31 de outubro de 2021

OS DOIS ASPECTOS DA MORTE

A carruagem usada nos funerais de Luis XVIII (Exposta em Versailles) bem representa a pompa fúnebre recomendada pela Igreja 

Sórdido e repelente X augusto e épico 


  Plinio Corrêa de Oliveira 

A morte apresenta dois aspectos. O primeiro é o aspecto biológico: a decomposição de um agregado químico instável que já não se consegue manter; são extravasamentos de humores e um deplorável e incoercível fracasso orgânico, contra toda a compostura e conveniência. É o corpo humano, ideal de beleza física de todos os artistas, que depois de ter passado toda a vida a produzir coisas repugnantes, acaba por se transformar ele próprio numa coisa repugnante. 

Durante toda a vida, luta o homem para que o seu corpo não seja lixo — banhos, perfumes, unguentos, remédios, artifícios da higiene e da medicina — tudo é empregado para dar ao corpo uma aparência de estabilidade, de permanência de vida perene e incorruptível. 

Vem a morte e patenteia a realidade mais recôndita, mais profunda e mais característica desse corpo: transforma-o em lixo, e começa a transformá-lo em lixo muitas vezes antes mesmo de a vida se haver completamente extinguido. Por este aspecto, a morte é sórdida e repelente. 

Mas a morte tem outro aspecto. E por este, ela é um fato eminentemente humano, o fato mais notável de toda a vida e, em certo sentido, o mais augusto. Pois a morte arranca o homem da vulgaridade quotidiana, dessa armação de ninharias que costuma ser a trama da vida do comum da humanidade, e o coloca face a face, brutalmente, com o tremendo mistério de sua eternidade, patenteando que a vida de todo homem é uma epopeia — epopeia frustrada, ou epopeia realizada. 

Por aí, a morte se alça acima do que ela tem de sórdido e repelente: mais do que isso, a sua própria sordidez contribui para torná-la mais grandiosa, na sua trágica magnificência. Por isso a morte tem sido a inspiradora das mais sublimes obras-primas, desde a tragédia grega até a 3ª Sinfonia de Beethoven. E quem não percebe que, aquilo que mais pode dignificar e enobrecer o homem, o heroísmo, tem íntimas afinidades com a morte? 

É por esta razão que o homem sempre tem cercado a morte de solenidades sombrias e de pompas cheias de gravidade; é um tributo que ele deve a si, e à própria morte. A Igreja, de um modo todo especial — pois foi Ela quem revelou à humanidade o sentido mais profundo da vida e da morte — deu às comemorações fúnebres o mais justo e apropriado esplendor, não só pelo sufrágio das almas, como pelas lições que apresenta à meditação dos fiéis. (Legionário nº 544, 10 de janeiro de 1943).

29 de outubro de 2021

Carta do Cardeal Burke sobre os políticos católicos e a não admissão à Sagrada Comunhão

"Quando morrer, irei comparecer perante o Senhor, para prestar contas do meu serviço como Bispo, e não perante a Conferência dos Bispos"

28 de Outubro de 2021

Festa dos Santos Simão e Judas, Apóstolos

Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Durante os últimos meses, a intenção da Igreja nos Estados Unidos da América tem estado muito presente nas minhas orações. Na sua próxima reunião de novembro, os Bispos dos Estados Unidos da América vão considerar a aplicação do cânone 915 do Código de Direito Canônico: “Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto.”1

As suas deliberações abordarão, em particular, a situação a longo prazo e gravemente escandalosa dos políticos católicos que persistem em apoiar e fazer avançar programas, políticas e leis em violação grave dos preceitos mais fundamentais da lei moral, ao mesmo tempo que afirmam ser católicos devotos, especialmente apresentando-se para receber a Sagrada Comunhão. Ao rezar pelos Bispos e pela minha pátria, os Estados Unidos da América, tenho pensado cada vez mais na experiência da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, há mais de 17 anos, na sua reunião de Verão, em Denver, em Junho de 2004, ao abordar a mesma questão. Trata-se de uma experiência que vivi intensamente.

Achei importante oferecer as seguintes reflexões como uma ajuda para todos ao abordarmos, agora e no futuro, um assunto tão crítico — uma questão de vida e morte para os nascituros e de salvação eterna para os políticos católicos envolvidos — na minha pátria, como noutras nações. Tinha querido oferecer estas reflexões muito mais cedo, mas a recuperação de recentes dificuldades de saúde impediu a escrita destas reflexões até agora.

O contexto da reunião de junho de 2004 dos Bispos dos Estados Unidos foi a campanha do Senador John Kerry para Presidente dos Estados Unidos. O Senador Kerry afirmou ser católico, ao mesmo tempo que apoiava e promovia o aborto a pedido na nação. Na altura, era Arcebispo de Saint Louis (nomeado a 2 de dezembro de 2003 e instalado a 26 de janeiro de 2004). Como tinha sido a minha prática como Bispo de La Crosse (nomeado a 10 de dezembro de 1994 e instalado a 22 de fevereiro de 1995), aconselhei o Senador Kerry a não se apresentar para receber a Sagrada Comunhão porque, depois de ter sido devidamente admoestado, persistiu no pecado objetivamente grave de promover o aborto diretamente procurado. Não fui o único Bispo a admoestá-lo desta forma.

Desde o tempo do meu primeiro ministério episcopal na Diocese de La Crosse, tinha enfrentado a situação de políticos que se apresentavam como católicos praticantes e, ao mesmo tempo, apoiavam e faziam avançar programas, políticas e leis em violação da lei moral. Como novo e relativamente jovem Bispo, falei com os irmãos Bispos, especialmente um dos mais antigos sufragâneos da minha província eclesiástica, sobre vários legisladores católicos da Diocese de La Crosse que se encontravam nesta situação. A resposta comum dos irmãos Bispos foi a expectativa de que a Conferência dos Bispos acabaria por abordar a questão.

Conhecendo a minha obrigação moral numa questão de tão sérias consequências, definida no cân. 915, comecei a contatar os legisladores da Diocese de La Crosse, pedindo para me encontrar com eles para discutir a completa incoerência da sua posição em relação ao aborto provocado com a fé católica que professavam. Infelizmente, nenhum deles se mostrou disposto a encontrar-se comigo. Um deles teve comigo uma certa correspondência, insistindo que a sua posição relativamente ao aborto era coerente com a fé católica, seguindo o conselho errado apresentado, por certos professores dissidentes de teologia moral, aderentes da escola herética do proporcionalismo, numa cimeira realizada, no complexo de Hyannisport, da Família Kennedy, no Verão de 1964. A documentação da reunião encontra-se num livro de Albert R. Jonsen, que acompanhou um dos professores dissidentes europeus de teologia moral e esteve presente em toda a reunião.2

Relativamente à recusa dos legisladores em se encontrarem comigo, devo observar que considero, na melhor das hipóteses, ingênuo o refrão comum de que é necessário mais diálogo com os políticos e legisladores católicos em questão. Na minha experiência, eles não estão dispostos a discutir o assunto porque o ensinamento do direito natural, que é necessariamente também o ensinamento da Igreja, está para além da discussão. Em alguns casos, também tive a forte impressão de que eles não estavam dispostos a discutir o assunto, porque simplesmente não estavam dispostos a ter as suas mentes e corações mudados. A verdade continua a ser que o aborto provocado é a destruição consciente e voluntária de uma vida humana.

Quando eu era Arcebispo de Saint Louis, um legislador católico aceitou encontrar-se comigo, embora, como o seu pároco também atestou, não se apresentasse para receber a Sagrada Comunhão. Ele começou o encontro mostrando-me uma fotografia da sua família. Se bem me lembro, a sua esposa e ele tiveram quatro filhos. À medida que a nossa conversa avançava, perguntei-lhe como, tendo-me mostrado com tanto orgulho a fotografia dos seus filhos, podia votar regularmente a favor da matança de bebês no útero. Ele baixou imediatamente a cabeça e disse: “Está errado. Eu sei que está errado”. Embora o exortasse a agir de acordo com a sua consciência, que acabara de exprimir, tive de admirar o fato de, pelo menos, ele ter admitido o mal em que estava envolvido e não ter tentado apresentar-se como um católico devoto. Quanto à realidade objetiva da prática do aborto como uma violação gravíssima do primeiro preceito da lei natural, que salvaguarda a inviolabilidade da vida humana inocente e indefesa, não há nada sobre a qual dialogar. O tema do diálogo deve ser a melhor forma de prevenir um tal mal na sociedade. Tal prevenção nunca poderá envolver a promoção efetiva do mal.

Com o anúncio da minha transferência da Diocese de La Crosse para a Arquidiocese de Saint Louis, a 2 de dezembro de 2003, a imprensa secular viajou para a Diocese de La Crosse, a fim de encontrar material para a criação de uma imagem negativa do novo Arcebispo antes da sua chegada à Arquidiocese. Enquanto que, antes da minha transferência, não houve discussão pública das minhas intervenções pastorais com os legisladores em questão, como é inteiramente apropriado, o assunto tornou-se agora público em dezembro de 2003 e em janeiro de 2004. Ao colocar a questão da aplicação do cân. 915 perante o corpo de Bispos na sua reunião de junho de 2004, a ação pastoral que eu tinha empreendido na Diocese de La Crosse e que estava começando tomar na Arquidiocese de Saint Louis foi seriamente colocada em questão. Para ilustrar o fato, durante uma pausa na reunião, encontrei, numa escadaria, um dos membros eminentes da Conferência dos Bispos, que me agitou o dedo, declarando: Não pode fazer o que tem feito sem a aprovação da Conferência dos Bispos. Para ser claro, outros Bispos estavam seguindo uma ação pastoral semelhante. Respondi à sua declaração assinalando que, quando morrer, irei comparecer perante o Senhor, para prestar contas do meu serviço como Bispo, e não perante a Conferência dos Bispos.

