla, ‘existem cerca de 600 protocolos que utilizam células-tronco adultas, e não se apresentou nenhum com células de origem embrionárias’. As células adultas ‘possuem o mesmo potencial de crescimento e diferenciação das células-tronco embrionárias e substituem muito bem as possibilidades biotecnológicas sonhadas para aquelas’.

‘As últimas descobertas sobre as possibilidades terapêuticas das células-tronco adultas, põem em suspeita abertamente as duas grandes ‘promessas’ propiciadas pela nova lei espanhola de biomedicina: o uso e criação de embriões para pesquisa e a chamada clonagem terapêutica. Aos graves problemas éticos já conhecidos (a destruição indiscriminada de milhares de embriões humanos), se unem evidências científicas que questionam cada vez sua utilidade terapêutica’, afirmou a pesquisadora.

As células-tronco embrionárias fracassaram. Caiu, pelo peso de sua própria irracionalidade, o uso terapêutico de células provenientes de embriões gerados por fecundação, ou células humanas provenientes da transferência nuclear a óvulos (o que se conhece por clonagem terapêutica)’, reiterou.

“Tendo em vista os esclarecimentos acima, seria ético que se parasse com esse engodo que sugere que as células embrionárias humanas, obtidas com a morte de embriões humanos, vão fazer paralíticos andar, cego enxergar, etc”.

A esperança da medicina encontra-se nas células-tronco adultas
Num artigo para a “Folha de S. Paulo” (28-5-08), intitulado “A Constituição e as células-tronco adultas”, o Prof. Ives Gandra da Silva Martins (foto ao lado), advogado e professor emérito da Universidade Mackenzie, explicita muito bem o engodo que envolve a questão das pesquisas com células-tronco embrionárias. Transcrevo alguns trechos:

“A Constituição brasileira declara, no caput do artigo 5º, que o direito à vida é inviolável; o Código Civil, que os direitos do nascituro estão assegurados desde a concepção (artigo 2º); e o artigo 4º do Pacto de São José, que a vida do ser humano deve ser preservada desde o zigoto. O argumento de que a Constituição apenas garante a vida da pessoa nascida — não do nascituro — e que nem sequer se poderia cogitar de ‘ser humano’ antes do nascimento é, no mínimo curioso: retira do homem a garantia constitucional do direito à vida até um minuto antes de nascer e assegura a inviolabilidade desse direito a partir do instante do nascimento. De rigor, a Constituição não fala em direito inviolável à vida em relação à pessoa humana, mas ao ser humano, ou seja, desde a concepção.

“Lembro-me, inclusive, do argumento do professor Jérôme Lejeune, da Academia Francesa, para quem, se o nascituro está vivo e não é um ser humano, então é um ser animal, de tal maneira que todos os que defendem essa tese admitem ter tido, no correr de sua vida, uma natureza animal, antes do nascimento, e uma natureza humana, depois dele.

“Ocorre que, em novembro de 2007, J. Thomson, nos EUA, e Yamanaka, no Japão, conseguiram produzir células-tronco adultas pluripotentes induzidas, passando a ter espectro aplicacional semelhante àquele prometido — e, até hoje, não obtido — com células-tronco embrionárias. E, em 14 de fevereiro deste ano, Yamanaka anunciou a produção de células-tronco pluripotentes induzidas sem riscos de gerar tumores. As embrionárias importam tal risco, assim como o da rejeição.

“A declaração de Yamanaka (foto ao lado) é suficientemente expressiva: ‘Quando vi o embrião, eu repentinamente percebi que não havia muita diferença entre ele e minhas filhas. Eu pensei, nós não podemos continuar destruindo embriões para nossa pesquisa. Deve haver outro meio’”. (“The New York Times”, 11-12-07, “Minha meta é evitar usar células embrionárias”).

“Não sem razão, do site do governo do Canadá consta relatório com a seguinte conclusão: “Recentemente, o debate sobre o uso de embriões como uma fonte de células-tronco pode tornar-se desnecessário, na medida em que as pesquisas vêm mostrando significativos sucessos na demonstração da pluripotencialidade das células-tronco adultas, originárias de músculos, cérebro e sangue.

“Compreendo, pois, a posição dos cientistas brasileiros, professores Alice Teixeira, Cláudia Batista, Dalton de Paula Ramos, Elizabeth Kipman, Herbert Praxedes, Lenise Martins Garcia, Lilian Piñero Eça, Marcelo Vaccari, Rodolfo Acatauassú, Antônio Eça e Rogério Pazetti, quando declaram que a esperança da medicina regenerativa encontra-se na pluripotencialidade induzida das células-tronco adultas”.

Uma resolução baseada em falsas premissas
Mesmo com os bilhões de dólares desperdiçados nas duas últimas décadas em pesquisas com CTEH, elas não produziram qualquer resultado salutar. Um fracasso evidente. Mas, apesar disso, seis Ministros do STF votaram favoravelmente a essas pesquisas. Eles julgaram improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) impetrada pelo ex-procurador-geral da República, Cláudio Fontelles. Segundo este, a Lei de Biossegurança, “viola dois princípios da Constituição: o direito à vida e a dignidade da pessoa humana”.

