29 de junho de 2023

LULA — A DECEPÇÃO


“Falso amigo do ocidente”, amigo de Putin e Maduro, “Lula não é mais Lula”; esperado como um “messias”, virou “uma miragem” 

  Paulo Roberto Campos 

O que quase todo o mundo já estava percebendo, foi confessado e se tornou evidente com a matéria publicada pelo jornal francês Libération. Na capa de sua edição do dia 23 de junho [foto], o atual presidente brasileiro é manchete: LULA — A DECEPÇÃO. Ademais, qualifica-o de “falso amigo do Ocidente”

Falsidade que ficou escancarada com a inequívoca posição do governo lulo-petista favorável ao sanguinário ditador da Rússia, Vladimir Putin. Desiludido, constatou o diário parisiense: “O presidente brasileiro não é o precioso aliado que imaginávamos”. Demorou... Pois, devido ao affaire Ucrânia, seria preciso isolar a Rússia, culpada pela brutal e covarde invasão. 

Apesar de defender uma posição diplomática extremamente anacrônica, Luiz Inácio Lula da Silva, que era esperado como um “messias”, virou “uma miragem”, conforme o Libération.

Posição contra a Ucrânia e favorável a Maduro 

Nesse mesmo sentido, outra publicação francesa, a revista L´Express, estampou na sua edição de 7 de junho um artigo de Axel Gylden, no qual ele afirma que “Lula não é mais Lula”, que a diplomacia do presidente petista, antes pretendida como “mágica”, está ultrapassada, não funciona mais. E exemplificou com a posição lulista contrária à Ucrânia e favorável a Nicolás Maduro. 

O artigo comentou ainda a recepção, com pompa e circunstância, ao ditador Maduro, no dia 30 de maio último, ao qual Lula estendeu “tapete vermelho”, prestando-lhe todas as honras, inclusive militares, próprias a um chefe de Estado democrático. A revista francesa lembra também que na recente Cúpula do G7, no Japão, Lula da Silva foi o único a não se levantar para cumprimentar Zelensky, o presidente ucraniano [foto ao lado]. 

Voltemos à reportagem do Libération. Depois de falar da vergonhosa recepção de Lula a Maduro, muy amigo de Putin, perguntou o óbvio: se Lula da Silva “não tem conhecimento dos abusos cometidos na República Bolivariana do Autoritarismo”

Brasília (DF) 29/05/2023 - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Itamaraty, durante almoço com o presidente Lula .   Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Êxodo de sete milhões de venezuelanos e apoio da Rússia 

Poderíamos elencar sinteticamente, entre tantas calamidades que Maduro provocou na outrora próspera Venezuela: sua responsabilidade por ter jogado na miséria um país possuidor de uma das maiores reservas de petróleo do mundo; por ter gerado a maior crise econômica (com a inflação batendo os 300% por ano...); a maior onda migratória de nossos tempos; uma crise de refugiados maior até do que a de países em guerra, como a Ucrânia e a Síria. 

Quanto a este último ponto, desde 2015, sete milhões de venezuelanos fugiram para países fronteiriços (Cfr. Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - Acnur). Ou seja, 1/4 da população, pois o país conta com 28 milhões de habitantes. Seis milhões e meio deles não têm alimentação básica; muitos dizem ir para cama dormir a fim de não sentir fome; 30% das crianças sofrem de desnutrição aguda; a maior parte dos hospitais está sem as mínimas condições para atender pacientes. 

Venezuelanos que fugiram para o Brasil, recebidos pela “Operação Acolhida”, mesmo vivendo aqui em condições muito precárias, dizem viver num paraíso, se comparar com as condições famélicas nas quais viviam em sua terra natal, onde o salário-mínimo é de apenas cinco dólares. 

Nas eleições venezuelanas os resultados foram escancaradamente manipulados; cassaram-se os direitos políticos de candidatos oponentes, outros foram presos, alguns torturados, para não concorrerem com Maduro; diversas nações consideram que as eleições foram fraudadas; mais de 500 meios de comunicação foram fechados. 

Em público, falar mal do presidente do país “com excesso de democracia” — como o qualificou Lula anos atrás — pode ser punido com até 20 anos de prisão. Para tal, Maduro conta com o apoio de uma polícia política a fim de reprimir qualquer oposição, além da assistência russa e cubana no setor de inteligência, o que lhe permite perpetuar-se no poder. 

Não se pode deixar de recordar que a nação vizinha está dominada pelo narco-terrorismo e que Maduro foi processado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes políticos e contra os direitos humanos, bem como por lavagem de dinheiro; ele é também acusado de estar vinculado ao tráfico de drogas e de armas. O senador americano Marco Rubio (Partido Republicano da Flórida) pediu que a Interpol colocasse Nicolás Maduro na lista vermelha de “procurados”. 

Lula estendeu “tapete vermelho” para o ditador chavista, prestando-lhe todas as honras, inclusive militares, próprias a um chefe de Estado democrático.

Até a ONU o julgou como criminoso, procurado pela justiça. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos estava oferecendo 15 milhões de dólares como recompensa pela captura do tirano, que por precaução se esquiva de viajar para o exterior, mas que em Brasília foi recebido com todas as honras... 

O insuspeito Libération — jornal de esquerda — não pôde deixar de denunciar Lula por sua patética e indisfarçável posição favorável ao déspota venezuelano, como se este fosse um presidente legitimamente eleito... Tão “legítimo” que mais de 50 países não reconhecem o governo da narco-ditadura chavista. É até risível a posição do presidente petista, mas não é fake, nem narrativa, é fato! 

Não se pode fazer “vistas grossas” para a situação venezuelana 

No encontro que reuniu 11 presidentes da América do Sul em Brasília, no dia 30 de maio, Lula teve a ridícula e megalomaníaca pretensão de liderar e “desenhar” um novo modelo de integração sul-americana, de relançar a União de Nações Sul-Americanas-Unasul, e de promover a criação de uma utópica moeda-comum para o comércio no “Cone Sul”, a fim de retaliar os Estados Unidos e sua moeda. 

Os mandatários não gostaram do tratamento especial que Lula dispensou a Maduro. Entre muitos disparates, Lula disse que tudo quanto se fala de autoritarismo de Maduro e restrição às liberdades democráticas na Venezuela não passa de uma “narrativa que se construiu”... 

Com efeito, Lula foi criticado por alguns presidentes por essa “narrativa” sem fundamento na realidade. Principalmente dois deles foram contundentes nas críticas. 