Aqui, devo notar que a ação pastoral tomada não teve nada que ver com a interferência na política. Foi dirigida à salvaguarda da santidade da Sagrada Eucaristia, à salvação das almas dos políticos católicos em questão — que pecavam gravemente não só contra o Quinto Mandamento, mas também estavam cometendo sacrilégio ao receberem indignamente a Sagrada Comunhão — e à prevenção do grave escândalo causado por eles. Quando intervim pastoralmente com políticos católicos, isso foi feito de uma forma devidamente confidencial. Certamente, não dei publicidade a este assunto. Foram antes os políticos que acharam útil apresentarem-se como católicos praticantes, na esperança de atrair os votos dos católicos, que publicitaram o assunto para um fim político.

A discussão durante a reunião de junho de 2004 foi difícil e intensa. Sem entrar nos detalhes da discussão, aparentemente não houve consenso entre os Bispos, embora houvesse entre alguns dos Bispos mais influentes o desejo de evitar qualquer intervenção com políticos católicos que, de acordo com a disciplina do cân. 915, não deveriam ser admitidos a receber a Sagrada Comunhão. Por fim, o Presidente, o então Bispo Wilton Gregory, da Diocese de Belleville, remeteu o assunto a um grupo de trabalho sobre Bispos e políticos católicos, sob a presidência do então Cardeal Theodore McCarrick, que se opôs claramente à aplicação do cân. 915 no caso de políticos católicos que apoiavam o aborto provocado e outras práticas que violam gravemente a lei moral. O grupo de trabalho era composto por um conjunto de Bispos com visões mistas sobre o assunto. Em qualquer caso, com o tempo, o grupo foi esquecido e a questão crítica foi deixada por abordar pela Conferência dos Bispos. Quando o Bispo Gregory anunciou o grupo de trabalho, o Bispo sentado ao meu lado observou que agora podíamos ter a certeza de que a questão não seria abordada.

No contexto de recordar a reunião de Denver da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, em junho de 2004, é importante para mim recontar duas outras experiências pessoais relacionadas.  

Primeiro, na Primavera de 2004, enquanto estava em Washington, D.C., para atividades pró-vida, encontrei-me, em privado, durante quarenta e cinco minutos, com um dos mais altos funcionários do governo federal, um cristão não-católico que manifestava grande respeito pela Igreja Católica. No decurso da nossa conversa, ele perguntou-me se, tendo em conta as graves dificuldades de saúde de S.S. João Paulo II, a eleição de um novo Papa poderia significar uma mudança nos ensinamentos da Igreja relativamente ao aborto provocado. Manifestei alguma surpresa com a sua pergunta, explicando que a Igreja nunca poderá mudar o seu ensinamento sobre o mal intrínseco do aborto provocado porque é um preceito da lei natural, a lei escrita por Deus em cada coração humano. Ele respondeu que tinha feito a pergunta porque tinha concluído que o ensinamento da Igreja sobre o assunto não podia ser tão firme, uma vez que podia nomear-me 80 ou mais católicos no Senado e na Câmara dos Representantes que apoiavam regularmente a legislação pró-aborto.

A conversa em questão foi um testemunho eloquente do grave escândalo causado por esses políticos católicos. De fato, eles contribuíram, de forma significativa, para a consolidação de uma cultura de morte nos Estados Unidos, na qual o aborto provocado é simplesmente um fato da vida quotidiana. O testemunho da Igreja Católica sobre a beleza e bondade da vida humana, desde o seu primeiro momento de existência, e a verdade da sua inviolabilidade foi gravemente comprometido ao ponto de os não-católicos acreditarem que a Igreja mudou ou irá mudar aquilo que é, de fato, um ensinamento imutável. Enquanto a Igreja, cumprindo a missão de Cristo, sua Cabeça, para a salvação do mundo, se opõe totalmente ao ataque à vida humana inocente e indefesa, a Igreja Católica nos Estados Unidos parece aceitar a prática abominável, de acordo com uma visão totalmente secularizada da vida humana e da sexualidade.

A esse respeito, é-me dito que o argumento da verdade sobre a vida humana é frequentemente ineficaz, uma vez que a cultura não tem qualquer consideração pela verdade objetiva, exaltando as opiniões do indivíduo, por mais contrárias que sejam à razão certa. Talvez a abordagem adotada na assistência a mães e pais que contemplam o aborto devesse ser adotada a uma escala mais ampla, nomeadamente a visualização de uma ecografia da minúscula vida humana no seu início. Na minha experiência, quando as mães e os pais pensam em visualizar o aborto primeiro, uma tal ecografia, a maior parte deles não procede ao aborto. A imagem visível da beleza e da bondade da vida humana convence-os do mal do aborto. Tais ecografias devem ser facilmente visíveis, especialmente por aqueles que são responsáveis por conduzir o testemunho essencial da vida da Igreja e por aqueles que são responsáveis pelas políticas, programas e leis da nação, que devem proteger e fomentar a vida humana, e não prever a sua destruição.

O segundo evento teve lugar durante a minha visita a Roma, em finais de Junho e princípios de Julho de 2004, a fim de receber, do Papa João Paulo II, o pálio de Arcebispo Metropolitano de Saint Louis. Dada a difícil experiência do encontro em Denver, no início do mês de junho, fui aconselhado a visitar a Congregação para a Doutrina da Fé, a fim de ter a certeza de que a minha prática pastoral era coerente com o ensinamento e a prática da Igreja.

Fui recebido em audiência pelo então Prefeito da Congregação, Sua Eminência Joseph Cardinal Ratzinger, e pelo então Secretário da Congregação, Arcebispo, agora Cardeal, Angelo Amato, e um funcionário de língua inglesa da Congregação. O Cardeal Ratzinger assegurou-me que a Congregação tinha estudado a minha prática e não encontrou nada de censurável nela. Apenas me advertiu para não apoiar candidatos a cargos públicos, algo que, de fato, eu nunca tinha feito. Manifestou alguma surpresa perante a minha dúvida sobre o assunto, dada uma carta que tinha escrito aos Bispos dos Estados Unidos em que tinha abordado minuciosamente a questão. Perguntou-me se eu tinha lido a sua carta. Disse-lhe que não tinha recebido a carta e perguntei-lhe se poderia ter a gentileza de me fornecer uma cópia. Ele sorriu e sugeriu que eu a lesse num blog popular, pedindo ao funcionário de língua inglesa que fizesse uma fotocópia do texto tal como aparecia na sua totalidade no blog.3

A carta em questão expõe, de maneira autoritária, o ensinamento e a prática constantes da Igreja. O fracasso na sua distribuição aos Bispos dos Estados Unidos contribuiu, certamente, para o fracasso dos Bispos, em junho de 2004, em tomar as medidas adequadas na implementação do cân. 915. Agora, é-me dito que se mantém que a carta era confidencial e, portanto, não pode ser publicada. A verdade é que ela foi publicada, já no início de julho de 2004, e que claramente o Prefeito da Congregação, que a redigiu, não ficou de todo perturbado com o fato.

Passaram-se dezessete anos desde a reunião da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, em Denver, durante o mês de junho de 2004. A questão mais grave da aplicação do cân. 915 do Código de Direito Canônico aos políticos católicos que apóiam e promovem programas, políticas e legislação em grave violação da lei natural parece continuar a ser uma questão para a Conferência dos Bispos. De fato, a obrigação do Bispo individual é uma questão de disciplina universal da Igreja, relativamente à fé e à moral, sobre a qual a Conferência dos Bispos não tem autoridade. Efetivamente, vários Bispos compreenderam o seu dever sagrado na matéria e estão a tomar as medidas apropriadas. Uma Conferência dos Bispos cumpre um importante papel de apoio ao Bispo diocesano, mas não pode substituir a autoridade que lhe pertence de forma adequada. É o Bispo diocesano, e não a Conferência, que aplica a lei universal a uma situação particular.4

O trabalho da Conferência dos Bispos consiste em ajudar os Bispos individualmente no cumprimento do seu dever sagrado, de acordo com o cân. 447 do Código de Direito Canônico: “A Conferência episcopal, instituição permanente, é o agrupamento dos Bispos de uma nação, ou determinado território, que exercem em conjunto certas funções pastorais a favor dos fiéis do seu território, a fim de promoverem o maior bem que a Igreja oferece aos homens, sobretudo por formas e métodos de apostolado convenientemente ajustados às circunstâncias do tempo e do lugar, nos termos do direito.” 5 O que mais corresponde à promoção do “maior bem que a Igreja oferece aos homens” do que a salvaguarda e a promoção da vida humana criada à imagem e semelhança de Deus,6 e redimida pelo Preciosíssimo Sangue de Cristo, Deus, o Filho Encarnado,7 corrigindo o escândalo dos políticos católicos que promovem, pública e obstinadamente, o aborto provocado.

Convido-vos a rezarem comigo pela Igreja nos Estados Unidos da América e em todas as nações, para que, fiel à missão de Cristo, seu Esposo, ela seja fiel, límpida e firme na aplicação do cân. 915, defendendo a santidade da Sagrada Eucaristia, salvaguardando as almas dos políticos católicos, que violariam gravemente a lei moral e ainda se apresentariam para receber a Sagrada Comunhão, cometendo, assim, sacrilégio, e impedindo o mais grave escândalo causado pela inobservância da norma do cân. 915.

Que Deus vos abençoe a vós e aos vossos lares. Rezem por mim e, especialmente, pela recuperação da minha saúde.

Vosso, no Sagrado Coração de Jesus e no Imaculado Coração de Maria, e no Puríssimo Coração de São José,

Raymond Leo Cardeal Burke

____________

Tradução: Diogo de Campos

[1] «Can. 915 Ad sacram communionem ne admittantur excommunicati et interdicti post irrogationem vel declarationem poenae aliique in manifesto gravi peccato obstinate perseverantes.»

[2] Cf. Albert R. Jonsen, The Birth of Bioethics (New York: Oxford University Press, 1998), pp. 290-291.

[3] Cf. https://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/7055.html; Tradução inglesa:

https://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/7055bdc4.html?eng=y.