Contudo, os seis Ministros, fundamentados em falsas premissas (que os embriões congelados não têm vida; que são inviáveis e que o destino deles era o lixo), concluíram que os embriões não são pessoas... Data vênia, os Senhores Ministros não sabiam que o fato de o embrião estar congelado não é impedimento para que ele seja gerado? Sim, eles sabiam que só de uma clínica no Brasil, a partir de embriões congelados, ocorreram 402 nascimentos de bebês, a maior parte acima de três anos de congelamento.

Vinícius: embrião congelado por oito anos, hoje bebê... “descongelado” e saudável


Embriões congelados que “viraram” gente…
Há diversos casos de embriões, que depois de muitos anos congelados, implantados no útero de mulheres, são hoje pessoas muito saudáveis. Nos Estados Unidos há casos de embriões que ficaram congelados por mais de 10 anos e que geraram crianças inteiramente normais.

No Brasil, ao que consta, o embrião que ficou mais tempo congelado (oito anos) tendo sido depois implantado no útero de sua mãe, é o de Vinícius (foto acima, quando tinha 6 meses). Hoje, com 1 ano, ele vive inteiramente normal e alegre junto a seus pais em Mirassol (SP). Se esse embrião tivesse sido utilizado em pesquisas, conforme a Lei de Biossegurança, Vinícius teria sido morto, usado como “cobaia de laboratório”. Quantos outros “Vinícius” serão eliminados?

A mãe do pequeno Vinícius, Da. Maria Roseli, declarou: “Meu filho venceu oito anos de congelamento e a prematuridade. Imagine se eu tivesse desistido dele e doado o embrião para pesquisa? Acredito sim que há vida [nos embriões], o Vinícius é a prova disso”.

O Dr. José Gonçalves Franco Junior, médico ginecologista, responsável pela clínica onde Vinícius ficou por 8 anos congelado em forma de embrião, declarou: “É uma loucura falarem que embrião congelado há mais de três anos é inviável. E isso não tem nada a ver com religião. A viabilidade é um fato e ponto”. (“Folha de S. Paulo”, 9-3-08, “O Bebê que saiu do Frio”).

Laicismo X religiosidade do povo brasileiro
Outro “argumento” repetido por alguns Ministros foi de que o Estado brasileiro é laico, não sendo por isso obrigado a se submeter à moral religiosa. Esqueceram de que, mesmo sendo laico o Estado, a imensa maioria do povo brasileiro é católica. A grande mídia ecoou esse “argumento”, centrando o problema como se tratasse de um enfrentamento entre a “fé obscurantista”, defendida pela Igreja, e a ciência, única capaz de trazer o progresso.

Neste sentido vale a pena ter presente a seguinte consideração, extraída de um artigo do notável jurista Ives Gandra Martins (“Jornal do Brasil”, 2-6-07):
“Estado laico não significa que aquele que não acredita em Deus tenha direito de impor sua maneira de ser, de opinar e de defender a democracia. Não significa, também, que a democracia só possa ser constituída por cidadãos agnósticos ou ateus. Não podem, ateus e agnósticos, defender a tese de que a verdade está com eles e, sempre que qualquer cidadão, que acredita em Deus, se manifeste sobre temas essenciais — como, por exemplo, direito à vida, eutanásia, família — sustentar que sua opinião não deve ser levada em conta, porque é inspirada por motivos religiosos. A recíproca, no mínimo, deveria ser também considerada, por tal lógica conveniente e conivente, e desqualificada a opinião de agentes ateus e agnósticos, precisamente porque seus argumentos são inspirados em sentimentos anti-Deus.
Numa democracia, todos têm o direito de opinar, os que acreditam em Deus e os que não acreditam. Mas, na democracia brasileira, foram os representantes do povo, reunidos numa Assembléia Constituinte considerada originária, que definiram que todo o ordenamento jurídico nacional, toda a Constituição, todas as leis brasileiras devem ser veiculadas ‘sob a proteção de Deus’, não podendo, pois, violar princípios éticos da pessoa humana e da família”.


Se a ciência renega o Criador, ela retrocede
À vista dos disparates que estão despontando a partir de uma ciência revolucionária, que avança de costas para Deus – e que portanto retrocede –, é muito conveniente relembrar a doutrina católica a respeito de procriação por métodos antinaturais, como a fecundação in vitro. Uma doutrina lógica e cristalina, mas posta de lado por pseudoscientístas. É o que pretendo postar em nosso blog dentro de alguns dias. Aguardem, creio que será de grande utilidade para todos os leitores, especialmente para os pais e mães de família.

Apesar do trunfo obtido pelos abortistas, com a aprovação das experiências com células-tronco embrionárias, devemos redobrar nossa luta contra o aborto, procurando agir, sempre dentro das leis, para suscitar ainda mais as reações sadias da parte verdadeiramente católica de nossa Pátria. Pois, do contrário, repito, um abismo atrairá outro abismo...