Brasília (DF) 30/05/2023 - O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, deixa o Palácio do Itamaraty, após reunião de Presidentes dos países da América do Sul. Foto Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

O presidente do Uruguai, Luís Alberto Lacalle Pou, criticou a união de países com base numa agenda falida, com um Mercosul enquanto “clube ideológico”: “Temos discrepância com o que Lula disse ontem [dia 29 de maio]. Basta de instituições unidas com cunho ideológico”. Ele rebateu a fala de Lula dizendo ter “ficado surpreso quando foi dito tratar-se de uma narrativa o que vem acontecendo na Venezuela. Os Srs. já sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo da Venezuela [...]. Se há tantos grupos no mundo tentando mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que sejam respeitados os direitos humanos e para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tentar tapar o sol com um dedo”

Brasília (DF), 30/05/2023 - Os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, do Chile, Gabriel Boric, e do Paraguai, Mário Abdo Benítez, durante reunião com presidentes de países da América do Sul, no Palácio do Itamaraty. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Por sua vez, o presidente do Chile, Gabriel Boric [no centro da foto acima], mesmo sendo de esquerda, discordou do discurso de Lula quanto ao regime ditatorial da Venezuela, violador contumaz dos direitos humanos: “Não se pode fazer vistas grossas a princípios importantes. Discordo do que Lula disse. Não é uma ‘construção narrativa’, é uma realidade e tive a oportunidade de ver em centenas de milhares de venezuelanos que vivem em nosso país.” 

Incompreensível e ridícula bajulação de Lula a Maduro 

Até mesmo ex-ministros esquerdistas de Hugo Chávez — antecessor e guru de Maduro — rebateram o presidente petista por sua solidariedade com o mandatário venezuelano. Em carta aberta divulgada no dia 1º de junho, os ex-ministros Rodrigo Cabezas, Héctor Navarro, Ana Elisa Osorio e Oly Millan declararam que a crise na Venezuela não é uma “narrativa que se construiu”, como disse Lula, e citam processos contra Maduro por violações de direitos humanos. Escreveram que “neste exato momento, há 281 presos políticos na Venezuela”.

Eles se referem também ao fechamento de jornais, rádios, canais de TV e o banimento de partidos políticos por parte do Supremo Tribunal de Justiça — inteiramente subjugado pelo chavismo (Cfr. O Estado de S. Paulo, 2-6-23). 

Em seu Twitter, Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP e colunista de O Estado de S. Paulo, escreveu que o discurso de Lula é prejudicial ao Brasil: “A retórica incrivelmente bajuladora de Lula em relação a Maduro — cuja repressão sistemática e abusos de direitos humanos estão bem documentados — é muito mais prejudicial à reputação internacional do governo brasileiro do que qualquer outra coisa que Lula tenha dito ou feito até agora.” 

*   *   * 

A continuar neste devaneio e descaminho, logo mais o atual desgoverno estará estendendo tapete vermelho também para os ditadores da Nicarágua, da Coreia do Norte, da China e da Rússia. De tanto aproximar-se deles, poderá levar o Brasil a se tornar parecido com aqueles tirânicos regimes de terror. 

Nossa Senhora Aparecida livre disso o nosso tão querido e sofrido País, profundamente decepcionado e indignado pelo apoio que autoridades eclesiásticas do mais alto nível vêm prestando à demolição do que resta de civilização cristã na Terra de Santa Cruz!

21 de junho de 2023

Japão pode parar devido à queda da natalidade


O
primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, declarou que seu país corre o risco de “parar de funcionar” devido à queda da natalidade. 

Na década de 1970 nasciam anualmente mais de dois milhões, enquanto em 2022 nasceram menos de 800 mil japoneses. 

O Japão conta hoje com 125 milhões de habitantes, mas nesse ritmo terá no fim do século apenas 53 milhões. 

As planificações demográficas falharam e a solução agora mais falada pode ser um tiro pela culatra: afrouxar a imigração. 

A China poderia ocupar com facilidade o Japão. O declínio se deve à imoralidade e à pregação ecológica contra a natalidade.

17 de junho de 2023

“Cada criança que nasce vem com um pão debaixo do braço”


✅  Paulo Roberto Campos

A municipalidade da Andaluzia premiou com um salário uma numerosa família da cidade de Granada que tem 15 filhos — a mais velha com 21 anos e o caçula com 14 meses. 

Pai e mãe (Cuevas Benítez, 47 anos, e Belén Benitez, 45 anos) com os filhos (Paloma, Daniel, Miguel, Esther, Rafael, Marcos, Fernando, Lucas, Santiago, Sofía, Elena, José, Alejandro, Alma e Javier) residem em uma casa de dois andares e se locomovem em duas vans. 

A família numerosa numa viagem de férias à Itália
Os pais não acham esquisita uma família tão numerosa, o que consideram esquisito é o fato de as famílias europeias atualmente não querem ter filhos ou apenas um. Eles confiam na providência divina nas dificuldades próprias a uma grande família, mas vivem harmonicamente e muito felizes. A casa sempre cheia é sempre uma alegria, disse Belén, que não trabalha fora para poder se dedicar exclusivamente à educação da prole. 

O Governo de Juanma Moreno justifica o prêmio à família: “educação dos seus filhos e filhas na convicção de que está contribuindo da melhor forma para o aumento demográfico e a mudança geracional. As famílias numerosas cumprem uma função social. E é importante que seja visível.” Infelizmente na Espanha atual há apenas 147 famílias com mais de 10 crianças.

A respeito da recompensa, conhecida como “Prêmio Famílias Andaluzas”, Javier afirmou que “Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, seria a nossa vez. Há alguns anos premiaram alguns amigos. O reconhecimento não nos diz nada. São coisas nossas, é a nossa família e pronto. Não queríamos quebrar nenhum recorde nem nada. Eles fizeram questão de nos conceder e nós aceitamos. Parto do princípio de querem incentivar as famílias numerosas. Já estamos com os meios e todas estas coisas, o que nos custa um pouco de trabalho”. 


O casal, além dos trabalhos quotidianos, encontra tempo para ser catequistas na paróquia granadina da Virgen de las Angustias. 

“Redes, tecnologias criam novas necessidades. Vemos como essencial comer todos juntos. Na hora do almoço, quando estamos reunidos, surgem algumas reclamações. O único que tem celular é o mais velho. As crianças não devem receber tudo o que querem. Hoje em dia tudo tem que ser imediato. Belén e eu recebemos outra educação. Damos a eles o que precisam, não o que pedem. Eles já estão vendo como alguns de seus colegas sofrem problemas para acessar, por exemplo, pornografia” — disse Javier numa entrevista (“El Mundo”, 14-6-23). 

O heroico casal tem dificuldade para sustentar todos os filhos, mas sempre conseguem o necessário. Javier costuma dizer que “Cada criança que nasce vem com um pão debaixo do braço”.