[4] Cf. can. 447; e Ioannes Paulus PP. II, Litterae Apostolicae Motu proprio datae Apostolos suos, De theologica et iuridica natura Conferentiarum Episcoporum, 21 Maii 1998, Acta Apostolicae Sedis 90 (1998) 641-658.

[5] «Can. 447 Episcoporum conferentia, institutum quidem permanens, est coetus Episcoporum alicuius nationis vel certi territorii, munera quaedam pastoralia coniunctim pro christifidelibus sui territorii exercentium, ad maius bonum provehendum, quod hominibus praebet Ecclesia, praesertim per apostolatus formas et rationes temporis et loci adiunctis apte accommodatas, ad normam iuris.»

[6] Cf. Gn 1, 27.

[7] Cf. 1 Pe 1, 2. 19; 1 Jo 1, 7; Rom 3, 25; Ef 1, 7; e Heb 9, 12; e Ap 1, 5.


16 de outubro de 2021

Algumas frases escolhidas para reflexão neste mês de Na. Sra. do Rosário


 “Por Vós, ó Maria, se encheu o Céu e se despovoou o Inferno.” 
(São Bernardo de Claraval) 

“Maria é a obra-prima de Deus, que nela esgotou sua sabedoria, seu poder e sua riqueza.” 
(São Boaventura) 

“Descansa o teu ouvido no coração materno de Maria e escuta as suas sugestões, e assim sentirás nascer em ti os melhores desejos de perfeição.” 
(São Maximiliano Kolbe) 

“Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria Santíssima, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço Ela merece.” 
(São Luís Grignion de Montfort) 

“Maria sabe ordenar bem o seu poder, a sua misericórdia e os seus rogos para a confusão dos inimigos e benefícios dos seus servos, que nas tentações invocam o seu poderosíssimo nome.” 
(Santo Afonso Maria de Ligório) 

“Ó Maria, se eu fosse a Rainha do Céu e Vós fôsseis Teresa, eu desejaria ser Teresa para que Vós fôsseis a Rainha do Céu.” 
(Santa Teresinha)

Radicalismo abortista freado no Texas

 


✅ Plinio Maria Solimeo

Nos Estados Unidos a luta contra o aborto vai mar alto. Para contra-arrestar a linha abortista do governo federal, legislativos estaduais em todo o país já introduziram ou promulgaram uma série de leis contra o aborto em 2021. De acordo com um relatório de 30 de abril do Instituto Guttmacher, abortista, 536 projetos de lei pró-vida foram apresentados em 46 estados até o final de abril, com 61 novas leis aprovadas. 

Em 2019, na administração Trump, o programa federal Título X (programa federal de planejamento familiar), buscou separar o financiamento do programa dos serviços relacionados ao aborto, proibindo o financiamento de clínicas que fazem referência a esse odioso crime, ou a instalações que também oferecem abortos. 

No entanto, a administração Biden está agora buscando afrouxar as regulamentações de financiamento a provedores de aborto, com o objetivo de mais uma vez direcionar o financiamento do Título X para clínicas que encaminham para abortos ou que estão localizadas junto a clínicas de aborto. 

O maior provedor de aborto do país, a Planned Parenthood, recebia da administração Obama cerca de US $ 60 milhões anuais em financiamento para seu programa abortista. Durante o governo de Trump ela se retirou do programa Título X, à espera de que Biden reverta as restrições impostas pelo presidente conservador para assim voltar a se beneficiar desse programa. 

Entre as medidas anti-aborto de governadores do Partido Republicano, temos a do estado de Montana, Greg Gianforte, assinou um projeto de lei de financiamento pró-vida que prioriza ajuda da saúde pública para clínicas que não oferecem aborto, e dispõe que o dinheiro do contribuinte não pode financiar serviços relacionados a esse crime. 

Alguns estados como o da Carolina do Sul, aprovaram proibições de aborto quando se detectar um batimento cardíaco fetal, o que praticamente sempre ocorre, mas é mais perceptível a partir da quinta ou sexta semana de gravidez. Entretanto, pressionado por grupos pró-aborto, um juiz do tribunal distrital federal bloqueou a entrada em vigor dessa lei nesse estado. 

Não foi o que ocorreu no Texas, onde o senado estadual também aprovou esse projeto de lei que chamou de “Heartbeat” (batida do coração), proibindo o aborto quando se verificar que há pulsação no coração no feto. Essa lei foi sancionada pelo governador Greg Abbott, que afirmou que ela “garante que a vida de cada criança que ainda não nasceu [e que apresente] batimento cardíaco, será salva da devastação do aborto”. Na prática, com esse projeto de lei, há uma proibição da maioria dos abortos realizados. 

Ao assinar o projeto de lei o governador Greg Abbott afirmou: “Nosso Criador nos concedeu o direito à vida e, ainda assim, milhões de crianças perdem esse direito todos os anos por causa do aborto”

Com efeito, esse projeto de lei “SB 8” proíbe os médicos de realizarem abortos, a menos que primeiro tenham verificado se há no feto um batimento cardíaco. Se isso se der, de acordo com a nova legislação, não o poderão realizar, exceto em uma emergência médica. 

O diretor legislativo do grupo pro-vida Human Coalition Action, Chelsey Youman, afirmou que agora, devido à essa legislação, “aproximadamente 50.000 preciosas vidas humanas serão salvas no Texas somente no próximo ano!”. E que “os avanços médicos tornam cada vez mais difícil negar a realidade brutal de que o aborto sempre extingue uma vida humana inocente”. E conclui: “A assinatura do governador corajosamente defende hoje os indefesos.” 

A Conferência Católica do Texas apoiou a legislação. Em mensagem a diretora executiva da Conferência, Jennifer Allmon, encorajou os católicos do estado a contatar seus legisladores em apoio ao projeto. Por sua vez, o grupo pró-vida Susan B. Anthony List afirmou que a legislatura do estado do Texas “agiu de acordo com a vontade do povo”, aprovando uma lei “refletindo a realidade científica de que crianças em gestação são seres humanos, com corações batendo desde os cinco anos semanas”

Essa lei da batida do coração entrou em vigência no Texas no dia 1º. de setembro, depois que a Corte Suprema e uma corte federal de apelações não se pronunciaram ante uma petição de último minuto para bloqueá-la. 

Qual a reação dos abortistas? Parece absurdo, mas apesar de se constatar que, havendo batimento cardíaco, há uma nova vida, vários provedores de aborto, incluindo os afiliados à Planned Parenthood no Texas, entraram com uma moção na Suprema Corte solicitando que o juiz Samuel Alito emitisse uma liminar impedindo a lei do Texas de entrar em vigor. Eles fizeram isso depois de tentativas fracassadas nos tribunais inferiores para impedir a entrada em vigor da lei. O que importa em declarar implicitamente de que são a favor de que se continue a assassinar vítimas inocentes com o aborto. Depois que o Tribunal de Apelações do Quinto Circuito dos Estados Unidos manteve a lei em 18 de agosto, os grupos pró-aborto pediram uma audiência sobre a lei, que o mesmo Quinto Circuito cancelou na sexta-feira. No domingo, o Quinto Circuito também rejeitou uma série de moções de emergência para bloquear a lei. 

O presidente Joe Biden, ferrenho abortista, depois da aprovação da lei no Texas, declarou: “Minha administração está profundamente comprometida com o direito constitucional estabelecido em Roe vs Wade, e protegerá e defenderá esse direito” ao aborto. E, sem entrar no mérito no fato de existir ou não vida no feto quando há batida de coração, acrescentou: “A lei do Texas afetará significativamente o acesso das mulheres à atenção médica que necessitam, particularmente as comunidades de cor e as pessoas com baixa renda”. E como ficam os novos seres cujo batimento do correção indicam que são já pessoas passíveis de direitos? 

Uma pergunta se impõe: Como pode um presidente que se diz católico, que recebe frequentemente ilicitamente a Sagrada Comunhão, ignorar o que o Catecismo da Igreja Católica afirma sobre o aborto: que é “gravemente contrário à lei moral”, e que as leis civis devem proteger a vida humana desde “o momento da concepção”? O parágrafo 2273 desse catecismo vai mais longe: “Quando uma lei positiva priva uma categoria de seres humanos da proteção que o ordenamento civil deve, o Estado nega a igualdade de todos ante a lei”

Como não podia deixar de ser, a vice-presidente Kamala Harris, também feroz abortista, saiu em defesa do aborto num comunicado, no qual qualifica a lei do Texas como um “assalto total à saúde reprodutiva” das mulheres, também omitindo o direito dos nascituros. 

Já o chefe do Centro de Direitos Reprodutivos pró-aborto, que está representando os provedores de aborto no processo contra o Texas, alertou que se a lei entrar em vigor, o estado “terá efetivamente derrubado Roe v. Wade” — determinação judicial que aprovou o aborto nos EUA.

Mas o cinismo vai mais longe. Nancy Northup, presidente e CEO do Center for Reproductive Rights disse que a lei forçará as mulheres que buscam o aborto a “viajar para fora do estado no meio de uma pandemia” para fazer um aborto. Quer dizer, para evitar esse incômodo, é melhor matar o bebê.

Enfim, os abortistas evadem a questão de se o batimento do coração num feto indica que nele existe uma vida ou não. E que, portanto, o aborto não é mais do que o assassinato de uma vítima inocente e indefesa. 