15 de junho de 2023

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Imagem venerada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em SP [Foto PRC] 

  Paulo Roberto Campos 

O mês de junho é dedicado pela Igreja ao Sagrado Coração de Jesus. Sua festa, neste ano, é celebrada no próximo dia 16. 

Essa festividade, que visa honrar o adorável Coração, foi aprovada pelo Papa Clemente XIII em 1765 para algumas dioceses. Depois foi estendida a toda a Igreja pelo Bem-aventurado Papa Pio IX, no dia 23 de agosto de 1856, com o decreto da Congregação dos Ritos. No começo do século XX, Leão XIII consagrou todo o gênero humano ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Em 1928, Pio XI definiu a festa do Sagrado Coração como a característica de nossos tempos. 

No dia 16 de junho de 1675, aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690) no Convento da Visitação de Santa Maria, em Paray-le-Monial (França), e apontando para o Seu próprio coração, Nosso Senhor lhe disse: 

“Eis aqui o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para testemunhar-lhes seu amor; e, por reconhecimento, não recebe da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências, sacrilégios e pelas indiferenças e desprezos que têm por Mim no Sacramento do amor. Mas o que Me é ainda mais penoso é que corações que Me são consagrados agem assim. 

“Por isso, Eu te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa especial para honrar meu Coração, comungando-se neste dia e fazendo-Lhe um ato de reparação, em satisfação das ofensas recebidas durante o tempo que estive exposto nos altares. Eu te prometo também que meu Coração se dilatará para distribuir com abundância as influências de seu divino amor sobre aqueles que Lhe prestem culto e que procurem que este Lhe seja prestado”.[1] 


Nosso Senhor prometeu a Santa Margarida Maria que concederia a graça da penitência final para todos aqueles que durante nove meses seguidos comungarem na primeira sexta-feira. Ou seja, não morrerão em pecado, recebendo a garantia da salvação eterna. Esta é conhecida como a “A Grande Promessa”,[2] embora existam outras 11 admiráveis promessas. 

Reveladas a Santa Margarida Maria Alacoque, as 12 Promessas do Sagrado Coração de Jesus são profundamente tocantes e sublimes. Convém que sejam meditadas pelo leitor, pois maior incentivo para o progresso na virtude e aumento do desejo de salvação parece impossível. 

1ª) Às pessoas consagradas ao meu Coração darei as graças necessárias para o seu estado;

2ª) Darei paz às suas famílias; 

3ª) Eu as consolarei nas suas aflições; 

4ª) Serei o seu amparo e seguro refúgio ao longo da vida e particularmente na hora da morte;

5ª) Derramarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos diários; 

6ª) Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte e o oceano infinito de misericórdia; 

7ª) As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas; 

8ª) As almas fervorosas elevar-se-ão rapidamente a uma grande perfeição; 

9ª) Abençoarei os lares onde a imagem do meu Sagrado Coração esteja exposta e seja honrada; 

10ª) Darei aos sacerdotes a graça de mover os corações empedernidos; 

11ª) As pessoas que propaguem esta devoção terão o seu nome inscrito no meu Coração e dali nunca será apagado; 

12ª) E eu prometo [esta é conhecida como “a grande promessa”], no excesso de misericórdia do meu Coração, que o meu Amor Todo-Poderoso concederá a todos aqueles que comunguem nas nove primeiras sextas-feiras de cada mês de modo consecutivo, a graça da perseverança final, a salvação eterna. 



A primeira promessa sugere a consagração ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Para aqueles que desejarem se consagrar, eis a fórmula composta por Santa Margarida Maria Alacoque: 

“Eu, [mencionar o nome], dou e consagro ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e dores, não querendo servir-me de parte alguma de meu ser, senão para honrá-Lo, amá-Lo e glorificá-Lo. 

É esta a minha vontade irrevogável: pertencer-Vos e fazer tudo por vosso amor, renunciando completamente ao que não for do vosso agrado. 

Eu Vos tomo, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e inconstância, reparador de todos os meus defeitos e asilo seguro na hora da morte. 

Sede, ó Coração de bondade, minha justificação para com Deus vosso Pai, afastai de mim os castigos de vossa justa cólera. Ó Coração de amor, ponho em Vós toda a minha confiança, pois tudo receio de minha fraqueza e malícia, mas tudo espero da vossa bondade. 

Destruí em mim tudo o que vos possa desagradar ou resistir. Que o vosso puro amor se grave tão profundamente no meu coração, que eu não possa jamais vos esquecer, nem me separar de Vós. 

Suplico-vos também, por vossa suma bondade, que o meu nome seja escrito em Vosso Coração, pois eu quero fazer consistir toda minha felicidade e minha glória em viver e morrer convosco na qualidade de vosso escravo. Assim seja!”

13 de junho de 2023

Desígnio do Criador de todas as coisas com imperfeições na natureza


  Plinio Corrêa de Oliveira 

Algumas coisas da natureza europeia são mais paradisíacas do que as da natureza tropical. Mas na natureza tropical outras coisas são mais paradisíacas. É preciso ter uma noção conjugada de ambas as naturezas para se ter uma melhor noção do que seria o Paraíso.

O homem pode modelar certas coisas da natureza, como a pedra à espera de um escultor, para ficarem com uma beleza que lembre o paraíso. 

Dou um exemplo. Certa vez recebi um cartão postal com uma ave que eu conhecia apenas vagamente. Era com foto de um Galo da Serra. Tem uma plumagem com uma cor magnífica, uma ave muito bonita, uma verdadeira joia, mas com um bico desproporcionado. 

Para muitos adeptos do racionalismo esse problema não se põe. Para eles a natureza não é para ser julgada feia nem bonita, mas tem que ser assumida como ela é; a natureza é o grande fato consumado. Eles têm um amor prévio à natureza como se fosse toda ela límpida e perfeita. 

Essa concepção contraria a doutrina católica porque a Terra é um vale de lágrimas, é uma terra de exílio onde Deus colocou também coisas objetáveis do ponto de vista da estética para que, caso o homem pecasse, tivesse aqui o sofrimento de ver coisas não perfeitas e desejasse as perfeitas. E se ele não sofre com as imperfeições, não cumpre um desígnio de Deus. 

De maneira que ver o bico desproporcionado de uma ave e rejeitá-lo é estar cumprindo o desígnio do Criador. Ele quis fazer-nos um bem: a oportunidade de discernir entre o feio e o belo, afinando nossos pontos de vista com o belo. De maneira que devemos contemplar a natureza de acordo com a estética que está em nossa mente e em nossa alma. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 5 de setembro de 1979. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

11 de junho de 2023

80 anos da denúncia de uma Revolução dentro da Igreja Católica


Para extirpar os erros do protestantismo e do comunismo infiltrados dissimuladamente nos ambientes católicos, Plinio Corrêa de Oliveira lançou um livro em 1943 — uma obra-chave para interpretar o processo de autodemolição da Santa Igreja. 

Fonte: Editorial da e Revista Catolicismo, Nº 870, Junho/2023

Uma revolução dentro da Igreja. Esta foi a magistral denúncia feita por Plinio Corrêa de Oliveira em seu primeiro livro, Em Defesa da Ação Católica, lançado em junho de 1943.

Na época, o movimento católico era uma potência, sobretudo as Congregações Marianas lideradas por ele em São Paulo. Fato que impulsionava a irradiação esplendorosa da Igreja e favorecia o Brasil a crescer no cumprimento de sua grandiosa missão providencial. 

Fato, entretanto, que desagradava ao clero neomodernista, que trabalhava e ensinava nos seminários para ressuscitar dentro da Igreja os erros do modernismo, condenados pelo Papa São Pio X como “síntese de todas as heresias”. 

A fim de extirpar esses erros que serpenteavam nos ambientes católicos e denunciar os lobos com pele de ovelha infiltrados no rebanho, Dr. Plinio, então presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica, redigiu o referido livro, que foi uma verdadeira bomba contra o progressismo. Ele sabia que se tratava de uma “operação kamikaze” e de que seria vítima das maiores perseguições — “cancelamento”, difamação, ostracismo —, mas em defesa da Igreja estava disposto a qualquer sacrifício. 

Dito e feito! As perseguições não extinguiram nem mesmo após ter ele recebido do Papa Pio XII uma carta laudatória assinada por Mons. João Batista Montini, então substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé e depois Papa Paulo VI. 

Hoje os erros então desmascarados retornaram e se intensificaram. Os filhos espirituais daquele clero dos anos 1940 degeneraram de modo acelerado, deixando a Igreja no descrédito e conspurcada por escândalos morais, pregação aberta de erros doutrinários e até de heresias. São os adeptos da “teologia da libertação”, de uma “igreja nova” sem lei nem hierarquia e posta a serviço do comunismo. 

Exemplo recente disso é o chamado “Caminho Sinodal”, que pretende instituir uma Igreja diametralmente oposta à fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Nossos leitores poderão conferir na matéria de capa da revista Catolicismo* [foto acima] deste mês como há exatos 80 anos o autor de Em Defesa da Ação Católica alertou para o processo de autodemolição da Santa Igreja que atingiu hoje o seu apogeu, e entenderão por que o eminente líder católico brasileiro foi silenciado, caluniado e perseguido durante toda a sua vida. Boa leitura! 

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Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo enviei um e-mail para: catolicismo@terra.com.br

7 de junho de 2023

CORPUS CHRISTI — Dogma da Presença Real


Nesta Quinta-Feira celebramos solenemente a “Festa de Corpus Christi” em memória da instituição da Sagrada Eucaristia na Quinta-Feira Santa. Dia que devemos consagrar especialmente a honrar a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia. 

Segundo São Pedro Julião Eymard — grande apóstolo do Santíssimo Sacramento — “Esta festa não se chama simplesmente a festa de Nosso Senhor, mas a festa do Corpo de Nosso Senhor. Por esse Corpo, n'Ele tocamos. Por esse Corpo, tornou-se nosso alimento, nosso irmão, nosso hóspede. Festa do Corpo de Jesus Cristo! Quanto amor envolve tal nome, por ser humilde e proporcionado à nossa miséria. Nosso Senhor desejou esta festa para se aproximar cada vez mais de nós. Não deseja o pai ver o filho celebrar-lhe o aniversário por lhe dar ocasião de provar com maior vivacidade seu amor paternal e lhe poder conceder algum favor particular? Seja esta festa toda de alegria, e ser-nos-ão concedidos insignes favores". 

Em memória desta magnífica festividade transcrevemos uma bela oração [texto em português e em latim] composta por Santo Inácio de Loyola, que devemos rezar preferencialmente frente a um Sacrário: 

Anima Christi (Alma de Cristo) 

Alma de Cristo, santificai-me. 

Corpo de Cristo, salvai-me. 

Sangue de Cristo, inebriai-me. 

Água do lado de Cristo, lavai-me. 

Paixão de Cristo, confortai-me. 

Ó bom Jesus, atendei-me. 

Dentro de vossas chagas, escondei-me. 

Não permitais que me separe de Vós. 

Do maligno inimigo, defendei-me. 

Na hora da minha morte, chamai-me. 

E mandai-me ir a Vós. 

Para que com vossos santos Vos louve. Pelos séculos dos séculos. 

Amém. 


Ánima Christi 

Anima Christi, sanctífica me. 

Corpus Christi, salva me. 

Sanguis Christi, inebria me. 

Aqua láteris Christi, lava me. 

Pássio Christi, confórta me. 

O bone Iesu, exáudi me. 

Intra tua vulnera abscónde me. 

Ne permíttas me sepári a te. 

Ab hoste malígno defénde me. 

In hora mortis meae voca me. 

Et iube me veníre ad te, ut cum Sanctis tuis laudem te in sáecula saeculórum. 

Ámen.

4 de junho de 2023

Se os asnos pagassem impostos.


✅  Paulo Roberto Campos

São tantas as asneiras que temos visto nestes primeiros anos de governo lulo-petista que é de se perguntar se elas não são cometidas de propósito para aviltar nosso País aos olhos do mundo inteiro. Só espero que todos percebam que isso não é Brasil, é Brasília nos dias atuais.

Não se pode apenas dizer que tal governo tem cometido muitos “deslizes”, são asneiras mesmo, num dia sim e no outro também, como — para dar um só exemplo — a recepção que Lula deu ao tirano da Venezuela, o ditador Mauro. Estendeu tapete vermelho para o déspota como se ele fosse um presidente democraticamente eleito. Foi uma vergonha. Um tapa (ou patada?) na cara do povo brasileiro e do venezuelano também! 

Os asnos serão sempre asnos mesmo que os coloquem em ministérios! Seu número é tão grande que se eles pagassem impostos o País estaria muito rico... 

A propósito, seguem alguns pensamentos para nossos leitores refletirem e aplicarem como bem entenderem. 