Essa lei é única no sentido de que é aplicada por ações civis privadas, e não pelo governo. O que importa em que ações judiciais bem-sucedidas tenham direito a requerer pelo menos US $ 10.000 em danos, mais custas e honorários advocatícios. Declaram os defensores do aborto que assim a lei cria um sistema de “caça à recompensa”, que incita as pessoas a entrarem com ações judiciais contra os abortistas só para ter lucro. Ora, evitar isso é muito simples: cessem de praticar o hediondo crime do aborto. 
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Fontes: 
- https://www.ncregister.com/news/texas-governor-greg-abbott-signs-heartbeat-bill-into-law - https://www.ncregister.com/news/texas-passes-heartbeat-abortion-ban 
- https://www.ncregister.com/cna/supreme-court-asked-by-pro-abortion-groups-to-block-texas-heartbeat-act?utm_campaign=NCR%202019&utm_medium=email&_hsmi=154478996&_hsenc=p2ANqtz-9RuBnNjkfPdbjoclXyUgLuId12JPp3kx_sCKqAGzyjqXiUqAZhSnaM1N67FXWbbK9iDvb4NZ_OD478Lo9w2qQl4jtsAQ&utm_content=154478996&utm_source=hs_email 
- https://www.aciprensa.com/noticias/biden-reafirma-su-apoyo-al-aborto-luego-que-entro-en-vigor-ley-provida-en-texas-60329?utm_campaign=ACI%20Prensa%20Daily&utm_medium=email&_hsmi=155186657&_hsenc=p2ANqtz-9HqTCNtCmA-hDfzlpDgzq2y-mLV7HdjT1FhdR1y7vz8jJRkgfdIW5jg6lUOyb1NSUV5MpxQWb8SWmFmhKEF3DGtUOlgw&utm_content=155186657&utm_source=hs_email

12 de outubro de 2021

Nossa Senhora Aparecida no ano do 90º aniversário de sua proclamação como Padroeira do Brasil


  Paulo Roberto Campos

No dia 31 de maio de 1931 Nossa Senhora Aparecida foi proclamada Padroeira do Brasil. Ela já era invocada como Rainha do Brasil — proclamação ocorrida em 8 de setembro de 1904.

Na ocasião da proclamação como nossa Padroeira, a imagem sagrada — a própria encontrada milagrosamente nas águas do rio Paraíba do Sul — foi transladada de trem de Aparecida ao Rio de Janeiro, então capital federal, para ser proclamada oficialmente e de modo solene.

Grandioso evento que foi assistido por mais de um milhão de pessoas. Naquele mesmo ano, no dia de Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro de 1931, foi a também a data da providencial inauguração do Cristo Redentor no alto do Morro do Corcovado [vide post de ontem]. 

A respeito da referida proclamação de Padroeira, reproduzimos a seguir um muito interessante e informativo artigo de Natalia Zimbrão, publicado na ACI de 31 de maio deste ano. 
Cerimônia de proclamação de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil. Crédito: CDM/Santuário Nacional

90 anos do título de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil 


Há 90 anos, em 31 de maio de 1931, Nossa Senhora Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil, em uma cerimônia que reuniu uma multidão no Rio de Janeiro, então capital federal. A consagração solene ocorreu após o Papa Pio XI ter assinado decreto no ano anterior conferindo este título à Mãe Aparecida. 

A historiadora Tereza Pasin, autora do livro “Senhora Aparecida”, contou em entrevista à ACI Digital que aquela data foi importante não só para Aparecida, mas para o Rio de Janeiro e todo o país. “Foi a primeira saída de Nossa Senhora, uma viagem oficial e a imagem levada ao Rio de Janeiro para a proclamação foi a encontrada no rio Paraíba do Sul, não um fac-símile”

A proposta de pedir à Santa Sé a proclamação de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil surgiu no contexto do Congresso Mariano de 1929, em Aparecida (SP). “O congresso de 1929 lembrou os 25 anos da coroação de Nossa Senhora Aparecida como rainha do Brasil, o que aconteceu em 8 de setembro de 1904. Então, como ela já era Rainha, os bispos e arcebispos pediram ao Papa que a proclamasse padroeira do Brasil”.

Assim, o pedido foi feito ao Papa por empenho do então arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, e do reitor do Santuário na época, padre Antão Jorge Hechenblaickner. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI assinou o decreto que proclamou Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil.

Segundo a historiadora, especialista na história da devoção a Nossa Senhora Aparecida, o que motivou este pedido foi a crescente quantidade de romeiros que ia a Aparecida. “Principalmente em 1900, a Igreja pediu que as romarias viessem acompanhadas do pároco e ou de um bispo, porque antes, temos muitas romarias, mas não romarias oficiais. Com isso foi crescendo a devoção a Nossa Senhora, por isso decidiram pedir que fosse proclamada padroeira do Brasil”

Antes, porém, o Brasil já tinha um padroeiro. Em 1826 o Papa Leão XII havia declarado padroeiro do país São Pedro de Alcântara [imagem ao lado], santo de devoção da Família Real Portuguesa. Seu nome, Pedro de Alcântara, foi inclusive escolhido como nome de batismo daqueles que viriam a se tornar imperadores do Brasil – Dom Pedro I e Dom Pedro II. 

De acordo com a historiadora Tereza Pasin, a proclamação de Nossa Senhora como Padroeira do País não mudou em nada a situação em relação a São Pedro de Alcântara. “Oficialmente, nós temos dois padroeiros, ou seja, o padroeiro e a padroeira”, afirmou. “Mas, mesmo naquela época, muitos não conheciam São Pedro de Alcântara”, disse. 

Portanto, afirmou que o pedido que os bispos fizeram ao Papa foi “por uma ligação de devoção, porque foi muito grande a quantidade de devotos que começaram a surgir e os brasileiros já viam Nossa Senhora como padroeira”

Pasin declarou que Nossa Senhora não tem uma ligação específica com determinado período histórico. “Nossa Senhora passou pela colônia, pelo Império, pela República Velha e República Nova. Mas, por que aconteceu tudo isso? Porque em torno de Nossa Senhora Aparecida há uma fé popular. Aí está toda resposta, uma fé popular”, afirmou. 

A grande festa de proclamação no Rio de Janeiro 

Crédito: CDM/Santuário Nacional
Após o Papa assinar o decreto em 1930, teve início a preparação para a cerimônia de proclamação de Nossa Senhora como Padroeira do Brasil, no Rio de Janeiro. Realizou-se, então, um congresso mariano de 24 a 31 de maio de 1931. “Foi muito bem preparado e foi um tempo de oração esperando a vinda da imagem”, contou Pasin. 

Entretanto, a celebração teve início ainda em Aparecida e seguiu por todo o percurso. “No trem que levou a imagem ao Rio de Janeiro, que ficou conhecido como trem de Nossa Senhora, um vagão foi transformado em capela para a imagem”, contou a historiadora. 

Além disso, o trem foi parando em todas as estações no caminho, onde aconteciam homenagens a Nossa Senhora. Pasin contou que as flores para Nossa Senhora “eram doadas e ficavam ali na capela até a estação seguinte, onde recebiam nova doação de flores. Então, muitas pessoas tinham uma pétala de lembrança de Nossa Senhora”

A historiadora narrou episódios marcantes de algumas estações, como em Quatis, onde “os vigários e paroquianos andaram seis quilômetros a pé para chegar à estação”. Outro fato que considerou marcante ocorreu onde hoje é a estação de Japeri, pois, “quando as pessoas chegaram, o trem já tinha passado e, então, aquelas pessoas passaram o dia inteiro na estação esperando o trem voltar à noite”

O ‘trem de Nossa Senhora’ chegou à estação D. Pedro II, atual Central do Brasil, no Rio de Janeiro, às 7h. A imagem foi levada em carro aberto para a igreja de São Francisco de Paula, onde foi celebrada uma missa campal. Em seguida, seguiu para a catedral, na época, a igreja de Nossa Senhora do Carmo [foto do interior] e, às 14h, saiu em procissão até a Praça da Esplanada do Castelo, onde aconteceu a proclamação solene de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil. 

Durante a procissão, muitas homenagens foram feitas a Nossa Senhora Aparecida. Tereza Pasin contou que “seis aviões da marinha acompanharam o percurso”. Além disso, “participaram 50 mil filhas de Maria e, no total, quase 1 milhão de pessoas”. “Nos prédios havia muita gente. Em quase todo o percurso, pétalas eram jogadas das residências”, disse. 

Na Esplanada do Castelo, participaram da proclamação o cardeal Leme, o então presidente da república, Getúlio Vargas, o ministro Oswaldo Aranha, o núncio apostólico dom Aloísio Masella, e o arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva. 

Tereza Pasin citou uma frase dita pelo cardeal Sebastião Leme naquela ocasião e que foi registrada pelo ‘Jornal do Commercio’: “O Rio de Janeiro foi na aclamação de ontem a voz de toda a terra brasileira”.
Crédito: CDM/Santuário Nacional

Na proclamação, o arcebispo do Rio de Janeiro “fez a leitura de uma oração para Nossa Senhora que ele já havia escrito em 1929 de modo particular”. Desde então, contou a historiadora, “passamos a rezar aqui em Aparecida diariamente às 15h com o título de consagração a Nossa Senhora Aparecida e, ao término das Missas, os padres também rezam”

Segundo Pasin, todo o que ocorreu naquele dia 31 de maio de 1931 também contribuiu para aumentar ainda mais a devoção a Nossa Senhora Aparecida no Brasil. “Na época, tinha o jornal ‘O Santuário de Aparecida’, que abrangia todo o Brasil. Ele narrou toda a festa, a ida da imagem ao Rio de Janeiro, as paragens, a chegada a então capital federal, tudo o que tinha sido preparado. Então, as pessoas que não participaram ficaram sabendo e, com isso, a devoção foi aumentando”.

Hoje, segundo a historiadora, celebrar os 90 anos da proclamação de Nossa Senhora como padroeira do Brasil é também uma forma de reafirmar esta devoção. “Nós precisamos dessa fé. Vamos comemorar, vamos falar, vamos lembrar a história, aquilo que acalentou o povo da época. Hoje, nós gostamos de dizer Rainha e Padroeira do Brasil”.

10 de outubro de 2021

CRISTO REDENTOR — (1931 – 2021)

Inaugurada no alto do Corcovado em 12 de outubro de 1931, portanto há 90 anos, a estátua do Cristo Redentor reina sobre o Brasil inteiro, a Terra de Santa Cruz, que também poderia ser apropriadamente chamada Terra do Cristo Redentor. 

Em memória do 90º aniversário da monumental imagem, transcrevemos abaixo os principais trechos de um discurso de Plinio Corrêa de Oliveira no auditório do Hotel Hilton, na capital paulista, em 17 de outubro de 1978. A transcrição do discurso — pronunciado de improviso — foi feita a partir de uma gravação em fita magnética, não tendo passado pela revisão do autor. De nossa parte, adaptamos o texto apenas o suficiente para transpô-lo da linguagem falada para a escrita. 

Dr. Plinio, então com a idade de 23 anos, esteve presente à providencial inauguração no Corcovado, a convite do cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro na época, Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra. E sempre falava com entusiasmo do Cristo Redentor, bem como das maravilhas criadas por Deus para a contemplação de seus filhos naquela cidade, com “a mais bela baía do mundo, a mais magnífica, a mais extraordinária, com o seu Pão-de-Açúcar, com seu Corcovado, reservado por Deus para ser um dia pedestal de uma magnífica imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo”. 

Neste aniversário, supliquemos especialmente ao Divino Redentor e a Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, que abram seus braços a todos os brasileiros, os abençoem e iluminem especialmente na atual e difícil quadra histórica que atravessa o País. 

Da Redação de Catolicismo
[Edição Nº 850, Outubro/2021]


A fibra anticomunista do Brasil 


  Plinio Corrêa de Oliveira 

Pelo brilho desta solenidade, vejo novamente confirmada uma convicção que tenho há muito tempo: a respeito do Brasil, os comunistas se enganam. Talvez tenham eles a impressão de que podem tomar conta facilmente do País, mas isso não é verdade. Há pujanças anticomunistas no Brasil, muito maiores do que eles supõem, e das quais os senhores são uma expressão. Uma expressão local, paulista, paulistana, de um fato imenso que se estende — para usar a expressão do hino das congregações marianas — “do Prata ao Amazonas, do mar às cordilheiras”. 

Realmente, meus caros, nosso povo é muito inteligente, e ao mesmo tempo muito cordato e pacífico. Tem no mais alto grau o senso da improvisação. Muitas vezes, vê aproximar-se de longe o perigo, e o encara com olhar manso, com atitudes displicentes, com o ar despreocupado de quem não vê. Dá assim a impressão de que nada fará. Mas quando se sente de fato ameaçado, esse povo sabe se levantar como um só homem e dar o revide à agressão, neste caso à agressão comunista. 

Estandartes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família
e Propriedade – TFP,  homenageando o Cristo Redentor,
nos anos 70 do século passado
Nós vimos isso em 1964. A fibra brasileira é a mesma e talvez o Brasil ainda seja mais anticomunista do que outrora. 

Não o digo por uma patriotada de salão, enunciada na comodidade desta poltrona da qual tenho a honra de vos dirigir a palavra no momento, mas pela experiência das caravanas da TFP brasileira. São jovens que consagram boa parte das suas vidas percorrendo o território nacional em kombis; e quando retornam a São Paulo, me atestam a boa acolhida que tiveram por toda parte do imenso Brasil. 

Não nos enganemos com o comunismo 

A acolhida se refere à aceitação sôfrega do material de propaganda que a TFP põe à venda. Mas, muito mais do que isso, é o oferecimento do auxílio desinteressado, com aquela gentileza toda brasileira, toda espontânea: um lhes oferece o hotel onde pousar, outro o alimento, outro a gasolina para os carros, outro ainda o pneumático que está gasto ou o serviço da oficina mecânica. Esta é a receptividade que encontram os propagandistas anticomunistas da TFP. 

Um resultado verdadeiramente plebiscitário é o enorme escoamento de certas obras da TFP, cujas edições atingem mais de 100 mil exemplares. Tanto esta receptividade para as nossas obras quanto o auxílio espontâneo oferecido por solidariedade e entusiasmo, me permitem aferir o que é a fibra anticomunista do Brasil inteiro. 

Realmente, meus caros, o comunismo se engana com o Brasil. Mas eu devo acrescentar que o Brasil se engana com o comunismo. Porque se isso não for verdade, pelo menos muitos brasileiros se enganam com o comunismo. Pensam que em relação a esse inimigo ultra-adestrado, solerte, falso, especializado em aproveitar as menores circunstâncias para desferir seu ataque, valem as velhas contemporizações cheias da simpática bonomia de outrora. Isto, meus patrícios, acabou. 

Condições para se alcançar uma vitória 

Nós não estamos diante de um adversário qualquer, mas de uma onça ardilosa que tenta nos pegar na noite, no meio das trevas da selva para nos devorar; que nos pega talvez nas ilusões de nossa bonomia, e que nos cria em determinado momento certa situação consumada, que com previsão, com articulação, com energia, nós poderíamos ter evitado. 

O comunismo não tomará conta do Brasil — eu creio nisso — devido à inteligência, à força e à fé do povo brasileiro. Mas quanto isto pode custar se esse povo não for previdente! Às nossas qualidades naturais falta a previdência, falta aquele senso de luta continuamente mobilizado e a disposição de intervir em todas as ocasiões difíceis, numa época dura e complicada como a nossa. 

É preciso estar de sobreaviso a respeito de tudo para não ser derrotado. A condição da vitória não é apenas a coragem. É também a previsão, a luta oferecida no primeiro momento, a defesa oferecida na primeira circunstância que for necessária. Isto é indispensável para que o Brasil vença o adversário enorme que tem diante de si. 

O bom combate associado a um ato de fé 

Generaliza-se entre nós um clima como se o perigo comunista não tivesse mais razão de ser, não existisse mais no Brasil. Como se houvesse uma razão para uma verdadeira desmobilização psicológica e intelectual. 

Meus caros, nós devemos caminhar para esta perspectiva com mais audácia, com mais previsão, com mais senso de luta do que nunca, e é para esse senso de luta que eu vos conclamo associado a um ato de fé! 

Nós não podemos nos deixar tomar de improviso, temos de abandonar a nossa posição daquele laissez-faire tradicional do bom temperamento antigo brasileiro. E a militância anticomunista tem de marcar cada vez mais a nossa presença por toda parte. A fé leva a prever e esperar vitórias nas circunstâncias mesmo mais difíceis e mais penosas com que talvez nos defrontemos no futuro. 



Cristo Redentor no horizonte do brasileiro 

N
ão posso me esquecer da noite em que eu estava no Rio de Janeiro, noite em que a neblina levantada do mar cercava a estátua do Cristo Redentor no Corcovado. Não posso me esquecer, tinha os olhos fixados nele. 

Durante algum tempo era apenas um foco de luz, no qual eu não discernia nada; em determinado momento, batia o vento, fazia-se um pouco de claridade, eu percebia um dos braços e depois uma das mãos do Cristo Redentor, iluminado com aquela luminosidade especial que a pedra sabão de que é revestido o monumento absorve a luz que sobre ele se projeta. 

Pouco depois o vento soprava novamente e era a face do Cristo Redentor que aparecia, em seguida era o seu peito onde pulsa o seu Sagrado Coração, mais adiante eram os seus pés divinos que todos gostaríamos de oscular. 

Eu prestava atenção e em nenhum momento — por mais densas que fossem as névoas — a luz deixava de encontrar certo ponto de apoio no monumento. De maneira que apenas sendo uma luz fixa sobre uma silhueta, ou sobre uma mão que protege, uma mão que abençoa, um coração que palpita de amor ou uma face que contempla cheia de solicitude, em nenhum momento a neblina conseguiu apagar a figura do Redentor. 

Esta é a fé com que caminhamos para o futuro, quaisquer que sejam as circunstâncias. Poderá ser que provações muito difíceis toldem a nossos olhos as perspectivas da vitória; pode ser que circunstâncias imprevistas coloquem para nós problemas que hoje ainda não são os nossos. Mas, para além das névoas, para além de tudo aquilo que pode tapar a verdade, no horizonte visual do brasileiro há algo que nada tira: é a imagem do Cristo Redentor, a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta fé há de nos salvar! 

O Brasil há de vencer, qualquer que seja a situação. E é rumo a esta vitória que todos caminhamos com o passo resoluto e a alma cheia de fé.

7 de outubro de 2021

“Deixai vir a Mim as criancinhas”


  Plinio Maria Solimeo
 

Uma das mais admiráveis virtudes que atraem o coração reto é a inocência infantil. Não há pessoa que, por mais corrompida que seja, que não se comova ao contemplar uma criancinha nos seus verdes anos. 

Por isso, não há nada que encante mais que o sorriso de uma criança no esplendor de sua inocência batismal! Ele reflete a louçania e a candura da alma infantil, ainda não conspurcada pelas mazelas da vida. Para ela, tudo é belo, tudo é encanto, tudo é alegria, como canta com tanta poesia Casimiro de Abreu: 
Como são belos os dias 
Do despontar da existência! 
– Respira a alma inocência 
Como perfumes a flor; 
O mar é – lago sereno, 
O céu – um manto azulado, 
O mundo – um sonho dourado, 
A vida – um hino d'amor! 
A recordação dos dias felizes da infância perdura a vida toda, e provoca um sentimento de suave nostalgia dos tempos passados, que leva o mesmo poeta a suspirar: 
Oh! Que saudades que tenho 
Da aurora da minha vida, 
Da minha infância querida 
Que os anos não trazem mais! 
No sacrário religioso da família bem unida, a criança mantém esse frescor de alma infância adentro, deleitando-se com os prazeres miúdos que a vida despreocupada e alegre lhe proporciona, como afirma ainda Casimiro: 
Naqueles tempos ditosos 
Ia colher as pitangas, 
Trepava a tirar as mangas, 
Brincava à beira do mar; 
Rezava às Ave-Marias, 
Achava o céu sempre lindo, 
Adormecia sorrindo 
E despertava a cantar! 
Outra singela poesia que demonstra o empenho consciencioso de um pai de família em que a filha conserve pura e virtuosa essa inocência até a adolescência, foi escrita por um homem famoso no tempo do Brasil Império, e diz: 
Põe na virtude, filha querida, 
de tua vida todo o primor. 
Não dês à sorte, que tanto ilude 
Sem a virtude, algum valor. 
Tudo perece: murcha a beleza, 
Foge a riqueza, esfria o amor; 

Mas a virtude, zomba da sorte, 
Até da morte, disfarça o horror. 
Brilha a virtude na vida pura 
Qual na espessura do lírio a cor. 