“A inteligência é fonte de vida para quem a possui; o castigo dos insensatos é a loucura.” 
 (Livro dos Provérbios 16,22) 

“O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e as pessoas idiotas estão cheias de certezas.” 
(Bertrand Russel) 

“A tolerância alcançará tal nível que as pessoas inteligentes serão proibidas de pensar para não ofender os imbecis.” 
 (Fiódor Dostoyevski) 

“Nunca discuta com um estúpido, ele te fará descer ao nível dele e ali te vencerá por experiência.” 
(Samuel Langhorne Clemens) 

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza.” 
(Albert Einstein) 

“Stultorum numerus infinitus est” (O número dos tolos é infinito). 
(Expressão latina)

30 de maio de 2023

NOSSA SENHORA RAINHA


E
m todos os anos nos dias 31 de maio, no calendário tradicional, celebrava-se a festividade de Nossa Senhora Rainha. Ainda hoje em muitas igrejas neste dia é realizada a Coroação Solene da Rainha dos Anjos e dos Homens, seguida de uma chuva de pétalas de rosas, queima de fogos de artifício, enquanto todos os sinos tocam alegremente.

Para lembrar esta data mariana tão querida de seus devotos, reproduzimos uma bela poesia do português Gil Vicente (1465 – 1536), poeta renomado, primeiro grande dramaturgo de Portugal.

 


O GLORIOSA DOMINA

Ó gloriosa Senhora do mundo,
Excelsa Princesa do Céu e da Terra,
Formosa batalha de paz e de guerra,
Da Santa Trindade secreto profundo!

 

Santa esperança, oh Madre d'amor,
Ama discreta do Filho de Deus,
Filha e Madre do Senhor dos Céus,
Alva do dia com mais resplendor!
 
Formosa barreira, ó alvo e fito,
A quem os Profetas direito atiravam!
A Ti, gloriosa, os Céus esperavam,
E as três Pessoas um Deus Infinito.
 
Ó cedro nos campos, estrela no mar,
Na serra ave fénis, uma só amada,
Uma só sem mácula, e só preservada,
Uma só nascida, sem conto e sem par!

 

Do que Eva triste ao mundo tirou,
Foi o teu fruto restituído
Dizendo-te ave o Embaixador,
O nome de Eva te significou.
 
Ó porta dos paços do mui alto Rei,
Câmera cheia do Espírito Sancto
Janella radiosa de resplandor tanto,
E tanto zelosa da Divina Lei!
 
Ó mar de ciência, a tua humildade,
Que foi senão porta do céu estrelado?
Ó fonte dos Anjos, oh horto cerrado,
Estrada do mundo para a Divindade,
 
Quando os Anjos cantão a glória de Deus.
Não são esquecidos da glória tua;
Que as glórias do Filho são da Madre Sua,
Pois reinas com Elle na Côrte dos Céus.
 
Pois que faremos os salvos por Ella,
Nascendo em miséria, tristes peccadores,
Senão tanger palmas e dar mil louvores
Ao Padre, ao Filho e Espírito, e a Ella.

28 de maio de 2023

SANTA JOANA D’ARC



Suscitada por Deus para livrar a França do jugo inglês, Santa Joana D´Arc foi depois traída e queimada como feiticeira. 

Reabilitada por Carlos III em 1456, teve a heroicidade de virtudes reconhecida por São Pio X. Sua festividade litúrgica é celebrada no dia 30 de maio. 

A santa guerreira é um exemplo típico de virtude heroica, praticada não só por meio de atos capazes de despertar louvores e aplausos, mas também cólera e reação. Modelo de combatividade cristã, fez ela, em admiráveis respostas no processo iníquo que sofreu, a apologia da virtude enquanto aplicada em guerrear e destroçar o mal. 

Assim, quando os juízes lhe perguntaram se Santa Catarina e Santa Margarida odiavam os ingleses, Joana d’Arc respondeu: 

— “Elas amam o que Nosso Senhor ama e odeiam o que Deus odeia”. 

 “Deus odeia os ingleses?” continuaram os juízes. 

 “Do amor ou do ódio que Deus tem aos ingleses, nada sei, respondeu a Santa; o que sei perfeitamente, é que todos eles serão expulsos da França, excetuado os que aqui morrerem”.

21 de maio de 2023

O jogo de futebol é inapropriado para pessoas do sexo feminino?

Duas moças disputando uma partida de futebol nos Estados Unidos. 

Pergunta — Fui algum tempo atrás visitar uma amiga que estava doente e a encontrei assistindo a uma partida de futebol feminino entre a seleção brasileira e a seleção inglesa. Nunca tinha visto mulheres jogando futebol e fiquei chocada pela brutalidade do confronto entre as duas equipes, a falta de feminilidade nas posturas das jogadoras e as atitudes que elas eram obrigadas a tomar para ganhar a partida. Padre, o que o senhor acha dessas moças que participam desse tipo de esporte?


Padre David Francisquini

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 868, Maio/2023

RespostaInfelizmente está virando moda a competição de mulheres em eventos esportivos reservados outrora somente aos homens, precisamente por requererem a força e a resistência físicas próprias à compleição masculina e, mais ainda, uma atitude viril de desafio e dominação do adversário ou concorrente a qual não é condizente com a psicologia feminina, voltada para o carinho, a compreensão, a concórdia e a compaixão.

Pior ainda. Torna-se cada vez mais frequente ver competições em que as equipes são “unissex”, ou seja, com jogadores de ambos os sexos. O resultado é que, como os rapazes com um pouco de cavalheirismo costumam moderar o uso da força para não agredir as moças, eles com isso se afeminam; e as moças, por sua vez, devendo desenvolver a agressividade em face dos rapazes, se masculinizam.

Dessa desordem gradual dos sexos — ainda favorecida pela confusão da aparência, na medida em que as moças quase não usam mais saias e cortam o cabelo curto, enquanto os rapazes deixam-no crescer até os ombros resulta o aumento assombroso de adolescentes e jovens que sentem atração sexual por pessoas do mesmo sexo, ou, pior ainda, daqueles que não se sentem bem no próprio corpo e querem mudar de sexo por meio de tratamentos hormonais ou até mesmo por amputações.

O mais grave é o aumento vertiginoso de Estados que reconhecem um suposto “direito” à mudança de sexo nas certidões de nascimento — alguns até sem precisar de tratamentos ou documentação médica, baseando-se apenas na subjetividade da pessoa —, assumindo todas as consequências práticas, tais como homens “trans” usando vestuários e toaletes femininos e concorrendo com mulheres em esportes nos quais obviamente têm uma vantagem física sobre elas.

Menciono tudo isso porque, ao analisar uma realidade, não se deve olhar apenas para a situação do momento, mas prever o que vai resultar disso para o futuro. Basta pensar nas aberrações que já estão resultando dessa “confusão dos sexos” — comparável à “confusão das línguas” com a qual Deus castigou o orgulho dos construtores da Torre de Babel — para compreender a maldade da participação de moças em esportes inapropriados para elas, não somente pela brutalidade inerente aos mesmos, mas também pelas posturas vulgares e por vezes indecentes que esses exercícios requerem.