Cultiva atenta, Filha mimosa, 
Sempre viçosa tão linda flor. 
O autor dessa bonita peça que transuda espírito religioso, foi o primeiro e único Barão e Visconde de Pedra Branca, Domingos Borges de Barros, nascido na Bahia em 1780 e nela falecido em 1855. Conhecido advogado, escritor, diplomata, político, e sobretudo senhor de engenho, formado em Direito pela famosa Universidade de Coimbra, deputado às Cortes de Lisboa, senador do Brasil Império, e pai da famosa Condessa de Barral, preceptora da Princesa Isabel. Foi à essa filha única, Luíza, que ele escreveu esse belo poema no qual transpira todo o amor paterno. 

*   *   * 
Nessa época feliz que retratamos, a criança se deleita com as menores coisas da vida, seja uma bola de meia, ou uma boneca de palha de milho. É ávida dos contos infantis, que a transportam para um mundo maravilhoso pontilhado de anjos e fadas. “Daí — diz o grande pensador católico e homem de ação, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira — a importância capital para uma civilização católica, o fato de proporcionar às crianças uma literatura profunda e sadiamente formativa, que as ajude a manter-se fiéis à inocência, e a empreender o caminho da admiração pelo maravilhoso, que poderá constituir o verdadeiro timão de suas vidas”

O contrário disso é o que tem feito a revolução gnóstica e satânica que domina o mundo, e que tanto tem feito para corromper a infância. Todos os meios são empregados por ela para pôr ao seu alcance a erotização mais crua dos programas de televisão e da Internet, a avassaladora propaganda do homossexualismo, teoria de gênero e de toda forma de perversão, com profusão de palavras chulas e de baixo calão. Tudo o oposto do mundo maravilhoso dos contos de fada. 

Essa investida contra a inocência das crianças chega a um paroxismo ao apresentar a elas, como opção, o culto ao demônio. Pois é o que está sucedendo. Segundo a Associação Internacional de Exorcistas foi publicado nos Estados Unidos um novo livro (quer dizer, portanto já há vários) sobre demônios para crianças, com o título Livro infantil de demônios [foto ao lado]  escrito por Aaron Leighton visando atingir crianças entre as idades de 5 a 10 anos! Ou seja, como afirma dita Associação, “um público particularmente desamparado e condicionável” a quem eles desejam apresentar “o Satanismo como uma alternativa normal entre outros cultos”

Além disso, o livro “é mais uma contribuição para o nefasto projeto de normalizar o contato com o diabo, e apresentar a prática do satanismo como algo bom e positivo”

Se isso fosse um caso isolado e raro, já seria condenável. Pelo contrário, insere-se num contexto em que o satanismo está encontrando cada vez mais adeptos, inclusive entre as crianças conforme escrevemos há pouco nesta coluna. Citamos então o caso de duas meninas adeptas do culto ao demônio, uma de 11 e outra de 12 anos, que planejaram um atentado em sua escola, visando matar pelo menos 15 coleguinhas, num ritual satânico. 

Ora, escandalizar os pequeninos mereceu de nosso divino Mestre a mais severa censura.

Conta-nos a Sagrada Escritura que um dia pais pressurosos trouxeram seus filhinhos para que o Divino Salvador os abençoasse. Os discípulos, julgando que isso molestaria o Salvador, tentaram afastá-las. “Vendo isso, indignou-se Jesus, e chamando as crianças, disse aos seus discípulos: ‘Deixai vir a mim as crianças e não as embaraceis, porque o reino dos céus é dos que são semelhantes. Em verdade vos digo, quem não receber o reino de Deus como uma criança, não entrará nele’”. E acrescentou: “Qualquer um que escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha (uma grande pedra), e se submergisse na profundeza do mar.” (São Mateus 18, 6) 

Quantas “mós de azenha” seriam necessárias hoje em dia para pendurar ao pescoço das inúmeras pessoas que trabalham sistematicamente para perverter os pequeninos!

6 de outubro de 2021

BATALHA DE LEPANTO — 450 anos da vitória da Cruz contra o Crescente

 

Este quadro do Palácio Ducal de Veneza representa a Batalha de Lepanto. Nele vemos, em destaque nos círculos, de cima para baixo, o Príncipe Marco Antônio Colonna (comandante da esquadra Pontifícia), Dom João d’Áustria (generalíssimo de toda a frota) e Sebastiano Venier (no comando da frota veneziana). 

De suma importância para a Igreja e a civilização, a batalha de Lepanto, vencida no dia 7 de outubro de 1571 pelas esquadras católicas no mar Jônico, decidiu os rumos do Ocidente cristão ameaçado pelas forças maometanas do Império Otomano. Foi a maior batalha naval até então travada na História.

  Oscar Vidal 

Após a conquista de Constantinopla em 1453 pelo Sultão Maomé II, o poderio militar do Império turco-otomano crescia assustadoramente. Em meados do século XVI dominava quase todo o Mediterrâneo. Em 1570 invadiu e capturou a ilha de Chipre, apesar da forte resistência encontrada por parte dos habitantes de Nicósia e Famagusta. Os otomanos passaram a saquear outras ilhas nas águas mediterrâneas, incendiavam igrejas, degolavam sacerdotes, escravizavam cristãos para serem seus remadores em naus de guerra, sequestravam mulheres, inclusive crianças, abusadas em práticas perversas; numerosas outras atrocidades faziam correr torrentes do sangue cristão. 

Em 1571, cumprindo ordens do Sultão Selim II, filho do mítico Solimão I (conhecido como ‘o Magnífico’), as forças maometanas — apesar da derrota no cerco de Malta em 1565 — ainda cobiçavam tomar aquela ilha, que lhes serviria de “trampolim” para a invasão da Europa. Tudo empreendiam para suprimir a Religião Católica, dominar e aniquilar o continente cristão, já muito debilitado por guerras de religião e pelas investidas da Revolução Protestante, deflagrada pelo monge apóstata Lutero em 1517. 

Na perspectiva que chamavam de “o sonho de Osmã”, os otomanos, sonhavam em subjugar a Cristandade europeia, primeiramente dominar a Itália e a França, e logo transformar em mesquitas a Basílica de São Pedro, em Roma, e a Catedral Notre-Dame de Paris. 

Os três comandantes da coalizão católica, da esquerda para a direita: Dom João d’Áustria, o Príncipe Marco Antônio Colonna e o almirante veneziano Sebastiano Venier.
[Quadro: Os vitoriosos da batalha naval de Lepanto – Anônimo, atribuído à Escola Italiana, c. 1575. Kunsthistorisches Museum, Viena].

São Pio V forma uma coalizão de príncipes católicos 

Em face do iminente perigo para a Cristandade, o Sumo Pontífice de então, o Papa São Pio V (nascido em 1504, na cidade italiana de Bosco Marengo, da nobre família dos Ghislieri) conclamou alguns príncipes europeus a estabelecerem uma coalizão, numa frente comum contra as hordas maometanas. Ele desejava formar uma verdadeira cruzada dotada de uma esquadra naval. As complicadas tratativas com alguns soberanos cristãos contaram com o auxílio de São Francisco de Borja, superior-geral dos Jesuítas. 

Após a recusa de alguns soberanos e as hesitações de outros, a duras penas o Papa conseguiu reunir uma esquadra composta com o apoio, inclusive financeiro, de Felipe II da Espanha, da República aristocrática de Veneza, de Gênova, do Reino de Nápoles e dos cavaleiros da Ordem de Malta, além de um contingente dos Estados Pontifícios. Assim se constituiu a “Santa Liga”, sem a qual seria impossível conter o avanço do poderio otomano.

O Santo Pontífice não desanimou ante a desproporção das forças, pois confiava inteiramente na proteção do Senhor Deus dos Exércitos e da Santíssima Virgem Maria, “terribilis ut castrorum acies ordinata” (terrível como um exército em ordem de batalha - Ct 6, 9). Corroborando esse princípio, d’Ela disse São Luís Grignion de Montfort: “Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio”. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Ed. Vozes - VI Edição, Petrópolis, 1961, pp. 54-56). 

O Papa confia na liderança de Dom João d´Áustria 

Estandarte da “Santa Liga” 
Percebendo a urgência de se cortar o passo aos infiéis que avançavam na bacia do Mediterrâneo, São Pio V nomeou Dom João d’Áustria para o comando da frota. Concedeu-lhe o título de generalíssimo de todo o exército, pois confiava em seu grande poder de liderança. O destemido príncipe, no esplendor de seus 24 anos, era filho natural de Carlos V e irmão bastardo de Felipe II. Por intermédio do Cardeal Gravelle, o Papa lhe enviou um estandarte com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, pedindo-lhe que partisse o quanto antes ao encontro dos inimigos mouros. [a respeito, veja quadro no final desta matéria].

São Pio V depositou sua esperança em Dom João d´Áustria. Referindo-se a esse talentoso líder militar, aplicou-lhe uma passagem do Evangelho concernente a São João Batista — “Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João” (Jo 1, 6) —, passagem que está inscrita na sepultura do príncipe na cripta do Mosteiro El Escorial (no noroeste de Madrid): “Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Johannes!” [foto abaixo].

Como comandante da esquadra Pontifícia, o Papa nomeou Marco Antonio Colonna, ao qual deu também um estandarte, este com a imagem de um Crucifixo, com a inscrição “In hoc signo vinces” (Com este sinal vencerás). Colonna era príncipe, senhor de Genazzano — famosa cidade italiana do milagroso quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, junto ao qual, após a batalha de Lepanto, depositou algumas das bandeiras tomadas dos chefes maometanos.

Deslumbrante cortejo de navios rumo à esquadra inimiga 

Nos primeiros dias de outubro, as esquadras católicas reuniram-se em Messina, na Sicília. Depois de três dias de vigília de orações e jejuns, os combatentes se confessaram, comungaram, receberam as indulgências concedidas pelo Vigário de Cristo para a cruzada, assim como Agnus Dei e terços bentos por ele. No porto, o Núncio Papal abençoou cada uma das naus. Os novos cruzados levantaram âncoras e zarparam num deslumbrante cortejo de navios rumo à esquadra do inimigo mouro, que se concentrara no golfo de Lepanto, nas proximidades da Grécia. 

Ao avistar os navios inimigos, Dom Joao d’Áustria, revestido de imponente elmo e armadura dourada, segurando uma enorme espada numa das mãos e um crucifixo na outra, encorajou os combatentes com estas palavras “Vencer ou morrer, se o céu assim o dispuser, aqui viemos. Não deis ocasião para o inimigo vos perguntar com ímpia arrogância: onde está o vosso Deus? Lutai em seu santo nome, porque mortos ou vitoriosos, tereis alcançado a imortalidade”. Era o dia 7 de outubro de 1571, que ficou marcado na História ad perpetua rei memoriam. 


Preparação para a iminente batalha contra a mourama 

A frota otomana contava com 34.000 soldados e 50.000 marinheiros e remadores; possuía 222 galeras, 60 barcos de guerra menores movidos a remos e 741 canhões. A esquadra da “Santa Liga” se compunha de 28.500 soldados e quase 40.000 marinheiros e remadores; possuía 208 galeras, seis barcos e 1.815 canhões. 

O conjunto das duas poderosas esquadras, postadas frente uma da outra na tarde daquele histórico domingo, formava um cenário espetacular. Em um misto de admiração e espanto, ambos os lados se contemplaram mutuamente. Aconselhado por seus oficiais Uluch-Ali e Pertev, o comandante turco Mehmet Ali-Pachá por um instante pensou em recuar. Mas mudou de ideia e instou à luta os infiéis, dominados por um demoníaco fanatismo, prometendo-lhes o “paraíso”, onde Maomé e Alá os receberiam se matassem cristãos. Do outro lado, animados por Dom João d’Áustria, os cristãos estavam dispostos a lutar destemidamente pelo ideal católico, prontos para o martírio se fosse necessário. 

Na esquadra da “Santa Liga”, sacerdotes deram a absolvição geral aos combatentes católicos. Estes invocaram em alta voz a Santíssima Trindade e a Santa Mãe de Deus. Dom João os exortou: “Lembrai-vos de que combateis pela Fé; nenhum poltrão ganhará o Céu”. 

No centro da frota posicionou-se La Real, a nau capitânia de Dom João d’Áustria. O jovem príncipe mandou hastear o estandarte oferecido por São Pio V e bradou: “Aqui venceremos ou morremos”, e deu a ordem de preparação para a batalha contra os sequazes de Maomé. La Real foi ladeada pelos barcos de Marco Antônio Colonna e os de Sebastiano Vernier. No flanco direito posicionaram-se os barcos comandados pelo genovês Giovanni Andrea Doria. No flanco esquerdo, aqueles do veneziano Agostino Barbarigo, enquanto os do Marquês de Santa Cruz, Álvaro Bazan, se puseram na retaguarda. 

Milagre impressionante: El Santo Cristo de Lepanto 

El Santo Cristo de Lepanto,
que movendo seu corpo milagrosamente,
evitou ser atingido por uma
bala de canhão dos muçulmanos.


Os trompetes soaram e os tambores rufaram. Seguiu-se um instante de sublime silêncio, imediatamente rompido por uma bombarda de canhão ordenada por Ali-Pachá da galera La Sultana. Dom João d’Áustria responde da sua La Real com outra bombarda. Os canhões de ambos os lados começam a fazer o mesmo. 

Os primeiros embates foram favoráveis aos muçulmanos, que formados em meia-lua não paravam de disparar violentas cargas de suas bocas de fogo. Eles contavam com os ventos favoráveis às suas velas e o sol incidindo fortemente de frente aos cristãos, dificultando-lhes a visão. Em pouco tempo, tanto o sol quanto os ventos se inverteram a seu favor. 

Naquele árduo entrechoque, em meio a um ruído ensurdecedor de instrumentos, cimitarras contra espadas, gemidos, brados e tiros, os guerreiros católicos — com arma em uma das mãos e o terço na outra ou ao pescoço — estavam prontos a dar a vida por Deus e tirar a dos infiéis. Eles respondiam com o máximo vigor possível aos ataques. No ardor do combate destacaram-se os famosos Tercios espanhóis e os cavaleiros da Ordem de Malta. Dentre os numerosos atos de bravura, citemos o de um combatente siciliano que estando enfermo e deitado em seu leito de dor, em vez de morrer de sua doença, saltou da cama e foi combater no convés. Antes de ser ferido por nove flechas e cair morto, conseguiu matar quatro mouros. 

Mesmo com tantos atos de nobreza e coragem demonstrados no fragor do enfrentamento, por um momento o lado católico hesitou, pois os infiéis pareciam obter vantagem na peleja. 

De repente, o ânimo dos cristãos reacendeu. Um grande crucifixo, considerado milagroso, havia sido mandado pelo rei Felipe II para ser fixado numa das caravelas. Uma bombarda de canhão adversário iria destruí-lo, mas o corpo da imagem de Cristo crucificado se afasta milagrosamente para não ser alvejado. Posteriormente ele recebeu honras de Capitão Geral do Exército, e até hoje se encontra na catedral de Barcelona, onde é venerado como El Santo Cristo de Lepanto. 


Socorro celeste da Senhora Auxiliadora dos Cristãos 

Na batalha, outro fato animou ainda mais os cristãos: um tiro de arcabuz mata o chefe turco Ali-Pachá; um soldado espanhol consegue pular para a embarcação adversária, degola a cabeça do comandante islamita e a coloca no alto de uma lança. Os mouros, vendo a cabeça decepada de seu líder, perdem vigor. Algumas galeras se colidem e começa um combate corpo-a-corpo, maometanos na popa e cristãos na proa. As flechas e tiros de mosquetes, arcabuzes e canhões disparavam uns contra os outros incessantemente. 

Entretanto, apesar do ânimo e bravura dos soldados de Cristo, a imensa frota da mourama parecia vencer novamente. Após algumas horas de encarniçado confronto, os guerreiros católicos receavam a derrota, que traria graves consequências para a Europa cristã. Mas, ó prodígio, ficaram surpresos ao perceberem que de modo súbito e inexplicável os muçulmanos começam a fugir apavorados, muitos caem no mar e tentam nadar naquelas águas avermelhadas de sangue. 

Tempos depois se obteve a explicação: capturados pelos católicos, alguns mouros confessaram que uma brilhante e majestosa Senhora aparecera no céu, ameaçando-os e incutindo-lhes tanto medo, que entraram em pânico e começaram a fugir. 

Logo no início da retirada dos barcos muçulmanos, os católicos socorridos pela Senhora Auxiliadora dos Cristãos se reanimaram, inverteram o rumo da batalha e venceram. Naquele momento, a Europa estava salva! 

A maior vitória já alcançada em uma batalha naval 

Representação do chefe turco Ali-Pachá.
Ao lado, sua cabeça no alto de uma lança
e um navio com a bandeira otomana
afundando no mar,
resumo de um grande desastre otomano.
A Santa Liga Católica obteve
a maior vitória já alcançada
em batalha naval até então.


Naquele combate — classificado como uma das maiores batalhas marítimas, com a maior concentração de frotas da História — a Santa Liga Católica obteve a maior vitória já alcançada em batalha naval até então. Os otomanos perderam 224 embarcações (sem contar as que foram afundadas ou incendiadas depois do embate); na fuga, eles só conseguiram salvar 40 galeras; perderam quase 30.000 vidas e 3.468 mouros foram capturados. Enquanto a Santa Liga perdeu apenas 15 galeras e a vida de 7.500 bravos cruzados. Mas conseguiu libertar quase 12.000 católicos que estavam presos ou escravizados pelos maometanos. 

Entre os despojos de guerra, os soltados de Cristo conseguiram 110 grandes canhões e 256 pequenos, assim como os estandartes dos comandantes muçulmanos. Mas a pior derrota para os mouros foi o fato de perderem a reputação de invencíveis no mar! O império otomano entrou em decadência! 

São Pio V foi honrado por uma sobrenatural revelação 

Enquanto nas águas de Lepanto se travava a árdua batalha contra os turcos otomanos, em Roma o Papa São Pio V rogava o auxílio da Rainha do Santíssimo Rosário pela Cristandade. Ele pedira aos conventos e aos fiéis que redobrassem suas preces, seus jejuns e penitências. As Confrarias do Rosário promoviam procissões e orações nas igrejas, na Praça de São Pedro realizava-se uma procissão a Nossa Senhora do Rosário suplicando a vitória da armada católica. [a respeito, veja quadro no final

O Pontífice rezava dia e noite suplicando ao Senhor Deus dos exércitos para que o desenlace da batalha fosse propício aos católicos. No momento em que ocorria o desfecho em Lepanto, ele estava trabalhando com o tesoureiro Bussoti na presença de alguns prelados. De repente se levanta, faz um gesto de silêncio com a mão, e se dirige até uma janela onde permanece por alguns instantes em profunda contemplação. Ele estava radiante. Teve uma visão sobrenatural na qual tomou conhecimento do ocorrido a centenas de quilômetros: a armada católica acabara de obter espetacular vitória. Imediatamente, exultando de alegria e com lágrimas nos olhos, voltou-se para seus acompanhantes exclamando: “Não falemos mais de trabalhos; não é tempo para isso. Vamos rápido dar graças a Deus, nossa armada acabou de obter a vitória!” São Pio V se ajoelha diante de seu oratório para agradecer. Bussoti e os prelados, testemunhas privilegiadas do milagre, correm para transmitir aos Cardeais a recente boa-nova. 

A milagrosa visão foi confirmada somente na noite do dia 21 de outubro (duas semanas após o histórico acontecimento), quando, por fim, o correio chegou a Roma confirmando a vitória da Cruz sobre o Crescente, alcançada no 7º dia de outubro daquele ano, na mesma hora em que o Papa havia tido a revelação milagrosa. Numa época em que sequer havia telégrafo, o Pontífice dispunha de meios mais rápidos e eficazes para se informar! 