Para se compreender a maldade da participação de moças em esportes inapropriados para elas, não somente pela brutalidade inerente aos mesmos, mas também pelas posturas vulgares e por vezes indecentes que esses exercícios requerem. 

Ausência da mãe prejudica a educação dos filhos

Na origem de todos esses absurdos está o feminismo e o movimento da “emancipação da mulher”, que se difundiram a partir da área de cultura anglo-saxã e recobraram força alhures após a Primeira Guerra Mundial. Sob o pretexto de igualdade entre homens e mulheres, esse fenômeno social revolucionário começou por tirar a mulher do lar e do cuidado prioritário dos filhos, para fazê-la concorrer com o homem na vida pública e nos locais de trabalho, inclusive em atividades não condizentes com a psicologia feminina, pela brutalidade das tarefas ou das situações que é preciso confrontar.

Duas propagandas das décadas
dos anos 40 e 50 demonstram
a mudança radical no ideal da mulher. 
Nas sociedades tradicionais, enquanto os homens animavam a vida econômica e política, as mulheres animavam a vida familiar e social. Elas eram “donas de casa”, ou seja, as verdadeiras “rainhas do lar”; criavam o ambiente da casa, organizavam as festas familiares e davam brilho à vida social e cultural da cidade. A saída da mulher do lar e sua masculinização psicológica pela concorrência com os homens na esfera pública e nos lugares de trabalho teve como consequência um empobrecimento da vida familiar e social.

A mais grave consequência disso foi o impacto sobre a educação dos filhos, que precisam da proximidade da mãe nos anos da infância e da adolescência. Se a mãe trabalha fora e chega cansada em casa depois de um dia de labuta, por mais que esteja animada dos melhores sentimentos em relação aos filhos, não lhes pode consagrar todo o tempo necessário requerido pela boa formação, nem cobri-los com o mesmo tipo de carinho delicado dispensado outrora pelas mães. Daí resultaram muitas das crises que hoje assolam os adolescentes e os jovens, que acabam procurando uma falsa compensação nos desvarios das discotecas ou das drogas.

Assim, o feminismo contribuiu para a evolução gradual rumo a uma sociedade “unissex”, em que os papeis masculinos e femininos passaram a ser considerados meros estereótipos culturais impostos pelas estruturas patriarcais e destinados a prolongar a opressão cujas vítimas seriam as mulheres.


O nazifascismo promoveu o esporte feminino

Na área dos esportes, além do feminismo, quem mais contribuiu para a generalização de sua prática entre moças, inclusive com competições públicas, foram o fascismo e o nazismo com seu culto pagão ao corpo e à natureza, e sua proposta de uma imagem forte e moderna da “mulher esportiva” uma das tantas expressões da “mulher nova” do fascismo e do hitlerismo. Il Littorale, jornal de propaganda esportiva do ditador italiano, escrevia que o ideal do regime era “permitir às moças praticar o esporte, para ter as futuras mães de uma prole sã para a Itália mussoliniana”.

O Terceiro Reich alemão foi ainda mais radical: a propaganda hitlerista difundia imagens de ginastas masculinos de torso nu e ginastas femininas com shorts e camisetas apertadas que acentuavam a sua figura, abria piscinas comuns para ambos os sexos, ou, pior ainda, fomentava a perversa “cultura do nu” berlinense de Adolf Koch, assim como a emancipação das moças das Juventudes Nazistas, incluindo a anarquia sexual — desde que as relações sexuais fossem praticadas entre arianos puros a fim de oferecer filhos ao Führer.

No período entre-deux-guerres, pela convergência do movimento feminista de origem anglo-saxã e do movimento nazifascista, foram se impondo em todo o mundo modas cada vez mais imorais, tornando realidade a queixa, formulada poucos anos antes, por Santa Jacinta de Fátima: “Hão de vir umas modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor.” De onde a sua advertência: “As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo.”

Luta constante contra a permissividade dos costumes

Além do cinema e das revistas de moda feminina, os esportes serviram eficazmente para fazer com que as moças fossem aos poucos perdendo o pudor em mostrar as linhas de seu corpo, quando não o próprio corpo, ao usarem roupas que facilitavam a liberdade de movimentos requerida pelos exercícios.

No começo isso se dava em privado — seja nas escolas, que ainda eram separadas por sexos, seja na intimidade familiar, em jogos como o tênis. Mas aos poucos os concursos foram ficando cada vez mais públicos, chegando-se hoje ao cúmulo do exibicionismo, primeiro com a difusão de fotografias na seção de esportes dos jornais e, mais tarde, nas transmissões da televisão, com cenas em ângulo fechado que põem ainda mais em relevo partes do corpo que deveriam estar cobertas.

Ora, no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, publicado no pontificado de João Paulo II, está escrito, a respeito do 9° Mandamento da Lei de Deus: “A pureza exige o pudor, que, preservando a intimidade da pessoa, exprime a delicadeza da castidade e orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e da sua comunhão. Ela liberta do erotismo difuso e afasta de tudo aquilo que favorece a curiosidade mórbida. Requer uma purificação do ambiente social, mediante uma luta constante contra a permissividade dos costumes, que assenta numa concepção errônea da liberdade humana” (questão 530).

Diante do perigoso avanço da impudicícia por ocasião das competições esportivas femininas, a Igreja e o Vaticano não tardaram outrora em reagir. Por ocasião de uma exibição pública de ginástica feminina em Neuburg, em julho de 1927, o Núncio Apostólico e os bispos da Alemanha denunciaram que os exercícios realizados pelas moças entravam em choque com a moral católica e com o pudor feminino, bem como com sua constituição física.

Decadência moral própria aos jogos públicos e competições

Em maio de 1928, o regime fascista organizou em Roma o Primeiro Concurso Ginástico Atlético Nacional Feminino “Jovens Italianas”. Em carta ao Vigário de sua diocese, o Papa Pio XI denunciou o evento: “O Bispo de Roma não pode deixar de deplorar que aqui na santa cidade do catolicismo, depois de vinte séculos de cristianismo, a sensibilidade e a atenção às delicadas considerações devidas às jovens se tenham mostrado mais fracas do que na Roma pagã, a qual, embora rebaixada a tal decadência moral, ao adotar da Grécia conquistada os jogos públicos e as competições ginásticas e atléticas, por razões de ordem física e moral de puro bom senso, excluiu delas as jovens, como haviam sido excluídas também em muitas cidades da mesma Grécia ainda mais corrupta.”

Nesse mesmo ano, o Cardeal Sbaretti Tazza, Prefeito da Congregação do Concílio, ordenou uma grande investigação nas escolas e associações católicas, para coibir a difusão do uso de maiô de banho nas atividades esportivas e atléticas femininas, tanto em locais públicos quanto nos privados. O cardeal instruiu os bispos da Europa e da América que as moças que faziam ginásticas sem usar saia jamais deveriam praticar seus exercícios ao ar livre, nas ruas ou em eventos desportivos públicos. Mais ainda, os eventos atléticos para moças deveriam ser evitados ou, pelo menos, sérias precauções deveriam ser tomadas para proteger a moralidade católica e a decência da juventude.

As advertências das autoridades religiosas tiveram certo impacto nas famílias católicas, obrigando as associações esportivas a colocar restrições. Por exemplo, a Sociedade de Ginástica de Turim, o primeiro clube italiano de ginástica a abrir suas portas para mulheres, só conseguiu “o favor das mães e da opinião pública” ao garantir a “confidencialidade feminina”, chegando a proibir a entrada nos treinos das moças, não apenas os homens, mas até os pais de família.

Jovens desportistas alemãs desfilam de saia na inauguração dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Nas competições o short e a camiseta apertada eram o uniforme de rigor


Denúncia contra as Competições Juvenis do Reich

Outra preocupação da Igreja era relativa aos esportes femininos violentos, que poderiam contrariar o natural desenvolvimento da feminilidade das moças. Nesses mesmos anos, o então Secretário de Estado, o Cardeal Eugenio Pacelli, ex-núncio em Berlim, denunciou a participação de mulheres em eventos esportivos públicos como as Reichsjugend Wettkämpfe (Competições Juvenis do Reich), alertando que a masculinização das mulheres punha em risco o papel futuro delas no matrimônio e na família.

Em 2019, o Vaticano apresentou
a sua primeira associação desportiva,
denominada “Athletica Vaticana”,
uma equipe de atletismo composta
 por padres, freiras e empregados da Santa Sé.
 Segundo o Vaticano, com esta iniciativa
“se visa demonstrar que o desporte pode
ser um instrumento de solidariedade”
Essa preocupação foi compartilhada até pelo promotor das Olimpíadas modernas, o francês Pierre de Coubertin, que em carta de fevereiro de 1930 ao Papa Pio XI pediu-lhe que reiterasse a posição do Vaticano em relação aos espetáculos esportivos femininos e, em particular, condenasse tanto os esportes violentos para moças como aqueles através dos quais elas se masculinizavam (“montar a cavalo como os homens”), ajudando-o a acabar com algumas competições esportivas juvenis (individuais e coletivas) que, a seu ver, apresentavam tendências perturbadoras.

Essa posição severa do Vaticano em relação aos eventos esportivos públicos com participação de atletas do sexo feminino — acarretando, por exemplo, que a equipe italiana nas Olimpíadas de Los Angeles de 1932 não incluísse mulheres, por causa da oposição do Papa Pio XI — originou uma polêmica, em fins de 1933, entre L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, e o já mencionado órgão fascista Il Littorale, que na época servia de porta-voz do Comitê Olímpico Nacional Italiano.

O jornal vaticano havia definido as exibições públicas de esporte feminino como “irracionais” e “moralmente danosas”, enquanto ensinam “à mulher, à moça, não só o lançamento do dardo, mas de si própria”, pelo que se veem “despojadas da sua graça e do seu pudor”. Num artigo posterior, o jornal reprova que se exija de mocinhas realizar “exercícios não condizentes com a compostura e a graça femininas”, sobretudo quando eles se “executam em público”.

Como um jornal esportivo havia perguntado anteriormente “se são mesmo imorais esses tantos centímetros de pele que as modas bizarras do mundo inteiro mostram, a cada esquina, em todas as ruas”, L’Osservatore Romano aproveitou a ocasião para replicar: “No caso, os ‘centímetros’ correspondem à nudez da maior parte do corpo, nas ‘ruas’ e nos estádios públicos.”

O Comitê Olímpico respondeu que, de um lado, o regime fascista permitia apenas “aqueles exercícios nos quais, nos Jogos Olímpicos modernos, as mulheres foram admitidas com honra”, ou seja, “florete na esgrima, patinação artística, ginástica coletiva, algumas provas de natação e tênis”, e reiterava que “proibiu peremptoriamente apresentações públicas de futebol feminino, como já havia feito com o boxe no passado”.

A respeito do escândalo moral, o Comitê punha sua esperança — inteiramente naturalista e desconhecedora do pecado original — na “maturidade” de um público “composto na sua maioria por esta nova juventude italiana”, a fascista, “cuja modéstia instintiva e natural é em grande parte o resultado de uma saúde não falaciosa, adquirida ou restaurada mediante a prática de educação física”.

As autoridades esportivas do regime reconheciam a possibilidade de que, nas arquibancadas das competições femininas, alguns homens “antiesportivos” — os “doentes” e os “viciosos” — estivessem à espreita para “surpreender algo visto e invisível (e muitas vezes apenas ‘imaginado’) que saciasse a sua miserável humanidade”; alegava, porém, que tais homens “infiltram-se por toda a parte”, não só no estádio, mas também “na Casa de Deus”.

Finalmente, para desacreditar o jornal do Vaticano, Il Littorale publicou uma carta enviada à direção, supostamente escrita por “algumas moças fascistas e ferventes católicas de uma cidade da Lombardia”, alegando que depois que começaram a praticar esportes, não iam mais aos bailes ou ao cinema, nem se interessavam por frivolidades, um resultado moral muito bom, “mesmo que para nos movimentarmos melhor ponhamos calções de ginástica; as anáguas, aliás, sempre faziam cair as varas de salto em altura”.

Adiantando-se um século aos jovens “unissex” de hoje, essas moças fascistas e pseudo-católicas dos anos 1930 argumentavam também o seguinte: “É estranho como os homens nos parecem diferentes quando se trata de esportes. Nunca os vemos como homens e eles nunca nos veem como mulheres: somos simplesmente camaradas tentando superar uns aos outros.”

Terminavam a falaciosa missiva dizendo que um sacerdote escrupuloso do vilarejo havia reprovado sua prática esportiva, a qual podia servir de ocasião de mal a outrem, mas que “as nossas mães nos aconselharam então a ir a outro padre, mais moderno, que compreendesse melhor as necessidades dos jovens, e ele não só nos deu permissão como nos elogiou” e, provavelmente, foi quem redigiu a carta...

O Brasil não ficou alheio a essa ofensiva a favor do esporte feminino. Nas festas juninas de 1921, houve uma partida entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira (na zona norte de São Paulo) noticiada pelos jornais da época como uma atração “curiosa”, quando não “cômica”. Porém, mesmo um grande promotor do futebol, o romancista maranhenese Henrique Maximiliano Coelho Netto — pai do Preguinho, autor do primeiro gol brasileiro em copas do mundo, em 1930 — rejeitava energicamente o futebol feminino: “Certamente ninguém exigirá da mulher que jogue o football ou o rugby, que esmurre antagonistas com o guante de boxe, que arremesse barras de ferro, que se engalfinhe em luta romana. Há exercícios que lhe não são próprios e que lhe seriam prejudiciais, não só à beleza como à saúde e até a sujeitariam ao ridículo”.