“A Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória” 

Em memória da estupenda intervenção da Santíssima Virgem, o Papa se dirigiu em procissão à Basílica de São Pedro, onde cantou um solene Te Deum Laudamus e introduziu a invocação Auxílio dos Cristãos na Ladainha de Nossa Senhora. E para perpetuar essa prodigiosa vitória da Cristandade, foi instituída a festa de Nossa Senhora das Vitórias, que dois anos mais tarde — no Pontificado de Gregório XIII, sucessor de São Pio V —, tomou a denominação de festa de Nossa Senhora do Rosário, comemorada pela Igreja no dia 7 de outubro de cada ano. 

Ainda com o mesmo objetivo de deixar gravado para sempre na História que a Vitória de Lepanto se deveu à intercessão da Senhora do Rosário, o Senado veneziano mandou pintar um quadro representando a grande batalha naval, com a seguinte inscrição: “Non virtus, non arma, non duces, sed Maria Rosarii victores nos fecit”. (Nem as tropas, nem as armas, nem os comandantes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória).

Ameaças de uma nova e grande ‘jihad’ 

A rememoração da extraordinária vitória das armas católicas sobre o Império Otomano no século XVI nos remete a um grande problema de nosso século, em particular no momento presente: surpreendente e fulminante reconquista do Afeganistão pelos maometanos do Talibã e de seus braços terroristas. 

Essa vergonhosa derrota do Ocidente encheu os ‘jihadistas’ do mundo islâmico de ânimo para, por assim dizer, vingar a derrota sofrida há exatos 450 anos em Lepanto. 

Em 1962, Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito entre 1954 e 1970, ameaçou: “Só uma cavalgada muçulmana é que nos poderá restituir a glória de outrora. Essa glória não será reconquistada senão quando os cavaleiros de Alá tiverem pisoteado [a basílica de] São Pedro de Roma e [a catedral de] Notre-Dame de Paris”. (Nouvelles de Chrétienté, nº. 362, de 13-9-62). 

Após um dos atentados do terrorismo islâmico em Paris, em 2015, Aboubakar Shekau, líder do grupo muçulmano Boko Haram, declarou “Estamos muito felizes com o que aconteceu no centro da França. Ó, franceses, vocês que seguem a religião da democracia, entre vocês e nós a inimizade é eterna”

Um ano antes dessa patética declaração, Dom Amel Nona, Arcebispo de Mosul, terceira maior cidade do Iraque, após relatar as atrocidades praticadas pelos maometanos em sua região — abusos de meninas, incêndios de igrejas e casas, escravidão de mulheres que viram seus maridos serem degolados etc. —, afirmou: “Nossos sofrimentos de hoje são um prelúdio daqueles que também vós, europeus e cristãos ocidentais, padecereis no futuro próximo, se não reagirdes a tempo”. 

Quantas derrotas, como a recente sofrida pelos Estados Unidos no Afeganistão, deverão acontecer para acordar o Ocidente e fazê-lo reagir enquanto é tempo ao iminente perigo islâmico? Quem ainda acredita que o “islamismo é uma religião de paz”? Ou vamos repetir o que disse o capitulacionista Manuel Valls, o socialista ex-primeiro-ministro francês, no dia seguinte ao terrível atentado terrorista islâmico em Nice (15-7-16), que atropelou centenas de pessoas e matou quase 100: “Entramos em uma nova era. E a França terá que conviver com o terrorismo”. 
Policiais a cavalo em frente da Grande Mesquita de Paris


Deus nos livre da realização do sonho otomano 

O mundo ocidental encontra-se numa apocalíptica encruzilhada e poderá sofrer uma invasão islâmica, como já alertava o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, conforme reproduzido em algumas edições de Catolicismo. Enquanto alguns chefes de Estado europeus abrem indiscriminadamente suas fronteiras para a entrada de “imigrantes” maometanos, estes vão se estabelecendo, sendo aliciados e preparados nas mesquitas para perpetrarem atentados terroristas visando colocar a Europa de joelhos e “islamizá-la”. 

“Os minaretes serão as nossas baionetas, as cúpulas os nossos capacetes, as mesquitas serão os nossos quartéis, os crentes os nossos soldados”. Repetiu o atual presidente da Turquia Recep Tayyip Erdoğan, citando palavras de um poeta do país. O que nos remete às imensas e numerosas mesquitas da religião islâmica que estão sendo construídas na Europa, além das numerosas já existentes. Para dar apenas um exemplo: em Estrasburgo (França) está sendo construída a mesquita do sultão Eyyub. Ela será a maior da Europa, podendo abrigar em seu interior 3.000 crentes — o que, no dizer do presidente turco, significa “soldados”, assim como mesquita significa “quartel”. Esses crentes e esses quartéis já estão espalhados por toda a Europa; outros “crentes” estão chegando para ocupar os novos, imensos e numerosos “quartéis” que estão sendo construídos. 

Nessas mesquitas, os líderes religiosos sempre alentam e incentivam seus seguidores crentes com o sonho otomano da aniquilação da Cristandade europeia, por meio de uma espécie de gigantesca contra-cruzada a fim de destruir a Cruz Cristo e implantar o Crescente de Maomé no mundo ocidental! 

O que não falta são ameaças de uma nova e grande jihad (“guerra santa” na concepção islâmica). Por isso, mais do que nunca, precisamos suplicar à Santíssima Virgem do Rosário aquilo que o Papa São Pio V pediu e obteve na batalha de Lepanto: a vitória da civilização cristã sobre o mundo maometano. 
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Obras consultadas: 
- Abbé Rohrbacher, Histoire Universelle de l´Église Catholique, Gaume Frères, Libraires, Paris, 1846, tomo 24.  
- Césare Cantu, História Universal, Editora das Américas, São Paulo, 1954, tomo XXI. 
- André Damino, Na Escola de Maria, Ed. Paulinas, 4ª edição, São Paulo, 1962. 
- William Thomas Walsh, Felipe II, Espasa-Calpe, Madrid, 1951. 

Túmulo de São Pio V na Basílica de Santa Maria Maggiore, Roma.

Vitória de Lepanto graças ao Papa São Pio V 

  Plinio Corrêa de Oliveira 

Vou destacar aqui um herói da batalha de Lepanto, a respeito do qual pouco se fala. Esse herói foi o Papa São Pio V. 

O Pontífice via bem o poder otomano crescer cada vez mais, e o perigo de os otomanos se jogarem sobre a Itália ou sobre qualquer outra parte da Europa, e operarem uma invasão que poderia ter efeitos tão ruinosos ou talvez mais ruinosos do que teve a invasão dos árabes na Espanha, no começo da Idade Média. 

Nessa situação, São Pio V tinha que apelar naturalmente para o varão que era o apoio temporal da Igreja naquele tempo: Felipe II, Rei da Espanha. 

O Imperador do Sacro Império Romano Alemão não tinha condições, por causa da divisão religiosa no império [em razão da revolução protestante], de lutar eficazmente contra os mouros. A França estava corroída por uma crise religiosa muito grande, guerra de religião etc.

O Papa só podia contar, dentre as grandes potências católicas, com Felipe II de um lado, e, de outro, com Veneza, que dispunha de grande poder marítimo. 

Caso Felipe II se retraísse, a horda maometana desataria sobre a Itália, e depois atingiria toda a Cristandade. Seria o fim da civilização cristã no Ocidente. Não seria o fim da Igreja, porque ela é imortal; mas, ao que a Igreja poderia ficar reduzida, ninguém sabe.

Se não fosse a pressão de São Pio V, não se teria realizado a Batalha de Lepanto, porque a Espanha não teria mandado sua esquadra. Esta era o grande contingente decisivo dentro das esquadras aliadas que lutaram e venceram em Lepanto. 

Assim se compreende melhor por que razão houve a famosa aparição a São Pio V: a revelação da vitória das esquadras católicas. 

São Pio V foi um verdadeiro herói, como Dom João d’Áustria e os outros grandes guerreiros que venceram em Lepanto. 
(Trecho de conferência em 7-10-75, sem revisão do autor). 
Representação do momento em que o Papa São Pio V teve a revelação do triunfo dos católicos na Batalha de Lepanto. 

Lepanto, vitória do Rosário 

A eficácia e o poder do Santo Rosário foram depois experimentados também no século XVI, quando as imponentes forças dos turcos ameaçavam sujeitar quase toda a Europa ao jugo da superstição e da barbárie. Nessa circunstância, o Pontífice São Pio V, depois de estimular os soberanos cristãos à defesa de uma causa que era a causa de todos, dirigiu todo o seu zelo em obter que a poderosíssima Mãe de Deus, invocada por meio do Santo Rosário, viesse em auxílio do povo cristão. 

E a resposta foi o maravilhoso espetáculo então oferecido ao Céu e à Terra; espetáculo que empolgou as mentes e os corações de todos! Com efeito, de um lado os fiéis prontos a dar a vida e a derramar o sangue pela incolumidade da Religião e da pátria, junto ao golfo de Corinto esperavam impávidos, o inimigo; e de outro lado, os que estavam sem armas, em piedosa e súplice falange, invocavam a Maria, e com a fórmula do Santo Rosário repetidamente A saudavam, a fim de que assistisse aos combatentes até a vitória. 

E Nossa Senhora, movida por aquelas preces, os assistiu: porquanto, havendo a frota dos cristãos travado batalha perto de Lepanto, sem graves perdas dos seus, derrotou e aniquilou os inimigos, e alcançou uma esplêndida vitória. Por este motivo o santo Pontífice, para perpetuar a lembrança da graça obtida, decretou que o dia do aniversário daquela grande batalha fosse considerado festivo em honra da Virgem das Vitórias; festa que depois Gregório XIII consagrou sob o título do Rosário. 
(Da Encíclica Supremi Apostolatus de Leão XIII, de 1º de novembro de 1883).