Entretanto, no Brasil também havia sacerdotes “mais modernos”, como o respeitado Monsenhor José Severino da Silva, fundador do Orfanato de São José em Campos, que chegou a reunir moças para jogarem nos três maiores clubes de futebol do Norte Fluminense da época, num torneio para arrecadar fundos em benefício de sua obra!

Meninas fazendo educação física no Colégio Santo André, de São João da Boa Vista (SP). O fundador desse prestigioso centro educativo, o venerável Mons. Antônio David, pároco da cidade e vigário-geral da diocese, condenou energicamente, em 1952, a realização de partidas de futebol femininas


Numa “Cruzada pela pureza”, as palavras do Papa Pio XII

Infelizmente, a falange dos padres “mais modernos” era tão numerosa, já naqueles anos, que as advertências do Vaticano não conseguiram impedir que se difundissem as competições esportivas femininas em público, tornadas populares pelo regime de Mussolini.

O Papa Pio XII na Praça de São Pedro
Alguns anos mais tarde, o Papa Pio XII teve de reagir contra a onda crescente de despudor promovendo, por meio do ramo feminino da Ação Católica, uma “grande Cruzada da pureza”, cuja guardiã é a modéstia, que ele definiu como “um respeito religioso pelo corpo que se expressa em um conjunto de disposições da pessoa, de maneiras, de porte, de palavras sabiamente reguladas e medidas”. O Papa apresentou para as moças católicas o exemplo da mártir Vibia Perpétua no anfiteatro de Cartago, onde ao cair de costas na arena após ser lançada ao ar por uma vaca muito feroz, seu primeiro gesto foi endireitar a túnica, que havia sido rasgada, a fim de cobrir seu flanco, mais preocupada que estava com a modéstia do que com a dor.

Após essa introdução, o Papa prosseguia: “A moda e a modéstia devem andar e caminhar juntas como duas irmãs, porque ambas as palavras têm a mesma etimologia, do latim modus, ou seja, a medida certa, além e aquém da qual não se encontra o direito (Oraz. Serm. 1, 1, 106-107).

“Mas a modéstia não está mais na moda! Semelhantes àqueles pobres alienados que, tendo perdido o instinto de autopreservação e a noção do perigo, lançam-se ao fogo ou aos rios, não poucas almas femininas, esquecendo-se do pudor cristão por ambiciosa vaidade, enfrentam miseravelmente perigos onde a sua pureza pode encontrar a morte.

            “Elas sofrem a tirania da moda, mesmo imodesta, de tal maneira que parecem nem mesmo suspeitar de sua inadequação; elas perderam o próprio senso de perigo, o instinto da modéstia. Ajudar estas infelizes a recobrarem a consciência dos seus deveres será o vosso apostolado, a vossa cruzada no meio do mundo. Modestia vestra nota sitomnibus hominibus [Sua modéstia é conhecida por todos os homens] (Fp 4:3)” (Discurso às moças da Ação Católica, em 22 de maio de 1941).

No terceiro aniversário do lançamento dessa Cruzada pela pureza, o Papa Pacelli voltou a insistir nesse tema em nova audiência (22 de maio de 1944), evocando de passagem a questão das competições esportivas:

“Sobre as almas tem que operar a Igreja, e a seu serviço a Ação Católica, vossa ação, em estreita união e sob a direção da hierarquia eclesiástica, entrando na luta contra os perigos dos maus costumes, combatendo-os em todos os domínios que vos são abertos: no campo da moda, das roupas e do vestuário, no campo da higiene e do desporto, no campo das relações sociais e do entretenimento.

“Não é nossa intenção retraçar aqui o triste e por demais conhecido quadro das desordens que se apresentam diante de vossos olhos: roupas tão exíguas, ou tais que parecem feitas para realçar o que deveriam velar; esportes que se praticam com modos de vestir, exibições, ‘camaradagem’, irreconciliáveis ​​até com a modéstia mais indulgente; danças, espetáculos, concertos, leituras, impressos, enfeites, em que a mania da diversão e do prazer acumula os mais graves perigos.

“Talvez algumas jovens digam que uma determinada forma de vestir-se é mais confortável e mais higiênica; mas, se se torna um perigo grave e iminente para a saúde da alma, certamente não é higiênico para o seu espírito: vós tendes o dever de abandoná-las. A salvação da alma fez heroínas de mártires como as Inês e as Cecílias, no meio dos tormentos e das lacerações dos seus corpos virginais: vós, suas irmãs na fé, no amor de Cristo, na estima da virtude, vós não encontrareis no fundo de vosso coração a coragem e a força para sacrificar um pouco de bem-estar, uma vantagem física, se for preciso, para manter segura e pura a vida de vossas almas? E se, por simples prazer pessoal, não se tem o direito de pôr em perigo a saúde física dos outros, não será talvez ainda menos lícito comprometer a saúde, ou melhor, a própria vida das suas almas?

“Oh, com quanto acerto foi observado que, se algumas mulheres cristãs suspeitassem das tentações e quedas que nos causam outros por roupas e familiaridades às quais, em sua leviandade, dão tão pouca importância, ficariam chocadas com sua responsabilidade!”

Com lucidez profética, Pio XII previu exatamente o que acabou acontecendo:

“Enquanto certos trajes provocantes forem triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e quase o signo que as torna reconhecíveis, ninguém ousará tomá-los para si; mas no dia em que esses trajes forem adotados por pessoas acima de qualquer suspeita, ninguém mais hesitará em seguir a corrente, uma corrente que as levará às piores quedas.”

Em vista do nudismo imperante, não se poderia realmente ter caído mais baixo. E os trajes esportivos usados pelas moças tiveram um papel não pequeno em facilitar e precipitar essa queda. Assim o como o Império Romano decadente acabou sendo derrotado pela pureza das virgens cristãs, do mesmo modo as moças católicas de nossos dias poderão vencer a corrupção contemporânea se forem intransigentes em não fazer concessão alguma à imodéstia e confiarem no auxílio de Nossa Senhora, conforme as palavras finais de Pio XII nessa mesma alocução:

“Ah, que a Rainha dos Anjos, vencedora do laço da serpente, toda pura, toda forte em sua pureza, apoie e direcione vossos esforços nesta Cruzada que vos inspirou! Que Ela abençoe vosso estandarte e o coroe com os alvos troféus de vossas vitórias!”